Disclaimer: Naruto não me pertence. Se fosse meu as mulheres teriam mais destaque.
Fogo
Abriu os olhos com dificuldade e percebeu que havia fogo. As chamas dançavam solitárias na escuridão. Erguiam-se elegantes em direção ao céu escuro e sem estrelas em toda sua complexidade amarelada e de base azulada, tomando seu tempo ao consumir o carvão avermelhado ardendo nas brasas. Rangendo os dentes, estendeu os dedos e aos poucos foi se arrastando em direção às chamas. A neve derretida empoçava gelada ao seu redor cada vez que se aproximava da fonte de calor. Conseguiu rolar para cima de uma rocha quente e úmida e soltou um suspiro trêmulo com o calor a atingindo aos poucos.
Com a vista embaçada percebeu que seus dedos estavam azuis e por um momento se perguntou quando tempo fazia desde que parou de senti-los. Uma lágrima desceu pelo olho esquerdo e outro tremor a chacoalhou por inteiro. Se fosse maior saberia que estava convulsionando por causa da hipotermia, mas como qualquer outra criança de três anos só pensava que queria sua mãe de volta ou que seu pai a acordasse desse pesadelo. A imagem das chamas se borraram ainda mais e sumiram brevemente - como estava acontecendo durante a ultima hora ou minutos ou segundos, ela não sabia exatamente. Desde que acordara no meio da noite sendo arrancada de sua cama ela perdera a noção de tempo.
Encolheu-se em posição fetal sobre a pedra morna e cerrou os olhos, finalmente dando-se por vencida. Estava com tanto sono...
Hiashi estava furioso. Bradava inúmeras ordens em um tom que se assemelhava a um trovão. Dezenas de homens se moviam pela mansão e pelas ruas a mando dele. Metade da guarda real havia sido deslocada naquela madrugada para resolver o crime que havia ocorrido naquela fria e escura noite de inverno. Afinal, quatro, talvez cinco horas antes, a mansão principal do distrito Hyuuga havia invadida, mas não havia sido saqueada. Os alvos não foram as obras de arte e vasos que valiam uma fortuna, a prataria ou o ouro que enfeitava cada parede daquele lugar numa elegante ostentação. Não, nada foi roubado. A não ser a vida de um homem.
Decapitado, um homem por volta dos 35 anos ainda segurava firmemente sua katana. Suas vestes estavam machadas de sangue seco, assim como o piso de madeira de akamatsu. O vaso de porcelana branco com flores de kaneshon pintadas delicadamente jazia estilhaçado no chão, assim como o bonsai de sakuras brancas. Este ultimo havia sido lentamente moldado e pintado pela própria matriarca do clã, a árvore recém florida havia sido cultiva por ela junto à sua filha mais velhas. Ambas neste momento estavam desaparecidas.
Hiashi apertou os punhos para se acalmar. Olhou para a figura inerte de seu irmão gêmeo e rangeu os dentes em frustração. Seu irmão estava morto e sua esposa e duas filhas haviam sido sequestradas. Uma carta havia sido depositada na cama de sua herdeira, Hinata, escrita com uma caligrafia limpa e elegante '' O olho que tudo vê é cego. Sua cegueira é causa de sua morte.''. A tsubaki encaixada entre os lábios roxos da cabeça de Hizashi e o buquê de rosas negras amarrado com o kanzashi branco de Hitomi, sua esposa, depositado no futon do casal - que sempre estava asseado em sua complexidade branca e lençóis de cetim com flores e arvores tradicionalmente pintados à mão na maior simetria possível, mas que no momento estava revirado e torto-, só complementavam a ameaça.
Fugaku observou o sempre estoico Hyuuga Hiashi se controlar pra não arremessar um vaso em um dos guardas que serviam à casa Hyuuga e apertou a ponte de seu nariz. Com passos calmos e postura altiva bradou algumas ordens para seus homens e seguiu até o outro líder. Como um Uchiha, Fugaku compreendia o perigo ao reino que aquele assassinato e os sequestros representavam.
Quando fundaram o Reino de Konohagakure a partir das ruínas do Império do Reino do Fogo, os clãs Hyuuga, Namikaze, Uchiha e Uzumaki juraram evitar a todo custo ter o mesmo fim que a família Imperial Senju. A guerra havia sido brutal com todos os clãs, mas a ameaça de genocídio que pairara sobre o clã Uchiha - que no início e ascensão do Império foram encarregados da força militar; o massacre do clã Uzumaki, que era proveniente do pequeno e prospero Reino de Uzushiogakure, histórico aliado de sangue dos Senju; e as acusações de traição contra os Namikaze e Hyuugas as feridas haviam sido demasiado profundas. Os quatro clãs organizaram uma coup d'état conjunta e dissolveram o Império, fundando o pequeno reino em que residiam no lugar.
Novamente os Uchiha se responsabilizaram pelas Forças Armadas, mas agora encabeçavam a guarda real e possuíam um lugar reservado como mão direita do rei. Os Hyuuga, que historicamente eram um povo proveniente do extremo Norte e não se envergonhavam de oferecer seus conhecimentos de diplomacia, medicina e geografia em troca de proteção de reinos e impérios, logo se encarregaram de exercer todo o papel diplomático e de formar parte do conselho ancião do reino. Sendo os mais neutros e os com o menor numero de sobreviventes pós-guerra, os Namikaze e os Uzumaki formaram a nova família real.
Então, matar o líder do clã Hyuuga, ou no caso o irmão gêmeo dele, era uma ameaça direta à todo o governo do Reino. Como era impossível que o inimigo soubesse que Hiashi teria uma reunião do conselho de ultima hora e em seu lugar ficaria Hizashi (só quem sabia da reunião era o próprio Hiashi, Madara, Shikaku e o Rei Minato), o provável plano do inimigo não era sobre uma rixa com algum clã nobre, mas enviar uma mensagem ao ter como alvo o próprio Ministro das Relações Exteriores que, por coincidência ou não é o líder de um dos clãs mais poderosos de Konoha.
Hiashi se aproximou de Fugaku e este ultimo viu na face do outro o cansaço que já estava começando a cobrar seu preço.
- Como já sabe, eles encontraram Neji escondido dentro do guarda-roupas no quarto de Hinata. O menino acaba de sair de seu estado de choque. - O Hyuuga começou.- Disse que quando tentaram arrancar minha filha de sua cama e esta começou a gritar... Disseram que iam vendê-la para o Lorde que vive numa fortaleza num lugar com praias quentes. Que ela ia ter sorte.
- Lorde em uma Fortaleza? - Fugaku parou para ponderar sobre isso por um momento. A realização o atingiu como um raio e começou a gritar: - Estão indo na direção sudeste! Querem chegar na Fortaleza do Lorde Orochimaru. Homens!
Internamente Fugaku rezava para que pudessem resgatar a matriarca Hyuuga e suas filhas antes delas caírem nas mãos do Lorde. Não era segredo que nos tempos do Império ele era responsável por desaparecer com a oposição política dos Senju e que não ligava para ética, moral e essas coisas. O homem transformava prisioneiros em ratos de laboratório e se divertia fazendo experimentos. Se elas caíssem nas mãos dele...
Ergueu-se só o suficiente par empurrar sua filha em direção ao fogo e checar se ela ainda vivia. Orou a todos os deuses que conhecia para que ao menos salvassem essa filha. Hanabi, seu bebê recém- nascido (completaria 20 dias nesta madrugada caso não fosse o trágico destino) não havia suportado o frio rigoroso deste inverno em particular. Ainda na primeira hora exposta à nele e às rajadas de vento incomuns ao final de novembro - nevascas como essa eram mais comuns entre o fim de dezembro e início de janeiro, no ápice do inverno em Konoha-, o bebê começara a convulsionar de hipotermia. Por volta da terceira hora desde o momento que havia sido arrancada de casa à força, Hanabi viera a falecer.
Foi quando num surto de tristeza e recusa em aceitar o destino que aqueles homens haviam traçado para si e para sua outra filha, Hitomi se lançara sobre um dos sequestradores e tomara a tocha que ele carregava. Sem pensar duas vezes chutou o baú com carvão seco que eles estavam carregando para quando acampassem e ateou fogo. No meio do caos, enquanto queimava a própria mão atirando o carvão fervente no inimigo, ela acidentalmente acertou uma sacola com um pó inflamável que desconhecia. O inferno se formou sozinho daquele ponto em diante.
O grupo de cinco homens ficara preso no incêndio junto com ela. Dois deles ela matou sem hesitar, não havia sido treinada para virar uma gueixa só pelo status e pela tradição. Seus golpes haviam sido rápidos e fatais. Um dos homens ficara preso debaixo de um troco que caíra ao pegar fogo, sendo queimado vivo. Outro havia fugido, mas pelo modo que ele mancava ela duvidava que ele sobreviveria na floresta por muito tempo. E o ultimo parecia padecer de alguma doença respiratória, morrendo asfixiado devido á fumaça.
Hitomi não estava em melhor estado. O corte profundo causado pela katana de um de seus agressores só não manchava mais seu kimono por causa do frio, mas tinha certeza, pela tontura que sentia, que uma hemorragia interna estava roubando seus minutos de vida. Um de seus dedos havia caído depois de passar certo tempo com a mão enterrada na neve e nos outros dedos algumas queimadoras já apresentavam bolhas na carne viva. O tecido da barra de seu kimono havia colado na pele derretida de sua perna esquerda e a impediam de se mover em direção à filha inconsciente sem ranger os dentes de dor.
Se perguntou por um momento se sua filha choraria se soubesse que o calor que estava mantendo-a viva era um corpo humano em chamas com alguns pedaços de carvão e uma tora do tronco podre que havia desabado estalando ao redor.
Sorry. Sei que ainda tenho 3 fanfics pra terminar, mas bateu a inspiração. Eu passei o mês pensando em fazer uma MadaHina e depois de ver uns filmes o espirito baixou. Espero que gostem!
