Cato estava preparado. Durante toda a sua vida tinha treinado para aquilo.

O tributo feminino já tinha sido escolhido: Clove. Cato conhecia-a do centro de treinos. Também ela se iria voluntariar quando chegasse aos dezoito anos. No entanto, os seus planos não correram como esperado. A sorte ditou que ela fosse a escolhida nestes Jogos. Agora, e espera de Cato iria finalmente acabar.

Deu um passo em frente, com segurança. Quando a representante do seu distrito anunciou o sorteio do tributo masculino, Cato encheu os pulmões e disse-o o mais alto que conseguiu: Eu voluntario-me.


Estar na arena era o sonho de todos os rapazes da idade do Cato. Com dez anos já tinha cinco de treino, assim como muitos dos seus amigos. Os Jogos da Fome eram como uma religião no seu distrito, e todos os anos a população do Distrito 2 se juntava para ver.

Cato era fascinado por tudo o que eram armas. As suas preferidas eram a espada e a lança. Todos os seus colegas o temiam. Não pelo seu tamanho ou força, mas sim pela sua atitude violenta. Era seu hábito desafiar os outros para lutas, e como os outros também estavam treinados para a violência lá aceitavam, mas relutantemente. Cato era um vencedor nato. Quando era mais novo, tinha um grande respeito pelos seus rivais, contudo a pressão imposta pelos pais tornou-o frio e calculista, e agora humilhar os outros tornara-se uma diversão.

Depois do fim das aulas, Cato dirigiu-se ao ginásio da sua casa, onde costumava treinar. Depois da empresa de produção de armas do pai começar a render, Cato tivera direito a um centro de treinos próprio, assim como a treinadores especializados. Um dos seus conselheiros era um vencedor dos Jogos, já de longa idade. Ele contara-lhe como conseguira ganhar, e todas as suas tácticas de sobrevivência. Cato era um poço sem fundo, nunca se cansava e queria sempre saber mais. Uma das suas maiores ambições era ganhar os Jogos em honra e glória, como ninguém tinha alguma vez feito.


Aos doze anos, Cato tivera a sua primeira ceifa. Não estava nervoso. Se fosse escolhido sabia que se conseguia aguentar. Ele tinha febre de se voluntariar. No entanto, os pais proibiram-no, só quando tivesse no seu auge, para a glória ser maior. Aos dezoito anos. Era esse o limite, e ele não podia esperar para o atingir.

Os tributos do seu distrito faziam parte do grupo dos profissionais. A partir dos doze anos, todos os candidatos a esse título recebiam treino adequado, dado em segredo. Esse treino de elite era patrocinado pelo Capitólio, nenhum dos outros distritos mais pobres tinha esse direito e distinção.

Cato sorriu para si próprio quando um dos rapazes se voluntariou. Um dia seria ele. E mal podia esperar.


Estava sentado na sua cama, na torre de treinos dos Jogos. Faltavam poucas horas para entrar na arena.

Tivera tempo suficiente para conhecer os seus companheiros do grupo dos profissionais, tinham delineado planos e técnicas de ataque. Tinham atribuído o título de amigos, mas Cato sabia perfeitamente que isso não era verdade, mas não importava. Quando chegasse o momento, sabia o que tinha de ser feito. Nunca derramara sangue de ninguém, a não ser nos treinos. Nunca matara ninguém. E no entanto, era o que mais desejava. Podia finalmente pôr a sua natureza violenta a um bom uso.

Pensou nos pais. Eles sempre o empurraram para isto. Eles diziam que o amavam, e que ele era o seu maior orgulho. Sabia que todo o Distrito 2 torcia por ele. Clove era boa com as facas e um pouco louca, o que a tornava perigosa, mas a sua instabilidade nunca a levaria a ganhar.

A sua confiança recusava-se a ser abalada, e por isso, Cato teve um sono profundo, como em qualquer outra noite, e sonhou… sonhou com o sangue dos outros tributos a manchar as suas mãos.