Nota da autora: minha segunda fic de Percy Jackson *-* Essa daqui se passa entre a primeira e a segunda fase, eu acho. Espero que gostem tanto quanto eu e não se esqueçam de deixar um review ;D

Dedicada à minha irmã Nathalie, que me ajudou com algumas ideias! Te amo, dude!

Vale da Sombra da Morte

Capitulo 01

O meio-sangue se esforçou para abrir os olhos, mas parecia que suas pálpebras eram feitas de chumbo. Era como se o corpo não respondesse aos apelos da mente. A sensação de continuar preso naquele pesadelo fazia seu estômago se embrulhar.

Sabia que nada daquilo era verdade, apenas fruto de seu inconsciente. Contudo, o peso do corpo morto de Nico em seus braços parecia real demais. Os olhos amendoados do filho de Hades estavam arregalados e vidrados em algum ponto perdido, os lábios arroxeados entreabertos. Era como se a última coisa que tivesse visto antes de morrer fosse horripilante.

De forma gentil, ele tocou o rosto frio do amigo. Seus dedos desceram do cabelo ondulado até os olhos, fechando-os. Até que percebeu algo estranho em sua boca, como se tivesse algo lá dentro. Com cuidado, separou os lábios e um liquido preto e viscoso, como petróleo, começou sair de dentro da garganta de Nico, saindo pela boca. O liquido escorreu pela bochecha e sujou o chão.

Enquanto olhava ao redor, tentando ver se tinha alguém para ajuda-lo ou então acordar aquele maldito pesadelo no qual estava preso, sentiu uma mão fria tocando seu pescoço. Aquilo foi o bastante para arrancar Percy Jackson de sua própria mente e acabou berrando ao acordar, completamente assustado. Como se uma corrente elétrica tivesse atravessado seu corpo, num impulso, levantou-se de onde estava e caiu no chão.

Ele olhou pra trás, tomado pelo medo, seu coração batia descontrolado dentro do peito, a respiração era ofegante.

-Percy, calma!

Alguém disse, tentando acalmá-lo, porém ainda não havia se recuperado do susto. Aos poucos sua visão foi clareando e a memória voltando. Foi quando se deu conta de que estava no Acampamento Meio-Sangue, mais precisamente na pequena praia que havia depois do bosque.

Tinha ido até lá mais cedo, para ficar um pouco sozinho. Após passar a tarde inteira observando o mar, comendo algumas besteiras, cochilou na cadeira de praia.

-Percy? –a voz novamente o chamou e ele levantou os olhos para ver quem era.

Já tinha anoitecido e nem percebeu. A lua iluminava tudo com seu brilho prateado e etéreo. Seus olhos percorreram por inteiro o corpo da pessoa ajoelhada a sua frente. Era um adolescente de 13 anos. Podia jurar que tinha acabado de levantar da cama, pois seus cabelos negros estavam muito bagunçados e os olhos castanhos, que lembravam amêndoas, pareciam preocupados.

-Nico! –Percy reconheceu seu amigo e seu coração palpitou de alegria.

Antes que o outro pudesse tomar qualquer atitude, o filho de Poseidon abraçou-o com força. A imagem que tinha de seu corpo morto ainda vera muito vivida em sua memória. Precisou sentir o calor da pele de Nico, ouvir sua respiração para ficar mais tranquilo.

Nico, que nunca foi muito de contatos físicos, foi pego de surpresa, sentindo-se sem jeito. Acabou correspondendo ao abraço, colocando suas mãos nas costas nuas de Percy levemente, que estremeceu, pois seu toque era gelado. Era o mais próximo que conseguia chegar de contato interpessoal.

-Aconteceu alguma coisa? –Nico perguntou, preocupado. –Você está tremendo...

-Estou bem... –ele respondeu, quase sussurrando. -Agora está tudo bem.

Percy abraçou-o com mais intensidade e depois se afastou. Seu coração já tinha voltado ao ritmo normal, assim como a respiração. Ao ver o amigo, sentiu um alivio tão grande que nem pôde descrever.

-Nossa, quanto tempo! –ele sorriu.

-É, estou de volta! Bom te ver também.

Nico olhou para ele, parecia que estava escondendo algo. Mas não iriam entrar no mérito da questão naquele momento, tinha outros planos. Ambos se levantaram, limpando suas roupas da areia. Engraçado perceber como Nico tinha crescido nesses últimos anos, agora chegava à altura dos ombros do outro, que era quarto anos mais velho.

-É você andou crescendo... -Percy comentou, com um sorriso de satisfação no rosto.

-Parece que estou tentando recuperar o tempo perdido. –o mais novo deu de ombros.

Afinal, Nico havia ficado trancado em um hotel onde o tempo não passava, durante 70 anos. Agora parecia que a sua fisiologia tentava se adequar, ou talvez fosse apenas um efeito colateral de ter passado tantos anos com a mesma idade. No fundo, ele não sentia que tinha 13 anos e todos pareciam pensar a mesma coisa.

-O que te trouxe de volta? –Percy começou a arrumar sua bagunça na praia, fechando a cadeira e colocando os pacotes de biscoito e latas de refrigerante numa cesta de lixo que havia perto.

-Uma missão. –ele respirou fundo e coçou os cabelos, bagunçando-os ainda mais. –Mas antes de falar tudo, preciso encontrar Rachel.

-Ela provavelmente deve estar dormindo. –o mais velho respondeu, andando na direção do bosque. –Falando nisso, que horas são?

-São duas e meia da manhã.

-Nossa, eu realmente apaguei. –Percy levantou as sobrancelhas. –Enfim, vamos andando?

-Vamos fazer barulho e chamar a atenção... Eu te dou uma carona.

Nico deu um de seus meio-sorrisos, como sempre fazia quando tinha uma boa ideia. Ele levantou sua mão direta, o anel de caveira que seu pai havia lhe dado, brilhou. Fez um movimento qualquer e uma fenda abriu-se.

Era a famosa viagem pelas sombras. Ele era capaz de rasgar a dimensão, criando um vácuo negro e assim poderia se mover para qualquer outro lugar onde tivesse sombras. Percy riu e seguiu o amigo, entrando na fenda. Um passo depois, já estava dentro de seu chalé.

Deixou as coisas e pegou uma camisa. Afinal, não iria conversar com Rachel no meio da noite usando apenas bermuda... Devidamente trajado e ambos seguiram novamente pelas sombras, até o quarto de Rachel, que ficava na Casa Grande.

Por incrível que pareça, ela já estava acordada, acabando de sair do banheiro. Seus cabelos ruivos estavam soltos e vestia uma camiseta com o slogan: Maldito pônei!" escrito e short.

-Já sei de tudo Nico, só não esperava que você viesse de madrugada me pedir ajuda... -ela disse, espreguiçando-se.

-Como assim? –ele ficou surpreso. –Já sabia eu viria?

-Acho que vocês esquecem que sou o Oráculo. –a ruiva sorriu. –Posso não ser tão poderosa ao ponto da onisciência, porém muita coisa me é relevada.

Os dois ficaram encarando Rachel durante alguns segundos. Ela era realmente capaz de surpreender qualquer um e sempre da melhor maneira.

-Boa noite pra você também, Rachel. –Percy brincou, levantando as mãos num sinal de rendição.

O Oráculo sorriu e sentou-se na cama, fazendo sinal para que eles fizessem o mesmo.

-Estou me sentindo meio fora do assunto... O que está acontecendo? –Percy perguntou, olhando para eles.

Nico respirou fundo, não sabia por onde começar. Sabia que precisava da ajuda deles, contudo e se não aceitassem sua proposta? A responsabilidade pesou em seus ombros de tal maneira, que sentia como se o mundo inteiro dependesse dele. O que não deixava de ser uma verdade, o Mundo Inferior estava ameaçado.

-Basicamente, estou em uma missão muito importante para meu pai e preciso da colaboração de vocês. –ele olhou para os dois, suas mãos suavam frio.

-E o que seria exatamente? –Percy levantou uma das sobrancelhas, curioso.

-Preciso evitar que um demônio consiga quebrar o lacre do local onde está aprisionado e liberte os outros.

Percy coçou sua nuca, pensativo. Já havia enfrentado todo o tipo de criatura antes em sua vida, mas demônios? Aquilo realmente estava fora dos padrões até para ele.

-Não sabia que esse tipo de coisa existia... Por acaso ele tem chifres e tudo aquilo que sempre falam? –sentia-se meio confuso.

-Na verdade, isso foi uma tentativa da Igreja Católica de fazer com que as pessoas temessem tudo que fosse relacionado às antigas religiões e passassem a odiá-las. –Rachel comentou, fazendo uma careta. –Assim somente eles teriam fiéis. Se você perceber, eles simplesmente deturparam os Deuses de várias religiões, transformando-os em demônios.

-E na cultura grega, demônios são apenas espíritos sem forma, que são capazes de induzir os humanos a tomarem certas atitudes, como se fossem uma espécie de consciência. Só que esse em especifico é maligno. –Nico tentou explicar da melhor maneira que pôde.

-Ah, entendi. –Percy ainda processava todas aquelas informações. –Mas por que esse demônio deve ficar aprisionado?

-Ele é muito poderoso e se alimenta do medo dos seres humanos. Quanto mais medo, mais forte ele fica. – Nico estava sério. –E o mundo hoje em dia está mergulhado em caos e todos vivem com medo, o que faz dele uma ameaça ao meu pai.

-Afinal, ele pode romper o selo e ir para o Mundo Inferior. –Rachel completou o raciocínio do amigo. -E lá o que mais existe é medo.

Realmente, não parecia nada fácil. Mas Percy já tinha enfrentado Chronos, porque não chutar a bunda de um demônio de volta ao seu cativeiro? Afinal, sempre há uma primeira vez para tudo.

(...)

-Isso parece loucura! –Quiron disse, mesmo após todos os apelos feitos pelo trio. –Simplesmente não consigo conceber a ideia do Oráculo deixando o Acampamento! É arriscado demais!

Sim, o centauro era difícil de convencer.

No dia seguinte, tinham ido conversar com o mentor do Acampamento, para falar sobre a missão e pedir ajuda. Contudo, a ideia tinha ido por água abaixo. Porque no meio da reunião fechada, o sátiro Groover entrou na sala junto com Annabeth, pois procuravam por Quiron. Na frente de seu melhor amigo e da namorada, Percy não teve como esconder o motivo da conversa.

De repente a confusão estava armada. Todos falando ao mesmo tempo na sala de reuniões! Claro que ninguém se entendia. Groover ficava apenas soltando "Béééé!" e comendo latinhas de Diet Coke, porque demônios o deixavam nervoso. Annabeth discutia com Rachel sobre o fato de a ruiva fazer parte da equipe e ela não. Percy tentava convencer Quiron de todas as maneiras a deixar a missão acontecer, mas parecia impossível. E Nico apenas assistia, com seu coração apertado. O tempo corria e nada parecia se resolver.

Quando resolveu abrir a boca para falar algo, um clarão muito forte iluminou por completo a sala. Todos ficaram quietos e protegeram seus olhos, até que a luz diminuiu de intensidade. Ali, encostado na lareira, de maneira completamente casual, encontrava-se Apollo, o Deus-Sol, com sua aparência no auge dos 25 anos. Ele tirou os óculos escuros e sorriu, os dentes brancos contrastando com a pele bronzeada. Vestia camisa de botões, calça jeans e mocassis de couro.

-Meu senhor... –Rachel se aproximou, ajoelhando-se na frente dele.

-Já disse que não precisamos de toda essa formalidade entre nós, Rachel. –ele disse, sorrindo e fazendo um sinal para que ela se levantasse.

-Apollo! –Quiron sorriu. –A que devemos sua presença?

-Bem, vim aqui porque preciso abençoá-los antes da missão. –o Olimpiano respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia.

-Mas não acha que é arriscado manter o Oráculo fora do Acampamento? –o centauro perguntou, realmente preocupado.

-Não vou mentir... –Apollo respirou fundo, ficando sério.

Todos ficaram ainda mais espantados ao ver que o Deus-Sol, sempre tão descontraído, não estava sorrindo, nem brincando. Sua face mostrou um lado que poucos conheciam. A postura ereta e leve brilho ao redor de seu corpo mostraram toda a autoridade que possuía. Esse lado mais incisivo e superior ficava praticamente apagado devido a sua personalidade mais comunicativa.

-Lá fora, vocês irão enfrentar diversos perigos e passarão por provas que testarão seus limites. -ele disse, sua voz preenchendo a sala. –Seus piores inimigos serão vocês mesmos, se libertem daquilo que lhes prendem e só assim vencerão.

Estava claro que Apollo fazia uma profecia naquele momento, o que arrepiou todos os presentes. Seus olhos incrivelmente azuis fixaram-se em um ponto qualquer da sala. Aos poucos, as íris mudaram de cor, ficando de um verde tóxico.

-O selo do demônio deve ser restaurado através da espada daquele que possui o coração puro, misturado com o sangue do Príncipe e as lágrimas do Escolhido pelos Deuses.

Apollo piscou novamente, voltando a si e olhos ficando azuis novamente.

-Nico di Angelo, você sempre se sentiu diferente dos outros e algumas vezes, menor que eles. Isso não é verdade. –ele sorriu, mas continuou mantendo a seriedade. –Parece até ironia, mas sempre foi preso nas trevas ao seu redor. Use essa missão como um crescimento pessoal e reconheça a força que tem dentro de si, encontre a luz nas trevas.

Com isso, tocou no ombro do semi-deus. A luz que envolvia Apollo passou para Nico, envolvendo-o da mesma maneira. O filho de Hades sentiu-se mais forte do que jamais pôde imaginar.

-Perseu Jackson, filho de Poseidon. –Apollo virou-se para o outro semi-deus. –Você é muito virtuoso e sempre procura ajudar os amigos, mesmo que precise dar sua vida para isso. Sendo assim, minha benção para você é fazer da sua força de vontade a arma para lutar e proteger aqueles que ama.

O Deus-Sol colocou a mão sobre o tórax de Percy, que estremeceu por completo. Era como se algo tivesse mudando em seu interior, mas ainda não sabia o que era.

-Rachel Elizabeth Dare... –ele olhou carinhosamente para a ruiva. –Meu Oráculo, minha querida...

Neste momento ela corou violentamente, sem saber o que fazer. Sentiu que alguns olhares pousaram nela, mas continuou olhando para Apollo.

-A você, que possui sua vida completamente devotada aos Deuses, que nos serve mesmo que isso custe momentos preciosos e provou ser completamente digna de seus dons, lhe ofereço a oportunidade de se tornar minha amada.

Rachel ficou parada, sem saber o que fazer. Era mesmo o que estava pensando? Estava recebendo uma proposta de namoro/casamento de um Deus?!

-O que... –ela limpou a garganta, o coração pulando no peito. –O que isso significa?

-Que será minha musa, o centro do meu afeto e amor, que terá minha proteção enquanto viver. –Apollo aproximou-se dela, olhando-a nos olhos. –Que será minha.

Se dissesse que era mentira que nunca tinha desejado isso, seria hipócrita. Mas agora que a situação estava bem na sua frente, não tinha noção do que fazer. Rachel fechou os olhos e respirou fundo. Por alguns segundos ficou tudo muito confuso em seu coração.

Mas por que não? Ela sempre o amou por dar sentido a sua vida, por fazê-la sentir completa e útil. Apollo sempre fora tão gentil com ela, como nenhuma outra pessoa, tratando-a de maneira especial, não somente pelo seu dom, mas por quem era.

-Isso não significa que eu posso torná-la imortal ou lhe proteger da morte, isso está além dos meus poderes. Mas posso cuidar para que não seja ferida facilmente. –os olhos azuis dele brilhavam intensamente. -Aceita?

Realmente, era difícil olhar naqueles olhos azuis e dizer que não. Havia tantos sentimentos expostos no olhar, que ele queimava. E uma certeza inexplicável tomou conta da ruiva.

-Sim, eu aceito. –ela respondeu, esquecendo-se de que estava com outras pessoas na sala.

Apollo segurou seu rosto de maneira suave com uma das mãos, enquanto a outra pousou na testa, deixando uma marca brilhante: uma lira cercada por uma coroa de louros. A marca desapareceu e ele sorriu. Era pura atenção para Rachel, a verdadeira mostra de devoção. Depois beijou-a, selando os lábios nos dela, sem língua.

Ele deu um passo para trás e observou os outros, que pareciam todos incrédulos.

-Bom, agora Quiron vai ajudá-los no que puder, não é mesmo? –ele sorriu de uma maneira mais descontraída. –E só eles vão na missão e minha decisão é suprema, Annabeth. E Groover, tenho certeza de que Juniper iria se sentir sozinha se você fosse.

Todos ficaram estáticos e apenas concordaram com a cabeça. Depois de um tempo arrumando as mochilas com que fossem precisar, pegar dinheiro e se despedirem, o trio andou até o limite do Acampamento, com Apollo ao lado de Rachel, com o braço nos ombros dela.

-É aqui que deixo vocês. –ele disse, olhando para os três. –Façam uma boa viagem, desejo que a missão seja um sucesso e voltem logo.

-Obrigado por tudo, Apollo. –Nico disse, acenando com a cabeça.

-Nos vemos logo. –Percy sorriu, animado.

-Parando para pensar... –Rachel coçou a nuca, pensativa. –Sabe para onde temos que ir?

-Meu pai disse que temos que ir pra Califórnia. –Nico respondeu, sem muita certeza. –Mas não falou a cidade, disse que depois de tantos séculos, esqueceu o nome do lugar.

Apollo olhou para um lado e outro. Respirou fundo e olhou para eles, com seu olhar sério. Mas havia lago mais além daquela seriedade, como se estivesse sentindo dor ou algo parecido.

-Carmel, é o nome da cidade.

E tão rápido quanto surgiu, Apollo foi embora numa explosão de luz.