N/T: eu não sou dona de Hunger Games, nem dessa história. Simplesmente resolvi traduzi-la porque é uma das melhores fanfics que já li. A autora, /museofmirth, autorizou a tradução. Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei dessa história :))
N/A: essa é a minha primeira fanfiction sobre Hunger Games. É a minha visão sobre como foram os acontecimentos pré-epílogo. Espero que gostem! Por favor, leiam e comentem! Além disso, toda a história e personagens pertencem a Suzanne Collins, não a mim.
CAPÍTULO 1
Ela encarava o teto, as tábuas de madeira. Não estava olhando para nada em particular. Não estava contando as manchas na madeira ou as linhas ou o número de tábuas. Não estava pensando em nada de fato.
Hoje ela estava bem. Tinha comido no café da manhã e no jantar. Sobre o almoço ela não tinha certeza, não se lembrava de nada entre Greasy Sae chegando para preparar o café, e depois voltando no começo da noite para fazer o jantar. Ela sabia que havia comida na cozinha, na geladeira, que ela devia ter esquentado para o almoço. Mas ela não se moveu de seu lugar no sofá o dia todo, exceto quando ouviu Greasy Sae entrar pela porta dos fundos.
Ela queria ficar onde estava, inclinando a cabeça para trás para olhar para nada, não pensar em nada. Não queria passar pela porta ou olhar pela janela. Não quer ver que o mundo ainda estava acontecendo, embora Prim estivesse morta. Embora sua mãe tenha se recusado a voltar para casa. "Lar" era a palavra errada. Sem sua mãe e Prim aquilo não era um lar. Era apenas uma casa. Uma casa com prímulas plantadas na frente - mais uma razão para não olhar para fora da janela.
Prímulas. Prim. Prim. PRIM. Prim ali num segundo, a camisa de seu uniforme médico se recusando a ficar dentro de sua saia. Longe no próximo instante, transformada em nada pelo próprio distrito pelo qual estava trabalhando.
Katniss poderia gritar. Ela podia chorar e arrancar os cabelos e bater os punhos contra as paredes. Mas não, sua tristeza, sua dor, eram só dela. Elas nem sequer pertenciam ao reino da comoção privada. Eram uma entidade escura dentro dela, a tristeza e a solidão que ela sentia. Tudo fazia doer, mesmo que ela tenha tentado conter a dor, desde o vazio da casa até as memórias incapacitantes que ela não queria esquecer. A recusa dela em permitir que qualquer pessoa se aproximasse, até mesmo Greasy Sae, que por vezes tentou conversar. O rapaz loiro com cicatrizes iguais às dela, que havia plantado as prímulas para ela. Haymitch, que iria tropeçar mais bêbado do que nunca nos dias de hoje. O médico na Capital, que ligou e ligou e queria falar sobre sentimentos e pesadelos que ela tinha, e que queria enviar seus medicamentos para ela tomar. Não, o vazio era a única coisa a que ela podia se agarrar – a que ela teve de se agarrar, porque Prim tinha ido embora.
A casa, apesar de relativamente nova, rangia e gemia, e houve momentos em que Katniss imaginou que Prim estava lá em cima, saindo de seu quarto ou prestes a descer as escadas. Mas não havia passos os rangidos e Katniss ria morbidamente de si mesma. Em seus delírios mudos. Mas na maioria das vezes seu riso foi substituído por uma aceleração de seu coração e uma dor no peito.
E então havia tragédias menores – o pequeno ninho de pássaro com três ovos perfeitos que havia sido construído no motor de um cortador de grama há muito esquecido, que foram destruídos quando Haymitch, no calor do momento, decidiu arrumar o quintal. Peeta jogando pedaços de pão queimado para o bando de gansos e o súbito, acentuado sentimento de culpa que a imagem convocava. O sussurro que se espalhava sobre a cidade cada vez que um corpo era descoberto no meio da destruição do Distrito 12. E como, na mente dela, ela era a culpada por tudo.
Greasy Sae mantinha Katniss atualizada sobre a reconstrução do distrito, como parte de suas tentativas de conversa fiada. No começo Katniss tinha sido muito insensível para realmente compreender, realmente se importar com alguma coisa. Mas à medida que as semanas viraram meses, e a dormência em seu peito se transformou em dores de culpa, ela se viu pensando na cidade, perguntando-se como seriam os novos edifícios, como os moradores que se mudavam para lá – novos e antigos – estariam se virando.
E assim dias - talvez semanas – depois de passar o tempo olhando para o teto entre as visitas de Greasy Sae e débeis tentativas de manter sua higiene pessoal, Katniss se viu colocando uma camiseta limpa, trançando o cabelo despenteado e calçando as botas depois de ter lavado seu prato de café da manhã. Greasy Sae não a chamou quando Katniss caminhou pela estrada da Vila dos Vitoriosos em direção à praça da cidade. Era primavera, Katniss percebeu de repente, e sua mente foi inundada com imagens da floresta verde e vibrante e da coleta de ovos de aves dos ninhos e da vez em que ela não atirou sua flecha ao ver uma corça com seu filhote. O animal fez uma pausa, seus enormes olhos escuros sobre ela, e, em seguida, com um movimento de sua cauda voltou-se para o filhote. Gale a repreendeu sobre a perda da caça, até que ela o silenciou com um olhar de aço.
Gale. Ela não queria pensar nele enquanto andava em direção à cidade. Ela não queria pensar sobre aqueles olhos cinzentos que eram tão parecidos com os dela, ou sobre as muitas horas que passaram juntos na floresta, ou sobre os segredos e sorrisos que ela tinha guardado para ele, agora tudo perdido e sem sentido. Ela não queria pensar sobre como, se ela tivesse concordado em fugir com ele, Prim ainda poderia estar viva. Como ela nunca teria sido uma parte dos jogos da Capital ou do Distrito Treze. Como ela nunca teria sequer olhado para o filho loiro do padeiro.
Ela fez questão de acelerar o passo, tentando acabar com esses pensamentos irritantes. É claro que ela queria as coisas tivessem sido diferentes. Ela desejava isso todo segundo em que se permitia desejar algo. Mas as coisas não tinham sido diferentes. Seu melhor amigo acabou por estar - embora involuntariamente - por trás da morte de sua irmã. Seu motivo para seguir em frente, para viver, tinha ido embora. E ela estava tendo dificuldade para descobrir qual era o motivo de sua vida se não era mais garantir o futuro de Prim.
Ela se aproximou da praça da cidade, e as imagens e sons da reconstrução erradicaram seus pensamentos niilistas.
Havia uma pequena quantidade de imóveis recém-construídos, a camada de tinta nova em contraste com o cinza de todo o resto. Grande parte dos escombros dos edifícios destruídos havia ido embora. Para onde, Katniss não sabia. Mas quando ela se aproximou das novas estruturas, ela pôde ver que eram lojas. Uma parecia ser uma loja de tecidos, um manequim de costura rodeado por rolos de tecido brilhante e fitas na janela. Outras ainda estavam vazias ou fechadas. Havia ainda uma barbearia, sua placa listrada adicionando ainda mais capricho às fachadas novas.
Havia algumas pessoas na rua, algumas de passagem pela cidade para outros assuntos, enquanto outras estavam trabalhando ou supervisionando as construções. Alguns pararam para olhar para Katniss, finalmente fora de casa. Outras a ignoraram e passaram direto rumo aos seus próprios negócios. Quando Katniss se aproximou da última construção, ela parou.
Lá, na frente do prédio, conversando com um homem com roupas de operário segurando o que parecia ser uma planta de construção estava uma cabeça loira familiar. Peeta. Peeta na frente de sua nova padaria.
Ela tinha parado a menos de 10 metros dele. Como se sentisse a presença dela, ele ergueu os olhos de sua discussão com o homem e a encarou. Seus olhos se encontraram e por um segundo algo passou pelo rosto dele, quase como se ele estivesse com dor. Então, seus olhos brilharam e ele sorriu para ela. Katniss, que havia acabado de perceber que estava com a boca aberta, apertou a mandíbula, virou-se abruptamente e pegou o caminho de volta para a Vila dos Vitoriosos.
