Num bairro simples de Londres, Julho de 1972

O sol raiava e Adèle acordava lenta e preguiçosamente para mais um monótono e exaustivo dia na convivência com seus tios. Tomou um banho rápido, enxugou seus curtos cabelos negros, colocou um vestido antigo e desceu as escadas para preparar o café-da-manhã.

Ela tinha uma família um pouco "problemática" segundo ela, quando seus pais faleceram-havia completado recentemente seus seis anos - a menina fora morar com os tios e o primo, eles não eram nem um pouco perfeitos, ao contrário, mas Adèle sentia-se muito mais feliz na presença deles do que se parasse num orfanato, disso ela tinha certeza. O tio não suportava muito sua presença, talvez por ela possuir mesmo sangue bruxo da esposa dele e era um ser "anormal" igual ao seu filho, porém mesmo com as desavenças que ela tinha com o tio, a menina não se achava no direito de desrespeitá-lo. A irmã de seu pai era uma mulher às vezes muito fria e distante, mas Adèle tinha muito afeto por ela e muitas vezes quando a encontrava triste e melancólica por algum motivo a menina a fazia sorrir alegremente.

Hoje seria um dia especial para Adèle, hoje o primo voltaria para passar o verão com eles e a garota sentia muita falta dele, não se viam há quase um ano, quando o mesmo partira para a nova escola na Irlanda, e queria fazê-lo sentir-se querido quando chegasse.

_ Bom dia, senhor _ falou com um sorriso doce para o tio que acabara de descer para o café.

_ Bom dia _ respondeu-lhe seco, mantendo seu olhar superior e servindo-se de torradas.

_ Er... Bom eu gostaria de saber... se eu poderia buscar meu primo na estação mais tarde _ "espero que ele diga que sim" foi o pensamento dela.

_ Não _ disse simplesmente num tom áspero _ Não quero você metida no meio dessa gente esquisita.

_ Mas ele voltará sozinho de lá?

_ Não quero você perto de gente daquela estirpe _repetiu.

_ MAS SEU FILHO É UM DELES! Como pode pensar isso dele?

_ Olha como se dirige a mim mocinha! Você está nesta casa, na minha casa, de favor está ouvindo?! Se não fosse por MIM você estaria num orfanato qualquer à uma hora dessas. Eu mereço o mínimo de respeito! E além do mais Eileen irá buscá-lo, não voltará sozinho. Estamos entendidos?

_ Sim, senhor _ respondeu monotonamente. "Como minha tia pôde ter casado com esse homem?"

Um bater de asas na janela os surpreendeu, fazendo que a presença de mais uma pessoa no recinto fosse notada. A mulher caminhou sucintamente até a janela e pegou a carta presa na pata esquerda da coruja-moura.

_ O que significa isso Eileen? _ o homem indagava à esposa.

_ Não é para mim... é para você Adèle... _ estendeu a carta com um brasão a ela.

Adèle pegou a carta com as mãos tremendo e correu para o seu quarto tropeçando nas escadas. Não queria ouvir mais uma briga de seus tios ainda mais porque seria a culpada por tudo, todos da família sabiam que ele odiava tudo relacionado à magia. Atirou-se na cama e deixou que as suas lágrimas escorressem compulsivamente. Adormecendo logo em seguida.

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_ O que aconteceu Adèle?_ela abriu os olhos devagar, percebendo que seu primo encontrava-se ao seu lado com seus olhos negros, como a noite, fixos nela.

_ Sev, você já chegou! Como foi em Hogwarts? Desculpa... eu ia preparar alguma coisa para quando você chegasse só que eu acabei dormindo e...

_ Não mude de assunto e não se preocupe com isso, eu quero saber por que você estava chorando desse jeito _ ele manteve o tom inquisidor na voz.

_ Eu estou bem! Não foi nada demais! _ ela sorriu de uma forma doce e angelical para ele.

_ Quando vai parar de fazer isso?_ ele havia levantado e cruzado os braços no peito.

_ Parar de fazer o quê, Sev?

_ Parar de mentir para esconder dos outros quando está triste. Parar de sorrir alegremente quando não está. Parar de fingir que está tudo bem...

Ela deu um sorriso triste e o abraçou: _ Você me conhece bem demais sabia?

_ Infelizmente eu conheço _ ele riu.

Ela deu um risinho abafado _ Mas que horror! Eu me esqueci de abrir a carta! _ soltou-se do abraço aconchegante do primo e correu em direção da escrivaninha.

_ Mas que carta? Carta de Hogwarts?

_ Sim! Sim! _ ela sentou no sofá de frente a cama e mostrou a carta _ Eu sempre disse que não era um aborto!

_ Você sabe que eu nunca achei isso realmente de você!

_ Sei... sei _ e sorrindo começou a ler o pergaminho, escrito à tinta verde esmeralda, em voz alta:

Cara Srta. Adèle S. Prince temos o prazer de informar que a senhorita foi aceita na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. O ano letivo começará no dia 01 de Setembro e esperamos sua coruja em resposta até o dia 31 de julho no mais tardar. A lista de material encontra-se em anexo.

Atenciosamente,

Minerva Mcgonagall

Vice-diretora

Ela terminou a leitura sorrindo _ Eu estou tão feliz! Eu irei para Hogwarts, aprenderei muitas poções, um dia irei fazer mestrado, encontrarei cura para muitas doenças e um dia poderei ajudar as crianças que eu vi no hospital da cidade... eu serei uma nomeada medibruxa..._ completou jogando-se na cama com os olhos brilhando de alegria.

_ Boa sorte, garota _ ele disse com sarcasmo "Ela viaja muito isso sim" _ Vem comigo!_ e a conduziu para o quarto dele.

O lugar era meio úmido e empoeirado, mas Severo Snape era um garoto muito organizado e fazia questão de manter todas as suas coisas no seu devido lugar. Ele puxou o malão de viagem e de lá tirou alguns livros e pergaminhos.

_ Eu irei te ensinar algumas poções que você aprenderá este ano na escola, elas são meio bobinhas, mas primeiro vou mostrar-lhe estas e veremos se você tem algum talento pra coisa.

_ Ah Sev, você é um doce! _ e dizendo isso o abraçou fortemente e beijou seu rosto.