"…." – Fala do personagem

'…' – Pensamento


Nas Paginas de Um Livro

By kalilah


Capitulo 1 – Eu, a Avó e o Homem que não Fala

(Data de postagem: 27/6/2006)


Junshin, Agosto de 1910

-"Sakura, acorda minha querida, já amanheceu" – ela vagarosamente abriu os olhos, fechando-os logo de seguida pois a claridade era muita.

-"Avó, deixa-me dormir mais um bocadinho"

-"E isso é lá comportamento de uma senhora! Toca a sair da cama minha menina, que hoje temos um dia muito comprido."

Ela com muito esforço lá se levantou.

-"E o que vamos fazer hoje?"

-"Preciso que me vás buscar dois pezinhos de hortelã minha querida. Eu até podia lá ir mas as minhas costas andam a dar cabo de mim"

-"Avó, porque não descansa um pouco?"

-"E depois quem tratava dos feridos de guerra? Tu ainda não estas preparada. Vá, vai lá acabar de te vestir e desce para tomares o pequeno-almoço."

E a velhinha, antes de sair, procurou no armário um vestido bonito, não muito pomposo mas prático. Pousou-o em cima da cama e saiu, fechando a porta com cuidado. Estava a ficar velha, neste mundo já tinha visto de tudo, sentido de tudo. Era a única doutora naquela maldita vila assombrada pela guerra. Sentia que faltava pouco para a sua morte e antes que isso acontecesse, queria ensinar tudo o que sabia à sua neta Sakura, já que a sua filha tinha escolhido outro caminho. Ela parecia muito interessada na medicina e decerto daria uma boa médica. Desceu para acabar de fazer a sua infusão.

Sakura, que ainda se encontrava dentro do quarto, pegou na roupa que a sua avó tinha escolhido e foi vestir-se para trás do biombo. De dia para dia eram cada vez mais, os feridos de guerra que enchiam a grande tenda. A clínica da sua avó era pequena demais para tanta gente, por isso o Mayor criou uma tenda larga onde esta, os enfermeiros, os feridos e os familiares poderiam estar mais à vontade. Ontem tinha assistido a uma morte marcante: uma criança de 5 anos que brincava num pinhal com o seu irmão foi esfaqueada por um dos Génesis. Maldita gente que só sabia semear a morte a guerra por todo o território de Junshin.

Sakura tinha um segredo que apenas uma pessoa sabia: Eriol, o seu mestre. Por detrás daquela menina ingénua e imaculada havia uma guerreira. Queria mata-los, queria fazer sofrer cada Génesis, dar-lhes uma morte lenta e dorida, queria que cada Génesis descesse ao Inferno com a sua marca inserida no peito. Tinha sede de sangue Genesiano. Mas isso era a sua faceta negra, escondida de tudo e todos. Não queria imaginar a decepção da sua avó se soubesse que a sua menina se tinha tornado numa combatente, que a sua menina sabia lutar igual ou melhor que um homem.

Mas para alem desse segredo, Sakura era uma pessoa normal, igual às outras. Era uma jovem bonita, que estava a ser preparada para ser médica. Depois de descer e tomar o pequeno-almoço, saiu de casa com a avó.

-"Sabes onde anda a tua mãe?"- ela disse desinteressada.

-"Não faço ideia avó. Ela disse que ia aventurar-se com o Kennedy"

-"Kennedy?"

-"Sim, parece que é o novo namorado dela" – Sakura respondeu calmamente

-"A tua mãe não tem juízo. Se ao menos tivesse ficado com o teu pai…" – A anciã disse desiludida.

-"Avó, o pai não a quis, abandonou-nos" – Sakura respondeu prontamente.

-"Não Sakura, o teu pai deixou a tua mãe porque ela o traiu! Ele era um bom homem"

-"Bom homem? Ele era um Génesis!" – Ela disse cheia de ódio nos olhos.

-"E por ser um Génesis não que dizer que seja má pessoa! A Tua mãe é que é uma vadia, Sakura! Ainda bem que não puxaste a ela"

-"Todos os Génesis são maus Avó! O meu pai não é excepção! Se eu o encontrasse neste momento eu acho que era capaz de o MATAR" – Sakura disse cheia de ódio, enquanto cerrava os punhos.

CLAP

-"A avó bateu-me!" – ela disse incrédula

-"Nunca mais voltes a dizer isso, Sakura! Hoje, depois do jantar quero ter uma conversa contigo" – Definitivamente iria acabar com aquele rancor todo pelo Kinomoto. Sakura tinha a cabeça feita pela sua mãe, Maldita Nadeshico que nem para a educação da filha teve jeito.

Entraram as duas na tenda. Sakura estava enraivecida por causa do estalo e a Avó, pávida e serena como sempre.

-"Bom dia Dra. Tomoyo, Sakura." – Disse uma enfermeira que sem o treino adequado seria apenas uma camponesa.

-"Bom dia Naoko! O que há de novo?"

-"Bom, temos 3 feridos novos. Instalei-os nas camas cinco, seis e sete.

-"E qual é o estado deles?"

-"O da cama cinco tem uma perna amputada, o da seis tem apenas o braço partido e o da sete levou um tiro na perna esquerda e não fala."

-"Deve estar a passar por um choque emocional."

-"Em relação aos ferimentos, já estão todos tratados À excepção do da cama sete que perdeu a fala, agora só têm de repousar."

-"Naoko, conduz a Sakura ao doente da cama sete e traz-me os relatórios."

-"Com certeza, Menina Sakura espere por mim aqui pode ser?"

-"Sim" – ela disse desinteressada.

-"Querias lidar com os doentes não é Sakura? Então ajuda-o a recuperar a fala, trata dele, és a sua responsável. Quando terminares passarás a ser enfermeira."

-"A Sério?" – ela perguntou com os olhos brilhantes.

-"Sim, querida. Mas lembra-te que só serás enfermeira quando o doente estiver completamente curado."

-"Obrigado avó!" – E abraçou-a.

-"Vamos Sakura"- disse Naoko encaminhando-a para o doente da cama sete.

Quando lá chegaram, Sakura viu um homem deitado de lado, tapado apenas por um lençol. Tinha um cabelo castanho, despenteado. Olhou para a face dele e viu uma grande tristeza, os seus olhos apresentavam melancolia e desgosto. Era muito bonito e tinha um corpo de fazer inveja aos Deuses.

-"É Aqui Sakura. O Seu nome é Shaoran Li. Achas que consegues?"

-"Sim, podes ir Naoko!"

Ela viu a enfermeira sair do "quarto" com um certo nervosismo. Tudo iria depender de como se saísse ao curar o homem à sua frente. Estava bastante insegura mas apesar disso, mentalizou-se que tudo iria correr bem, iria tentar uma aproximação.

-"Olá Sr. Li… o meu nome é Sakura e doravante sou eu que vou cuidar de si." – Ela olhou nervosa para ele… iria ser muito difícil, não iria conseguir ser enfermeira –" O Sr. levou um tiro não foi? Se me dá licença, eu quero examinar…" – E num movimento brusco afastou o lençol. Corou ao ver o tronco nu do seu novo paciente. Procurou uma camisola para o cobrir e estendeu-a por cima deste.

Viu que alguém, provavelmente Naoko, tinha feito um curativo na perna esquerda do homem e que havia também vários arranhões que sem o tratamento necessário certamente iriam infectar. Voltou a tapar o homem e foi buscar compressas e uma garrafinha de vidro com desinfectante, fabricado pela sua avó.

-"Agora preciso que me dê atenção Sr. Li…" – Ela abriu a garrafa mas logo a fechou, ao ver que o homem continuava na mesma posição que o havia encontrado, nem tampouco havia se virado para a encarar.

-"Sr. Li…" – Ela suspirou – "Compreendo que tenha passado por situações de muita dor e sofrimento, mas a vida ensinou-me que não nos devemos deixar abater, devemos lutar para que esses fantasmas não fiquem para sempre a pairar sobre a nossa vida…Por muito que lhe custe, não se renda ao conformismo…Não lhe peço que fale, apenas que me dê atenção, de acordo?"

Ele, lentamente, virou-se para ela, para finalmente contempla-la. Era bonita, um pouco mais baixa que ele, cabelos castanhos, presos conforme a moda daquela época. Tinha olhos verdes como esmeraldas, lábios finos como o linho e pele branca como a neve.

Ao ver que o homem olhava para ela, Sakura corou um pouco. Novamente, abriu a garrafa e pôs um pouco do conteúdo na compressa. Procurou os pequenos arranhões e, pouco a pouco, fazia média pressão sobre eles. Viu que Li expressava dor numa maneira silenciosa e isso fez com que esboçasse um sorriso.

-"Dói, não dói? Mas a minha avó sempre disse que tudo o que arde cura! Não sei se a Enfermeira Naoko já lhe disse mas, pelo que li no seu quadro, deverá sair do hospital dentro de mais ou menos 4 meses." – Ela olhou para a face do homem, onde encontrou admiração – "Sei que é muito tempo, por isso talvez queira escrever uma carta para a sua mulher e restante família, para que estes não se preocupem. Sei que também devido ao choque o Sr. perdeu a fala, por isso a única maneira que encontro para nos entendermos é pelo papel e caneta e também por gestos. Terá à sua cabeceira um bloco e uma caneta, uma sineta para quando quiser chamar uma enfermeira e uma arrastadeira debaixo da cama. Tem dúvidas?" – O homem abanou a cabeça dando a ela uma resposta negativa – "Óptimo. Agora só falta pôr um ou dois pensos rápidos e deixarei o Sr. descansar ok?" – Ela recebeu uma resposta negativa.

Depois de pôr os pensos rápidos, despediu-se do homem e caminhou em direcção do gabinete da sua avó, no prédio à frente da tenda. Depois de bater à porta, a rapariga recebeu licença para entrar.

-"O que queres Sakura?" – perguntou a avó que anteriormente estava a escrever.

-"Não quero esperar pelo depois do jantar. Quero saber porque é que a avó protege tanto o pai, quero saber mais sobre a minha família."

-"Sakura…"

-"Já há muito tempo que quero que me conte, mas nunca tive coragem de pedir-lho."

-"Pois bem, irei contar-te tudo mas calma, irei começar pelo princípio…"


Oi, tudo bem? Começo por dizer que não tenho assim grandes planos para esta pequena história. Devo até dizer que foi coisa do momento… Como nunca tinha escrito uma história de época, resolvi tentar… e até acho que não me saí mal de todo P Espero que tenham gostado do que leram, que não tenha sido aborrecido ou confuso e espero também que me digam se gostaram ou não, deixando uma review… prometo que respondo assim que puder P

Bom, muito obrigado por lerem e até ao próximo capítulo!

Sayonara, Kalilah P