THE BEST IS YET TO COME

Resumo: "Eu não sei exatamente o que sinto por você". As últimas palavras que se espera ouvir de uma das melhores amigas. 5ª Temporada. Fic baseada em fatos reais de minha experiência pessoal. (Gabree)

N.A.(1): Cada uma das personagens aqui citadas representam uma pessoa real que foi de fundamental importância no desenrolar dessa história que já dura quatro anos. A narração de Mary Alice corresponde aos meus pensamentos sobre os acontecimentos. Divirtam-se!

CAPÍTULO 1

Talking to the Moon

Mary Alice: Mais uma bela manhã em Wisteria Lane. Esposas preparavam os cafés-da-manhã, maridos saíam para seus trabalhos, crianças iam para a escola. Em seus lares, todos os moradores parecem muito felizes com o raiar de um novo dia, menos Gabrielle Solis.

Gaby olhou o despertador ao lado da mesa de cabeceira e praticamente golpeou-o para que parasse de tocar. Sentou-se na cama levemente, já começando o dia irritada. Olhou para o lado, Carlos ainda dormia. Sorriu-lhe de leve, mas mal lhe chegava aos olhos. Estava triste. Não queria se demorar muito em tais pensamentos, então se levantou rápido da cama e foi direto para o banho.

Havia algum tempo que se sentia assim, desolada, perdida, como se fosse a última pessoa no mundo, mas ninguém parecia de fato notar. Quando seu marido perguntava, sorria e era polida em dizer que não havia nada de errado, mudando imediatamente de assunto. Mal sabia ela que negar a realidade é como pular de um precipício: Pode ser muito bom, mas não evita o final trágico.

Saiu do banho e preparou o café-da-manhã das duas filhas e do marido. Logo eles levantavam e iam comer, enquanto ela preparava os lanches da escola. Depois, era o momento da despedida.

- Me desculpe, mas vou precisar ficar até mais tarde hoje no trabalho, não me espere para dormir – informou Carlos já um pouco apressado enquanto o motorista do serviço buzinava junto à entrada.

- Não se preocupe – ela respondeu com o mesmo sorriso de todas as ocasiões.

Acenou de longe enquanto sua família saía, para depois retornar à casa vazia. Era assim que se sentia, completamente vazia em seu interior. Desde que Carlos conseguira este novo emprego, que lhe pagava muito bem, a família havia progredido economicamente, mas tão somente assim. O casal mal passava tempo junto e, quando passavam, era apenas dormindo lado a lado, sem trocarem palavras ou carinhos. Mas ela não queria pensar nisso. Olhou para o relógio, ainda tinha muito tempo até as seis, horário para o qual estava marcado o jogo de pôquer semanal.

Cumpriu com suas tarefas diárias. Lavou as roupas, passou ferro, varreu a casa, cuidou da cozinha e, quando estava tudo encerrado, saiu para uma volta. Precisava ocupar a mente e certamente não conseguiria ficando apenas em casa.

- Hey, faz tempo que não a vejo sem as monstrinhas – Edie passava pela frente da casa quando notou a colega saindo e parou para cumprimentá-la.

- Primeiro, elas não são monstrinhas, são minhas filhas. Segundo, devia se olhar mais no espelho – respondeu Gaby no mesmo tom.

Continuaram andando pela calçada, Edie fazendo seus exercícios matinais, enquanto Gabrielle apenas a acompanhava na mesma direção.

- Nossa, alguém dormiu mal essa noite – comentou a outra com sarcasmo. – Carlos não está te satisfazendo?

- Você adoraria, não é mesmo?

Edie deu uma pequena acelerada no passo e parou bem a frente de Gaby, impedindo-a de prosseguir. Olhou-a com firmeza, quase em reprovação, e perguntou em um tom firme, preocupada:

- O que está acontecendo? Sei que há mais de semanas que você está agindo dessa forma, fica evasiva, não quer conversar e, quando conversa, só sabe dar as mesmas respostas estúpidas, nem brincar sabe mais. Somos amigas, achei que poderia me contar.

- Não é nada, já te disse. Esqueça isso.

Gabrielle passou pela amiga desvencilhando-se com o braço. Gostaria de contar, gostaria de conversar, mas não estava pronta ainda, ou ao menos não tinha certeza se realmente havia algo para se contar ou eram apenas devaneios de sua mente solitária. O fato é que havia algo acontecendo. Passou pelas frentes das casas de Susan e depois de Lynette, agradecida pelo fato de não estarem em seus jardins para virem perturba-la, porém, outra dona de casa estava pegando a correspondência quando a viu do outro lado da rua.

- Gabrielle! – Chamou. – Por que não entra?

Sim, se Gaby tinha algo que não queria fazer agora era conversar, especialmente em se tratando de Bree Hodge. Sem poder recusar, atravessou a rua sorrindo para se encontrar com a ruiva.

- Se soubesse que não tinha nada para fazer teria lhe convidado para sair – continuou Bree. – Aceitaria pelo menos uma xícara de café?

E a cada momento, Gaby sentia-se mais e mais acuada, sem pode negar nada que lhe era pedido. Entrou na casa da amiga e acompanhou-a até a cozinha em silêncio. Assistiu preparar o café, servir em duas xícaras e depois ajudou-a a leva-las até a varanda. Bree, por outro lado, não parava de falar, fosse sobre seus afazeres diários, lançamentos de livros, noites de autógrafos, comidas que pretendia fazer...

- Gaby, está me ouvindo? – Parou subitamente, notando que a outra não a escutava.

- Estou sim – a outra respondeu sem erguer os olhos do café em suas mãos.

O silêncio reinou mais uma vez. Sentadas lado a lado na varanda, nenhuma das duas falou mais uma palavra, apenas esperando que o tempo passasse e o ônibus das crianças aparecesse na esquina pára que finalmente o momento acabasse com Gabrielle tendo que ir embora.

A noite, as amigas reuniam-se na casa dos Scavos para mais um jogo de pôquer. Cinco delas já se encontravam lá, apenas falando da única ausente.

- Falei com Gaby hoje, ela ainda me parece estranha – disse Edie.

- Relaxe, não há nada que se preocupar, já disse isso a vocês – comentou Susan. – Ela é assim mesmo, é só uma fase.

- Fases não duram tanto, ela está assim há muito tempo, mal tenho conseguido conversar com ela – disse Bree.

- Vocês acham que tem algo mais acontecendo que ela não quer nos contar? – Perguntou Katherine.

Nesse instante, a campainha tocou e o assunto teve que ser mudado subitamente. Lynette levantou-se da mesa e foi abrir a porta. Gaby apareceu muitíssimo bem vestida, anormalmente arrumada para um jogo, mas ninguém comentou, apenas sorriam e tratavam como sendo um bom sinal, de que ao menos a amiga não estava ficando louca. Todas em seus lugares, Edie começou a embaralhar as cartas enquanto Susan distribuía das fichas.

- E então, sobre o que estavam falando antes de eu chegar? Também quero saber! – Comentou Gaby animada.

Houve um instante de hesitação. As amigas olharam-se entre si, procurando uma desculpa qualquer, um assunto qualquer para comentar, mas nada parecia vir à mente. Foi quando Lynette teve a idéia:

- Eu e Tom estamos pensando em reformar a casa.

Era como se o alívio tivesse atingido a todas de uma vez. As amigas começaram a parabenizar ao mesmo tempo, perguntando sobre cores, texturas, arrumações. Mas Gabrielle percebeu. Em seu exterior, ela poderia até estar sorrindo, mas, por dentro, um rio de lágrimas corria. Sabia que devia a todas uma explicação, e a uma delas em especial, mas não podia ser agora ou estragaria a vida de todos que amava.

O jogo transcorreu normalmente, entre risos, brincadeiras e margeritas. Ao final da noite, quando já estavam indo embora e se despediam, Gaby rumou para o carro, mas mal conseguia encaixar as chaves na ignição.

- Lynette, tem problema eu vir pegar meu carro amanhã? – Perguntou fechando-o novamente. – Acho que vou para casa a pé.

- Claro, sem problemas – a outra respondeu.

- Você vai andando assim? – Bree falou em tom de reprovação. – Deixe que eu vá com você então, já que sou a única sóbria.

Gabrielle não se opôs, na verdade, era sempre bom ter companhia, ainda que não fosse para conversar. Distanciaram-se das amigas, andando a passos lentos. Bree queria criar todo o tipo de oportunidades para que pudessem conversar, enquanto Gaby somente desejava estar perto de alguém. Avistando de longe a casa dos Solis, a ruiva não teve escolha a não ser apelar para que, contando algo que a afligia, fosse fazer a amiga falar também. Então disparou sem nenhuma preparação:

- Acho que não amo mais Orson, estou pensando em me divorciar.

Era isso. Aquelas palavras foram fortes demais, muito além de qualquer coisa que Gaby estaria preparada para ouvir em um momento tão instável de sua vida. Como se fosse o destino preparando o caminho para ela. Parou por um momento, sem conseguir nem ao menos andar ou falar, e então fez o extremo oposto e correu em direção à sua casa, largando a amiga sozinha e confusa no meio da rua.

Bree não conseguia entender o que havia acontecido, mas Gaby sabia. Com o rosto contorcido de choro, correu para que ninguém a visse tão vulnerável. A dúvida em sua mente pareceu se dissipar como as nuvens que somem ao sol. Entrou em casa e trancou a porta, encostando-se na mesma e descendo até sentar-se no chão, o rosto escondido para poder soluçar a vontade. Aquele era o seu momento, e era a hora de ser sincera com todos e, ainda mais, consigo mesma.

Mary Alice: A vida nos subúrbios pode ser estranha. Há donas de casa que tentam esconder seus segredos, fingindo que são felizes em seus casamentos convenientes e politicamente corretos, sem perceber que podem estar ferindo a outras pessoas, e mais ainda a si próprias. Se olharmos bem de perto, será que não temos todos a nossa culpa por não perceber quando o outro está sofrendo? Será que não poderíamos ter feito mais? E ficamos com a culpa na consciência durante o que pode ser toda a vida.

N.A.(2): Ainda me lembro dessa quinta-feira... Eu tinha 17 anos, "Gaby" tinha 16, quase 17, estudávamos juntas. Eu estava saindo com V. que havia sido namorado de "Gaby". Ela estava tão estranha comigo e com todas as amigas há meses. E neste dia, subitamente, conclui que não amava mais V. e que estava apaixonada por um homem casado. Quando contei isso pra "Gaby", ela surtou. Depois conto mais sobre a verdadeira história...

N.A.(3): A escolha dos personagens não foi de forma aleatória. Apenas eu me identifico mais com Bree, enquanto meu amor se identifica mais com Gaby. Os outros nós sentamos juntas e decidimos com quem nossos amigos se pareciam mais.