Denim (Alternative Universe)

Denim (Alternative Universe)

Os trailers já haviam começado. A sala abrigava trinta ou quarenta pessoas. Os barulhos que se ouviam eram os de pessoas mastigando suas pipocas e bebendo os copos de refrigerante. Katara estava sentada nos fundos da sala de cinema, e suas mãos suavam mais do que o normal, e seu coração batia mais rápido do que usualmente. Ele... Ele deveria estar lá. Ele tinha que estar lá. Ela olhava apreensiva para os lados, procurando por uma silhueta em especial. Perguntas começavam a surgir em sua cabeça numa velocidade que não podia ser medida. O medo e a angústia tomavam conta do corpo de Katara, fazendo-a se perguntar se era ela mesma que estava sentada ali.

"Não vai adiantar nada ficar pensando nisso", ela dizia a si mesma. "Na pior das hipóteses, o filme não pode ser tão ruim assim". Isto é, ela nunca se importava com o filme que iria assistir – Justamente pelo fato que ela nunca o assistia, de um modo ou outro. Katara passava a semana inteira esperando pelas noites de sábado, implorando que as duas horas que eles passariam juntos, naquela sala de cinema, durassem para sempre.

Mas parecia que ele não viria nessa vez, nem nunca mais, e tudo por causa da briga que tiveram na quinta-feira da mesma semana. Ainda machucava pensar em como ele pôde ser tão tolo, e ainda doía se lembrar daquelas palavras.

Flashback

Os alunos estavam nos corredores da escola, esperando o início das aulas. Reconhecendo a silhueta da sua frente, Katara chegou, discretamente, e o cutucou.

"Hey. Zuko."

Ele virou seu rosto levemente, deixando à vista apenas o lado esquerdo do rosto, que possuía uma grande mancha de nascença.

"Sim..."

"Em qual sessão nós vamos ir, no sábado?"

"Sabe... Eu estava querendo mesmo falar sobre isso." Ele disse, virando-se para ela e encostando o lado direito do corpo na parede, e cruzando os braços.

"Ah, eu já dei uma olhada mais cedo hoje, e parece que-"

"Er... Não exatamente sobre isso."

"Como assim? Você prefere ir a outro lugar?"

"Não, Katara... O que eu quero dizer é que-" As portas das salas se abriram. "Vamos falar sobre isso no intervalo, está bem?"

"Ok..."

Dizendo isso, Zuko foi à direção da sala de aula, pensando em como dizer aquilo que tanto o atormentava. Enquanto isso, Katara pensava no que ele queria tanto dizer a ela, e, em razão disso, não conseguiu se concentrar em nenhuma das aulas – Assim como Zuko.

Ao ouvir o sinal soar, ambos se direcionaram até o refeitório, e não se satisfizeram até encontrarem o olhar alheio, do outro lado da cantina. Com um sinal rápido feito com a cabeça, Zuko pediu para que Katara fosse até a quadra da escola. Ele foi, e, logo em seguida, ela estava no local indicado. Katara sentou-se na arquibancada, e Zuko sentou um degrau acima.

"O que você estava querendo falar para mim àquela hora?" Katara perguntou, sem olhar para ele, como se estivesse prestando atenção no jogo de futebol que acontecia na quadra.

"É que eu estava pensando... Eu acho muito desgastante ter de manter tudo isso em segredo. Já fazem três meses, e eu não sei até quando vamos conseguir mentir." Zuko respondeu a pergunta apoiando os cotovelos nos joelhos, se aproximando de Katara para que ela o ouvisse melhor.

"Eu concordo... Já tinha um tempo que eu estava pensando nisso."

"V-Você também acha que é melhor...?"

"Sim... Eles já devem estar começando a desconfiar de nós, e vai ser muito melhor se nós assumirmos de uma vez isso."

"Katara... Não é isso que eu estou querendo dizer."

Insistivamente, Katara virou-se e começou a encarar Zuko.

"Você não pode estar querendo dizer isso. Simplesmente não pode." Katara estava respirando mais rápido que o normal. Isso significava problemas.

"Você tem que entender... Nós não pertencemos ao mesmo mundo. Eu sou filho do presidente da república, e você... Você é filha de um pescador!" Enquanto dizia isso, passava a mão pelo cabelo nervosamente.

"Então quer dizer que a sua família vale mais a pena do que nós?" Katara se aproximava de Zuko enquanto dizia isso.

"É claro que não! Mas imagine como meu pai reagiria se a imprensa descobrisse o que está acontecendo entre nós!"

"Tudo bem, Zuko. Eu já entendi que você não me quer mais. É só falar isso, se quiser terminar tudo."

"Não... Você não entende! Meu pai não é uma boa pessoa, e você sabe disso. Ele faz questão de destruir tudo que me faz bem. E essa coisa é você."

"Era, você quer dizer. Então quer dizer que esses três meses não valeram nada, não é?" Lágrimas começaram a se formar nos olhos de Katara.

"Você tem que entender... Se não for por bem, vai ser por mal. A única coisa que eu quero é o seu bem."

"Então, porque você só tem me feito sofrer?" Uma lágrima começava a cair do olho esquerdo de Katara. "Durante esses três meses, tudo que eu tenho feito é em prol de você. TUDO." Mais uma lágrima. A voz de Katara começava a ficar mais fraca. "E é assim que você retribui? Pode ser difícil para você, mas você não tem a menor idéia do quanto é difícil para mim!"

Katara se preparava para sair, mas Zuko segurou seu braço e fez com que ela se sentasse novamente. Embora ela se recusasse a olhar para ele, Zuko disse:

"Eu sei... Eu sei que isso não tem sido fácil para nenhum de nós. E é por causa disso que eu acho melhor acabar com isso de uma vez por todas... Para evitar tudo isso, toda essa dor."

"Mas... Essa dor valia a pena, até algumas horas atrás." Katara disse isso encarando Zuko, e ele podia ver cada lágrima que ela lutava em conter.

"O problema é esse. Eu não sei se isso tem valido a pena pra mim, ultimamente."

E dizendo isso ele partiu, como havia acabado de fazer com o coração de Katara.

Fim do flashback

Ela não tinha a menor idéia do que estava fazendo lá, para ser sincera. Mas... Ela ainda tinha esperanças de que ele desistisse de tudo e viesse ao seu encontro. Porém, parecia que ele realmente não viria.

Katara se preparava para sair, quando sentiu algo envolvendo sua cintura. Pela luz fraca do cinema, ela só pôde constatar que o que a envolvia era uma jaqueta jeans. E ela sabia muito bem a quem pertencia.