N/A: Uma história especial para o natal, serão quatro capitulos, grandes, tenho ela quase todo pronta, pretendo posta-la até o dia de Natal

Vou botar a sinopse dela completa para entender melhor a ideia :D

O mundo de Bella se resume à filha que tem. Viúva, pobre e vivendo em um chalé isolado, ela sabe que o futuro não pode ser muito diferente do que o presente. Porém quando o inverno chega, traz consigo um desconhecido que sofreu um grave acidente e perdeu a memória. Bella o recolhe em sua casa, e a cada dia que passa começa a achar a presença dele mais e mais reconfortante. E não é só: aquele estranho sem nome começa a entrar devagar em seu coração, fazendo-a ver que a lenha que queima na lareira pode aquecer bem menos do que um coração apaixonado!

Sinopse tosca, mas é só para entender melhor, a história é bem melhor.

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Dedico essa história à todas as minhas maravilhos leitoras, espero que gostem, tanto quando eu gostei.


CAPITULO UM

Northumberland, Inglaterra,

Dezembro, 1816

— Minha vela do desejo ainda está queimando, mamãe?

Bella beijou a filha pequena com ternura.

— Sim, querida. Ela ainda não chegou ao fim. Agora, deixe de preocupar-se tanto e tente dormir. A vela está lá embaixo, na janela, no lugar onde você a deixou.

— Brilhando na escuridão para que papai a veja e saiba onde nós estamos.

Bella hesitou. Quando respondeu, sua voz era rouca.

— Sim, querida. Papai saberá que estamos aqui, seguras e protegidas do frio.

Amy encolheu-se sob os cobertores gastos e a desbotada colcha de retalho que as cobriam.

— E quando o novo dia chegar, ele estará aqui para o café da manhã.

Um nó se formou na garanta de Bella.

— Não, querida. Papai não vai estar aqui. Você sabe disso.

— Mas amanhã é meu aniversário e você disse que papai viria.

Lágrimas queimavam os olhos de Bella. Comovida, ela acariciou o rosto encantador e suave da filha.

— Não, querida, eu disse isso no ano passsado, e você sabe por que papai não veio naquela ocasião.

Houve um longo periodo de silêncio.

— Porque no ano passado eu não coloquei uma vela na janela?

A reação de Bella foi de verdadeiro horror.

— Oh, não! Não, minha querida, juro que você não tem nenhuma responsabilidade no que aconteceu.— Ela tomou a menina nos braços e abraçou-a por um longo momento, afagando seus caracois sedosos, esperando até que o nó em sua garganta se desfizessse e ela fosse capaz de falar mais uma vez.— Meu bem, seu papai morreu, poriso ele nunca voltou para casa.

— Porque ele não conseguia encontrar o caminho, porque não acendi uma vela na janela para ajudá-lo.

A infelicidade na voz a filha tocou o coração de Bella de maneira aguda e dolorosa.

— Não, meu amor. Não foi por causa da vela. A mortede seu papai não foi culpa de ninguém.— Não era verdade. James havia encontrado a morte pelas próprias mãos, mas jogo e suicídio compunham um conto feio demais para ser relatado a uma criança.— Agora para com isso — ela exigiu com toda a firmeza que era capaz. — Amanhã é seu aniversário e você vai se tornar uma mocinha de quatro anos de idade. E sabe de uma coisa? Por ter sido uma menina tão boa e ter ajudado tanto sua mamãe, haverá uma adorável surpresa esperando por você ao amanhecer. Mas só se for dormir imediatamente.

— Uma surpresa? Que surpresa? O que é, mamãe?— ela perguntou com ansiedade.

— Se eu contar, nào será mais uma surpresa. Agora vá dormir.— Bella começou a cantar uma canção de ninar, usando a voz doce para acalmar a menina e banir de sua mente todas as aflições e ansiedades.

— Já sei que surpresa é essa— sua filha murmurou sonolenta.— Papai estará aqui para o café da manhã.

— Bella suspirou.

— Não, Amy, ele não virá. Papai morreu há mais de um ano. Você sabe disse. Porque insiste nesse assunto?

— Aquela vela é especial, mamãe. A senhora garantiu. Uma vela do desejo. Ela vai trazer meu papai, você verá.— Sorrindo, a pequena aninhou-se sob as cobertas e encolheu-se como um pequeno gato.

Bella tinha uma profunda ruga entre as sobrancelhas. Aquela desaventurada cigana com suas histórias mentirosas! Sem a autorização ou conhecimento da mãe, Amy havia trocado uma dúzia de ovos e um pouco de leite por uma grande vela vermelha. Uma vela do desejo, francamente! E uma vela perniciosa, se a velha conseguira por meio dela meter na cabeça de Amy a idéia de que alguma coisa podeia trazer seu pai de volta.

As poucas lemranças que aquela criança tinha do pai eram, na verdade, contos idalizados e fantasiosos. A verdade era dolorosa demais, especialmente para um criatura tão pequenina. James nunca havia sido um pai ou um marido atencioso. Sir James Swan, baronete, desejara um filho... um herdeiro. Uma menina delicada e vigorosa com exuberantes caracóis negros e brilhantes olhos verdes não despertara seu interesse. De fato, aquela era uma criatura inútil, como ele mesmo dissera em muitas ocasiões, algumas diante da própria Amy.

Bella olhou apra o rosto delicado e adormecido de sua filha e sentiu o coração transbordar de emoções e sentimentos. Não havia nada mais precioso no mundo do que aquele ser tão especial. Levando a vela acesa, ela foi para o outro quarto. Tremendo por conta do frio de dezembro, trocou rapidamente de roupas diurnas pela camisola de flanela e foi para a cama.

Estava se preparando para apagar a vela quando se lembrou de outra queimando lá embaixo. Velas eram caras. Não podia se dar ao luxo de deixá-las queimando sem nenhum propósito concreto. Sem uma razão prática. Ela se lembrou do rosto da filha, recém lavado e luminoso depois da higiene que fazia parte de su rotina diária para ir se deitar, um rosto que havia sido dominado pela esperança enquanto as mãos rechonchudas colocavam a vela na janela. Um nó se formou em sua garganta. Bella levantou-se da cama, calçou novamente os sapatos e jogou sobre os ombros um xale de lã para manter-se aquecida. Não poderia arcar com os sonhos de felicidade que eram tão frequentes e fáceia na mente de uma criança.

Estava descendo a escada estreita e se aproximava dos últimos degraus, quando de repente um baque assustador sacudiu a porta de sua modesta casa. Bella parou e esperou. O frio a envolvia como um manto de gelo, o ar frígido castigando suas pernas como dardos pontiagudos e certeiros. Mas ela nem se dava conta da incômoda sensação.

O estrondo se repetiu. O som era como de um pulso batendo contra a porta. Bella não se moveu. Parada, mal ousava respirar. Houve um movimento atrás dela, e o ar frio precedeu a mão pequenina e amendrontada que segurou a dela. O sussurro infantil também traía grande apreensão e muito medo.

— É o proprietário?

— Não, querida. Não é ele. Volte para a cama — Bella respondeu com tom calmo e controlado.

Os dedos frios apertaram os dela.

— Sua mão está gelada, mamãe.

O ruido se repetiu. Duas vezes.

Bella sentiu a filha pular assustada.

— É o proprietário.— Amy murmurou.

— Não, meu bem, não é — Bella insistiu determinada.— Ele sempre grita quando não abro a porta. Não é verdade?— A mão da criança relaxou entre seus dedos, consequência provocada por suas palavras verdadeiras.— Espere aqui, querida, e vou ver quem está batendo em nossa porta a esta hora da noite.

Ela desceu mais quatro degraus, até poder ver a porta da frente e a pesada trava de madeira que a mantinha fechada, um artifício que adotara logo nos primeiros dias depois de mudar para o imóvel. Desde o início compreendera que as chaves das portas dos chalés não valiam nada contra a impetuosidade e a arrogância de seu senhorio.

A luz que dançava no interior do aposento era proveniente da vela vermelha deixada na janela, a vela do desejo que Amy obtivera com a cigana.

As batidas se repetiram, porém mais baixas. Uma voz profunda chamou.

— Olá!

— Deve ser o papai — Amy gritou com súbita euforia, correndo para perto da mãe.— Ele viu a chama da minha vela e finalmente conseguiu voltar para casa.— A menina pasou por Bella e seguiu na direção da porta com passos decididos.

— Não, Amy! Espere!— Bella a seguiu preocupada, quase caindo da escada na pressa de impedir a filha de abrir a porta para quem quer que estivesse do outro lado.

— Mas é o papai, mamãe. Eu sei que é o papai — a criança respondeu, tentando remover a pesada trava de madeira.

— Fique quieta! — Bella a conteve segurando-a entre os braços.— Não é o papai, Amy. Seu pais está morto.

A casa era isolada, localizada a alguma distância da estrada principal e escondida atrás de um frondoso vidoeiro. Mas, mais adiante pela estrada havia o Anjo, uma hospedaria isolada que atraía a mais infame clientela, gente da péssima reputação e costumes ainda piores. Bella havia sido seguida até a casa por duas vezes... Com aquele ninho de vilões à beira da estrada, não podia de maneira nenhuma abrir a porta para um estranho no meio da noite.

A voz profunda soou novamente.

— Socorro.— Ela estava ainda mais fraca dessa vez. As batidas na porta também perdiam a força, como se ele estivesse perdendo a energia. Bella pensou de repente. A indecisão levou-a a morder o lábio e segurar a filha e seu lado. Podia ser apenas um truque para enganá-la.

— Quem é?— perguntou. Não houve nenhuma resposta apenas o barulho de alguma coisa caindo. Depois o silêncio. Bella esperou por um momento,sem saber o como agir. Depois decidiu.— Espere na escada, querida— ordenou a Amy.— Se for um homem mau, corra para o seu quarto e ponha a trava na porta como já lhe ensinei. Entendeu?

A menina assentiu, o rosto em forma de coração ganhando uma súbita palidez, resultado do medo que a atormentava. Bella armou-se com a frigideira mais pesada que possuía. Então girou a chave e removeu a barra. Mantendo a frigideira erguida acima da cabeça, ela respirou fundo e abriu a porta.

Uma rajada de vento levou a chuva gelada para dentro da casa, fazendo-a tremer. Bella olhou para a escuridão. Ninguém. Nenhum som. Ainda segurando a frigideira ela deu um hesitante passo para a frente a fim de examinar melhor a área em volta da porta e encontrou algo grande e frio em sua soleira.

Era um homem. Ele estava caído e quieto. Imóvel. Ela se abaixou e tocou o rosto do desconhecido. Gelado. Insensível. Seus dedos tocaram uma substância quente e espessa. Sangue. Ele estava sangrando na cabeça. Ainda havia vida naquele corpo, mas ela não perdoraria se o deixasse exposto àquele frio enrregelante por muito mais tempo.

Bella jogou a rigideira no chão e segurou o desconhecido pelos ombros, tentando puxá-lo. O homem era muito pesado.

— Ele está morto, mamãe?— Amy havia descido a escada sem fazer barulho.

— Não, querida, mas está bastante ferido. Precisamos levá-lo para dentro e aquêce-lo. Depressa, vá buscar o tapete que fica em frente da lareira. Isso mesmo, seja uma boa menina.

Amy correu para dentro da casa e voltou depois de alguns instantes arrastanto o tapete velho e desbotado. Bella aproximou-o o máximo possível do corpo prostado e imóvel, depois empurrou e puxou até finalmente conseguir colocá-lo sobre o tapete. Depois arrastou o tapete empregando toda a força dos braços. Amy também puxava. Centímetro por centimetro, o homem foi levado para dentro do chalé. Bella caiu no chão, ofegante e exausta.

Depois de fechar a porta e colocar novamente a trava de madeira, ela acendeu a lamparina. O desconhecido não usava paletó ou casaco, apenas uma camisa e calça. Ele também não tinha sapatos, apenas um par de meias imundas e molhadas. E no entanto era dezembro, e lá fora havia chuva e gelo.

O sangue brotava abundante de um horrível ferimento na parte de trás de sua cabeça. Agredido pelas costas; um golpe covarde. Ele havia sido destituído de seus pertences até mesmo do casaco e botas, e fora abandonado para morrer no terrível frio da noite. Bella sabia como era perder tudo. Ela pôs uma das mãos no peito do desconhecido, sentindo-se repentinamente possessiva. Não podia fazer mais nada quanto ao roubo, mas não o deixaria morrer.

Sua camisa estava molhada e parecia congelar, e a pele embaixo dela estava terrívelmente fria. Rápida, Bella imporvisou uma bandagem com um pano limpo e amarrou-a em torno de sua testa apertando-a tanto quanto poidia, tentando estancar o sangramento.

— Vamos ter de livrá-lo dessas roupas molhadas — ela disse a Amy.— Ou o pobre coitado vai encontra a morte levado pelas mãos do frio. Pode ir buscar mais toalhas no armário da escada?

Amy correu a atender ao pedido da mãe. Enquanto esperava, Bella removeu a camisa e as meias ensopadas do desconhecido.

Ele havia sido surrado com crueldade. Os hematomas avermelhados que já começavam surgir em sua pele alva eram prova da dureza daqueles que o atacaram. Também havia diversas marcas encurvadas, como se ele houvesse sido chutado, e no ombro direito era possível identificar o desenho deixado pelo salto de uma bota. Cautelosa, tocou as costelas do homem e fez uma rápida prece de gratidão por terem sido poupadas. Não sentia nenhum indicio de fratura. O ferimento na cabeça era o pior de todos, ela pensou. O pobre homem sobreviveria, desde que não adoecesse por conta do frio e da umidade.

Com muito cuidado, Bella friccionou uma toalha áspera por toda a área de seu peito, pelo estômago e pelos braços. Sentia a boca seca. Só havia estado diante de um homem de peito nu ante. Mas esse outro não era como seu marido.

O peito de James sempre havia sido estreito e magro, branco e desprovido de pêlos. A região do ventre e do estômago era macia, os braços eram pálidos, finos e elegantes. O peito desse homem era largo e firme, mas não tinha nada de magro. Amplas faixas de músculos jaziam relaxadas agora que ele estava inconsciênte, mas ainda assim eram firmes e sólidas. Pêlos escuros, macios e encaracolados cobriam a pele dourada abaixo até desaparecer dentro da calça. Bella tentou não dar muita atenção aos detalhes enquanto o esfregava com a toalha, forçando o calor e a vida de volta à pele congelada.

O desconhecido era surpreendentemente limpo, ela pensou. Sua pele não exalava aquele cheiro de suor que sempre havia associado ao corpo de James. Esse homem não tinha nenhum odor, exceto, talvez a leve fragrância de sabão, suor recente e.. seria couro? Cavalos? O que quer que fosse, Bella decidiu que não era difícil ou desagradável permanecer perto dele.

Apesar dos músculos, ele era magro. Era possível contar cada uma de suas costelas. E o estômago acima da linha da cintura era plano, até um pouco côncavo. A pele tinha numerosas cicatrizes, marcas pequenas e antigas. Um homem que passara a vida lutando, talvez. Ela olhou para as mãos do desconhecido. Aquelas não eram mãos brancas e macias de um fidalgo. Eram mãos fortes, escuras e muito castigadas, os nós dos dedos esfolados e inchados. Ele devia ser um trabalhador agrícola, um empregado de alguma fazenda da região, ou qualquer outra coisa semelhante. Isso explicaria seus músculos definifos e rígidos. Aquele não era um homem rico, disso estava certa. As roupas, embora tivessem sido de boa qualidade, eram velhas e muito usadas.a camisa fora costurada, muitas vezes e sem nenhum esmero. Como a calça, também remendada em diversos lugares. A calça. Ela aderira fria e encharcada ao corpo inerte. Teria de ser removida. Ela engoliu em seco e estendeu a mão para a cintura da roupa, mas hesitou, notando que a filha retornava à sala com mais toalhas secas.

— Boa menina. Agora corra até lá em cima, meu amor e traga para mim o cobertor que está em minha cama e também o tijolo aquecido que mantenho nela.

Amy apressou-se a atender ao pedido da mãe, e Bella respirou fundo. Não possuía grandes conhecimentos sobre o corpo masculinos, argumentou consigo mesma a fim de acalmar-se e conter o tremor das mãos. Era difícil lidar com os botões da calça molhada, pois os dedos pareciam não responder às ordens do cérebro. Sim, havia sido casada. Mas esse homem não era seu marido. Ele era muito maior, só para citar as diferenças.

Segurando a calça com firmeza, puxou-a para baixo, rolando o desconhecido de um lado para o outro enquanto o despia com dificuldade e aflição. O pesado tecido molhado teimava em permanecer colado na pele fria. Finalmente, ela conseguiu concluir a tarefa e, ofegante, sentou-se sobre os calcanhares. O home estava nu. E não conseguia desviar os olhos de seu corpo.

— É o papai, não é? — Amy desceu a escada carregando com dificuldade o cobertor enrolado.

Apressada, Bella jogou a toalha sobre a parte inferior do corpo do desconhecido,

— Ele não é seu pai.

Amy fitou-a com uma expressão estranha, depois virou-se e correu para cima. Bella arrastou o homem para perto do fogo, aproximando-o das chamas tanto quanto possível. Quando a criança retornou com o tijolo, Bella colocou-o na alreira. Então esquentou um pouco de sopa e usou um pedaço de musselina para coá-la, despejando o caldo nutritivo no interior de um bule de chá.

— Sopa no bule de chá? — Amy ria da idéia inusitada e tola.

Bella sorriu, aliviada por perceber que a filha ainda encontrava razões para rir.

— Isso vai levar algum tempo, e é hora de mocinhas como você estarem dormindo. Para a cama, meu amor.

— Ah, mas, mamãe...

— O homem ainda vai estar aqui quando o dia amanhecer — ela interferiu com firmeza.— Já temos uma pessoa doente em nossa casa... Não quero que você também se resfrie por estar se expondo ao frio da noite. Portanto, mocinha, para a cama imediatamente.— Bella beijou a filha e empurrou-a com doçura na direção da escada.

Amy obedeceu relutante. A mãe orgulhosa conteve um sorriso. Sua pequenina curiosa passaria toda a noite acordada e vigilante, se pudesse.

Sozinha com o estranho, ela limpou o ferimento em sua cabeça da melhor maneira possível, depois cobri-o com uma porção de ervas quentes e úmidas, um processo que removeria toda e qualquer impureza que ainda restasse na ferida. O homem gemeu e tentou mover a cabeça.

— Quieto.— Ela deslizou uma das mãos por sua pele, usando a outra para manter o emplastro quente no lugar.— sei que está sentindo dor, mas elas o farão melhorar. — O estranho calou-se, mas poida-se sentir a tensão que emanava de seu corpo, como se parte dele estivesse acordada. Uma parte que tinha o objetivo de defendê-lo. Ela o acalmou mais uma vez, a voz baixa e melodiosa agindo com um bálsamo. — Descanse tranquilo. Ninguém vai lhe fazer mal algum aqui. — Aos poucos, o corpo forte relaxou. Suas pálpebras estremeceram algumas vezes, e então, lentamente, ele abriu os olhos. Bella inclinou-se ansiosa sobre o homem ferido, ainda sustentando sua cabeça com a mão.

— Como se sente?— perguntou apreensiva.

O estranho não disse nada. Em silêncio, fitou-a com seus grandes olhos verdes.

Como se sentia? Como se sua cabeça estivesse aberta ao meio. Piscando algumas vezes, tentou enxergar o rosto feminino com um pouco mais de nitidez. Era um belo rosto, pensou vagamente. Pele suave, macia. Seus olhos acompanharam o desenho dos cabelos escuros e brilhantes qua caíam como uma cascata de caracóis em torno dos ombros. Quem era ela? E onde diabos estavam?

Com grande esforço, desviou o lhar da bela imagem por alguns instantes, examinando o aposento onde se encontrava. Pequeno... Um chalé? Havia sido levado a alguma residência daquela área da população humilde? Às vezes os guerreiros agiam dessa maneira, deixando os feridos aos cuidados de alguma camponesa de competência duvidosa a fim de seguir emfrente e continuar lutando... Franzindo a testa, tentou recordar alguma coisa. Haviam conseguido vencer a batalha, ou saíram dela derrotados? Ou a luta ainda estava sendo travada? Aguçando os ouvidos, tentou identidicar os sons que conhecia tão bem. Não, não havia nenhum ruído de armas.

Seus olhos voltaram ao rosto da mulher. O ambiente em que se encontrava não lhe dizia nada. Mas a mulher... Não conseguia deixar de olhar para ela. Olhos suaves, preocupados. Boca suave e preocupada. Uma linda boca. Preocupada? Ou assustada? Não saberia mover-se e parou ao ouvir o próprio gemido.

Sua cabeça o estava matando. Era como se alguém a houvesse atingido com um machado. Como isso havia acontecido? Estava perdendo sangue? Tentou tocar a cabeça. E descobriu que não era capaz de fazer o movimento. Estava preso, maldição! Não podia mover os braços e as pernas. Alguém o havia amarrado. Fora feito prisioneiro. Furioso, começou a debater-se.

— Fique quieto— a mulher repetiu com tom maternal.— Enquanto falava, ela ia removendo as amarras que imobilizavam seus braços.— Está tudo bem. Só o envolvi com o meu cobertor porque estava molhado. Temi que contraísse uma doença provocada pelo frio.

Ele piscou. A dor de cabeça era insuportável. Latejavante. O resto do corpo também doía, mas a cabeça era pior do que tudo. Tontura e confusão se misturavam compondo um estado incômodo, assustador.

E então ele percebeu algo importante. Ela havia falado em inglês. Não em português, espanhol, ou francês. Inglês... e não era um inglês utilizado pelos estrangeiros, mas um inglês correto e próprio. O tipo de inglês que também conhecia e ultilizava. Então, onde estavam? Tentou falar, talvez interrogá-la. Sentiu que os lábios se moviam, mas era como se alguém houvesse cortado a sua língua. Ou extirpado seu cérebro. Apesar dos movimentos da boca, nenhuma palavra era pronunciada por ela. Encarando aquele rosto de traços tão harmoniosos, tentou reunir a energia necessária para formular uma pergunta. A primeira de muitas. Elas se amontoavam em sua cabeça dividida e dolorida.

A mulher sentou-se no chão a seu lado e, delicada, afastou os cabelos que caíam sobre sua testa, alisando-os para trás. A sensação era tão deliciosa que ele fechou os olhos por um instante para saboreá-la.

— Não tenho nenhuma bebida alcoólica— a desconhecida desculpou-se.— Tudo que tenho é um pouco de sopa quente. Vamos, beba devagar. Ela vai aquecer seu corpo e devolver-lhe as forças.

Aquecer o corpo? Precisava de calor? Sim, estava tremendo. Ele levantou a cabeça para aceitar a oferta generosa e mesmo sabendo que poderia contar com sua ajuda, não conseguia concluir o movimento, porque uma forte tontura ameaçou roubar-lhe novamente a consciência. A mulher segurou-o contra um ombro e o mantece ali, firme e seguro, cercado por... atenção. Cuidado. Agarrando-se a uma de suas pernas, ele lutou com bravura e obstinação para permanecer consciente, e aos poucos foi vencendo a escuridão. Algo se chocou contra os seus dentes da frente, fazendo-o recuar assustado.

— Acalme-se. É só um bule de chá— ela murmurou em seu ouvido.— O caldo quente está aqui dentro. Vamos, beba devagar através do bico que vou inserir entre seus lábios. Isso vai ajudá-lo.

Queria dizer a ela que era um homem, que podia beber o caldo sozinho e utilizando uma xícara, não um bebê indefeso, mas as palavras não conseguiam ir além da barreira dos lábios. Como a mulher já inclinava o bule, ele teve que sorver o líquido e engoli-lo, ou acabaria todo molhado. O sabor era mais do que satisfatório. A sopa era quente. Saborosa. E aquecia o interior do seu corpo. Era tão bom descansar apoiado naquele corpo macio, nos seios arredondados que o acolhiam com generosidade, nos braços que o sustentavam e alimentavam com tanta deteminação e bondade! Fraco, fechou os olho e se deixou alimentar como se fossemesmo um bebê.

Bebeu o caldo devagar, em pequenos goles. O hálito da mulher era quente em seu rosto. Ela parecia saber quanto podia dar a ele e quando precisava esperar entre um gole e outro. Podia sentir o cheiro de seus cabelos. Queria virar a cabeça e enterrar o rosto neles. Em vez disso, continuou bebendo o caldo. O fogo estalava na lareira. Do lado de fora, o vento uivava e rugia, sacudindo portas e janelas. Fazia frio dentro da casa, e o chão sob o seu corpo era duro. E apesar de tudo isso, experimentava a estranha sensação de estar aquecido, confortável e em paz.

Depois de beber todo o caldo, ficou um pouco inclinado, meio-sentado, meio-deitado, a cabeça apoiada em seu peito. Ela limpou sua boca como se realmente cuidasse de uma criança. Ficaram ali sentados e em silêncio por um ou dois minutos, como se fossem velhos companheiros, com o vento varrendo a imensidão do lado de fora do chalé e as perguntas varrendo o interior de sua cabeça.

Estava completamente nu sob o cobertor, mas só agora se dava conta disso. Quando a encarou, outra questão aflita o fez mover os lábios. Quem era ela, como chegara a descisão de despi-lo daquela maneira?

Como se pudesse ler seus pensamentos, ela murmurou com doçura:

— Você chegou em minha casa há quase uma hora. Não sei o que aconteceu com você antes disso. Estava seminu e totalmente ensopado. E gelado por conta da chuva fina que caía e ainda cai lá fora. Não sei por quanto tempo esteve exposto ao frio e à umidade, ou como conseguiu encontrar este lugar, mas você perdeu os sentidos em minha porta...

— Papai está acordado?— perguntou uma voz infantil e carregada de esperança.

Papai? Ele abriu os olhos e viu um pequenino rosto entusiasmado fitando-o com imensos e curiosos olhos verdes. Uma criança. Uma menina ainda pequenina.

— Volte para a cama neste instante, Amy— a mulher exigiu com firmeza.

Ele se encolheu, tentou afastar a cabeça de seu peito e mergulhou mais uma vez na escuridão. Ao abrir os olhos de novo, não sabia quanto tempo havia se passado. Não estava mais reclinado contra o peito daquela desconhecida, e o encantador rostinho infantil havia desaparecido. E estava tremendo. Muito.

A mulher se debruçou sobre ele, seus olhos revelando imensa preocupação.

— Sinto muito — ela murmurou.— Não queria soltá-lo dessa maneira tão brusca. Minha filha me deu um enorme susto, foi isso. Você está bem?— Uma ruga marcava a pele suave e pálida de sua testa.— O sangramento cessou e o ferimento já está coberto por um curativo. — Mal podia compreender o significado de suas palavras.

Só conseguia pensar na dor em sua cabeça e na preocupação estampada naquele bele rosto. Devagar, levantou uma das mãos e afagou sua face com as pontas dos dedos. Era como tocar o mais fino e frio cetim.

Ela suspirou. Depois afastou-se.

— Temo que acabe congelando se continuar por mais tempo deitado no chão frio. Mesmo com o fogo ardendo durante toda a noite... e nem disponho de combustível para isso... mesmo assim, o chão vai arrancar todo o calor de seu corpo.

Só conseguia encará-la e tentar controlar os tremores que o sacudiam.

— O único lugar onde poderá permanecer aquecido é na cama.— Corada, ela não conseguiu fitá-lo nos olhos.— E eu... eu só tenho uma cama.

Com a testa franzida, tentou absorver o que ela estava dizendo, mas não conseguia compreender por que isso a perturbava tanto. Ainda não conseguia lembrar quem era ela. O golpe havia retirado de sua cabeça toda a capacidade de pensar e agir. Mas a menina o chamara de papai. Tentou pensar, mas o esforço só fez aumentar a dor.

— Fica lá em cima. A cama. Não posso carregá-lo até lá.

A confusão se desfez como uma névoa densa que se desmanchava sob o sol damanhã. Ela estava preocupada com a possibilidadede não ser capaz de subir a escada. Ele assentiu e teve que ranger os dentes para superar a tontura provocada pelo movimento súbito. Podia fazer isso por ela. Podia subir a escada. Não gostava de vê-la preocupada. Estendendo a mão em sua direção, preparou-se para ficar em pá. Gostaria de poder lembrar ao menos o nome dessa criatura angelical.

Bella segurou seu braço com firmeza e puxou-o até vê-lo em pé. Trêmulo, pálido a ponto de tornar-se assustador, mas em pé e consciente. Ela passou o cobertor por suas axilas e amarrou as pontas sobre seu ombo, improvisando uma toga. Esperava que assim pudesse aquecê-lo. Os pés e a porção das pernas abaixo dos joelhos estavam nus e certamente gelados, mas era melhor do que correr o risco de fazê-lo tropeçar na ponta do coberor. Ou vê-lo nu.

Encaixando um ombro em sua axila, ele começou a começou a conduzi-lo para a escada. Passaram por uma porta muito estreita e baixa, pois o pequeno chalé não havia sido projetado para abrigar homens tão altos.

— Abaixe a cabeça— a mulher o instruiu.

Obediente, ele se inclinou, mas perdeu o equilibrio e caiu para a frente, Bella agarrou-o, puxando-o de volta para a porta e usando o batente como apoio a fim de mantê-lo em pé. Temendo que ele erguesse o corpo e batesse a cabeça ferida em uma das vigas, colocou uma das mãos sobre sua cabeça a fim de protegê-la e puxou-a contra a própria testa por medida de segurança. Ele se apoiou na desconhecida, semiconsiente, respirando com dificuldade, um braço em torno dela, uma das mãos agarando o corrimão da escada de madeira, o rosto contra o dela. A palidez da dor tingia seus lábios de branco. A escada estrieta era composta por apenas catorze degraus, mas foi necessário um esforço sobre-humano para levá-lo até o alto. Era como se ele nem estivess consciente, exceto pela concetração que desenhava uma ruga profunda entre suas sobrancelhar e o lento e determinado movimento que punha um pé na frente do outro.

Agarrando o corrimão com punhos de pedra, ele foi superando a dura escalada, parando um pouco a cada um dos dgraus, lutando contra a vertigem que ameaçava derrubá-lo e levá-lo mas uma vez ao mundo da inconsciência. Bella o ajudava, apoiando-o com toda a força de que podia dispor. Ele era um homem grande; se caísse, não conseguirria segurá-lo. E se ele caísse, talvez nunca mais recuperasse a consciência.

A batalha conjunta foi difícil e silenciosa. Não havia nenhuma conversa entre eles. Um passo de cada vez. De tempos em tempos, ela murmurava uma ou outra palavra de encorajamento.

— Já passamos da metade... Estão faltando apenas quatro degraus...

Mas Bella não sabia ao certo se ele a entendia. O único som produzido pelo desconhecido eram os gemidos de exaustão e dor, a respiração arfante de um homem que luta pela sobrevivência, que está no fim de suas forças. A única coisa que o mantinha consciente era a força de vontade. Nunca antes conhecera outra criatura tão teimosa ou corajosa. Finalmente chegaram ao alto da escada.

Bem na frente deles havia um pequeno aposento onde a cama de Amy havia sido colocada, pouco mais do que um armario, na verdade, mas aconchegante e perfeito para manter a filha aquecida. A direita ficava o dormitório de Bella.

— Abaixe a cabeça mais uma vez.— Dessa vez ela estava preparada quando o desconhecido caiu para a frente e cambaleou para dentro do quarto. Com difuldade, conseguiu conduzi-lo até a pequena alcova protegida por cortinas onde ficava sua cama. Ele se deixou cair sobre um colchão com um gemido e ficou deitado e quieto, imóvel. Bella caiu ao lado dele, tentando recuperar o fôlego, trêmula de cansaço e alívio. Seu hálito formava nuvens densas no ar gelado. Precisava cobri-lo e reter o calor que aquecia seu corpo, consequência do esforço paa subir a escada.

Não tinha roupas para emprestar ao desonhecido. Dono de ombros muitos largos e de um peito bastante amplo, ele não caberia em nenhuma de suas roupas, e há muito havia vendido tudo que pertencera a James. Os poucos cobertores que dispunha não eram suficientes para impedir que um homem incosciente sentisse frio e, consequência óbvia, adoessesse. As cobertas mais grossas e quentes estavam na cama de Amy.

Ela o envolveu com um lençol e ajeitou todos os cobertores em torno de seu corpo. Depois pegou todas as roupas que tinha e espalhou-as sobre a cama. Vestido, xales, uma pele de carneiro gasta e desbotada, um manto puído, enfim, qualquer pedaço de pano que o ajudasse a manter-se aquecido. Depois foi buscar o tijolo quente e colocou-o bem perto de seus pés. Então parou. Não havia mais nada que pudesse fazer. E estava tremendo. Sentia os pés adormecidos por conta do frio. Normalmente, iria para a cama a fim de superar tal desonforto. Mas aquela noite havia um homem estranho em sua cama.

A cama de Amy era apenas um colchão pequenino, tão longo e estreito quanto o corpo de uma criança de sua idade. Não havia espaço para Bella naquela cama. Lá embaixo, o fogo estava se apagando. Bella sentou-se em um banco de madeira, abraçou os joelhos contra o peito e envolveu-se com o xale a fim de criar uma ilusão de calor. Usara todas as roupas da casa para aquecer a cama para o estranho, e agora ele dormia relaxado e protegido, enquanto ela se encolhia para enfrentar o frio. O homem havia perdido a consciência mais uma vez. Estava insensível. Portanto, nem saberia que ela estava ali.

Parada na beirada da cama, tentou flexionar os dedos dos pés. Era como se estivessem congelando. Seus olhos estudavam o rosto do desconhecido. Ele permanecia deitado de costas, e sua respiração era profunda e regular. A luz tênue e vacilante de vela, a bandagem em sua cabeça brilhava muito branca conta a pele morena e os cabelos escuros e emaranhados. Havia uma sombra escura no queixo poderoso. Ele parecia muito grande, sombrio e ameaçador em sua cama. E ocupava mais espaço do que ela jamais conseguiria ocupar sozinha. E se acordasse? Não podia fazer tal coisa.

Resignada, voltou ao banco de madeira. O frio aumentava. O vento se insinuava em torno dela, aproximando-se e mordendo sua pele como um rato faminto. O som de seus dentes batendo uns contra os outros era como um acompanhamento para a respiração regular do homem adormecido.

Não tinha escolha. Além do mais, aquela era sua cama. Se morresse ali congelada, ninguém mais seria beneficiado. Que importância tinha a propriedade comparada à sua saúde? Determinada, foi até o andar de baixo e pegou uma frigideira. Depois respirou fundo, ajeitou o xale e voltou ao quarto, levando a frigideira. Tomada por um estranha sensação de estar trilhando um caminho sem volta, fechou as cortinas que impediam a entrada das frígidas rajadas de vento. No espaço pequeno e fechado, sentia-se ainda mais sozinha do que antes com o estranho.

Lá fora, as gotas de chuva criavam uma sinfonia em sua janela.

Com cuidado, sem fazer nenhum barulho, Bella colcou a frigideira sob o colchão, ao alcance de sua mão, depois foi para baixo das cobertas. Ele não só estava deitado em sua cama, como ocupava a maior parte do espaço. E usava quase toda a roupa de cama. Sem aviso prévio, ela se descobriu apoiada naquele corpo musculoso, o contado envolvendo desde os tornozelos até os ombros. Os lençois velhos eram a única barreira a separá-los. Bella ficou rígida de medo e ansiedade. Aflita, cutucou-o.

— Ei! Está acordado?— A outra mão estava pronta para agarrar a frigideira.

O homem não se moveu, continuou ali deitado, imóvel, respirando com a mesma regularidade demonstrada nos últimos quinze minutos. Bella tentou afastar-se dele, mas o peso do corpo musculoso inclinava o colchão. Era impossível não rolar pela depressão até se chocar contra ele. A sensação era inquietante. Muito inquietante. Movendo-se, tentou reduzir o contato entre eles. Os dedos congelados ultrapassaram a barreira dos lençois e encontraram pernas longas... e ela suspirou de prazer. O homem era quente como uma fornália. Febre? No escuro, pôs a mão em sua testa para sentir a temperatura da pele. Ela parecia normal. Mas podia se efeito do ar frio da noite. Deslizando a mão por baixo das cobertas, tocou o peito nu. Apele estava quente e seca, e os músculos sob ela era firmes. Ele não aprecia estar febril. A sensação era... agradável.

Bella removeu a mão da zona proibida e encolheu-se em seu próprio casulo de lençois. Fechou os olhos com firmeza, tentando banir da mente a consciência do homem deitado a seu aldo na cama. Sim, sabia que não conseguiria dormir, pois estava contando com a possibilidade do desconhecido estar acordado, fingindo ter perdido a consciência, mas pelo menos ficaria aquecida.

Nunca dormira com um homem antes. James não se dava ao trabalho de ficar com ela por mais tempo do que o necessário. Depois da relação, ele a deixava imediatamente, e depois de saber que a esposa havia enfim engravidado, ele nunca mais voltara à sua cama. Por isso a sensação de ter um homem adormecido a seu lado era tão perturbadora.

Podia sentir seu cheiro, a fragância tão máscula de seu corpo, o aroma do emplastro de ervas que pusera em sua cabeça. Era como se sua forma ampla e imponente ocupasse toda a cama, um caminho que permitia a entrada do vento gelado. Ela se aproximou um pouco mais do desconhecido, reduzindo o vão, porém permanecendo rígida e sem tocá-lo, lutando contra a gravidade que a impelia pela depressão do colchão de encontro ao peito masculino.

Devagar, de maneira insidiosa, o calor de seu copro a envolveu e foi derrubando suas defesas. A combinação entre a imobilidade reconfortante e a regularidade da respiração profunda acalmou sua mente ansiosa até que ela finalmente adormeceu.

E, enquanto dormia, Bella aninhou-se junto do desconhecido, colando seu corpo ao dele. Seus dedos frios escorregaram para fora do gelado casulo de lençois e repousaram no calor firme das longas pernas nuas. Uma de suas mãos buscou um lugar confortável e aquecido entre as inúmeras camadasde tecido que cobriam, descansando por fim naquele firme e amplo peito masculino...

• • •

O sol fraco de inverno a despertou, iluminando o pequeno e simples aposento, espalhado uma luminosidade dourada que atravessava as cortinas desbotadas em torno de sua alcova de dormir. Sentindo-se confortável, relaxadae satisfeita, Bella bocejou sonolenta e espreguiçou-se... e descobriu-se apoiada contra as costelas de um homem, seu pé protegido entre as pernas dele, o braços sobre seu corpo inerte.

Ela se levantou da cama como uma pedra lançada por uma catapulta e ficou ali temendo no frio súbito da manhã, olhando para o estranho, piscando algumas vezes até recuperar todas as lembranças. Depois de pegar algumas de suas roupas sobre a cama, Bella correu a acender o fogo no andar de baixo.

O homem passou o dia todo dormindo. Com excessão do sono pesado e ininterrupto, Bella não via nada de errado no desconhecido. Verificou o ferimento em sua cabeça várias vezes, constatando que já não sangrava nem dava sinais de infecção. Sua respiração era profunda e tranquila. Ele não estava febril ou agitado. Às vezes ele resmungava alguma coisa incompreensível, e todas as vezes Amy corria para avisar a mãe.

A menina estava fascinada por ele. Bella conseguira fazê-la parar de referir-se ao estranho como seu pai, mas era impossível afastá-la da cabeceira de sua cama. O frio intenso a impedia de ir brincar lá fora, e o tamanho da casa reduzia suas possibilidades, o que significava que, se não estava na cozinha ou na sala com a mãe, ela estava no quarto velando o sono do hóspede inesperado.

Bella convenceu-se de que o comportamento da criança era inofensivo. E muito atencioso. Enquanto brincava com suas bonecas, a menina contava longas histórias ao desconhecido e cantava canções de ninar qe soavam um pouco desafinadas. Ela falou sobre sua vela do desejo, a vela vermelha que levara para casa. O fato de não obter nenhuma resposta não parecia perturbá-la, como ela também não questionava o sono prolongado e profundo daquele com quem falava.

Quando ele acordasse, tudo seria difente. Se ele acordasse...

Devia ter mandado buscar o dr. Geddes. Mas sentia uma forte antipatia por ele. O dr. Geddes se vestia dentro do mais absoluto rigor da moda, mas seus instrumentos de trabalho eram imundos. Ele provocaroa uma sangria no paciente, daria a ele uma porção de sabor horrível que ele mesmo havia inventado, e depois cobraria um preço muito alto por seus serviços. Bella tinha pouco dinheiro e tinha ainda menos confiança na competência do médico. Além do mais, o dr. Geddes era amigo do seu senhorio.

Bella dobrou a camisa, agora limpa e seca, e deixou-a com a calça de camurça que havia guardado na cômoda em seu quarto. As duas peças haviam sido de boa qualidade, mas enfrentaram tempos difíceis e muito desgaste. No entanto, não havia nada de incongruente no fato deum trabalhador pobre usar aquelas roupas. No último ano, ela mesma se surpreendera ao descobrir um intenso e lucrativo comércio de roupas usadas, peças de segunda, terceira e até quarta mão. Até as peças que antes ela havia considerado trapos inúteis, agora sabia, podiam ser vendidas por algumas moedas, ou trocadas por algum objeto de utilidade.

Vendera tudo por um preço muito baixo, mas só dera conta disso mais tarde. Suas jóias, a mobília, bens de inestimável valor sentimental, as roupas de Amy, sua linda casa de bonecas com seus móveis tão delicados, as pequeninas e perfeitas bonecas com suas roupas encantadoras e com todas aquelas miniaturas que compunham o conjunto... podia ter vendido tudo por muito mais dinheiro, agora que sabiamais sobre o comércio. Havia sido completamente ignorante quanto ao verdadeiro valor das coisas.

Mesmo assim, não estavam passando fome ou frio, e a sua filha obtinha tanto prazer com a atual casa de bonecas, feitas com uma velha caixa de queijo, com as bonecas confeccionadas em casa e os móveis improvisados a partir de objetos que teriam sido desprezados.

Bella examinou os outros bens do desconhecido. Havia muito pouco. Apenas as roupas que ele vestia ao chegar. Suas meias eram grossas e ásperas, mas caminhar sobre o solo acidentado abrira buracos nelas, rasgos que ela teria que remendar. Não encontrara nada que pudesse dar pistas de sua identidade, apenas um item escondido em um dos bolsos da calça, um delicado lenço de cambraia endurecido pelo sangue seco. Uma coisa estranha para o tal homem estar carregando. Não combinava com ele, com suas mãos fortes e com os dedos calejados.

Lembrou-se de como aqueles dedos haviam tocado seu rosto com enorme gentileza e suspirou. Um gesto tão pequeno, tão simples... e por ele decidira mater-se bem longe do desconhecido. Ele era estranho. Um encrequeiro, talvez até um ladrão. Esperava que ele não houvesse roubado o lenço. Se já era terrível ter um homem estranho dormindo em sua cama, tudo seria ainda pior se ele fosse de fato um ladrão.

Bella assustou-se com o repentino ruído na porta.

Os olhos de Amy brilhavam com a luz inconfundível do medo.

— Alguém está batendo na porta, mamãe— a menina cochichou.

— Sra. Swan?— gritou uma voz pastosa.

— Tudo bem, querida. É só Mike. Espere aqui.— Bella deixou a costura de lado e foi abrir a porta. Depois de um instante de hesitação, tomou uma decisão e olhou para a filha.— Não deve dizer a Mike nem a nenhuma outra pessoa sobre o homem que está lá em cima, certo? É um segredo nosso.

A criança encarou-a com grande solenidade estampada nos olhos verdes e assentiu.

— Por causa do senhorio— deduziu. Depois voltou a brincar com a casa de bonecas.

Bella fechou os olhos tomada por uma forte angústia, desejando poder proteger a filha de tais amarguras da realidade. Mas não havia nada que pudesse fazer. Resignada, respirou fundo e abriu a porta.

— Trouxe seu leite e a coalhada que queria, sra. Swan — disse o homem parado do lado de fora. — Acho que também gostaria disto.— Ele exibiu uma porção de lebres.— Pode fazer um guisado maravilhoso, sabe? Não precisa contar ao senhorio.— Ele piscou e se preparou para partir.

— Mike, você não devia!— Bella estava horrorizada, mas segurava os animais mortos com mãos firmes. Há muito tempo ela e Amy não comiam carne, mas Mike podia ser enforcado ou deportado por caça ilegal.— Não quero que se meta em encrecas por nós.

Mike riu.

— O Senhor a abençoe, senhora. Não se preocupe comigo. Tenho cuidado dos animais do proprietário dessas terras desde me conheço por gente, e meu pai e meu avô lidavam com os excedentes da criação antes de mim.

— Mas...

O homem grisalho fez um gesto de desdém com uma das mãos.

— É um presente de aniversário para a menina.

Não havia nada que Bella pudesse dizer. Discutir ou protestar seria reduzir o valor do presente de Mike, e isso era algo que não podia fazer.

— Então agradeço, Mike. Amy e eu saberemos apreciar seu presente.— Sorrindo, ela apontou para o interior do chalé. — Quer entrar e tomar umpouco de caldo? Tenho uma panela sobre o fogo.

— Oh, não, muito obrigado, senhora. Eu não ousaria.— E ele partiu para a floresta sem esperar por uma resposta.

Bella o viu partir, tocada pela timidez do comerciante, por seu orgulho e pelo presente generoso que punha em risco sua segurança. As lebres pesavam em suas mãos. Seriam um banquete. E quanto antes as pusessem na panela, mais seguro seria para todos os envolvidos. Havia planejado preparar bolo de coalhada para a surpresa de aniversário de Amy. Agora, as duas também poderiam saborear um delicioso e nutritivo guisado de carne de lebre. Seria quase uma comemoração de verdade. E se o homem lá de cima acordasse. Teria algo substancioso para alimentá-lo.

Sorrindo consigo mesma, começou a remover a pele da primeira lebre. Julgara-o um ladrão por causa do lenço em seu bolso. Quem era ela para apontar um dedo acusador contra outro ser humano? Bella Swan, orgulhosa proprietária de duas gordas lebres caçadas ilegalmente...

• • •

Ele dormia profundamente há vinte e quatro horas. Bella olhou para a silueta imóvel e desejou poder fazer alguma coisa. Queria-o acordado. Queria-o de pé e fora de sua cama. Queria que ele fosse embora. Era perturbador vê-lo ali, dormindo entre seus lençóis. Não era facil habituar-se com a idéia durante o dia, presumir que o homem era inofensivo, permitir que a filha se sentasse ao lado dele, tratando um homem inconsciente, um completo desconhecido, como um de seus brinquedos. Durante o dia ele não parecia tão assustador. Agora...

Segurando o xale sobre os ombros, tentou reunir coragem para ir se deitar ao lado do estranho mais uma vez. Nas sombras da noite ele parecia maior, mais sombrio, mais ameaçador, como se o corpo viril sobre sua cama se tornasse mais perigoso.

Ele não fizera um único movimento por uma noite e um dia. Outra noite comparilhando a mesma cama não faria mal algum, certamente. Além do mais, não tinha escolha... Não, já havia feito uma escolha, sua consciência a corrigiu. Podia ter pedido ajuda, ele teria sido levado para ser tratao por gente de mais posses. Mas não teria recebido cuidado adequado, não com as roupas humildes que vestia. Um figalgo ferido teria recebido toda a atenção do médico ou do proprietário daquelas terras, mas eram muitos os homens pobres e feridos na Inglaterra desde que a guerra contra Napoleão havia sido vencido. Eles retornaram como heróis. Agora, meses mais tarde, quando procuravam trabalho ou mendigavam pelas ruas, passavam a ser visto como pragas. Ninguém se importavam com a morte de mais um deles.

Também eram muitas as viúvas indigentes com filhos pequenos.

Não podia abandoná-lo. De alguma maneira, sem terem trocado um única palavra, fizera-se responsável por aquele homem, estranho ou não, ladrão ou não. Ele era indefeso e estava vivendo um momento de dificuldade. Bella sabia o que era ser indefesa e precisar de ajuda. E o ajudaria.

Sem pensar em mais nada, ela se envolveu em um lençol, pois ainda não perdera todo o senso de propriedade e foi para a cama onde dormia o desconhecida. Foi impossível conter um suspiro de prazer. Ele era melhor do que um tijolo quente numa gélida noite de inverno.

Dessa vez não houve nenhum sentimento de estranheza. Já estava acostumada ao cheiro masculino, e até o considerava atraente. A inclinação da cama também se tornara conhecida, e ela já não lutava contra a força da lei da gravidade. Afinal, se o espaço entre eles fosse muito grande, o vento gelado penetraria entre os lençois. Mas lembrando-se da posição pouco modesta em que acordara, ela se virou de costas para o homen adormecido. Não era tão íntimo ter as costas apoiadas em um estranho, pensou sonolenta, acomodando-se de forma a encontrar o encaixe perfeito entre seu corpo e o dele.

E mais ma vez, envolta pelo calor de sua pele e embalada pelo som suave de sua respiração profunda, Bella esqueceu seus temores e adormeceu. Seus dedos dos pés buscaram o calor reconfortante das pernas nuas a seu lado.

• • •

Bella acordou devagar por um delicioso sentimento de... prazer. Tivera um sonho maravilhoso. Mantendo os olhos fechados, prolongou a gostosa sensação de ser... amada. James a acariciava como sempre havia desejado ser tocada... Suas mãos grandes e quentes afagavam, provocavam e amavam sua pele. Sentia-se linda, amada, desejada como nunca antes se sentira. Aquecida, sonolenta, sorrindo, espreguiçou-se e executou alguns movimentos de grande sensualidade, deixando-se permanecer na esfera do sonho encantador. Sua pele ganhava vida enquanto as mãos dele se moviam em todas as direções, provocando deliciosos arrepios que percorriam todo seu corpo, arrepio que não tinham nada ver com o frio e tudo a ver com... desejo.

As mãos subiram por suas coxas para uma carícia mais atrevida, e ela se moveu agitada, as pernas trêmulas e a respiração arfante. Sentiu uma mão enorme segurnado seu seio, tomou consciência do contraste entre a pele macia e fina e os dedos calejados. Era como se aquele seio inchasse sob o carinho lento. O hálito quente em seu rosto aumentava o prazer, fazendo suas costas se inclinarem numa resposta instintiva. Uma boca quente se fechou sobre seu seio e uma língua úmida passeou em torno do mamilo túrgido. Bella foi sacudida por um remor violento, ondas de prazer e excitação que viajavam por seu corpo com uma força jamais experimentada antes. Ele sugava com força, e foi um choque sentir os espasmos de prazer que brotavam de seu ventre espalhan-do-se em todas as direções. Não conseguia pensar. Tudo se resumia naquela intensa sensação. Segurando os ombros fortes e largos, desfrutou das delícias da pele nua e firme sob seus dedos, do poder e da força que parecia emanar de cada um de seus poros.

Enquanto aquelas surpreendentes sensações se espalhavam a partir de seus seios uma mão calejada desceu por seu vente acariciando, excitando... Suas pernas se afastaram, trêmulas de necessidade.

A boca caiu sobre a dela, suave, terna, possessiva, mordendo levemente seus lábios. A língua mergulhou entre seus dentes desvendando segredos, conhecendo, possuindo, e ela provou seu sabor e o explorou numa resposta imediata.

E parou...

Não era James! Bella afastou-se e um salto e abriu os olhos. Não era James!

Ele sorriu diante de sua surpesa.

— Bom dia, amor.

Era o estranho! Não havia sido um sonho delicioso e inofensivo com seu marido. Estivera deitada nos braços de um estranho! Permitindo que ele tomasse intimidades que nem mesmo seu marido havia tentado. Seus seios ainda pulsavam clamando por satisfação. E a mão dele continuava criando sensações incríveis entre suas...

Com um grito apavorado, Bella empurrou-o e pulou para fora da cama. Houve um estrono quando a cabeça dele se chocou contra um pilar da cama, e o homem praguejou. Estava em pé e trêmula no meio do quarto, encarando-o, ultrajada, puxando rapidamente a camisola sobre o corpo excitado e nu.

— Quem é você? Como... como ousa! Saia... saia da minha cama!

— Não precisava empurrar com tanta força— ele resmungou.— minha cabeça já estava horrível quando acordei. Agora sinto que...

— Não quero saber o que sente ou como está sua cabeça! Já disse para sair!

Bella estava à beira do descontrole.

O desconhecido piscou surpreso diante de sua reação explosiva.

— Qual é o problema, amor?

— Como se não soubesse, seu... seu aproveitador! Saia da minha cama!

Ele franziu a testa demonstrando um certa confusão, depois deu de ombros, levantou-se e caminhou em sua direção. Completamente nu. Acres de pele masculina exposta diante de seus olhos perplexos. Sem a menor vergonha.

— Pare! Afaste-se!— Sentia uma onde de calor invadindo seu corpo numa resposta que mesclava contrangimento e... Preferia nem tentar dar um nome ao que sentia.

O desconhecido fitou-a como se esperasse por uma decisão definitiva, mas deteve-se e voltou sobre os próprios passos, sentando-se na cama para massagear a cabeça. E ainda estava nu. Não fazia nenhum esforço para cobrir-se. Nem mesmo por ainda estar totalemnte e descaradamente excitado.

E, ainda mais vergonhoso, ela também estava. Como os joelhos tremiam, ela se sentou no banco de madeira e virou a cabeça, desviando o olhar da imagem gloriosa.

— Cubra-se! — Exigiu ultrajada.

Ouviu um ruído de tecido virou-se para encará-lo e sentiu que o rosto era tingido por um novo rubor. Ele havia encontrado uma das suas meias e a colocara sobre a parte de seu corpo, justamente a parte que mais a chocara. O restante continuava exposto. Tentou não notar a beleza dos músculos bem definifos e das curvas firmes, mas era difícil ignorar tão perfeita beleza.

Os olhos verdes brilhavam maliciosos e provocantes.

— Assim está melhor, amor?

— Não fale assim comigo! — Ela o censurou com impaciência.— E cubra-se de maneira apropriada. Minha filha pode entrar a qualquer momento.

Ao ouvir tais palavras, ele olhou para a porta e puxou um cobertor que jogou sobre os ombros, cobrindo o peito as costas e... o resto. Mesmo assim, era como se continuasse nu. As pernas longas, nuas, morenas e másculas estavam afastadas, os pés platados no chão. Era difícil não pensar no que o cobertor escondia.

— Precisa ir embora— Bella anunciou com firmeza.— Vou descer e preparar o café enquanto você se veste. E depois terá de partir.

— Para onde quer que eu vá?

Era impossível esconder a perplexidade que se estampava em seu olhar.

— Para onde eu quero que vá? Vá para onde quiser. Não tenho nada a ver com isso.

— Então, está mesmo zangada comigo?— Sua voz era suave, profuna e cheia de apreensão.

Bella recordou todas as coisas chocantes que ele havia feito com ela. Era ainda pior ter de admitir que havia apreciado cada carícia, cada contato mais ousado.

— É evidente que estou zangada. O que esperava? Você me atacou de um jeito horrível e assustador!

A ruga entre suas sobrancelhas tornou-se mais profunda.

— Eu a ataquei?— Depois de um instante, o sinal desapareceu e ele se mostrou incrédulo.— Está falando sobre o que fazíamos há pouco na cama? Mas você estava gostanto tanto quanto eu.

Sabia que seu rosto estava vermelho. Escarlate.

— Oh, você é mesmo um desavergonhado! Quero que saia da minha casa neste instante! — Quando concluiu a frase, seu estômago roncou.— Assim que terminar de comer — corrigiu mal-humorada, sentindo-se tola. Era ridículo importar-se com sua alimentação. Hospedara um estranho e cuidara dele por vários dias, e como ele a recompensara por todo esse cidado? Com um comportamento indecente. O canalha! Queria que ele fosse embora!

— Por acaso tivemos uma discussão, amor?

— Discussão! — Bella explodiu furiosa. — Vou lhe dar uma discussão e tanto! E já disse para não me chamar assim!

— Assim como? Amor?

Ela assentou e corou mas uma vez.

O homem coçou a cabeça, depois assimiu um tom constrangido.

— Lamento se isso a aborrece, mas a verdade é que.. bem, tenho uma terrível dor de cabeça e não consigo lembrar seu nome.

— É Bella. Sra. Bella Swan.— O nome completo tinha o objetivo de enfatizar sua condição. Preferia que ele pensasse estar com uma mulher casada, não com uma viúva. Ele certamente partiria mais depressa se acreditasse que seu marido poderia chegar a qualquer momento. Para ser absolutamente honesta, deveria apresentar-se como Lady Swan, mas seria cômico ostentar um titulo na pobreza em que se encontrava.

— Bella...— O homem repetiu.— Gosto desse nome. E Swan, é? — ele franziu a testa, como se estivesse confuso mais uma vez.— Então...?

— O que pensa a respeito do meu nome não tem a menor importância para mim.— Bella jogou as roupas na direção do desconhecido.— Tenha a bondade de vestir-se e deixar minha cama o quanto antes.

— Por que quer que eu vá embora?

— Porque esta casa é minha e eu decido quem fica e quem sai dela. E você, já estendeu demais sua estadia.

Ele a encarou sério.

— E eu não tenho direitos?

Era muita audácia!

— Direitos? Que direitos pensa ter aqui, senhor?— Então ele imaginava que algumas carícias roubadas lhe conferiam direitos repentinos? O atrevido!

Ele hesitou.

— Esta propriedade não está em meu nome?

— Seu nome? Por que deveria estar?— De repente começava a sentir-se amedrontada com toda essa conversa sobre direitos. E se o senhorio houvesse vendido a casa sem informá-la? Ele fizera essa ameaça inúmeras vezes. Não ficaria surpresa por descobrir que ele a incluíra nos negócios para obter mais dinheiro. O senhorio era um homem vingativo.

Normalmente, as mulheres não têm titulos de propriedades ou bens. É comum que tudo seja registrado no nome do marido.

O senhorio vendera a casa. E aquele homem a comprara para ele e a esposa. E fora atacado por ladrões quando se dirigia ao chalé a fim de inspecionar sua mais nova propriedade. O medo ameaçava bloquear sua garganta e impedi-la até mesmo de respirar, mas Bella ergueu os ombros com orgulho e altivez.

— Não estou à venda. Minha filha e eu deixaremos este lugar o mais depressa possível. Vai nos dar uma ou duas semanas, presumo, ainda que seja apenas por decência?

— Maldição, mulher, não precisa ir a lugar nenhum— ele rugiu.— Que tipo de homem pensa que sou?

— Não tenho a menor idéia. Nem quero saber. O que importa é que não estou à venda.

— E quem insinuou que estivesse, pelo amor de Deus?— exasperado, ele alterou o tom de voz e teve de agarrar a cabeça novamente. — Que diabo está acontecendo comigo, afinal?

— Alguém, o agrediu— contou Bella. Notou que ele a encarava intrigado, mas fingiu ignorá-lo. — Não sei o que o senhorio lhe disse, mas sou uma mulher virtuosa e não me deixarei comprar! Nem pelo senhorio, nem por você, nem nenhum outro homem, por maior que seja o desespero a que tentem levar-me.— Sua voz tremeu, e ela se calou.

Houve um silêncio prolongado no quarto. O vento soprava por entre as folhas das árvores e sacudia as vidraças da janela. Bella permanecia sentada no banco, seguntando o xale num gesto defensivo e encarando-o desafiante. Ela engoliu em seco. Não tinha idéia do que poderia ser forçada a fazer para garantir a segurança de Amy, mas não chegara a ese ponto. Ainda.

— Não tenho a menor idéia do que significa toda essa conversa. Imagino que, quem quer que tenha me agredido com um golpe na cabeça... Foi você?

Ela negou com um movimento de cabeça.

— Bem, já é um alívio— ele continuou.— Mas, quem quer que tenha sido, fez um bom trabalho. Meu cérebro parece ter sido revirado. Não sei a que se refere, não consigo raciocinar com clareza, e tenho a sensaçãode que minha cabeça pode se abrir ao meio a qualquer momento.— Ele se levantou e deu dois passos, depois parou cambaleante e empalideceu.

Sem pensar em nada, Bella saltou do banco e correu para ajuda-lo.

— Abaixe a cabeça. Coloque-a entre os joelhos.— Com gentileza, ela o empurrou para essa posição.— Vai ajudar a superar a tontura.

Depois de alguns momentos, o homem recuperou-se o bastante para deitar-se na cama. Ainda estava pálido como uma folha de papel. Bella o cobriu e ajeitou os cobertores em torno de seu corpo, esquecendo completamente o propósito de expulsá-lo dali. Fosse ele o novo dono da casa ou não, acreditasse ou não ter o direito de comprá-la como se fosse um objeto ou uma prostituta, não podia jogar para fora um homem doente naquele tempo inclemente. Mas podia mandar buscar seus aprentes.

— Quem é você?— ela perguntou depois de acomodá-lo.— Qual é seu nome?

Ele a olhou espantado por um momento, depois estreitou os olhos.

— É você quem vai me dizer — anunciou.— Já expliquei que meu cérebro foi revirado.

— Não seja tolo. Quem e você?— Bella inclinou-se para a frente esperando a resposta.

Ele a fitou por um instante, os olhos azuis inda mais intensos no rosto pálido. Depois de um silêncio tenso e prolongado, o homem respirou fundo e respondeu:

— Sou seu marido.


N/A: Para saber a continuação terão que me deixar reviews, se eu receber bastando reviews eu posto outro capítulo hoje mesmo :D

Momento propaganda, se você gostou ou gosta de história de época como essa, da uma passada na minha outra história, Aposta de Amor.

Vo deixar uma sinopse, caso gostem, deem uma passada nela.

Já não era uma mocinha, e, além disso, não tinha dote.
Assim, a senhorita Alice Brandon não entendia por que tinha despertado o interesse de uma das mais respeitadas damas da alta sociedade de Londres.
Entretanto, com a ajuda de sua benfeitora, transformou-se em uma fascinante criatura que chamou a atenção do bonito, encantador e ligeiramente libertino Lorde Jasper Whitlock.

E, ante o olhar de assombro de toda Londres, a presente ninguém e o visconde libertino demonstraram que, inclusive no cruel mercado do matrimônio, quando o amor estava em jogo, todas as apostas eram válidas.

Bem é isso, espero que tenham gosta e espere por mais capítulos :D

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