Dilema Shakespeariano

Só há silêncio quando o fim se entrelaça ao começo.
Ponto e nó.
Atos sem significado que representam o nascer de uma nova história quando outra termina. Como se apenas um pedaço da ficção se tornasse real: uma pausa no tempo, prólogo do infinito, o adeus que nunca foi realmente dito.

Sinto anestesiado, como um sobrevivente num barco no meio de uma tempestade. À deriva, espero por salvação, por suas mãos, por seu sorriso, pela voz que nunca mais ouvirei tão carinhosa. Por que sou assim? Por que não consigo me controlar? Por que sinto que em seu último olhar lançado a mim havia apenas pena.

E por que isso dói?

Será que algum dia eu deixarei de fugir e não precisarei de me esconder por detrás de uma máscara? Queria apenas paz... Não com os outros, mas comigo mesmo.

O que procuro, afinal? Escondo-me do quê? Seria do sofrimento? Não sei. Tudo o que passa em minha cabeça, quando vejo você abraçado ele, após a batalha final, ignorando meus olhares lançados do outro lado da sala, é que para sempre ficará angústia de poder ter feito algo mais. De ser capaz de ter feito outra coisa para mudar a mim.

E assim, talvez, tornar isso real para você.

Mas, no fim das contas, tudo se foi. E eu continuo a pensar em como poderia ter sido precisar seguir adiante com esse nosso dilema shakespeariano.

No fim, para mim, e apenas para mim, restou a saudade carregada de lembranças. Para você, apenas uma mancha na sua história.

Para mim, e apenas para mim, restou um amor que não pode existir.


N/A.: Drabble escrita para o Projeto Goodnight, Bad Morning da Sessão Draco/Ginny do Fórum 6V.