Quando uma história começa, não percebemos. A vida não é um livro, com capítulo um, mas um emaranhado de eventos se conectando ou distanciando. É apenas depois de um intervalo que começamos entender onde se inicia cada enredo. Às vezes, nesta altura, a história já até acabou.
Para mim, não havia nada de extraordinário naquela madrugada quente de quinta-feira ou mesmo com potencial de divisor de águas de uma existência que, em si, já era muito comum.
Ela era só mais uma parada na esquina, olhar rapinante e postura chamativa, esperando sua próxima vítima ou vitimador.
Eu precisava de uma informação, acabava de chegar à cidade, contudo naquele horário não havia mais ninguém a quem perguntar. Quando encostei o carro, foi ela quem se separou das companheiras e inclinou-se diante da janela que abri.
_O que vai ser? –me indagou. O que é que havia nos olhos coloridos dela, que apareciam tão endurecidos? Porém, naquele minuto eu não podia saber que aquela expressão era uma máscara.
_Preciso ir a esse endereço. Pode me indicar? –mostrei-lhe um papel.
_Ah, isso? –o desapontamento dela foi fácil, mas desdenhoso. Tirou o papel da minha mão e o leu muito tempo, eram três linhas, mas mais pareceu um romance de Joyce então.
Quando ela debruçou de novo, olhei dentro de seu decote, que nada queria esconder. Como tinha coragem de se vestir daquele jeito? A roupa não a deixava nem um pouco mais bonita. Era fácil demais ver que aquele modo de vida fácil não combinava com ela.
Explicou o caminho até o hotel onde eu me hospedaria por alguns meses. Olhava para mim, olhava para a rua, fazia gestos, sempre inclinada, sacudindo o quadril.
_Qual o seu nome? –pedi.
_Roxane.
Aquele não era o nome dela, mas não pensava precisar me importar com isso…
Segui meu caminho. Contudo, depois de ter atravessado o dela, este não era mais o mesmo.
Já havia visto tantas outras garotas, cruzado com tantas outas prostitutas, entretanto por que fiquei ansiando pelo rosto dela? O que ela tinha de mais que causou em mim tão instantâneo arrebatamento?
Os olhos azuis, a boca encarnada, os dentes perfeitos, os cabelos dourados, as unhas compridas, os seios rosados – as pecinhas estavam espalhadas na minha memória, pedindo que as juntasse na figura completa e eu não conhecia modo melhor de fazer isso do que por ver mais uma vez a imagem que servia de guia.
Sabia exatamente no que estava me envolvendo. Era idiota decidir acalentar uma obsessão por uma prostituta, tanto que nem ela se lembrou de mim quando na noite seguinte lhe abri a janela do carro outra vez.
_O que vai ser, amor? –e a malícia no sorriso dela chegava a ser escarninha.
Por um instante me questionei de novo sobre o que fazia, mas foi rápido demais para que prestasse atenção. Quando eu decidia, decidia. Não esquematizava planos de fuga.
_Quanto é?
_Cinquenta pratas a horas. –olhou pouco para meu rosto, mais atenta ao meu carro e a meu relógio.
_Este é o preço para qualquer um?
_Conheço o valor do meu trabalho.
_Entre. –mandei, e olhei para frente, ouvindo que riu fechando a porta. A seguir, não falou mais nada, conservando o resquício da risada nos olhos, mexendo nos cabelos, às vezes me analisando.
_Qual é o seu nome? –me perguntou somente depois que fechei a porta do aposento no hotel. Deslizou a jaqueta pelos braços, mostrando para mim as costas nuas e depois olhou sobre o ombro.
_Heero.
Pergunto-me até hoje se ela sentia a intensidade de meu olhar. E, se sentia, como é que o interpretava?
Assentiu e olhou o redor, a pequena sala de estar, largando a jaqueta e a bolsa em um móvel qualquer.
_E o seu nome, Roxane? Qual é?
_O quê?
Mas para respondê-la, só segui encarando-a. Ela riu e saiu andando, não sei pensando no quê.
_Para saber meu nome, fica mais caro. –burlesca, apresentou.
_Quanto?
_O dobro.
_Por quê?
_É a única coisa que ainda é minha.
A resposta me perturbava, mas pelo modo como a voz dela soara clara e suave, não a afetava.
_Tudo bem para mim. –declarei.
_Eu sei… –e tudo era tão simples para ela, não era? –Relena.
Repeti seu nome.
Ela sorriu.
E por um minuto inteiro, apenas nos olhamos.
_Esquisito. –observou, risonha.
Os olhos dela estavam prendendo os meus. Eu os encontrava no centro da maquiagem escura que os contornava com um pouco de descuido. O silêncio era tão denso que nem a ouvia respirar. E seus passos felinos trouxeram-na até mim e suas mãos larápias foram me despindo.
_Não tenha pressa… quem está pagando sou eu. –comentei, puxando seu queixo para que prestasse atenção ao que eu queria dizer.
Tirou as mãos do meu cinto.
_Você é maluco? –questionou, andando para trás. –O que é que quer, afinal? –a ordem de seu mundo estava desfeita sem que a mudança de ritmo a apetecesse. Pôs as mãos na cintura lançando um fito inquiridor felino bastante charmoso.
_Nada.
Mordeu a unha comprida do polegar.
_Não quer nada… –murmurou, me espreitando, andando de um lado para o outro, lentamente, fazendo o salto da bota soar. –Me trouxe aqui para quê? Conversar?
Dei de ombros.
Quando ela meneou a cabeça, pensei que estava brava, porém subitamente riu zombeteira, me dando as costas outra vez. Passou a mão na jaqueta e na bolsa, enfrentando-me com o fito, segurando seus objetos junto ao corpo. Naquele sapato, ela chegava a minha altura.
_Que perda de tempo… não brinco em serviço, amor. –e atirava as palavras com ar de superioridade.
_Se for embora agora, não vou te pagar. –apresentei, conciso e confiante.
Os olhos dela se mostraram vagos e os lábios, vacilantes.
_Você é quem sabe, patrão. –não entendia nada do que acontecia, mas era isso mesmo que eu queria: olhá-la sob a minha luz.
Por quê?
Não queria parar para pensar em motivos. Relena os ia me dar quando a hora chegasse, era o que eu sentia. Conduzia um experimento, talvez, e não tinha medo de me ver frustrado. Às vezes não damos chance para as pequenas coisas e pensando nisso decidi ver até onde aqueles impulsos me levariam.
_Já que vou ficar aqui mais tempo do que pensei, podíamos comer alguma coisa. –e sugeriu, brincando com uma pulseira no braço.
_É só pedir. –entreguei-lhe o cardápio e fui tomar banho, sem esperar para ver a reação.
Esqueci-me de dizer-lhe que não estava com fome. Acabei apenas assistindo-a comer, bebendo vinho.
_Não estou acostumada com luxo… –observou, me olhando de soslaio. Comia com vontade e gosto. –Qual a sua profissão?
_Trabalho para meu pai.
_Ah, é herdeiro. Logo vi.
_Sou formado em engenharia.
_Muito bem.
_Meu pai tem uma construtora. Estou aqui para supervisionar uma obra.
Ela bebeu, me olhando sobre o copo.
_E você? –devolvi, querendo mesmo desestruturá-la. Era uma prática divertida.
_Eu?
_Sim, quem mais?
_Você só pode estar brincando, amigo…
Neguei com a cabeça. Queria muito saber o que ela iria falar.
E me admirei em vê-la parecer tão sem graça, incapaz de esconder o rubor da face. Bebeu de novo e soltou um suspiro.
_Eu queria ser pintora, mas como sempre, não deu certo. Ao invés de um marchand, consegui um cafetão. –e suas bochechas erguiam-se no sorriso, contudo seus olhos caíam para dentro do copo. Penso que lá dentro ela via suas esperanças afundadas. Bebeu de novo, acho que queria afogar as lembranças. –A vida tem surpresas.
Talvez eu não devesse mais abordar aquele assunto, porque era claro que a machucava. Só que havia aprendido que é preciso às vezes mexer em uma ferida para curá-la.
_Não pinta mais?
Antes de falar, ela balançou a cabeça condolente:
_Não. Faz três anos que não sinto nem vontade. –olhou outro lado. –Onde é o banheiro?
Mostrei a direção com a cabeça.
Tive vontade de segui-la porque suspeitei que fosse chorar de tão abrupta que fora sua saída.
O serviço de quarto recolheu os pratos e depois de um tempo ela reapareceu, embrulhada no roupão fofinho, como eu.
_Que horas são? –casualmente quis saber.
_Duas.
Assentiu, olhou para a janela. Olhou depois sobre o ombro de novo.
_E o que vai ser? –insistia. Eu queria saber por que, será que ela não sabia agir de outra forma?
_O que quiser. –e mudei minha resposta para colher um novo dado.
Assentiu, me encarando, depois devolveu sua atenção para a noite.
Estava ansioso por sua decisão. Ali, agora sem a maquiagem pesada e as ridículas roupas coladas, começava a discerni-la. Sorrateiramente fui me colocando cada vez mais perto dela, para que quando me procurasse, eu fosse fácil de encontrar.
A desconfiança em seu olhar me entretinha. Quem me olhava então? A mulher ou a artista? Que tipo de opinião construía de mim? Tenho certeza que eu era tão misterioso para ela quanto ela era para mim. Só um nome e uma face e a obrigação de uma intimidade que normalmente não devia existir entre estranhos assim.
Colocando os lábios bem perto dos meus, indagou:
_Você sente solidão?
Balancei a cabeça, sem resposta. Que ser humano não sente solidão?
Piscou em câmera lenta e riu baixinho, alisando meu peito pela gola do roupão.
Se ela soubesse o quanto me tentava, teria me beijado logo. Por isso eu tive de tomar a iniciativa.

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Eu não saberia te dizer quanto tempo passara desde a última vez que eu acordara com alguém do meu lado. Apesar de não termos dormido nem um pouco. Ela estava deitada no meu peito enquanto o sol enchia o quarto. O calor do corpo dela era sutil e confortável e havia qualquer coisa deliciosa em sentir sua respiração na minha pele.
_Ainda bem que te disse meu nome. –e falou vagarosamente. –Não ia gostar nem um pouco de te escutar chamando a Roxane…
_O que quer dizer com isso? –soei sério, mas a estava provocando. Ouvi-la rir também era delicioso. Ela ergueu-se um pouco para roubar um relance do meu rosto, mas eu fechei os olhos, só para absorver a luz e o calor e o silêncio. Ela me respeitava, mantendo-se calada, mantendo-se atenta e por perto.
_Tenho que ir embora. –avisou, baixinho, minutos depois. Eu sabia que aquela hora chegaria.
_Posso te ver amanhã? –pedi.
Ela murmurou afirmativamente de imediato. Mexi nos cabelos dela mais uma vez antes de ela sair.
Posso te ver amanhã? Quantas vezes esta pergunta foi repetida? Eu ou ela sempre acabávamos caindo nela, como se mesmo quando juntos mal pudéssemos esperar para nos encontrarmos outra vez.
_Você acredita em destino? –ela tinha estrelas nos olhos quando me consultou, ao passo que caminhávamos pela calçada às duas da manhã, voltando de uma festa.
_Destino? Eu não…
Ela olhou para baixo, não sei se a resposta a agradou. Fiquei olhando para ela até vê-la mudar de posição. Mas ela se aproximou de mim e eu abracei-lhe os ombros.
_Acredito no poder das escolhas. –e informei depois.
Aquilo a deve ter acionado. Ergueu-me a face e não sei bem se sorria, pois as sombras faziam o rosto dela indecifrável.
Como ela foi cair na minha vida? Ou, como eu fui cair na vida dela?
Pertencíamos a planos tão diferentes, até compreendi porque ela me perguntava sobre destino.
Quando entramos no quarto, ela se sentou no sofá e tirou os sapatos.
_Quero pedir uma coisa para você. –o ambiente se preencheu de solenidade quando ela terminou de falar.
Sentei a seu lado e fiquei esperando.
_Não me pague mais.
Não sou capaz de dizer quanto havia gastado, porém acredito que tínhamos nos encontrado o suficiente para ela fazer uma pequena fortuna. Encarei-a inexpressivo:
_Por quê?
Ela olhou para baixo de novo.
Calada.
Distante.
Se houvesse um artifício para entrar na mente das pessoas, eu o usaria ali.
Como se fosse muito difícil entendê-la… Qualquer um com mais sensibilidade ouviria uma declaração de amor ali, mas eu, eu não, não nasci sensível para tanto, não aprendi a ler nas entrelinhas desse modo.
O rosto dela se desorganizou com a emoção que barrou. Talvez fosse ultraje, talvez fosse decepção. E não me respondeu. Esperei, e não me respondeu.
_Por quê? –fui forçado a repetir.
Sorriu, amarga.
_Se você não entendeu, não vale a pena explicar. –calçou os sapatos, meneando a cabeça. Sorria ainda, mesmo que uma lágrima pingasse dos olhos.
Uma lágrima só foi tudo que ela me deu.
Não a impedi de sair, não evitei que fosse embora entendendo mal minha reação.
Porque dentro de mim eu estava convencido de que ela queria me ver amanhã outra vez e outra vez, do mesmo jeito que eu.
Mas a procurei pelas esquinas, perguntei por ela, e me vi preso a três dias de uma busca infrutífera.
Talvez fosse mesmo o fim e só me restava a conformação.
Parei para refletir nisso naquele sábado à tarde. Quem se conforma não reflete, mas eu não estava conformado. Em algum lugar, estava Relena. Como ela se sentia e o que pensava, eu não poderia jamais saber. Jamais era uma palavra tão ruim soando alto na minha mente. Jamais vê-la, jamais senti-la, jamais tê-la, jamais, jamais…
Será que esta seria minha nova realidade?
Certamente uma pela metade.
Atendi ao telefone do quarto curtindo uma consolidação de derrota.
A recepcionista falou formalmente:
_A senhorita Relena.
_Sim, pode passar. –as palavras atropelavam umas as outras, mas só na minha cabeça, porque sei que soei tão controlado quanto sempre.
_Heero… –e chorava. –Estou no telefone público da praça na frente da prefeitura. Venha, venha me buscar.
Não hesitei.
Quando sai do carro a vi sentada no banco do outro lado da rua. Conforme me aproximei, ela se voltou para mim, me fazendo pensar em um animal com uma percepção aguda. Correu até mim, secando as lágrimas, em uma calça jeans skinny e uma blusa cor de rosa, e atirou-se em meus braços. Alisei-lhe as costas ao passo que meu coração se contorcia dentro de mim, só que não conseguia transparecer.
_Como você é cruel. –reclamou, escondendo o rosto no meu peito, prendendo-se a mim como à sua última parcela de segurança. E depois me esmurrou no peito, se afastando. Eu não evitei seu golpe. Ergueu-me um olhar de intensidade imensurável.
_O que foi que eu não entendi? –perguntei, sem aumentar o tom ou carregar as palavras. Eu a torturava sem saber. –Vim te buscar, o que mais você precisa? É só pedir.
Quem a assistia construía um quadro mental de um cavaleiro medieval baixando suas defesas. Seus braços caíram soltos e seu peito se encheu. Meneou a cabeça e voltou para meus braços.
_Eu quero você.
E quem disse que ela esperou eu consentir? Estava mais que determinada. Beijou-me na boca com seus lábios perfeitos, macios e doces. Eram minha perdição. O calor que crescia em nossos corpos se conduzia pelo beijo e se espalhava pelas veias, suficiente para derreter qualquer tensão restante entre nós.
Como eu amava a pele perfumada dela, os seios rosados e as coxas macias… ela se prendia a mim para nunca mais me soltar. E me sorria mergulhada no mais profundo delírio de prazer, um que nem eu podia partilhar.

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Se Relena era uma mulher para iludir, uma atriz sem opções, eu não era um alvo fácil, a performance dela não me impressionava. Nos escombros daquela personalidade que mal podia delinear, havia alguém guardado que eu queria para mim. Não tinha certeza se já o possuía.
_Me deixa ficar aqui com você. –murmurou, deitando no meu peito.
_Quero que pinte um quadro para mim. –brinquei com as pontas dos cabelos dela, erguendo-as a altura dos meus olhos.
_Hã? –se levantou para me olhar um pouco.
_Eu só deixo você ficar se fizer um quadro para mim.
E caiu do meu lado na cama, cobrindo os olhos com o braço:
_Não tem jeito de eu conseguir fazer isso.
Estalei os lábios:
_Então não pode ficar.
_Para quê isso?
_Queria ver o seu trabalho. –informei, me virando para ela.
_Só isso? –e era descrença que riscava sua face.
_Claro.
Não era como se eu realmente tivesse um plano para ela.
Meneou a cabeça:
_Não faz sentido.
_Faz para mim. É só o que te peço. –e expliquei, como se fosse plausível. Minha voz nunca se abrandava, minhas palavras certamente nunca lhe soavam suplicantes. Se meu estilo era sempre sucinto e rígido, ele não a inibia.
_Uma coisa impossível. –rebateu, simplista.
_Não é. Eu sei que te incomoda não conseguir mais pintar… quero resolver isto.
Não havia pedido nada dela. Nem que fosse fiel. A ideia de que talvez ela estivesse com outro homem quando não comigo me perturbava às vezes, mas a escolha era dela, era dela e eu não ia me envolver. Fora daquele jeito que decidi confiar nela. E sabia que funcionava, sabia isso porque passávamos mais tempo juntos do que podíamos ou devíamos.
Relena não tinha desculpas para se opor ao meu único pedido, tinha?
O que eu buscava naquela pintura era um modo de, com meus próprios olhos, descobrir quem ela era antes de se vender. E nem me importava mesmo se ela era talentosa. Este não era o foco de meu estudo. O que desejava comprovar era a natureza do deslumbramento que ela exercia sobre mim e que me enredara a ponto da vulnerabilidade. E esperava tê-la estimulado a voltar a seu sonho antigo. Ficaria contente em devolvê-la a seu ser anterior, aquele que eu ficara tentado a conhecer.
E, se eu conseguisse, te explicava o que eu via naquele olhar, o que eu via naquele sorriso e o que eu via brilhando dentro dela, só que tenho certeza que língua nenhuma contava com as palavras que definiam visões tão sublimes.
Ela não ouvia meus pensamentos. O que acharia deles se os pudesse escutar? Talvez ela se surpreendesse com o que encontraria.
Riu, marota:
_Você é um idiota. –e me informou, colocando bastante ênfase em minha nova característica. Beijou demoradamente meu ombro e suspirou apaixonadamente.
_Obrigado. –e a provoquei, mesmo que não soasse como se brincasse.
Correspondi-lhe depois a carícia, beijando-lhe o ombro acetinado e percebi que foi com resistência que ela se levantou e foi se vestir.
Sorri para ela sem que ela visse, mais com os olhos do que com os lábios.
Poderia ser mais aberto sobre os meus sentimentos, porém, pareceria falso, nem eu me reconheceria, então mantinha trancadas em meu peito as cores que ela injetara na minha essência. O azul cambiante para o verde daqueles olhos de sereia eram as minhas favoritas. As cores eram quase como um segredo, nem ela as podia descobrir. Eram iguais aos perfumes e aos sabores e aos ruídos que coletara meticulosamente, montando meu registro íntegro daquela pessoa que ainda não falhava em ser instigante e inexplicável para mim.
_Vou ver o que posso fazer por você. –e soando bastante burocrática, me avisou ao ir embora, prometendo indiretamente pensar em meu pedido.
E bem senti empolgação na voz dela.
Contudo, aquela foi a última vez que a vi.
Me abandonou para que me alimentasse de minhas amostras preciosas de sua natureza. Apagou seus vestígios sobre a terra apenas para que minha busca se tornasse eterna, fazendo questão de que não a esquecesse nunca mais.
Como se fosse possível eu esquecê-la.
Pagaria minha fortuna para abrir mão de sua presença na minha biografia.
Voltaria no tempo para desfazer tudo se tivesse certeza que ela nunca mais regressaria.
Não foi procurando um futuro vazio que me apaixonei. Queria Relena e estava convencido de que ela me queria igualmente e se de repente se tornara caprichosa, era cruel, mas mentirosa, porque tudo que vivemos e dividimos atestava-me que ela não era caprichosa, tampouco cruel.
Nunca conseguimos antecipar quando uma história acaba. A vida não é um livro, que dá para contar as páginas com antecedência e roubar um relance da palavra final. O emaranhado de eventos simplesmente é cortado abrupta e friamente por uma atitude ou um imprevisto. E às vezes, a história mal tinha começado.

01 – Roxane

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Free Talk

Olá, aqui é a autora! Como vão vocês?
Eu vou muito bem, obrigada. É fim de semana véspera de feriado e venho aqui apresentar a minha nova história para meus amigos amados!
Necessitada de um break de TaS ao mesmo tempo em que me sentia refrescada e envolvida por inspirações completamente diferentes das necessárias para prosseguir com o drama do meu grande projeto, escrevi esta fic de três capítulos que é completamente o oposto do projeto atual que vocês tem acompanhado.

A proposta desta fic é diversificar um pouco e de fato espairecer. Por isso focalizei assuntos diferentes num ritmo mais ágil, mas essa é mais uma história de amor que vence barreiras e que se realiza. :3
Fazer a Relena prostituta, para mim, é quase um crueldade com ela. Eu sou muito presa aos valores que associei a ela, principalmente. E este Heero mais despreocupado, mais normal, também me é novidade. Certo que ele fica meio fisgado por ela, uma mulher perdida, mas incorrer neste deslize não denota nenhuma perturbação extremamente psicológica como ele tem no resto das minhas fics.
Leitores de TaS fiquem tranquilos porque não deixei de trabalhar no projeto. O capítulo novo só está me dando um pouco de baile, por isso, preciso cinzelá-lo e planejá-lo bem.

Aguardo com a ansiedade de sempre suas manifestações!

X.O.X.O
12.11.2011