- Deuses, Merlin – Arthur revirou os olhos quando Merlin caía pela quarta vez consecutiva – Não é possível que você não tenha capacidade de segurar um escudo.

- É claro que tenho, oras – respondeu Merlin, levantando-se – você que não tem capacidade de jogar o machado corretamente.

- Corretamente? Corretamente?! – Arthur indignou-se – Numa batalha, o adversário não vai se importar da forma com o machado acertará sua cabeça. A única coisa que precisa ser correta é a mira, e os reflexos – disse, enfatizando a última frase com mais um golpe de machado. Merlin tivera de ser rápido para desviar do ataque e levantar o escudo.

- Só não vai se importar se estiver morto! – reclamou ele – Você está me matando, Arthur!

- Como pode ser tão mole? – Arthur bufou – Ok, cinco minutos apenas – disse, virando-se para guardar o machado.

Merlin suspirou, aliviado. Dias de treino não eram fáceis. Infelizmente, dias de treino eram todos os dias.

Sentiu sua garganta seca. Precisava de água. Saindo do campo, fez o habitual caminho que o levava até a fonte, onde agua limpa e fresca o esperava.

O dia estava ensolarado, o sol estava muito quente. Leves brisas passavam por ali em direção a Oeste, o que aliviada o calor daquela manhã.

O sol nascera há algumas horas, não mais que três. O dia de Merlin, como sempre, começara da mesma maneira: Arthur.

Arthur, para Merlin, poderia ser, ao invés de seu rei, um adjetivo Adjetivo, no caso, é o que emprega qualidade a alguma palavra. No caso de Arthur, o adjetivo seria mais um defeito. Um exemplo, no caso da frase "Nossa, você está meio folgado hoje", a palavra 'folgado' poderia ser facilmente substituída por Arthur, ficando, nos melhores efeitos possíveis, como "Nossa, você está meio Arthur hoje".

No caso de Merlin, Arthur era sempre folgado, infelizmente. Merlin preparara um ótimo café da manhã, muito bem preparado e com todo cuidado possível, apenas para receber um pão excepcionalmente duro no meio da cara, atirado por Arthur.

- Mas isso está horrível – gritara Arthur.

- Isso é frescura sua! – respondera Merlin. O que aconteceu a seguir, foi um pão voador.

De qualquer modo, o dia estava bonito e ele pretendia aproveitar. Tomou alguns litros de água e desatou a caminhar em direção a floresta. Olhou para trás, para ver onde Arthur estava. Ele já guardara o machado e sumira. Provavelmente estava no castelo.

Bom, pensou Merlin, agora posso respirar.

Depois de adentrar a floresta, Merlin buscou um bom lugar para descansar. Encontrou uma clareira com boa grama e um pé de árvore com muita sombra, e decidiu ficar por ali.

Sentou-se, encostou na arvore e fechou os olhos, pretendendo tirar um bom cochilo.

Imediatamente, ouviu um farfalhar de folhas.

Abriu um dos olhos, procurando a fonte de tal barulho. Silêncio.

Deu de ombros e voltou a fechar os olhos, até que ouviu o farfalhar novamente.

Ok, não estava louco. Olhou ao redor procurando, quando viu um vulto alto e vermelho passar pelas árvores – a causa do barulho.

Levantou-se imediatamente, pronto para usar sua magia a qualquer momento.

A criatura andava de um lado para o outro, e Merlin, cuidadosamente, tentava acompanhar.

Seguindo silenciosamente em direção a ela, atravessou a clareira rapidamente. Porém, por azar da vida, pisou em um graveto e o quebrou, fazendo um som alto e estridente.

A criatura virou-se em sua direção, e Merlin assustou-se. Era alta, vermelha e de aparência borrachuda.

Ela caminhou perigosamente em sua direção, o que fez Merlin começar a recuar. Não sabia o que lançar na criatura, mas já estava preparando um feitiço para se proteger quando um som mais alto e mais estridente foi ouvido ao seu lado.

Pasmo, observou enquanto uma caixa grande e azul aparecia ao seu lado. Aparecia, literalmente. Estava sumindo e ficando cada vez mais presente. Uma pequena ventania e um leve tremor na terra foi sentido por Merlin, e ele não sabia o que fazer.

Lembrando-se da criatura ao seu lado, ele virou-se instantaneamente para o local de onde ela saíra, qual foi sua maior surpresa ao estar olhando para... ele mesmo. Sua cópia correu para dentro da floresta.

- MAS O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – perguntou Merlin, completamente confuso.

Para melhorar a situação, a caixa azul tinha uma porta, e de dentro dela saiu um homem alto, magro e com cabelo arrepiado, como se tivesse acabado de correr uns bons 5 quilômetros sem parar.

- Oh, olá – disse o homem, arfando – desculpe estar arfando, acabei de correr uns bons cinco quilômetros sem parar – continuou ele, arrumando o cabelo, que ainda estava arrepiado – bom, eu e minha parceira aqui. Sai daí, Donna, aqui fora tá tranquilo – virou-se para Merlin – sou o Doctor, by the way.

- Eu sou... Merlin – disse Merlin, assustado.

- Onde estamos? A TARDIS estava meio confusa agora a pouco, então não sabemos exatamente aonde estamos, entende?

- O que você...? Como você...? – começou Merlin, sem ter o que falar exatamente, até que retomou a postura – Que tipo de magia é essa?!

- Isso não é magia, é uma máquina que viaja através do vórtice temporal, apor todo espaço-tempo, onde eu quiser – disse o Doctor sorrindo, encostando-se na TARDIS.

Merlin estava pronto para responder quando a criatura – ou melhor, ele mesmo – saiu de dentro das árvores.

- Mas o que é ele? – perguntou a criatura, apontando para Merlin.

O sujeito chamado Doctor arregalou os olhos.

- Donna? DONNA, TRÁS A DING MACHINE, O ZYGON ESTÁ AQUI – gritou para dentro da caixa, sem tirar os olhos dos dois.

- Já estou indo! – ouviu-se uma voz feminina lá dentro.

- Quem é ela? E o que é um Zigon? – perguntou Merlin, observando sua cópia.

- Doctor, como ele pode ser igual a mim? – seu outro eu perguntou.

Merlin não entendia bem o que estava acontecendo, mas a criatura estava se passando por ele e ele não gostava nada disso. Usando um feitiço não-verbal, atacou sua própria cópia que foi lançada ao ar, e caiu no chão.

- Como você fez isso? – perguntou o Doctor.

- Eu tenho magia – respondeu Merlin – por favor, não conte a ninguém.

- Não, não contarei, eu... – então, novamente arregalou os olhos – espera, magia? O que... Merlin?

- Sim – respondeu Merlin, dando de ombros.

- Merlin, onde estamos? Que ano é esse?

- Nós... estamos em Camelot, em 1561 – Merlin franzia o cenho – porque...?

Mas nessa hora ele foi interrompido. Uma mulher ruiva acabara de sair da caixa azul, com uma máquina estranha nas mãos.

- Desculpe demorar, eu não achava. Você poderia me dizer onde estava, né – ralhou ela com o Doctor. Então notou Merlin ali – Olá, meu nome é Donna, prazer em conhecê-lo.

- Donna – chamou Doctor. Havia urgência e ansiedade em sua voz – o nome dele é Merlin.

- Legal – ela sorriu, como se dissesse "grande coisa, ué".

- E Donna – chamou novamente o Doctor – estamos em Camelot.

O queixo de Donna caiu.

-Em Camelot? CAMELOT? ESTAMOS EM CAMELOT, DOCTOR? – ela dava pulinhos no ar.

- Sim! – afirmou o Doctor, também dando pulinhos.

Merlin achava tudo aquilo muito confuso pra um dia só.

- Mas espera... O Zygon! O Zygon veio pra cá, Donna, precisamos ir atrás dele – lembrou o Doctor.

E assim, ele e Donna correram em direção a cidade, com um Merlin confuso e desnorteado em seu encalço.