Fantasia
"Neji? Já está aqui?". Novamente ela estava no porão da gigantesca mansão para encontrar o primo. Mesmo o lugar estando sujo e cheio de bugigancas velhas era o único lugar em que poderiam conversar normalmente, sem que nenhum Hyuuga revirasse os olhos.
"Estou aqui.". Ele sussurrou atrás dela. Ao virar-se, Hinata deparou-se com o sorriso brilhante e tão lindo do primo.
"Desculpe a demora, tive que tomar cuidado pra evitar o meu pai. Ele queria falar comigo, de novo, sobre qualquer coisa sem importância.".
"Hinata, o que combinamos sobre o porão?". O mais velho indagou levantando uma sombrancelha.
"Nada de reclamações.". Ela falou a contra-gosto, repetindo as palavras dele no primeiro encontro no cômodo.
"Exato. Venha cá.". Ele apontou para o sofá sujo em que estava sentado. A garota sorriu e sentou-se ao lado dele, sentia-se tão bem ali, mas as vezes era difícil não poder tocá-lo – outra regra, que ela considerava estúpida - mesmo assim era bom apenas estar com ele, conversar, falar sobre seu dia, ouvir elogios.
E dessa maneira o tempo transcorria, até que o relógio no corredor batia onze horas e ela precisava voltar para o quarto antes que o pai aparecesse e a castigasse por estar naquele lugar novamente. Quando ela ouviu as badaladas levantou-se rapidamente, sentindo-se novamente como a Cinderela mas ao contrário de virar uma gata borralheira voltava a ser uma garotinha tímida e quieta.
"Detesto esta parte.".Ela suspirou. "Por que eles não entendem?".
"Porque a nossa conexão não pode ser entendida Hinata.Ela simplesmente existe.". Ele sorriu gentilmente mas os olhos que demonstravam a genética Hyuuga estavam tristes.
"Eu te amo tanto.".
"Você sabe que eu também. E também sabe que um dia ficaremos juntos. Para sempre.".
"Sim, eu sei.".
"Vá. Nos vemos aqui amanhã à noite.".
"Sim. Boa noite.".
Após analisar o corredor algumas vezes, verificando se era seguro sair do esconderijo, correu furtivamente em direção ao seu quarto, mas antes que pudesse subir a escada foi interrompida.
"Hinata.". A voz grave e severa do pai soou atrás de si, ela virou-se evitando olhá-lo nos olhos. "Estava no porão novamente?".
"Nã...Não.". Mas ela sabia que não adiantava mentir, ele sempre via a verdade estampada em seu rosto.
"Venha comigo.".Adentraram o escritório e a garota percebeu que não conversariam sozinhos. Haviam mais dois homens, que ela não conhecia, no aposento. "Eu tentei evitar isso. Pedi tantas vezes que você não fosse para aquele lugar. Rezei tanto para que você parasse. Mas agora, preciso tomar providências e você sabe quais são.".
"Sim.". Ela sentiu uma lágrima escorrendo pelo seu rosto até atingir a blusa. "Sim, eu sei pai.".
"Você irá embora amanhã. Eles irão levá-la.". Acenou com a cabeça para os dois homens e olhou triste para ela. "Eu sinto muito, filha.".
"Posso pelo menos me despedir?". Seu coração partia mas ela sabia que a culpa era sua. Correra o risco por amor e não se arrependia, mas nunca mais poderia vê-lo. O pai lançou um olhar aos homens e recebeu um aceno afirmativo com a cabeça.
"Seja rápida.".Ela virou-se e correu para o porão. Sabia que o primo ainda estaria lá.
"Neji!".O rapaz estava no mesmo lugar em que ela o havia deixado.
"O que houve?". Ele levantou-se assustado e quando a viu chorando fez menção de tocá-la e então lembrou-se de que não podia. Manteve então os braços colados ao corpo e apertou o punho, procurando conter sua necessidade de consolá-la.
"Eu vou embora amanhã.".Dessa vez ela passou a chorar fortemente, soluçando desesperadamente enquanto olhava para o rosto do primo esperando que ele pudesse dizer-lhe que ela não iria. A face dele estava transformada pela dor de vê-la chorando e também porque sabia que iria perdê-la, a raiva de não poder fazer nada queimava em seus olhos.
"Eu temi que isso fosse acontecer.". Ele finalmente disse. "Sinto muito por causar isso Hinata.".
"Não é sua culpa.". Ela falou e logo depois chorou mais ainda, colocando as mãos no rosto.
"É sim. Eu sinto muito.".Ele apertou ainda mais os punhos e quando Hinata levantou a cabeça para olhá-lo percebeu que o rapaz também chorava. Com um ultimo soluço ela o olhou.
"Eu sempre vou te amar Neji.". Virou-se para a escada e correu.
"Eu te amo Hinata.". Ela ainda o ouviu responder.
Uma vez no corredor, a garota encostou-se na parede e desabou chorando copiosamente. Ela não estava louca, ao contrário do que todos pensavam. Ah não, ela sabia muito bem que passara os ultimos meses no porão conversando com um fantasma. Mas a fantasia que havia escolhido era muito melhor do que a realidade sem o homem que tanto ama. A realidade dói demais.
N/A: Caaara, eu matei o Neji! Hahahaha. Ai que horror, não é engraçado! E ficou tão triste não ficou? Mas eu gostei, é a minha primeira história triste dos dois e apesar de ser dificil demais pensar no Neji morto, acho que ficou boa. Espero que vocês também tenham gostado. Beijinhos!
