The Secret
By Rosa Malfoy
Naquela noite algo parecia estranhamente mudado, não era uma mudança aparente que qualquer um pudesse notar, mas eu notei... Aquela poderia ter sido apenas mais uma noite de sexta-feira, eu caminhava lentamente pelo corredor, o sono não me tinha agraciado e ficar no dormitório embolando na cama estava ficando irritante demais, o toque de recolher já havia soado e mesmo assim eu vagava por um corredor escuro e comprido.
Estava sozinho, meus antes inseparáveis amigos estavam (provavelmente) namorando por algum lugar da escola, não que eu não gostasse da idéia... Mas a companhia deles me fazia uma falta imensa, e embora nos víssemos com frequência eu me sentia sozinho na maior parte das vezes. Mas eu ia me acostumar com isso, só precisava de tempo.
Estava no sétimo ano em Hogwarts e, fora alguns problemas com uma cicatriz em forma de raio em minha testa e um louco que se intitulava Lord das Trevas querendo me matar a qualquer custo, os sete anos passados na escola não tinham sido tão animadores.
Claro que ter descoberto que era um bruxo e que eu podia fazer diversas coisas com uma varinha quando eu já não tinha esperanças de uma vida melhor foi muito bom, mas as últimas descobertas tinham sido um tanto mais reveladoras.
Quando se é um menino espera-se que você tenha laços amorosos e se case com meninas, mas e quando isso não acontece? O que se faz? Ignora-se e segue em frente?
Em toda a minha estada nesta escola eu tentei me relacionar com elas, mas era indiscutível quenunca dava certo! Não que eu não tentasse, mas... Era complicado olhá-las e não conseguir achar algo de muito interessante nelas.
Mas eu nunca dei ouvido a essa preferência que teimava em me perseguir, pelo menos não até aquele dia, até aquela noite.
Foi inexplicável o que aconteceu comigo, eu estava totalmente envolto em minha crise existencial e estava perfeitamente bem com ela, eu não queria que a certeza de algo que eu fugia tanto chegasse tão inesperadamente.
Ao chegar numa parte do corredor que era sempre bem escura por causa da ausência de janelas eu vi algo que não imaginava ver nem em meus piores devaneios...
Draco Malfoy estava aos beijos com um garoto da corvinal, o nome dele era Douglas Cohen, fazia sétimo ano e era muito bonito, tinha os cabelos castanhos e curtos, a pele levemente bronzeada e um sorriso encantador, eu lembrava claramente do sorriso dele como se estivesse bem na minha frente, os dentes brancos e perfeitos dele nunca se escondiam.
Eu queria sair dali o mais rápido possível, mas não consegui me mover, tamanho era o choque que aquela cena me causou. O jeito como Draco segurava-o mostrava que eles eram íntimos o bastante, eles se beijavam intensamente e eu me perguntava se nenhum dos dois estava precisando de ar.
Acabei me distraindo e quando dei por mim Draco estava me encarando, os olhos azuis dele estavam cintilando e eu não consegui identificar o que ele estava pensando ao meu respeito, com certeza estava com muita raiva por ter sido flagrado, e por mim ainda por cima.
Desviei os olhos dos dele e me virei imediatamente para dar a volta no corredor, apressei o passo, pois algo em minha mente dizia que Draco estava furioso comigo e podia me estuporar a qualquer momento.
Meu coração batia freneticamente e eu não conseguia pensar direito, minha mente ainda repassava as cenas recentes, como se precisasse se convencer de que não fora ilusão.
Depois de tomar uma distância considerável eu parei de andar e senti as pernas doerem, eu estava quase correndo e minha cabeça estava quase explodindo.
Me encostei na parede e respirei fundo tentando reorganizar as idéias.
Foi então que pensei que naquele momento eu sabia de um segredo bem sério, é claro que Malfoy nunca ia deixar ninguém saber que se encontrava com um garoto a noite nos corredores da escola, não com toda a influência que ele a família dele exerciam sobre as pessoas... E o que o pai dele diria?
Eu me cobri com a capa da invisibilidade me condenando por tê-la tirado antes.
Bom, era claro que eu não ia contar a ninguém sobre o que tinha visto, nem a Hermione ou Ron... Mas Malfoy acreditaria nisso?
Eu tinha quase certeza que ele viria atrás de mim, era questão de tempo...
- Tortinhas de Abóbora. – eu murmurei para a Mulher Gorda que ressonava em sua moldura – Tortinhas de Abóbora! – eu repeti agora um pouco mais alto.
- Ah... O que? Ãnh?! – ela exclamou ao ver minha cabeça flutuando no ar – O que está fazendo acordado?
- Detenção... – eu disse revirando os olhos
Ela olhou-me desconfiada e girou para o lado revelando a entrada do Salão Comunal, eu subi os degraus para o dormitório o mais rápido que consegui sem fazer barulho, tirei o robe, joguei a capa no malão e me joguei na cama.
O ar entrava doendo em meus pulmões, minha mente não parava de recriar aquela cena e eu não conseguia relaxar.
O sono acabou me vencendo depois de uns 15 minutos de agonia e quando acordei as imagens do sonho que tivera ainda estavam frescas em minha mente.
No sonho eu estava num corredor escuro e ele não parecia ter fim, eu tentava correr, mas minhas pernas se movimentavam lentamente e eu começava a cair então de repente tudo clareava e eu via a mesma cena com Malfoy, mas não era Douglas que ele estava beijando, e sim eu.
Enquanto me levantava eu tentava me convencer de que sonhos eram apenas imagens e pensamentos distorcidos, não eram apenas desejos internos incontroláveis...
A luz do sol estava tão intensa naquele sábado que incomodou meus olhos e eu os esfreguei com força, como se quisesse espantar todos os pensamentos indesejáveis.
- E aí Harry? Vamos jogar depois do café da manhã? – perguntou Ron se aproximando – O time já confirmou.
- Não acordei muito disposto hoje... Dormi pouco nessa noite. – respondi sem olhá-lo
- Insônia de novo?
- É... – respondi vagamente
- Você precisa resolver isso cara! Vai acabar virando uma múmia, não dorme nunca! – disse Ron me jogando um travesseiro
- Não sei se você sabe Ron, mas as múmias não fazem outra coisa além de dormir. – disse Simas Finnigan sorrindo para o ruivo
- Ah é? Bom, mas o Harry entendeu o que eu quis dizer!
- Vai passar... – eu disse me levantando da cama.
Eu tinha certeza que não ia conseguir me concentrar no Quadribol naquele dia, na verdade não ia me concentrar em nada que tentasse fazer.
A imagem de Malfoy beijando Douglas Cohen não queria sair da minha cabeça e agora uma nova imagem vinha fazer companhia à outra: Eu beijando o Malfoy.
Aquilo sim era muita loucura, por mais que Malfoy fosse bonito e que seus olhos fossem tão hipnotizantes que se tornava bem difícil manter uma linha de pensamento quando se estava muito perto deles, ele ainda era Draco Malfoy e tinha um fascínio fora do comum pelas Artes das Trevas, isso já o tornava bastante detestável e eu o odiava por isso.
Eu ainda tentava pensar no que dizer se ele viesse falar comigo, talvez ele não viesse, mas eu precisava pensar em todas as possibilidades.
Ao descer para o café da manhã com Ron e Hermione, senti algo em meu estômago tremer, e não era fome.
No Salão Principal meus olhos fitaram a mesa da Sonserina e a cabeça loura se destacou entre as demais, voltei a olhar meu prato tentando me concentrar.
- Você não falou nada hoje... – comentou Hermione jogando seus cabelos castanhos para trás e olhando-me desconfiada
- Não dormi bem... – respondi tentando parecer natural – Acho que é bobagem, talvez nervosismo por causa do campeonato.
- Mas ainda faltam três meses. – disse Ron
- Pois é, mas esse é o nosso último campeonato, não vê que é o mais importante? – eu disse olhando-o
- É mesmo... Ainda não tinha pensado nisso... – comentou ele com o olhar distante – Último.
Nesse momento eu não consegui frear meus olhos, olhei para a mesa da Sonserina mais uma vez e dessa vez não consegui passar despercebido, Draco já estava me olhando e quando nossos olhares se cruzaram eu senti um tremor me percorrer, desviei imediatamente e fitei o nada por alguns segundos, ele parecia bem decidido a fazer algo que eu temia que fizesse.
Na teoria eu só precisava ficar perto de Ron e Hermione o tempo todo para evitar que Malfoy me perseguisse... Na prática era um pouco mais complicado.
No fim da refeição caminhei com Ron e Hermione para o pátio, eu não queria que minha presença se tornasse constrangedora se por acaso eles resolvessem agir como namorados, mas percebi que não me importava se isso acontecesse, eu estava mais preocupado com Malfoy.
Mas por que eu estava tão preocupado?
Era Malfoy que deveria estar, afinal ele estava com seu segredo em perigo, teoricamente em perigo por que se dependesse de mim ia continuar sendo um segredo. Mas eu estava preocupado, eu estava nervoso com a idéia de ter que encará-lo sob essa circunstância, e não conseguia entender o porquê.
Pelo menos não queria entender o porquê.
No pátio todos os alunos aproveitavam o sábado e o sol, uns primeiranistas corriam brincando de pega, outros brincavam com suas varinhas, alguns brincavam no lago, eu sentia um aperto no coração ao lembrar que era meu último ano naquela escola, que era o mais perto que eu tinha de um lar. Mas aquela não era hora de nostalgia.
Olhei ao redor involuntariamente e não vi sinal de Malfoy, talvez ele estivesse à espreita, esperando o momento certo para me encurralar, ou talvez eu estivesse ficando paranóico demais.
- Vou jogar agora, depois conversamos mais. – explicou Ron à Hermione pousando-lhe um beijo suave na testa - O Harry disse que não ia jogar então, depois agente se vê...
Eles se despediram daquele jeito bem íntimo e Ron saiu para o campo com outros garotos.
- Não sabia que o capitão podia faltar aos treinos... – ela comentou me observando de esguelha quando nos sentamos embaixo de uma árvore
- Eles não vão treinar, é um jogo sem compromissos - eu expliquei – Ainda não marquei os treinos oficiais.
- Por que não conseguiu dormir esta noite? Sentiu alguma dor na cicatriz?
- Não, não... É só expectativa com o último ano, queira ou não teremos que escolher nossa profissão nesse ano.
- Tem razão Harry, eu também tenho pensado muito nisso... É como se ainda não tivesse caído a ficha sabe? – ela comentou, seus olhos castanhos olhavam perdidamente para horizonte.
- Sei sim...
Então como um baque ela se virou para trás, como se procurasse alguém.
- O que foi? – perguntei
- Eu me lembrei agora que tinha marcado com a Ginny... Ia ajudá-la com umas coisas... – ela disse - Tem algum problema se você...
- Não, tudo bem – eu disse tentando esconder meu desânimo – Eu te acompanho.
Bem, Ginny era a prova viva de que meus namoros com garotas não davam certo, eu tentei com ela e nunca quis magoá-la, eu realmente tentei, mas... Não deu para continuar, eu tentava fugir dela às vezes por que ouvi Hermione dizendo uma vez que ela ainda gostava de mim.
Mas com a situação atual eu seria capaz de grudar em Ginny que nem a Lula Gigante, se isso fizesse Malfoy ficar longe de mim, é claro.
Nós entramos na escola e eu não parava de olhar para os lados, estava me sentindo um idiota por isso, mas era mais forte do que eu.
Ginny estava esperando perto da escadaria que levava ao Salão Principal, o cabelo ruivo e longo parecia maior a cada dia, talvez estivesse do mesmo tamanho, eu é que não me lembrava.
- Harry? – ela exclamou ao me ver
- Ele só veio me acompanhar – explicou Hermione, os olhos de Ginny ficaram tristes de repente.
- Como está Ginny? – eu perguntei sem jeito
- Bem. – ela respondeu, mas alguma coisa em sua voz dizia que ela não estava tão bem.
- Vamos. – Hermione disse segurando-a pelo braço.
Eu fiquei olhando as duas desaparecerem no corredor, não conseguia imaginar o que elas iam fazer, talvez essas coisas de mulher que elas sempre faziam em bando, eu sempre quis saber por que elas demoravam tanto no banheiro...
Agora eu estava sozinho, pensei que minha única saída era me juntar aos outros no jogo de Quadribol mesmo sabendo que poderia ser atingido por um balaço por falta de atenção. Mas qualquer coisa era melhor que encarar Malfoy e seu segredo.
Eu estava quase me aproximando da porta, nenhum sinal de Malfoy... Talvez eu estivesse exagerando, talvez ele fosse fingir que não tinha me visto e eu fingiria que não o tinha visto, então estaria tudo certo!
Eu queria acreditar nisso, mas uma parte de mim dizia que Malfoy não deixaria passar.
- Estava me esperando Potter?
Quando eu ouvi aquela voz a primeira coisa que me veio à cabeça foi correr, correr que nem um louco para o mais longe possível, pois conhecia aquela voz arrastada e baixa muito bem. Meu coração estava dando pulos frenéticos no peito, como marteladas fortes.
- Acho que preciso esclarecer umas coisas. – continuou ele já que eu não respondi.
- Não precisa. – eu disse imediatamente, conversar com ele era a última coisa que eu queria.
- Entra na sala. – ele disse firmemente passando por mim e entrando na sala vazia mais próxima, eu continuei parado – Agora.
Eu sabia que não podia adiar aquele momento, Malfoy me esperava na sala e sua expressão não era amigável, não que ele tivesse sido amigável comigo alguma vez, mas o temor tomava conta de mim.
Draco fechou a porta quando eu passei por ela, o silêncio constrangedor inundava o local, ele me olhou seriamente e eu pude ver seus olhos com detalhes precisos, eram azuis acinzentados e tinham um brilho de astúcia que só ele tinha, Malfoy continuava calado e eu já não aguentava mais aquele suspense.
- Se depender de mim ninguém vai ficar sabendo sobre seu namorado – eu disse sem conseguir me conter, Malfoy me fitou com um olhar maroto
- Primeiro: Cohen não é meu namorado, segundo: eu não chamei você aqui para pedir que não contasse o que viu.
Eu fiquei calado, o que ele dizia não estava fazendo muito sentido... Claro que para estar aos beijos com uma pessoa você não precisava ser namorado dela, mas eu tinha flagrado algo que não era muito esperado, ele deveria querer que eu ficasse calado, não deveria?
- Como assim? – eu perguntei
- Você guarda o mesmo segredo que eu Potter, por mais que não saiba. – ele disse se virando para a porta em seguida.
- O que você quis dizer com "o mesmo segredo"? – eu perguntei, mas Malfoy saiu da sala sem olhar para trás.
Eu fiquei totalmente pasmo com o que ouvi... Quem ele pensava que era para dizer aquilo?
Eu nunca fiquei aos beijos com garoto algum, e vontade não contava na história.
Senti um frio na barriga, quanto Malfoy sabia sobre mim?
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N/A: Estou de volta, finalmente. ^^
Esta fic surgiu de uma forma muito inesperada, eu comecei a escrever e sem perceber a estória tornou proporções grandiosas o bastante para ser postada aqui.
Ainda não tive oportunidade de perguntá-los como está sendo este ano 2009, espero que muito bom.
Se acharem que esse capítulo ficou muito grande, avisem.
E Por favor, não me privem das vossas opiniões.
Abraços.
Rosa Malfoy.
