Boa noite pessoal!
Minha primeira fic do ano! E infelizmente é uma fic triste ç.ç'
Mas eu não resisti, esta idéia está me atormentando faz meses, mas só agora resolvi pô-la num papel e postá-la.
Agradeceria se escutassem a música enquanto lessem a história, é uma canção muito bela, apesar de me fazer chorar ^^"
Como sempre, a história não foi betada, então ignorem possíveis erros
Abraços o/
Em el Muelle de San Blas
"Ela despediu-se do seu amor"
Antônio beijou-lhe delicadamente a testa, acariciando os cabelos castanhos em seguida. Ele afastou-se, dirigindo-lhe um sorriso terno e largo, colocando a mão direita sobre o ombro de Lovino, que olhava para a madeira à seus pés. Os olhos verdes se cruzaram quando o mais velho segurou delicadamente o queixo do italiano, forçando que este o encarasse. O espanhol voltou a sorrir, acariciando a bochecha esquerda do menor, passando-lhe confiança. Lovino tornou a baixar o rosto ao segurar firmemente a mão em sua pele, como se pudesse impedir o outro de partir. Um beijo longo, angustiante e temeroso fora trocado, e o italiano abraçou Antônio com força, tentando esconder as lágrimas que começavam a escorrer de seus olhos fechados.
"Ele jurou que voltaria"
O apito do navio ecoou alto pelo cais, e todos os demais soldados olharam para ele antes de despedirem-se de suas famílias. Antônio fora o único que continuou abraçado em seu amado, sussurrando-lhe frases de incentivo, todas prontamente ignoradas ou ironizadas pelo mais novo. Antônio, então, ria. Afinal, Lovino era e sempre seria assim.
Antônio virou-se para seus amigos e acenou bobo, como se o lugar que estava prestes à ir fosse um spa ou algo do gênero. Ele encarou o grande e sujo navio atrás de si com pesar, então olhou para o italiano novamente, dando-lhe um sutil e rápido beijo nos lábios. "Cuide disso para mim, sim?" ele pediu, colocando um chapéu verde sobre a cabeça de Lovino "Perfeito!". O apito soou mais uma vez, e Antônio sorriu, dizendo que logo estaria de volta.
Lovino virou-se contra o navio, não vendo o mais velho afastar-se de si. O espanhol subiu lentamente a grande escada de madeira que dava acesso ao navio, e, ao chegar à proa, ele – junto à centenas de outros homens – olhou novamente para o cais; e o que viu fez seu coração murchar como uma flor.
"E encharcada em choro ela jurou que esperaria"
O italiano viu o navio mover-se. Ele pôs-se a correr pelo cais, desviando da multidão que saudava os soldados alegremente. Eles iriam para a guerra. O que havia de alegre na guerra?
Seus pés vacilavam na madeira úmida e ligeiramente podre, e ele tropeçou algumas vezes, quase indo ao chão vez ou outra. No navio, Antônio fazia ao mesmo, e eles pareciam correr juntos, embora em direções opostas. Antônio estagnou quando chegou à popa, colocando suas mãos na grade de ferro que servia de proteção, e olhou para Lovino, que também chegara a um limite, parando a centímetros das profundas águas marítimas sobre o cais. Então, Lovino colocou ambas as mãos ao lado de seus lábios. Elas formavam um "O" quase perfeito, funcionando como um amplificador "Eu te espero!".
Infelizmente, Antônio não ouvira tais palavras.
"Milhares de luas passaram
E ela sempre estava no cais, esperando"
Todos os dias após a despedida, Lovino estava no cais.
Ele usava o chapéu que Antônio lhe dera, sabendo que, assim, não seria confundido por seu amado na multidão. O objeto também servia para proteger-lhe do intenso sol mexicano. Sentava-se no mesmo lugar sempre, entre dois pequenos e destruídos pilares brancos, de onde podia ver a imensidão azul à sua frente. Se qualquer navio surgisse ao horizonte, Lovino seria o primeiro a vê-lo.
"E o tempo se passou"
O primeiro navio chegou depois de seis meses, e o italiano fora quem avisou o povoado de que os soldados voltavam. Logo milhares de pessoas aglomeravam-se ao cais, esperançosos de reverem seus filhos, maridos, irmãos e pais. Porém, a alegria logo tornou-se desespero, pois a maioria que voltava estava morta. E os poucos vivos estavam gravemente feridos. Lovino presenciou tudo aquilo atônico. Seus brilhantes olhos verdes tornavam-se foscos e angustiantes perante tanta dor e destruição. Ele correu por todo o cais, à procura de Antônio, porém, feliz ou infelizmente, o espanhol não estava naquele navio.
Naquela noite, Lovino observou a lua cheia pelo cais. E ele chorou durante horas.
"E seus olhos se encheram de amanheceres"
Mais navios chegavam, cada vez com mais frequência, trazendo sofrimento a todos os habitantes do povoado. Lovino não encontrava Antônio em nenhum deles, o que lhe trazia esperanças cegas de que o espanhol estivesse bem. Seu irmão mais novo, Feliciano, tentava convencê-lo de que a espera era inútil, porém ele ignorava. "Ele prometeu.", proferia, sempre observando o mar calmo à sua frente. Feliciano, então, escondia as lágrimas e voltava para casa.
"Seu cabelo se branqueou"
Os anos se passaram, e ele estava sempre ao cais, olhando para as águas profundas e silenciosas. As gaivotas ali presentes pareciam chorar quando o viam; levantavam a cabeça e abriam o bico, berrando alto uma canção triste, quase fúnebre, enquanto batiam as asas sem levantar voo. O – já maduro – Lovino dividia o pequeno pedaço de pão que possuía em mãos com elas, mas as aves pareciam desprezar o alimento. Seu irmão vinha ao cais várias vezes ao dia, entregando-lhe comida – que mal era tocada – enquanto tentava convencê-lo a ir para casa. "Ele prometeu." ele sempre repetia, sendo a única coisa que o mais novo ouvira de Lovino nas últimas décadas. Doía.
"Mas nenhum barco devolvia o seu amor"
Os navios que chegavam, agora apenas traziam alimentos ou cargas materiais ou animais, mas nenhum homem. Nenhum soldado.
"Antônio não vai voltar, irmão..." ele disse temeroso, apoiando a mão esquerda no ombro do irmão, que não o encarava "Eu sei que ele prometeu... mas Antônio não está mais aqui..." "Não, ele está no Golfo... Lutando para nos proteger.", Feliciano sentiu a garganta doer, porém engoliu o choro "Você não entendeu, irmão... Antônio está..." "Lutando!" Lovino o encarou com fúria, cerrando os punhos enquanto afastava a mão que lhe tocava "Vá embora, Feliciano!" "Mas...!" tentou argumentar, porém o outro jogou-lhe a comida que trouxera minutos antes, sujando suas vestes com a sopa "Saia daqui! E não volte até que Antônio chegue!" ele baixou o rosto, raivoso, enquanto ouvia Feliciano soluçar entre lágrimas e correr para longe.
"Ficou nesse lugar
Ficou até o fim"
Começou a sentir sono. Feliciano cumprira a ordem, não voltando mais para alimentá-lo, deixando a tarefa para seu amado Ludwig, que, embora compartilhasse da mesma dor que o italiano mais novo, não pedia para que Lovino deixasse o cais. Naquele momento, Lovino até achou que o alemão fosse um cara legal, já que não metia-se na vida alheia.
Encarou seu companheiro de décadas – o mar – mais uma vez, sentindo o frio invernal afagar a pele quente, causando-lhe sensações engraçadas. Enquanto sentia as mãos e pés gelados, suas bochechas estavam quentes e os olhos pesados. Ele segurava o chapéu verde – agora sujo e gasto – entre os dedos enrugados, passando a mão pelas abas, fazendo o objeto girar e girar à sua frente. Então, colocou o chapéu na cabeça e abraçou as pernas dobradas contra o peito, tentando se aquecer.
Ali, ele dormiu.
"Ficou, no cais de San Blas"
Quando abriu os olhos, sua visão fora inundada da mais brilhante luz. Um calor terno envolvia seu corpo, e ele não sentia-se mais tão cansado. Olhou para o sol acima de si, sorrindo bobamente ao sentir como se os raios deste lhe acariciassem a pele. O mar continuava o mesmo, tranquilo e silencioso, porém algo estava diferente.
À sua frente, com o mais sincero e belo sorriso a adornar os lábios, Antônio roubava-lhe o chapéu da cabeça para colocar sobre a sua própria. "Finalmente você acordou, Lovi!" o espanhol festejou, acariciando as madeixas do mais novo, as bagunçando. Ele estava como sempre: jovem, radiante e atrapalhado. "Você demorou." ele murmurou, fingindo irritação, sorrindo logo em seguida. Eles se beijaram e Antônio abraçou amorosamente seu pequeno italiano.
"E seu corpo se enraizou
No cais"
"Não, Lovi. Você demorou."
Eu nunca, repito: nunca chorei enquanto escrevia uma fic.
Mas nesta não teve jeito. Chorei feito uma boba na frente do computador. Vê se pode.
Eu adoro o casal, e a idéia de esperar eternamente por um amor é tão bela e dolorosa que me comove profundamente.
Espero que tenham gostado.
Feliz 2012!
