Harry sentou em uma das confortáveis poltronas da sala comunal. A paz reinava no lugar, a maioria dos grifinórios tinha deixado a escola naquele feriado. Harry estava esperando Rony e Hermione, que tinham ido ajudar a Professora Sprout. Os dois tinham ficado para o feriado de Natal com ele. Ele olhou em volta, e percebeu que Gina Weasley estava sentada em uma das mesas próximas à escada. Aquele parecia ser seu lugar favorito. Notou todos os livros ao redor dela, e sacudiu a cabeça. "Ela está se tornando uma Hermione com todo esse estudo", ele pensou. Gina parecia estar mais calada ultimamente, mais que o normal. Desde que ela tinha saído da ala hospitalar. Harry estava preocupado com ela, principalmente depois que o Sr. e a Sra.Weasley foram vê-la. Não era muito comum os pais visitarem os filhos. Porém, ele supôs que por conta da febre alta e do ataque, Madame Pomfrey teve de chamá-los. Rony não parecia achar que sua irmã estava em perigo, então Harry achou que ela estava bem.
Harry ouviu fortes passadas vindas do buraco do Retrato, então Jorge e Fred Weasley apareceram. Eles deviam estar voltando das compras em Hogsmeade. Os gêmeos sempre o faziam rir, e ele notou que estavam tentando fazer o mesmo com a irmã.
- Ei, Gina, presente de Natal adiantado, apenas para nossa irmãzinha. - disse Fred.
- Por que você não abre? - perguntou Jorge.
- Eu posso ser mais nova, mas não sou boba. Eu não vou abrir isso. - ela disse com um sorriso malicioso em sua face.
- Vamos. Vai te fazer sentir melhor. - Fred tentou persuadi-la.
- NÃO, Fred. Vá torturar outra pessoa. Não estou a fim de me irritar. - ela olhou irritada para ele.
- Você não tem mais graça. Jorge, vou achar alguém para dar isso. - Fred disse assim que deixou seus irmãos.
Jorge sentou numa mesa próxima à Gina. Harry pôde notar que ele estava pensando seriamente em alguma coisa. Ele pensou se devia sair da Sala Comunal. Eles pareciam não perceber que ele estava lá, no entanto, ele não queria bisbilhotar. Tarde demais, Jorge começou a falar.
- Gina, querida, qual problema?
- Nada. Eu estou bem, só cansada. - ela respondeu.
- Madame Pomfrey não disse para você não se esforçar?
- Disse, Jorge. Não seja exagerado. Eu tenho todos esses exercícios para fazer, e tenho que terminá-los.
- Isso tudo é exercício do feriado? - o irmão perguntou.
- Não. Eu ainda tenho um mês de exercícios atrasados para fazer. E então os do feriado. - ela disse cansada.
- Você quer ajuda? Eu poderia...
- Não, eu posso fazer sozinha. Eu não estou impossibilitada, você sabe. - ela disse irritada.
- Gina!
- Desculpe, Jorge. Eu sei que você só... - ela não pôde terminar, pois rompeu em lágrimas.
Jorge logo se aproximou da irmã e a segurou em seus braços. Esfregou suas costas tentando acalmá-la. O que estava acontecendo? Harry só lembrava de ter visto Gina chorando uma vez. E tinha sido no seu segundo ano, o primeiro dela, depois de ele resgatá-la da Câmara. O que poderia ter acontecido para fazer Gina chorar?
- Gina, você gostaria que eu ficasse aqui com você? - o irmão perguntou.
- O quê?
- Eu ficarei. Fred pode ir com mamãe e papai para o Egito, eu ficarei aqui para o Natal.
- Não. Você não tem culpa de Madame Pomfrey não me deixar viajar. Sei que você está querendo muito ver o Carlinhos e o Gui. Eu ficarei bem. Só preciso terminar esses trabalhos. - ela tentou convencer o irmão.
- Gina, você falou com ele?
- Não, Jorge. Para quê?
- A questão é que isso está te matando por dentro! Eu falarei com ele.
- Não ouse! Isso é entre mim e ele. Eu não quero que se envolva. - disse determinada.
Agora Harry estava totalmente confuso. De quem eles estavam falando?
- Ele se preocupa com você. - disse Jorge.
- Não, ele não se preocupa. Ele tem agido assim por cinco anos. - Gina contestou.
- Gin...
- Jorge, quantas vezes você foi me visitar na ala hospitalar? - a irmã perguntou.
- Eu não sei. Por quê? - Jorge perguntou.
- Você veio todos os dias, às vezes duas vezes ao dia. Fred também, e vocês dois nem ao menos moram no castelo. Até Colin foi me visitar ontem. - ela respondeu.
- E quantas vezes... - ela não deixou ele terminar.
- Três ou quatro vezes, Jorge. E eu estive lá por mais de um mês. Ele nem ao menos foi uma vez por semana. Ele nem ao menos podia ir sozinho. O que isso significa para você?
- Significa que ele é um idiota. Um idiota que precisa ter senso das coisas. - o irmão disse com raiva.
Harry começou a se sentir mais desconfortável. Gina poderia estar falando dele? Assim que se sentou ali, ele lembrou do começo de Novembro.
Era uma semana após o Halloween. Um dos alunos do segundo ano tinha ido para casa visitar a irmã, que tinha contraído catapora. Quando voltou, ele trouxe o vírus consigo para a escola. Repentinamente, vários alunos contraíram a doença.
No início, Gina parecia bem. Nenhum dos irmãos lembrava se ela tinha contraído a doença quando criança. Eles assumiram que ela tinha tido, assim como todos eles tiveram. Rony não parecia interessado. Gina teve uma febre, mas nenhuma mancha, então pensaram que ela apenas tinha contraído alguma virose. Cada dia ela parecia ficar mais doente. O rosto dela estava tão corado, como se ela estivesse constantemente ruborizada. Ela se recusou a ir até Madame Pomfrey, e nenhuma tentativa de persuasão por parte dos irmãos poderia fazê-la mudar de idéia.
Uma noite, Harry notou-a adormecida numa das cadeiras da sala comunal. Assim que se aproximou dela, notou que estava coberta de suor. Ele chamou Rony, e os dois tentaram acordá-la. Após muito tempo, ela se mexeu. Ela disse para que a deixassem sozinha. Rony disse para Harry deixá-la dormir; ela estaria bem de manhã. Harry não pôde dormir aquela noite. Algo sobre Gina estava-o perturbando, e ele decidiu inspecioná-la. Quando ele desceu as escadas, viu Fred e Jorge ao lado dela. Parecia que a professora McGonagall tinha-os chamado de Hogsmeade. Madame Pomfrey também estava lá. Gina parecia estar tendo uma espécie de ataque. Todo seu corpo estava tremendo e se contorcendo. Ela ainda estava com febre e devia ter piorado. Deu para Harry ver, pois sua face e braços estavam bastante vermelhos. Harry correu para seu dormitório para trazer Rony. Quando os dois desceram, as únicas pessoas na sala comunal eram os gêmeos.
- Onde está Gina? - Rony perguntou.
- Na ala hospitalar. - Jorge disse solenemente.
- O que aconteceu? - Harry perguntou.
- Madame Pomfrey parece achar que ela está com catapora. - disse Fred.
- Mas ela não tem nenhuma marca. Tem? - perguntou Rony.
- Não. Ela tem as marcas internamente. Madame Pomfrey disse que é muito perigoso. - disse Jorge.
- Mas ela ficará bem. - disse Rony.
- Teremos de esperar para ver. Professora McGonagall mandou uma coruja para papai e mamãe.
- Eu irei vê-la. É melhor vocês voltaram para a cama. Eu informarei se algo acontecer. - Jorge disse enquanto saía da Sala Comunal.
Gina passou uma semana inconsciente. Harry nunca pensou que alguém pudesse ficar tão doente por conta de uma catapora. Ele e Duda tiveram quando estavam na escola primária. Ele apenas lembrava de ter ficado se coçando um pouco. Gina era uma das pessoas estranhas que reagem mal à doença. Ela teve vários ataques apopléticos, e teve febre de 40 graus por mais de cinco dias.
O Sr. e a Sra. Weasley chegaram naquela primeira noite. A Sra. Weasley ficou em Hogwarts por uma semana, até que Gina estivesse fora de perigo. Harry notou que Rony tinha agido estranhamente durante todo aquele episódio. Ele parecia não querer ver a irmã. Hermione disse que era o medo que tinha de perdê-la. Se ele não a visse doente, ele poderia fingir que ela estava bem. Isso não fazia sentido para Harry. Mas ele sabia que cada pessoa tem seu jeito de reagir aos problemas. Ele não estava a fim de dizer a Rony o que fazer. Após passar duas semanas na enfermaria, Harry e Hermione foram visitá-la, com Rony. Ela parecia melhor do que da última vez que Harry tinha-a visto, mas não muito. Ela não podia ficar sentada por muito tempo, e estava muito fraca.
No meio de Dezembro, Gina foi liberada da ala hospitalar. Os Grifinórios queriam dar-lhe uma festa, mas ela não estava em condições para isso. Harry iria vê-la sentada na mesma mesa, com todos aqueles livros ao seu redor. Várias vezes, ela adormeceu sobre os livros, e Harry avisou a Rony para levá-la ao dormitório.
Assim que Gina falou com Jorge, Harry pensou que talvez ele não tivesse dado muita atenção a ela. Isso o fez sentir-se mal, pois realmente gostava dela. Ela era inteligente, e engraçada. E, algumas vezes, nas quais ele realmente precisou de um amigo, ela esteve lá para ele. Durante o verão, ela sentou-se do lado de fora da Toca com ele, apenas esteve lá para ele. Ela tentou fazê-lo sorrir, e teve sucesso várias vezes. Agora ele se perguntava: Gina precisou dele, e ele não estava lá para ela? Ele parou com os pensamentos e se concentrou na conversa de Gina e Jorge mais uma vez.
- Não, Jorge, por favor, não se envolva nisso. - Gina pediu.
- Tudo bem. Não vou me envolver.
Gina sorriu docemente para seu irmão. Ele a abraçou e murmurou algo que a fez sorrir.
- Então, me diga, irmãzinha. O que eu posso te dar de Natal? Diga o que seu coração deseja, e você terá. - ele disse com um sorriso, embora a reação de Gina não foi outra senão um sorriso.
Mais uma vez, Harry viu que ela rompeu-se em lágrimas. E, novamente, Jorge a abraçou e implorou que ela o perdoasse por entristecê-la.
- Eu queria... Eu apenas queria que ele me visse. - ela gemeu.
- Shhh, está tudo bem. - ele a tranqüilizou.
- Eu só queria... Eu queria o Rony. Eu quero meu irmão de volta. - ela disse enquanto chorava no ombro de Jorge.
Harry estava chocado. Primeiramente, por conta da maneira que Gina tinha se emocionado. Segundo, porque ele não podia acreditar em como era convencido ao pensar que Gina estava falando dele, e ele pensou que Malfoy era convencido. Gina estava triste com Rony. Harry lembrou que os gêmeos contaram como Gina e Rony se relacionavam quando crianças, eles eram inseparáveis. O Weasley mais velho costumava se referir a eles como o segundo par de gêmeos. Harry nunca vira esse lado de Rony e Gina. Desde o momento que Gina chegou a Hogwarts, Rony se mantinha longe dela. No início, até Harry pensou que ela fosse a irmãzinha chata. Ele pensou que ela queria ficar próximo dele, de Rony e de Hermione apenas por conta de suas aventuras. Agora ele percebia que ela queria ficar próximo ao seu irmão. Por que Rony se mantinha distante dela? Certamente, se Jorge percebeu a maneira que Gina se sentia, Rony não teria também se apercebido? De uma coisa Harry tinha certeza: ele não gostou de ver Gina daquela maneira. Se seu irmão não podia dar-lhe o presente que queria, talvez ele pudesse.
Harry viu Fred retornar à sala comunal com um enorme sorriso em sua face. Ele escutou-o contar sobre o pequeno, mini-diabo sonserino, Eugene alguma-coisa-ou-outra, que achou o adorável presente nas escadas. Gina encaminhou os irmãos para fora da sala comunal. Eles a fizeram dar risadinhas e gargalhar assim que saíram. Harry sorriu ao vê-la sorrir; era daquela maneira que ele gostaria de vê-la. Agora, ele teria que descobrir como dar a ela o presente especial.
Harry prestou bem atenção em Gina nos dias seguintes. Ele não queria que ela ficasse só e triste no feriado. Poucos alunos tinham ficado na escola naquele ano, ela podia se sentir muito sozinha. Harry falou brevemente com Rony sobre a vida na Toca. Ele compreendeu que, se ele refrescasse um pouco a memória de Rony, isso poderia ajudá-lo em seus planos. No início, Rony não foi receptivo, mas Harry persistiu. Após aproximadamente um dia, Rony parecia desfrutar suas viagens às sendas da memória. Harry também notou que ele estava se aproximando de Gina, e falando calmamente com ela.
Assim que o Natal foi se aproximando, Harry começou a perguntar a Rony e Hermione quais presentes tinham comprado para seus familiares. Quando Rony deixou de mencionar o nome de Gina, Harry foi direto e perguntou que presente ele tinha comprado para ela.
- Esse é o problema. Eu ainda não comprei. Eu realmente não sei o que ela quer. - Rony disse.
- Que tal algum artigo de papelaria? - Hermione sugeriu. - Ou algum doce. Você sabe que ela tem um fraco por doces.
- Não. Eu quero dar a ela algo especial depois do que houve esse semestre. Eu sei que não demonstro isso, mas eu a amo muito. Eu pensei que nós fôssemos... - ele não terminou.
- Fôssemos o quê, Rony? - perguntou Harry.
- Você sabe. Perdê-la. - disse tristemente.
- Então por que você não mostra a ela? - disse Harry.
- Como? - perguntou um Rony confuso.
- Passe um dia com ela. Converse com ela. - ele sugeriu.
- Eu posso fazer isso agora. O que tem demais nisso? - Rony perguntou.
- Não, Rony, você não pode. Só vocês dois, como quando eram crianças. Você me disse que estavam sempre juntos. Você disse que Gina parecia mais feliz naquela época. Eu estou certo de que ela adoraria passar algum tempo junto a você. Só vocês dois. - Harry concluiu.
Rony disse que teria de pensar mais sobre aquilo, e subiu para o dormitório. Hermione olhou para Harry de uma maneira estranha.
- O quê? - Harry perguntou.
- Não sei. Você está tramando algo. Eu apenas não consigo saber o que é. - ela disse com um brilho em seus olhos, e também foi para seu dormitório.
Na manhã da véspera de Natal, Harry despertou com o barulho de gavetas abrindo e portas de guarda-roupa batendo.
- Rony, o que você está fazendo? - ele perguntou.
- Estou me preparando para dar à Gina seu presente de Natal. - ele disse.
- Hm. Você está um dia adiantado. - disse Harry.
- Não, não estou. Na verdade, estou cinco anos atrasado. - disse enquanto saía porta afora com um enorme sorriso na face.
Nem Harry nem Hermione sabiam aonde Rony tinha levado Gina. Hermione tinha visto os dois deixando a torre da Grifinória cedo da manhã. Ela ouviu Rony dizer à Gina que tinha uma surpresa para ela. Harry parecia estar uma pilha de nervos o dia todo. Seu humor não melhorou com os sorrisos furtivos e risadinha de Hermione para ele. Agora era ela que sabia de algo, e não iria contar a ele.
Por volta das nove horas da noite, Rony e Gina passaram pelo buraco do retrato. Harry não lembrava de ver Gina tão feliz. Os irmãos estavam rindo muito, até choravam. Os dois viram Harry e Hermione e se juntaram a eles no sofá.
- Vocês parecem ter tido um ótimo dia. - disse Hermione.
- Sim, nós tivemos. Não tivemos, Gina? - seu irmão perguntou.
- Sim! O melhor dia que tive em tanto tempo. - ela disse enquanto abraçava o irmão.
- Bem, eu estou com fome. Alguém quer dar uma passadinha na cozinha comigo? - perguntou Rony.
- Eu irei com você. - disse Hermione.
Assim que os dois saíram da sala comunal, Harry notou Gina sorrindo para ele.
- Então, teve um bom dia? - ele perguntou.
- Sim, muito mesmo, e eu acho que eu tenho que te agradecer por isso. - ela respondeu.
- A mim? - ele riu. - Eu nem ao menos sei aonde vocês foram.
- Talvez não. Mas estou certa de que você conseguiu fazer com que ele me levasse.
- Gina, eu não sei o que...
- Harry, eu sei que você estava lá naquela noite. Não olhe para mim como se não soubesse do que estou falando. Eu sei que você ouviu o que eu falei para Jorge. E... eu apenas quero agradecer. Você me deu o melhor presente que alguém poderia ter me dado. Você me deu meu irmão de volta.
Após esse pequeno discurso, Gina se inclinou em direção a Harry e deu-lhe um abraço. Então ela beijou-lhe, gentilmente, na bochecha. Ela se levantou e caminhou em direção à escada dos dormitórios das garotas. Assim que alcançou a escada, ela virou-se para ele e disse:
- Feliz Natal, Harry.
- Feliz Natal, Gina. Boa noite. - ele disse enquanto assistia ela subir as escadas.
Harry estava cheio de um sentimento que ele não podia descrever. Ele realmente não tinha feito nada, de verdade, ele não tinha. Tudo que ele fez foi incitar algumas memórias que estavam trancadas no cérebro de Rony. Mas, fazendo aquilo, ele fez Gina feliz, como nunca a tinha visto antes. E, de certa maneira, ele não apenas deu à Gina seu pedido de Natal, ele também deu a si mesmo.
