CAMINHOS NEFASTOS

Se não houvesse esperança, não estaríamos lutando.

(Anônimo)

Caminhos Nefastos – Capítulo I – O início

Terra Média (1). Vários séculos atrás...

O momento era de medo e incerteza.

Hades, um ambicioso feiticeiro, roubara os Sete Círculos do Poder e os estava utilizando para um propósito mesquinho e cruel: impor sua vontade sobre o mundo.

Utilizando magia negra, invocava criaturas do mundo inferior para auxiliá-lo, passando a contar com um numeroso exército de seres monstruosos. Pronto para a batalha, o Filho das Trevas – como era conhecido – tramou contra os homens e começou o ataque.

Cavaleiros, reis, magos, guerreiros; um a um, todos caíam diante do feiticeiro da escuridão. Dentre os vencidos, os que lhe serviam à causa viravam escravos; os que não, eram prontamente eliminados.

Diante de uma guerra sangrenta e desigual, os habitantes da Terra Média clamaram aos deuses por salvação. Atena, deusa da justiça e da sabedoria, ouviu a súplica dos homens e respondeu fazendo-se humana. Ocupando o corpo de uma jovem feiticeira da resistência, aumentou-lhe a magia, munido-a de uma poderosa arma para derrotar Hades: o Báculo Sagrado de Atena.

O feiticeiro tornara-se imortal em razão do pacto que fizera com o mundo inferior. Todavia, a encarnação da deusa sabia como lidar com isso. Ungindo vários cavaleiros voluntários, Atena adentrou o mundo das trevas com o artefato Sagrado em mãos. Seus objetivos eram livrar o mundo daquele câncer e fariam isso, ainda que lhes custassem as próprias vidas.

A luta contra o exército do feiticeiro foi terrível, registrando várias baixas até chegarem às portas da Fortaleza de Hades. A própria natureza sentia o peso daquele dia: ventos sopravam fortemente, um eclipse escondia o sol e mergulhava toda a terra na escuridão.

Contudo, o que poderia ser presságio de vitória para o mal, tornou-se motivo de esperança. Invadindo a câmara onde o feiticeiro se encontrava, a encarnação da deusa não hesitou e atacou-o com o Báculo. Hades não conseguiu repelir a magia lançada e sucumbiu. Aprisionado, foi encerrado em um sarcófago e lacrado por um poderoso feitiço.

A Terra Média chorou seus muitos filhos mortos em combate, porém com a certeza que AGORAhaveria um futuro.

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Tempos atuais...

O Báculo Sagrado, contendo o poder de Atena, era protegido por uma virgem denominada Sacerdotisa. Esta jovem feiticeira era, agora, a representação da deusa na Terra e, desde a derrota de Hades, também responsável por guardar os Sete Círculos do Poder.

Tendo quatro sacerdotes para auxiliá-la no trabalho de proteção ao Báculo Sagrado, Saori, a nova Sacerdotisa, esmerava-se por cumprir bem seu papel de guardiã.

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Dias atrás...

Era uma bela manhã de primavera. Aquele era um dia especial para os habitantes da Terra Média: era a comemoração do Dia da Libertação. Desde a vitória sobre o Feiticeiro das Trevas, todos os dias de eclipse eram comemorados com a vitória do bem sobre o mal.

Enquanto os moradores se preparavam para os festejos, uma figura vestida de negro adentrava a antiga fortaleza de Hades com um livro em mãos. "Ritus Sacer Venefícium" era o que podia ser lido na capa. (2)

Olhando para os lados e segurando o livro contra o corpo, o jovem seguia com velocidade. Obviamente os guardiões da entrada da fortaleza estariam às voltas com a comemoração do Dia da Libertação, todavia, seu tempo era escasso. Se fosse descoberto, tudo estaria perdido.

Com uma tocha iluminando seus passos, andou por muito tempo até chegar em uma câmara.

Vários sarcófagos estendiam-se pela sala. Tudo indicava que Ele estava ali, mas qual seria o sarcófago que procurava ? Aproximou-se para enxergar melhor. Tateou-os e ao sentir o lacre grosso em um deles, sorriu.

Deixando o livro de lado, com a terra negra de cemitério que trouxera, desenhou um círculo no chão. Dentro do círculo, com o resto da terra, desenhou um triângulo e em cada ponta acendeu uma vela: uma vermelha, uma amarela e uma preta. Tomou novamente o livro em mãos.

Radamanthys suava. Seu coração parecia querer sair pela boca. Estava tenso, mas seguiria o ritual até o fim. Levantou um pouco mais a tocha e achou a página que queria. Olhou mais uma vez o sarcófago antes de colocar-se de pé e começar a recitar os versos malditos.

"Erus meus, Dominus meus, Rex Regis meus. Invoco vos per tenebrosus die dum fusco mane et sol solis exstinge. Rogo aura commutare fusco, terra tenebrae et vitam exstinguo. Ego vester minister et libero, redimo vos in vivus mundum. Surge tu ab aeternum sopor et adferre MORS." – dizendo isso, pegou a vela vermelha, a qual representava o sangue derramado, e pingou a cera derretida na frente do sarcófago, fazendo um círculo – "Surge tu ab aeternum sopor et adferre AGONIA." – tomou a vela amarela, representando o sofrimento a ser passado, e fez um círculo de cera por cima da vermelha – "Surge tu ab aeternum sopor et adferre EXTINCTIONE." – pegando a vela negra, representando a destruição, pingou cera sobre a vermelha e amarela. – "Dominus, vostra auctoritas commutare in omne tempus et orbis terrae positis genibus et adorare tu ut singularis Erus" – abaixando a tocha, socou-a na terra, apagando-a. Ficou iluminado somente pela luz das velas, recolocadas em seus lugares – "EGO INVOCUS TU IN NOMINE TENEBRARUM."gritando, levantou e assoprou a vela vermelha apagando-a "EGO INVOCUS TU IN NOMINE TENEBRARUM." – assoprando a amarela, também a apagou. – "EGO INVOCUS TU IN NOMINE TENEBRARUM."– a vela negra foi a última a ter sua luz extinta. Neste momento o ambiente estava em completa escuridão – "Surge ab tenebrationis. EVIGILARE ! (3)" – gritou.

O jovem ficou esperando em silêncio, porém nada aconteceu. Não era possível. O quê fizera de errado ? Tinha seguido o ritual à risca, seguido todas as palavras. Será que sua pronúncia em latim não estava correta ?

Começou a ficar tenso. O sortilégio não podia ser conjurado duas vezes no mesmo dia. Se o feitiço não se concretizasse, seriam três longos anos até o próximo eclipse.

Tentou acalmar-se e repassou seus passos. As velas deveriam ser virgens e ficarem enterradas em terra de cemitério por sete dias. Isso tinha sido feito. Deveria executar o feitiço apenas em dia de eclipse. Era dia de eclipse. Os versos finais deveriam ser proclamados em total escuridão. Tateou até encontrar sua tocha e virou-a para observá-la. Estava apagada. Também não havia luz alguma vinda das velas.

Suspirou. Desejava despertar Hades e adquirir um grande poder, mas falhara.

Permanecia em profunda decepção quando, num piscar de olhos, uma tênue claridade surgiu do meio das ceras. Pôde ver as mesmas misturando-se à frente do sarcófago. Logo a luz que surgira do meio delas irradiou e cobriu a sepultura. Em segundos explodiu.

O jovem colocou a mão no rosto para não se ferir.

A claridade foi diminuindo e em seu lugar apareceu um homem todo vestido de negro. Ele bateu as mãos e as tochas do lugar se acenderam.

– Quem é você ? – Hades questionou secamente.

– Radamanthys, aquele que o libertou e... seu servo. – respondeu ajoelhando-se respeitosamente.

– Aquele que me libertou ? – questionou pensativo – Livre. – falou olhando para as mãos. – Livre. Livre. ESTOU LIVRE ! – gritou e deu uma gargalhada maléfica.

-o-

– Então a nova representação de Atena chama-se Saori e também atende pelo nome de Sacerdotisa. Humm... – o feiticeiro repetiu a informação que seu novo servo acabara de passar.

– Isso mesmo meu Senhor e, além de representar a deusa, ela também guarda o local onde descansam os Sete Círculos do Poder.

– E o Báculo ? Ainda é mantido por ela ?

– Sim, Mestre. A segurança do amuleto Sagrado que encerra o poder de Atena é a primeira responsabilidade da Sacerdotisa.

– Humm... – replicou pensativo e logo adquiriu um ar cruel. Estendeu as mãos à frente, concentrou-se e fez um movimento, elevando-as – Criaturas malditas das trevas, APAREÇAM ! – ordenou.

Imediatamente vários seres monstruosos surgiram do chão e se materializaram em frente aos dois.

– Você. – o feiticeiro apontou um cavaleiro negro (4) – Reúna um exército. Junte outros cavaleiros negros, orcs (5) ou as criaturas que desejar. Adentrarão a Cidade Sacra (6) e roubarão o Báculo Sagrado de Atena para mim.

– Meu Senhor, – Radamanthys falou humildemente – perdoe minha intromissão, mas o templo que guarda o Báculo possui uma poderosa magia. Além da representação da deusa, apenas os quatro sacerdotes-guardiões podem se aproximar do amuleto sem que percam a essência da vida. Nem um cavaleiro negro resistiria.

– Humm... Então qualquer um que se aproxime do Báculo, que não seja um guardião, perde a vida... – andou pela câmara enquanto falava – Diga-me Radamanthys, o quê seduz um homem ? Riqueza ? Poder ? Luxúria ? – sorriu – Venha. – chamou-o – Temos um sacerdote a seduzir.

-o-

Santuário. Dois dias depois...

Assim que adentrou o Santuário, Saori – a Sacerdotisa – percebeu algo estranho no ar. Havia alguma coisa errada, mas não sabia o quê. Entrou no espaço reservado aos guardiões. Abriu a câmara secreta e passou para a sala do amuleto Sagrado.

Arregalou os olhos e segurou-se na parede.

O Báculo havia sumido.

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Próximo Capítulo: No próximo capítulo a Sacerdotisa convoca vários guerreiros para recuperar o Báculo. Dentre eles, dois têm um primeiro encontro muito turbulento.

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Nota da autora - Explicações

( 1 ) Região citada em "O Senhor dos Anéis". Na fic, é a região onde se passa a história.

( 2 ) Tradução do latim "Rituais Sagrados de Magia"

( 3 ) Tradução do latim: "Meu Senhor, meu Mestre, meu Rei. Invoco-vos neste dia negro em que a manhã escurece e o sol se apaga. Rogo que o ar se torne negro, a terra escureça e a vida se apague. Eu, seu servo e libertador, resgato-te para o mundo dos vivos. Levanta-te do sono eterno e traga MORTE. Levanta-te do sono eterno e traga AGONIA. Levanta-te do sono eterno e traga ANIQUILAÇÃO. Mestre, que seu poder torne-se infinito e o mundo se ajoelhe e o adore como único Senhor. EU O INVOCO EM NOME DAS TREVAS. EU O INVOCO EM NOME DAS TREVAS. EU O INVOCO EM NOME DAS TREVAS. Venha da escuridão. DESPERTE !"

( 4 ) Cavaleiro negros é uma figura mitologia referenciada no livro "O Senhor dos Anéis". Ex-rei ou forte guerreiro, vendera sua alma em troca de poder e agora se trata de um escravos morto-vivo do mal.

( 5 ) Orc, semelhante a um ogro, é uma criatura mitológica do mundo dos RPGs.

( 6 ) Cidade Sacra, na fic, é a cidade dentro da Terra Média onde está o Santuário.

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Nota da autora - Contato

Podem me contatar, brigar, criticar, reclamar, dar dicas ou só escrever para bater papo no erika(ponto)patty(arroba)gmail(ponto)com (não tem o BR) ou via review neste site. Muito obrigada por lerem. \o/ Mais um UA !

Bela Patty

- Agosto / 2006 -