Prólogo
Um jovem, de cabelos escuros e rosto pálido, inclinava-se sobre a mais recente mensagem recebida do Japão. Distraidamente, perdia-se na perfeição da caprichosa caligrafia que preenchiam o papel delicado e suavemente perfumado, um meio sorriso formou-se nos lábios finos. Ela possuía esse dom de fazer-se presente mesmo através de uma carta aparentemente formal.
Seus olhos profundamente azuis, brilharam por trás das lentes de seus óculos redondos, novamente, ela argumentava que seria muito mais fácil comunicar-se com ele se tivesse aceitado seu último presente (um celular de última geração) enquanto narrava em detalhes os pequenos avanços na relação de seu mais fofo descendente e da jovem mestre das cartas.
A jovem de olhos violetas, sempre tão gentis lhe tinha confiado muito mais do que apenas contos de seus amigos em comum, ela estava se dedicando de todo coração à composição de sua "obra maestra" uma canção inspirada na amizade e no amor, a qual ele prontamente se colocou a disposição para compor notas em seu antigo piano de carvalho. Em breve, ela teria a musica perfeita para apresentar-se no festival de inverno, ponderava ele.
-Parece que as coisas estão indo muito bem!
Murmurava para si mesmo, Eriol Hiiragizawa com um sorriso satisfeito, reclinando-se sobre o famoso "trono do mal" enquanto se encontrava refletindo sobre os últimos cinco anos, os tempos que estivera na pacata cidade de Tomoeda no Japão foram, sem dúvida, os mais marcantes de sua infância, ou ao menos o mais próximo que ele teve como infância até então.
Sim, ele era maduro demais para sua idade, sábio demais para um colegial comum e solitário demais para um adolescente londrino tão independente como era. Tudo isso? Consequências de possuir todas as memórias e responsabilidades do mago mais poderoso de todos os tempos, o infame Clow Reed.
No entanto, Eriol acreditava estar desenvolvendo sua própria identidade independentemente da sua herança mágica. Era afinal um rapaz inteligente, perspicaz e verdadeiramente atraente aos quinze anos de idade, mas ainda assim, desde que partiu de Tomoeda, não conseguira encontrar uma amizade tão verdadeira quanto a que compartilhava com Sakura, Syaoran, Kerberus, Yue... e Tomoyo. Eriol não contava com muitos amigos de confiança além de Spinel e Nakuru... e Kaho Mizuki.
O som do pêndulo do grande relógio no corredor anunciava que já se passava de meia noite, era uma quarta-feira. O mago levou as mãos ao queixo em contemplação, seria próximo às sete e meia da manhã no Japão, logo ela acordaria e seguiria para a escola enquanto ele permaneceria trancado no escritório sombrio no interior de uma velha mansão inglesa, recluso como o velho Clow Reed, preso com uma estranha sensação de que muito em breve, sua vida mudaria completamente.
