Correntezas

Capítulo 1

-Não tenho que ouvir isso! – As mãos caíram ao corpo, em um gesto de total impaciência durante a discussão que se intensificava com cada contra palavra.

-Mas é essa a verdade que você não quer ouvir mesmo. Você sabe que eu tenho a razão, Aiolos.

-Verdade, Kanon? Que verdade? Até agora você só me falou besteira! Já faz quatro anos da minha separação com Saga, para que você pudesse aproveitar a sobra. –O tom foi de sarcasmo e mágoa. Apenas Aiolos sabia da relação incestuosa do ex, que também foi à causa do término de seu relacionamento.

-Tenha mais respeito para falar dele se não quiser perder os dentes! – O tom de ameaça real apenas arrancou um olhar de dúvida e um sorriso de ironia do sagitariano, o que irritou ainda mais Kanon.

-Quantos vão vir me arrancar os dentes? Você e mais quem? A Pequena Sereia do Bian? Isaak? – Riu audivelmente. – Não me faça rir. Aliás, não entendo porque eu estou aqui, discutindo com uma criança.

-Experiência pelo Aiolia, não é?

-O maldito assunto é o Saga! – O geminiano já possuía ira no olhar. Não se importava de ouvir coisas sobre si, mas sobre seu amado irmão, não podia admitir, ainda mais vindo do ex dele, assim como Aiolos que perdia a razão quando maldiziam seu amado irmão.

-É muito atrevimento seu vir no apartamento do meu Saga e discutir comigo!

-Eu estou aqui porque seu irmão pediu para eu trazer o livro que ele estava precisando para o doutorado dele! E foi você que veio me atazanar quando me viu na porta! Você podia ter evitado pegando o maldito livro e deixando-me ir embora já que ele não estava!

-Então vai! Eu te odeio, vai embora! – Arrancou o livro das mãos dele, contra ao gosto do loiro e foi até a porta, de forma barulhenta com seus passos, para abrir a porta. – Fora, porra.

-Saga vai saber dessa sua grosseria comigo. – Havia permitido ele lhe tirar o livro das mãos, de forma furiosa e birrenta, e ao contrário da ira dele, seu tom havia se tornado mais baixo para combater em palavras.

-É? Foda-se. – Disse, ao lançar um olhar irônico ao outro. Aiolos nada mais respondeu, apenas deixando um olhar de braveza demonstrar como aquela discussão acabou enquanto saía da casa, ouvindo a porta bater atrás de si.

Kanon ao tempo que tentava se acalmar respirando fundo, ajeitou o livro grosso e pesado nos braços. Reconheceu o autor, por já ter lido algumas obras, assim como seu gêmeo, enquanto caminhava até a mesinha próxima à porta, deixando o livro em cima. Pôs ambas as mãos na mesa, balançando a cabeça em negativa, ainda irritado pela discussão e pelo ciúme. E para se acalmar mais, resolveu passar os olhos em algumas páginas, aleatórias, recordando-se de alguns assuntos, até que entre as páginas, encontrou um bilhete. Uma folha azulada de um bloco, com algumas palavras escritas. Reconheceu a grafia de seu gêmeo, algumas notas sobre aquele capítulo, para então virar a folha. Bufou, a princípio não reconheceu a letra, mas a assinatura sim.

"Só você mesmo para entender isso, te amo. Ass.: Aiolos". A primeira reação do moreno foi amassar o papel entre os dedos. E tornando a ficar irritado, deixou o papel cair no chão, e saiu de perto do livro, deixando-o aberto. Abriu a porta, saindo, decidindo dar uma volta para espairecer, e depois retornar e conversar com seu companheiro.

X_x_X

A porta se abriu após ter sido destrancada, e ainda com a chave na fechadura. -Amor, cheguei. – Anunciou, acreditando que Kanon estava em casa. Entrou, fechando a porta, sem prestar atenção, enquanto olhava pela sala, certificando se seu irmão não estava mesmo por ali. –Mas...? Ele disse que estaria em casa quando eu chegasse... – Deixou sua mochila no chão, enquanto desfrouxava o nó da gravata, o suficiente para sentir-se relaxado na região do pescoço, também quente. Observando a residência, notou o livro aberto de forma displicente em cima do vidro, e também chegou a notar o papel amassado no chão.

Não demorou a ir para próximo do objeto. Fechou o livro, recordando-se de que havia pedido ao loiro aquela edição para seu estudo. Livro um pouco antigo, há anos não lia mais aquela edição, já que tinha as duas seguintes. Depois, pegou o papel, desamassando-o entre os dedos. Deu um suspiro ao ler e recordar aquele bilhete. No fim, aquilo havia se tornado apenas um papel com letras.

Desviou o olhar, situando o que havia acontecido na sua ausência. "Provavelmente eles brigaram, e provavelmente Kanon achou o bilhete e está pensando mil coisas naquela cabeça que eu amo tanto". Pensou, para desviar o olhar daquelas palavras sem significado no momento e riu audivelmente. Teria muito o que explicar, sabia, mas não resistia àquele rosto gêmeo, mas mais belo, emburrado.

Naquele momento, assustou-se olhando para trás ao ouvir a fechadura sendo usada, e então a porta sendo aberta.

-Deixei essa droga aberta?

-Kanon? – Foi a vez do mais novo se assustar ao vê-lo ali. Tinha nas mãos uma lata de cerveja, e o rosto fechado em sua expressão. Nitidamente via braveza, e como o conhecia, muito ciúme. E também notou que ele havia percebido o bilhete em suas mãos, outrora amassado.

-Hum. Lendo o bilhete do amante? – O mais velho não conseguia não sorrir, mas o que causou ainda mais ciúme no outro. –Gostou tanto do que leu que está feliz? – O grego deixou o papel em cima da mesa e foi até o irmão, tentou tirar a bebida das mãos dele, mas foi impedido. – Me deixa beber ao menos, também posso me divertir. – Saga manteve-se à frente dele, com o semblante de ternura. Decidiu só ouvir, mesmo sabendo como o seu amado gêmeo estava e se sentira. – Vão casar quando? Sabia que ele veio aqui me ofender?

-Essa edição desse livro saiu no primeiro ano do meu namoro com o Aiolos. – Kanon já não o olhava. Ouvir o nome do sagitariano o estava fazendo perder a estribeira já. O limite da ira já havia se extinguido, para o ódio. Terminou o conteúdo da latinha e a colocou em cima da mesa de vidro. Começou a ignorar o irmão, como o ciúme ainda mais óbvio, além da tristeza que lhe acometia, acreditando que era traído. O gêmeo mais velho percebeu que ele não pretendia continuar lhe ouvindo, mas depois da pausa para observá-lo, continuou. – E esse bilhete ele me escreveu quando comprou o livro para me dar de presente. Acabei deixando o livro na casa dele quando nos separamos. Ele não gosta de Psicologia, e nenhum livro do gênero não lhe interessa mais. E sim, ele veio aqui porque eu pedi para me trazer essa edição, para eu juntar com as seguintes para estudar. Principalmente as atualizações das teorias. – Seu tom era de extrema calma e paciência, transmitia para Kanon que ele não tinha nada com o que se preocupar. –Você não confia em mim?

O mais novo murmurou.

-O que disse?

Kanon murmurou novamente, quando Saga pegou em seu braço com delicadeza.

-Eu disse, "hum". – O moreno mais velho tornou a sorrir. –Você é único para o meu coração. – O soltou, e se afastou, fingindo que iria ignorá-lo, assim, lhe deu as costas, enquanto adentrava a casa e abria seu terno e sua camisa em poucos botões. –É uma pena que você saiu para beber... Eu estava pensando em abrir o vinho que compramos no fim de semana, enquanto fazia a janta para o único homem da minha vida, e assim, começarmos deliciosamente nossa noite.

-Foi só essa latinha...

Saga gargalhou.

x-x-x

Notas da autora.

No conflito interno de fazer dessa historinha uma sequência de poucos capítulos, mas ao mesmo tempo não, já que o enredo não seria assim, tão longo. Porém, houve inspiração para essa história, uns dias atrás enquanto eu assistia televisão. O seriado que eu vi teve um momento que me emocionou, e assim modelei as situações para essa fanfic, e a briga inicial é de extrema importância para o que acontecerá. Pensei também em encerrar bem antes do retorno do Kanon em casa, mas, ele é fofo (e perfeito e mordível 3) e não evitei (porque não gosto de ver o Kanon triste nem em fics 3).

Fanfic em aberto, mas haverá continuação assim que possível.