1. E nuvens de chuva cobriram o céu ensolarado...

Forks. Nem acredito que estava me mudando para um lugar que eu nunca tinha ouvido falar. Tudo estava correndo tão bem em Calabasas! Morávamos perto da praia, fazia sol o ano inteiro... Agora onde eu fui parar? Numa cidade pequena e sem muitos atrativos. E, pra piorar, Forks era a cidade mais chuvosa do país! Pelo menos continuaríamos morando perto da praia. Mas de que adiantava, se o clima não era dos mais convidativos? Já estava achando que a única coisa que me manteria naquela cidade seria a presença dos meus avós.

Meu avô era um grande contador de histórias. Sempre nos reuníamos para ouvi-lo. Suas histórias eram fantásticas! Ele vivenciou muita coisa, e suas histórias de quando ele era Alfa me fascinavam. No começo eu não acreditava. Para mim, lobisomens não existiam! Aos poucos ele foi me convencendo, e fiquei fascinada com os Quileute. Eu chegava até a cogitar que eu queria ser um deles. E, acredite, eu poderia. Tenho sangue Quileute e Alfa correndo em minhas veias. Só desisti da idéia porque seria muito arriscado se eu me transformasse. Seria como se eu deixasse de ser mulher. Meu corpo iria mudar e eu nem poderia pensar em ter filhos. Mas, de todas as histórias, a que mais me encantava foi a de como meu avô conheceu a minha avó e teve uma impressão. Quem não quer um amor incondicional e por toda a vida?

Eles moravam em La Push, um povoado que ficava perto da praia. Apesar do tempo fechado, era uma das paisagens mais bonitas que eu já tinha visto. De dentro do carro, vi um grupo de garotos (que pareciam ter a minha idade), pulando de um penhasco em direção à água. Em Calabasas, a coisa mais radical que eu tinha visto eram duas pessoas pulando de bungee-jump em uma ponte. Agora, mergulhar daquela altura? Francamente, percebi que tem gente doida em todos os lugares. Até em Forks.

Nós iríamos morar em um povoado vizinho de La Push. Chamava-se Green Valley. Confesso que, quando chegamos lá, me encantei com a casa. Por ser uma cidade pequena e os imóveis serem mais baratos, meus pais conseguiram comprar uma casa enorme por um bom preço. Bom, eu achava que iria morrer de tédio naquela cidade, mas pelo menos iria morrer num lugar com espaço e com a brisa do mar batendo em meu rosto. Não que isso seja um consolo muito bom.

Eu já sabia que não iria me adaptar tão cedo. Mas minha certeza aumentou quando fui para a Escola de Forks. Logo quando entrei, percebi a enorme diferença, comparando com a Laplace High School, que eu freqüentava em Calabasas. Laplace era uma escola enorme, com grupos de teatro, de moda, de música e de tudo ligado à arte e cultura; times de quase todos os esportes imagináveis, dentre eles futebol americano, baseball, vôlei, natação, basquete, futebol e até lacrosse; vários festivais, concursos de talentos, bailes... Isso sem contar a grande quantidade de pessoas bonitas e estilosas. Alguns considerariam como uma escola cheia de riquinhos metidos, mas não era. Tinha pessoas de todos os estilos e atitudes. Mas não vou negar que os "riquinhos metidos" eram os mais populares dali. Eu não era uma das garotas mais populares, mas tinha um bom relacionamento com quem eu conversava. Não era inimiga de ninguém. Não que eu soubesse. Sempre era convidada a festas e já cheguei a ir num baile com um dos caras mais lindos e disputados da escola. Eu também fazia parte do grupo de teatro, e participei de várias peças organizadas pela escola.

Mas percebi que em Forks isso seria diferente. Ali eu era a estranha, a isolada. Lá todos tinham um estilo parecido, e só eu parecia quebrar o estilo "forkiano". Mal tinha entrado naquela escola e as pessoas já estavam me olhando estranho. Não sei se por causa das minhas roupas ou por causa da minha cor bronzeada. O sol quase não aparecia em Forks, como alguém poderia ser bronzeado?

Nas aulas, foi outro sufoco. Quando eu falava que morava na Califórnia, as pessoas ficavam surpresas e me enchiam de perguntas. Parecia que eu era de outro país, não de outro estado. Elas estavam realmente muito curiosas. Ninguém sabia o que era viver numa cidade grande, e a maioria nunca tinha saído de Forks.

As únicas pessoas que eu consegui gostar ali foram Angelica e Isabel. Tínhamos gostos e opiniões parecidas, o que facilitou muito a nossa amizade. Eu não conseguia gostar de outras pessoas em Forks, parecia mais que estavam falando comigo porque eu parecia "a garota riquinha da Califórnia", não porque gostavam de mim. Pelo menos, com Angelica e Isabel, eu sabia que era bem diferente.

Com o passar do tempo, eu fui me acostumando. As pessoas já me encaravam com mais simpatia. Fiz um teste e consegui entrar para o grupo de teatro, mesmo achando as peças de lá muito fraquinhas. Meu círculo de amizades não se limitava mais a Angelica e Isabel. Não era como estar em Laplace, mas as coisas haviam melhorado bastante. Eu ainda queria voltar a Calabasas, mas pelo menos a cada dia ficava mais fácil viver em Forks.