Nove anos de espera, e o dia finalmente chegou. Eu contei cada hora, cada minuto esperando o dia em que a minha voz seria ouvida. Hoje eu faço vinte e um anos, uma data importante na vida de qualquer pessoa, mais pra mim, mais do que a maioridade, esse dia vai me dar liberdade, escolha.
Levantei cedo como sempre, me vesti e saí antes que os outros acordassem. Era um hábito sair sem ser visto, eu queria ver o mar, sentar e ver uma das maiores forças da natureza, e que eu amava tanto. O mar sempre foi o meu refúgio, meu melhor amigo, ele nunca me julga, não me importuna, não me pergunta a cada minuto se eu estou bem, se dói, se eu quero alguma coisa. Ele simplesmente fica lá, indo e vindo com suas ondas, cantando sua própria canção, acalmando minha alma.
Eu sei que a minha decisão vai trazer dor e sofrimento para minha família. Eu sei que para muitos a minha decisão pode ser covarde ou ingrata. Mais e eu? E a minha dor? E o meu sofrimento? Eu tenho feito tudo da maneira deles, comendo o que é melhor pra eles, bebendo o que é saudável pra eles, vivendo por eles. Agora eu não quero mais! Eu quero poder tomar minhas próprias decisões, não importa a onde isso me leve. Pode ate ser irresponsável, ou ingrato da minha parte, mais que se dane, eu quero isso. Deus sabe quando foi a ultima vez que fiz algo que eu queria fazer, que eu comi alguma coisa que eu realmente queria comer. Deus, eu nem me lembro qual o sabor de um hambúrguer, um refrigerante, ou uma batata frita bem gordurosa! - Não Edward, isso não vai fazer bem pra você! FODASSE! Eu já cansei disso. Eu quero poder me empanturrar de porcarias ate a minha barriga doer, quero beber tanto milk shake que meu cérebro vai congelar! Infantil? Eu sei, mais eu quero fazer tudo o que eu nunca pude. Dirigir loucamente, tomar um porre, beijar um cara, transar! Tudo bem, eu estou sendo muito sonhador, mais eu posso sonhar, não posso!? Ter alguém me imprensando num canto, tirando o meu juízo com um beijo arrebatador, sentir minhas pernas bambas. Ser amado de uma forma inimaginável, e no fim, quando um orgasmo incrível dominar o meu corpo, morrer, ainda com a sensação dele dentro de mim.
Infelizmente, essa é a parte do meu sonho em que eu acordo e caio da cama. A população gay de Forks é limitada a duas categorias, a primeira são caras estranhos que se escondem num armário imaginário e que nunca sairão dele. A segunda parte já passou na mão do meu irmão mais velho, e eu sinceramente prefiro não ouvir nada sobre a vida promiscua dele, então, eu acho que o meu fim será morrer obeso e virgem.
Tudo bem, nem tudo e perfeito, se fosse eu não teria tido câncer aos treze anos, não teria abandonado a escola por que os garotos me zoavam pela minha careca, ou mesmo depois de fazer quimioterapia e radioterapia por mais de um ano a minha melhor chance foi perder o meu pé, o que tecnicamente impediria o câncer de se espalhar, o que não aconteceu é claro. No mundo perfeito dois anos depois eu não teria outro câncer, agora na tíbia e perderia mais uma parte do meu corpo. No mundo perfeito eu não estaria tendo essa conversa insana comigo mesmo por ter medo demais que as pessoas se aproximem de mim a acabem como a minha família, orbitando a minha volta sem conseguir fazer mais nada das próprias vidas.
O sol começou a esquentar, e eu sabia que a minha paz tinha minutos contados, eles sempre sabiam onde me encontrar e hoje claro, não seria diferente. Ouvi meu nome ser gritado e não precisei nem olhar pra saber quem era, me levantei calmamente, sacudi um pouco da areia do corpo e segui até meu irmão, antes que ele fizesse uma cena. Ele adorava me envergonhar.
- Eu já estou ficando cansado de ter que te pegar sempre aqui sabia?
- Eu não pedi que você viesse! - ele sorriu é claro.
Meu irmão mais velho Emmett, nunca reclamava do meu mau humor constante, todas as vezes em que eu era grosseiro ou estúpido, e eu era muito, ele apenas sorria e fazia uma piada.
- Não, você não pediu, mais que irmaozão eu seria se deixasse meu irmãozinho emo torrar no sol no dia do seu aniversário? - ele gargalhou.
- mamãe e papai estão te esperando. - Eu travei simultaneamente, deixei bem claro que eu não queria presentes, festas surpresa, na verdade eu não queria nem ser felicitado.
- o que eles fizeram? Eu disse que não quero nada. - eu já estava visivelmente alterado.
- calma aí o princesa do drama! Eles só querem tomar café com você. Suas ordens alteza, serão estritamente seguidas.
- Eu acho bom, por que eu não quero toda aquela babaquice.
- Tudo certo senhor, mais o Seth está lá, então finja que e educado, tá bom!
- Isso tá durando Emm, o que é? Está apaixonado? - Ele sorriu de lado, como se tivesse sido pego em alguma coisa.
- É pode ser, com o Seth é diferente.
- Nossa chamem um médico! A vadia de Forks foi laçada!
- Cala boca idiota! Eu estou falando sério.
- OK, OK. - Eu brinquei, mais estava feliz por ele.
- Você já disse a ele?
- O que? Não, claro que não! Eu... - ele parecia apavorado.
- Se você me suar eu vou te socar, mais tenho medo que ele não se sinta assim. Estamos juntos a 9 meses e tem sido ótimo. Eu não quero que as coisas mudem.
Pela primeira vez em muito tempo eu estava tendo uma conversa de verdade com meu irmão, e isso foi bom.
- Emmett, não se prenda aos seus medos. E daí que você não sabe quanto tempo vai durar, Seth é um cara legal, e ele parece gostar de você, o que eu não consigo compreender, mais a questão é, você vai deixar de viver o melhor da sua vida por medo? Que seja eterno enquanto dure irmão! Olhe pra mim! Eu daria tudo pra ter o que você tem.
Ele ficou em silêncio me olhando estranho por um tempo antes de voltar a falar.
- Desde quando eu recebo conselhos do emo da família? Eu devo estar muito fudido mesmo! E riu.
- Você é um idiota sabia! Eu ri com ele
Caminhamos calmamente até em casa e antes de entrarmos ele parou e me abraçou, uma coisa boba entre irmãos, mais eu sabia que era importante pra ele.
- obrigado irmãozinho.
- tudo bem. - Abracei de volta.
Seria difícil perder isso, esses pequenos momentos fraternais com ele. Mas minha decisão já havia sido tomada.
Entrei e fui direto para o meu quarto, tomei banho, me barbeei e desci esperando que minha primeira batalha esperasse pelo menos o fim do café da manhã.
