Autora: Minha primeira fic de Bleach. Sejam razóaveis.

Boa leitura.


Rukia estava estranha.

Rukia estava muito estranha.

Ichigo sabia que ela é não é do tipo que fala "pelos cotovelos", como certa outra pessoa em seu grupo de amigos. Mas Rukia hoje, estava calada demais. Pela manhã, ela não o cumprimentara com seus habituais "bom-dias", abria a boca apenas para comer e agradecer Yuzu pela comida.

O caminho para a escola fora silencioso, algo não comum para os dois, Ichigo admitia. Eles costumavam conversar sobre o andamento das coisas no Gotei 13, sobre como Byakuya passara a mostrar que se importava com sua irmã – mesmo que isso significasse ter Ichigo como hóspede na propriedade Kuchiki quando ele e Rukia visitavam a Seireitei – entravam até mesmo em discussões absurdas sobre os desenhos de Rukia ou sobre como Ichigo odiava o pequeno e irritante celular que a shinigami usava para manter contato com a Soul Society. Certa vez chegaram até a discutir sobre o bankai de Yachiru, sobre como ele seria, quando e se ela tivesse um – essa inclusive gerou muitas risadas.

O sinal tocou, anunciando o fim da aula e Ichigo suspirou e levantou-se, recolhendo suas coisas e então escaneando a sala à procura de Rukia. A shinigami estava em pé junto à porta já esperando por ele, conversando com Inoue, que falava sobre outra de suas comidas estranhas demais para serem apreciadas.

- Hein? Kuchiki-san? – Inoue perguntou notando que a mente de Rukia estava longe.

Piscando algumas vezes Rukia pareceu perceber que Inoue falava com ela.

- Ah, desculpe-me Inoue. Estou um pouco cansada.

- Ei Rukia. – Ichigo a chamou já fora da sala – Você vai ficar parada aí?

Ela acenou para os colegas e então seguiu Ichigo no caminho de volta para casa.

Como nos últimos três dias, o caminho para casa foi silencioso. Poucos hollows estavam aparecendo e logo no início Ichigo estava achando maravilhoso, mas agora – hoje – ele desejou que um causasse algum alarde só para que Rukia tivesse que falar algo para ele.

Era estranho vê-la tão quieta. Parecia que Rukia estava tão concentrada em algo que mal notava as coisas ao seu redor.

O estopim para a irritação de Ichigo fora quando, naquela mesma noite, Ishida ligara para sua casa.

- Alô? – Ichigo atendeu.

- Kurosaki. – Ishida disse do outro lado da linha.

- Ishida? – Ichigo arqueou uma das sobrancelhas em surpresa.

- Sinto muito por ligar a essa hora, você e a Kuchiki foram embora depressa hoje. – Ele falou.

- Sim. – Ele confirmou confuso – E?

- Eu quero falar com ela. Ela está?

- Hum, está.

- Ótimo.

- É sobre alguma ameaça Ishida?

- Não. Kurosaki, eu preciso falar com ela.

Ichigo coçou a cabeça fazendo careta.

- Tá. Tá.

Ele afastou o telefone do ouvido e gritou para o segundo andar:

- Rukia!

Ela apareceu no topo das escadas.

- O que foi?

- Ishida quer falar com você.

Seu rosto iluminou-se e ela parecia ter se lembrado de algo. A shinigami correu e tomou o telefone das mãos de Ichigo.

- Ishida? – Ela perguntou alegre.

Mais alegre do que ele a tinha visto nos últimos dias.

Ichigo estreitou os olhos tentando entender o que se passava com Rukia.

- Sim, desculpe eu esqueci que nos veríamos final da aula. – Ela disse.

Ichigo cruzou os braços e permaneceu lá, ao lado de Rukia.

- Oh! – Ela exclamou – Mas nunca aconteceu antes... Entendo. Obrigada Ishida.

Rukia desligou e pôs o telefone no lugar, antes de subir para o quarto de Ichigo. Ele a acompanhou e fechou a porta ao entrar.

- O que o Ishida queria?

Rukia estava parada em frente ao armário de Ichigo/dela e não o respondeu. Ele aproximou-se irritado.

- Rukia!

- Hum? – Ela virou-se rápido para ele os cabelos balançando nos ombros magros.

- O que o Ishida queria?

- Oh, não se preocupe. – Ela falou mal lhe dando atenção.

- Mas...

- Ichigo.

Ele parou ao ouvir a voz dela. Seus olhos enormes o observavam determinados.

- Sim? – Ichigo a olhou um pouco receoso.

- Examinei as dimensões e acho que você deve caber.

Ele corou levemente, mas então perguntou confuso:

- O que quer dizer?

- Vamos testar. – Ela disse colocando as mãos na base das costas de Ichigo e então começando a empurrá-lo para o armário.

- O que você...?

A shinigami continuou a empurrá-lo enquanto ele falava. Ichigo, totalmente confuso, não entendia a situação. Ele, em um momento de estupidez, entrou em seu armário empurrado pela shinigami e então ouviu o barulho da porta se fechando. Assim que deu por si, abriu a porta do armário com força e saltou do apertado lugar apenas para ver Rukia sentando-se e em seguida deitando-se em sua cama. Ainda atordoado, ele perguntou:

- O que está fazendo Rukia?

A shinigami olhou para ele, e lhe disse antes de virar-se e se cobrir:

- Estou dormindo na sua cama Ichigo, não é óbvio?

Ele arqueou uma das sobrancelhas, e então perguntou:

- Por que?

- Estou com dor nas costas. – Ela virou-se para ele sentando-se novamente na cama e explicou séria: – Seu armário não é muito confortável, por isso vou dormir na sua cama até que eu melhore. Enquanto isso você pode dormir aí.

- Você acha mesmo que eu vou ficar no armário? – Ele apontou exasperado para o mesmo – Eu mal consigo me mover ali!

A shinigami olhou-o e pôs a mão no queixo, provavelmente pensando em um jeito de resolver a situação. Ichigo, nem um pouco a fim de esperar, seguiu para sua cama e levantou os lençóis deitando-se no canto direito. Com o movimento, Rukia sentiu seu rosto corar levemente e recuou para o mais longe possível, o olhando incrédula.

- Ichigo, você não vai mesmo dormir aqui, vai?

Ele fechou os olhos e resmungou:

- Eu não vou dormir no armário. Se você também não vai dormir lá, nós vamos dividir a cama.

Rukia – que possuía o canto esquerdo da cama – o observou boquiaberta lutando contra as palavras:

- Mas... Mas nós...

- Boa noite Rukia. – Ichigo disse ainda deitado com os braços atrás da cabeça.

- Ichigo!

Ele permaneceu calado, os olhos fechados.

O coração de Rukia batia descontrolado. A shinigami entendeu como uma reação completamente natural, já que após ser introduzida à educação da nobre família Kuchiki jamais pensaria em dividir uma cama com alguém do sexo oposto enquanto os dois não tivessem uma... Relação.

"Tecnicamente nós temos um tipo de relação. Afinal, somos amigos. Já arrisquei minha vida por Ichigo e ele fez o mesmo por mim repetidas vezes." – Pensou a shinigami.

Infelizmente o fato não ajudou para a desaceleração de seu coração, mas Rukia respirou fundo e deitou-se lentamente. Após cobrir meio corpo com o lençol ela tentou acomodar-se melhor, afinal, quando Ichigo se deitou ela chegou tanto para a beira da cama que poderia cair se fizesse algum movimento brusco. O negócio é que a cama de Ichigo nunca fora exatamente grande. Aliás, ela era bem pequena.

"Pequena demais." – Ela corou mais uma vez.

Em sua tentativa de não tocar Ichigo, Rukia espremeu-se do lado esquerdo, virando de costas para ele. Requeria certo equilíbrio manter-se ali já que estava na pontinha, mas para uma shinigami da Gotei, isso não era nada. Ela fechou os olhos e preparou-se para o sono, profundamente aliviada de estar dormindo em uma cama descente.

Rukia estava perto de adormecer – tão perto – quando Ichigo movimentou-se ao seu lado. Ela sentiu o colchão ceder para a direita, já que ele era – logicamente – mais pesado que ela. Seu corpo magro ameaçou rolar para perto do de Ichigo, que agora dormia virado para ela.

A shinigami agarrou-se a ponta da cama impedindo-se de cair para o lado dele. Ela tentou aproximar-se mais da beira da cama afim de não correr o risco de tocá-lo. Mas quando ela projetou o corpo um pouco mais para a ponta, ela escorregou e começou a cair para fora da cama.

Um braço a segurou pela cintura com uma velocidade que deixaria o Capitão Kyouraku orgulhoso. Ichigo ainda a segurava quando resmungou:

- Tsc. Você é muito inquieta, Rukia. Não vou conseguir dormir assim.

- Desculpe-me. – Ela disse em uma mistura de embaraçada e surpresa pela velocidade com que ele agiu.

Ele suspirou, e então com uma facilidade absurda aproximou-a de si, encostando seu abdômen às costas dela, seu braço ainda contornando a fina cintura. Ichigo agradeceu por Rukia estar de costas e dessa forma não poder ver seu rosto levemente corado. Os cabelos negros dela estavam próximos de sua face e ele se surpreendeu com o quão confortável era aquela posição.

- I-Ichigo...? – Rukia murmurou.

- N-não reclame, eu só estou tornando as coisas mais fáceis.

Ela engoliu em seco, mas relaxou o corpo gostando do calor que emanava de Ichigo. Agora ela estava em uma posição deveras mais confortável na cama.

- Certo. – Ela disse ainda nervosa – Boa noite, Ichigo.

- Boa noite Rukia.

Desde então Ichigo passara a dividir sua cama com a shinigami. Toda noite, Rukia deitava-se e virava para o lado esquerdo, Ichigo em seguida deitava-se e passava seu braço por sua cintura. No inicio fora muito estranho, mas, após a quinta noite já era tão... Natural.

Quase como respirar.

Rukia estava mais falante. Mais sorridente.

Até Chad ela conseguia fazer falar. Ishida sorriu ao vê-la melhor, e Ichigo notando comportamento do quincy perguntou:

- Ishida, o que você queria quando ligou aquela noite?

- Oh? – Ele olhou confuso para Ichigo antes de lembrar-se – Ah! Kuchiki estava reclamando de dor nas costas. Eu disse que deveria ser por causa da posição ou local em que ela dorme.

- Hum? – Ichigo o olhou surpreso.

Era certamente estranho que Rukia não soubesse lidar com uma simples dor nas costas quando podia lutar contra inimigos terrivelmente poderosos.

- Ela nunca teve...? – Ele perguntou ao Ishida.

- Acredito que não. – O quincy respondeu antes mesmo que ele terminasse a pergunta – Ela dormia na mansão dos Kuchiki antes de vir para cá. O futon da casa dela devia ser de ótima qualidade, considerando que ela não precisa movê-lo já que o quarto dela serve apenas de quarto.

- O que você disse à Rukia?

Ishida deu de ombros.

- Nada de mais, dei a ela várias opções.

- Opções? - O ruivo franziu a testa.

O qunicy balançou a cabeça em um sim.

- Ela deveria tentar trocar de posição para dormir, ou dormir em um local mais apropriado. Mas a mais efetiva seria dormir em uma cama.

- Hum. - Ichigo resmungou.

- Ela me disse que está se sentindo melhor. – Ishida disse. – Não tem mais dores.

Naquela noite ao entrar no quarto Ichigo não viu o corpo delicado da shinigami na cama. Ao aproximar-se viu que a porta do armário jazia aberta, e Rukia encontrava-se já de pijama, sentada sobre suas pernas escrevendo algo em uma folha de papel.

Ele se sentou na cama de frente para ela e perguntou:

- O que está fazendo Rukia?

- Estou escrevendo uma carta para o Nii-sama.

- Para o Byakuya? Por que?

- Já faz três semanas que não o visito nem dou notícias. É apenas para ele saber que estou bem.

- Você não está fazendo nenhum daqueles rabiscos que você chama de desenho não? Porque até ele teria dificul...

Em uma velocidade estúpida, a borracha – de coelhinho branco, permita-me acrescentar – voou em direção a testa de Ichigo acertando-o em cheio.

- Ouch! Isso dói Rukia!

A shinigami não o ouviu – ou fingiu não ouvir – e dobrou o papel da carta.

Ichigo olhou com curiosidade para o papel.

- Como você vai mandar isso até ele?

- Dessa forma – Ela disse e após dobrar algumas vezes o papel, esse se transformou em uma borboleta infernal, um pequeno portal se abriu e a borboleta sumiu por ele.

- Eu não sabia que esse tipo de coisa era possível. Isso é um kidou?

- Não. Mas é algo que apenas shinigamis podem fazer. Ichigo?

- Hum?

- Podemos visitar a Seireitei nesse final de semana? Eu gostaria de ver o Nii-sama, o Capitão Ukitake e o resto do pessoal.

Ichigo sorriu.

- Claro. Vamos sim.

Ela sorriu de volta.

- Obrigada! Boa noite Ichigo. – Rukia desejou antes de fechar a porta do armário.

Ichigo desligou a luz, e deitou-se em sua cama. Feliz por tê-la só para ele novamente. Ele estava ligeiramente cansado e virou-se como de costume para o lado esquerdo, pronto para dormir. Mas após quinze minutos, ele ainda estava acordado. Seu braço estava estranhamente irrequieto e ele o esticou pelo espaço na cama.

O espaço que Rukia vinha ocupando nas últimas noites.

Ichigo balançou a cabeça, e fechou os olhos novamente para dormir.

E meia hora depois, lá estava ele acordado.

Ele levantou, sentando-se na cama irritado. Ele estava cansado! Então porque não adormecia de uma vez?

Ichigo passou mais quinze minutos em claro, quando decidiu levantar e comer o resto do jantar que Yuzu tinha preparado. Ele desceu as escadas silenciosamente e pegou na geladeira o que restara. Dez minutos depois de comer, ele lavou a louça suja na pia e seguiu para seu quarto, esperando deitar e dormir, já que para ele tornava-se mais fácil depois de comer.

Quando Ichigo fechou a porta atrás de si, olhou para sua cama.

Seu coração deu um estranho salto ao notar o volume agora deitado e devidamente acomodado sob os lençóis.

Ele se aproximou cuidadoso e esticou o pescoço para ver o rosto da shinigami. Rukia estava levemente corada e imóvel, seus olhos expressivos abertos.

- Rukia?

Ela virou-se um pouco, olhando para ele.

- Eu... Acho que é melhor continuar a dormir aqui. Afinal minha dor vai voltar se eu começar a dormir no armário novamente.

Ichigo quase – quase – soltou um: yeah!

Ele apenas virou o rosto – agora corado – e disse:

- Tanto faz...

Ichigo acomodou-se bem depressa – até demais – ao lado de Rukia na cama e seu braço achou rapidamente o caminho pela cintura dela. Ele apertou o pequeno corpo contra o seu e respirou o aroma de seus cabelos.

- Boa noite... Ichigo.

- Boa noite.

Após uns segundos em silêncio ouviu-se a voz de Rukia.

- Ichigo?

- Quê? – Ele resmungou.

- Não se esqueça... – Ela disse sonolenta. – Sexta, iremos à Seireitei.

Em questão de minutos, a shinigami estava adormecida em seus braços. Só que Ichigo agora estava tenso.

Muito tenso.

Por causa de algo – ou melhor – alguém chamado Kuchiki Byakuya.

Ele certamente não estava disposto a deixar Rukia dormir longe dele. E quando eles fossem a Seireitei eles ficariam na casa do Byakuya. Que aparentemente ainda não gostava muito da "amizade" de Ichigo com sua irmãzinha.

Então como – infernos – ele iria conseguir pensar em entrar no quarto de Rukia?

- Ichigo? – Novamente a voz sonolenta da shinigami soou.

- Hum? – Ele resmungou sem realmente prestar atenção.

- Existe uma passagem debaixo do tatame do meu quarto.

Ichigo corou confuso, mas a única coisa que fez foi encarar a parte de trás da cabeça da shinigami.

- Nii-sama não sabe dela. Por isso... Durma logo.

Ichigo não pode evitar um pequeno sorriso.

Dessa forma – com toda certeza – visitar constantemente Byakuya se tornaria muito mais interessante do que ele havia pensado.


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