Nome: Gravity of Love
Autor: Ariadne Helena (me!)
Personagens: Christian Böck, Anna Strobl (personagem original).
Disclaimer: Os personagens famosos aqui presentes não me pertencem, exceto aqueles cujos nomes não são relacionados à série Rex. Como sei muito pouco de Todesrennen e da conseqüente vida do Böck, usarei ao meu favor a licença poética. Toda a situação desenrolada aqui foi tirada apenas da minha louca cabeçinha e não mais do que isso.
A manhã começava chuvosa e cinzenta. Aos poucos, os carros e pessoas apressadas tomavam as ruas da bela Viena, rumo a mais um longo dia de trabalho. Dentro do pequeno e aconchegante apartamento, Anna tomava sua última xícara de café, apreciando os respingos de chuva na janela traçar caminhos desconexos até encontrarem seu fim.
Afagando delicadamente a gata de pelagem branca e bolinhas azuis, a jovem se despedia da tranqüilidade que a envolvia, preparada para encarar mais um dia de trabalho. Calada, Anna caminhou pelo estacionamento no subsolo, até encontrar seu carro. Apertou o botão do alarme e os faróis não piscaram. Apertou novamente e nada.
Ela olhou ao seu redor, inconsolável. Eram menos de seis e meia da manhã e não havia sequer uma viva alma para lhe ajudar. Com a testa apoiada contra a porta do carro, a jovem mulher pensava se conseguiria chegar ao trabalho antes dos outros funcionários ou se teria de avisar seu imprevisto atraso.
– Precisa de ajuda, moça? – a voz calma que a princípio lhe assustou, veio acompanhada por um rapaz de sua estatura, cabelos levemente despenteados e amáveis olhos azuis translúcidos.
– Oh! Pensei que você fosse me assaltar! – Anna sorriu aliviada ao rapaz educado, relaxando o corpo e a mente por ao menos alguém estar disposto a perder alguns minutos para ajudar uma desconhecida. – Desculpe, eu estava justamente lamentando não haver ninguém por aqui e você apareceu! Achei que fosse a única a estar acordada neste horário. Sou Anna, Anna Strobl.
– Christian Böck. Eu a vi parada aqui e achei que precisasse de ajuda. Pelo visto acertei. O que houve?
– O carro não liga. – Anna suspirou e virou–se de frente para Böck – Eu desativei o alarme e nada, nem os faróis piscaram.
– Ah, sei... Eu já tenho uma idéia do que seja. Você consegue abrir o carro só na chave? – ela concordou com a cabeça e abriu a porta, sentando ao volante – Ótimo! Abra o capô. – ela obedeceu e viu o rapaz desaparecer, encoberto pela pintura vinho–metálica de seu próprio carro.
Como ele imaginava, o cabo que transmitia energia ao motor, logo abaixo de onde sua mão não alcançava, estava desconectado. Anna saiu do carro a tempo de ver Böck tirar o paletó, entregando–o para deitar no chão sujo e desaparecer por debaixo do veículo. Menos de um minuto depois, ela viu os faróis piscarem e ambos quase ficaram surdos com o disparo do alarme.
Anna desativou o alarme sentindo–se em dívida com o rapaz que agora tentava inutilmente limpar as mãos e um pouco da própria roupa. Grata pelo tempo gasto consigo, a jovem estendeu–lhe a mão, pensando em como recompensar seu dedicado e educado, e porque não dizer bonito, salvador.
– Obrigada. Eu nem de longe arriscaria dizer que era a bateria.
– É só uma questão de prática. – ele respondeu pegando de volta o terno e colocando–o rapidamente – E devo acrescentar que você tem um excelente gosto para carros. O Lancia é fácil de dirigir, a mecânica é simples. E a cor...
– Eu também amei a cor. – Anna sorriu em concordância ao rapaz – Eu ainda estou em dívida com você. O que acha de jantarmos hoje à noite? Eu moro no 12A e estou pensando em você ser minha cobaia por algumas horas...
– Cobaia? – Böck perguntou divertido.
– Quero testar uma receita nova e ainda preciso retribuir a ajuda que você me deu.
– Okay. Por volta das oito, está bom? – a moça concordou com a cabeça – Ótimo! Até lá então, Anna.
– Até Christian!
Anna entrou no carro, jogando a bolsa sobre o banco do passageiro, dando partida enquanto pensava em como era bom encontrar pessoas como Christian em Viena. Antes de sair com o carro, a jovem viu um idêntico Lancia Nuova Delta vinho–metálico buzinar, com um simpático rapaz sorrindo para ela.
Se despedindo definitivamente de Böck, Anna tomou o caminho até o trabalho, contando as horas para o jantar daquela noite...
–––––
Böck se atrasava mais um pouco do que o permitido para um primeiro encontro, mas infelizmente teve que cruzar a cidade na hora do rush para estar em casa. De banho tomado e decidindo entre usar ou não uma gravata, o rapaz passou a mão nos cabelos desarrumados, esquecendo o conflito que o assolava quando olhou o relógio no pulso esquerdo.
Agarrado à garrafa do vinho Nigl Grüner Veltliner Eiswein que comprara para a ocasião, Böck trancou seu apartamento e bateu à porta da frente faltando quase dez minutos para as nove. E a visão que teve de Anna quando esta abriu a porta quase o fez soltar a garrafa que demorara tanto para encontrar.
Em um vestido curto e balonê, ela mais parecia uma menina do que uma mulher. Os cabelos repicados caíam sobre os ombros, presos pelo lenço que apenas segurava uma parte, mas não impedia a teimosa franja que continuava a invadir o olho esquerdo. Os olhos quase mel, como ele não deixou de notar, estavam pintados como os de uma boneca, realçados pela sombra púrpura escura que combinava com o uva profundo do vestido.
Dando um passo atrás, Anna permitiu que Christian entrasse, pegando de suas mãos a garrafa delicada que ele trouxera. Com a mesa posta, os dois sentaram e comeram em silêncio, ela aproveitando a rara companhia e ele degustando a receita que ela preparara com tanto esmero.
Sentados no sofá, após os longos elogios de Böck sobre o prato principal, Anna já estava descalça, com os pés sobre a mesinha de centro e bebendo entusiasticamente mais uma de suas próprias garrafas de vinho. Rodando a taça entre os dedos de unhas pintadas em vermelho, a jovem pensava em como responder mais uma pergunta de seu convidado.
– Não. Está enganado. Não sou de Viena. Sou francesa, criada na Holanda. Mas gosto daqui, vivo bem e em paz. Mais alguma pergunta, Sr. Curioso?
– Você não acha que já bebemos demais?
– Estou acostumada a beber, não se preocupe. – ela desviou os olhos do copo translúcido, acompanhando o rapaz ao seu lado em seu confortável sofá – Está com medo que eu o ataque de repente? – sem obter uma resposta, Anna virou o corpo sobre o de Böck em questão de segundos. Forçou os quadris contra os dele e fez o que ela tanto desejara durante aquele longo dia: o beijou....
Christian se mexeu inquieto, sentindo um peso sobre o corpo e as costelas doerem em cima de algo rechonchudo. Esticou a coluna ao perceber que o objeto rechonchudo era uma almofada que certamente havia escorregado em suas costas e sem querer acabou por acordar o "peso" que tinha sobre os braços.
Böck observou um tanto sem jeito a garota que havia lhe cedido a melhor noite de sua vida, indeciso entre levantar e ir embora ou continuar deitado de mau jeito, sustentando–a sobre seu peito. Sentiu a pele fina arrepiar–se por um segundo sob seus dedos, antes de deslizar pelo móvel e Anna caminhar em direção ao quarto no fim do pequeno corredor.
– Vem, aqui é mais confortável. – ela se abaixou, tirando a gata de cima da cama, esperando que o vizinho–amante a seguisse para debaixo dos edredons mais quentes do que apenas o sofá da sala. – Deixe as roupas aí, Christian. Amanhã você pega.
E como ela havia previsto, na manhã seguinte, Böck foi realmente obrigado a pegar suas roupas e sair de fininho. Um telefonema urgente (o quê poderia ser chamado de urgente em um domingo de manhã?) de seu chefe avisava que precisariam de reforços com um grupo de traficantes que atuava há algum tempo em Viena. O rapaz estava silenciosamente colocando as calças e com metade da camisa ainda aberta quando a voz melosa e sonolenta o assustou.
– Já vai? – Anna se espreguiçou, deixando o cobertor revelar boa parte de sua anatomia feminina. De onde estava, Böck tinha uma ampla visão da cama e de sua dona, e do quanto ele se penalizava por deixar tão adorável companhia para encarar as ruas frias do outono austríaco. A jovem deitou–se de bruços, encarando–o com um olhar curioso.
– Trabalho, infelizmente.
– Hn... Você ainda não me disse no que trabalha. – ela comentou displicente, tirando a franja dos olhos e ajeitando os cabelos em desalinho. – Em quê você trabalha, Sr. Böck?
– Na polícia. Sou detetive, na verdade. – Christian sentou–se à beira da cama, calçando os sapatos que ele havia trazido da sala – Mas e você? O quê faz para viver?
Anna riu com a pergunta, bolando uma resposta que o deixaria, no mínimo, mais curioso. – O que acha que eu faço para viver? – o olhar atravessado foi a única resposta que ele lhe deu de imediato, deixando–a imaginar as coisas em que ele estava pensando. E ela nem precisou muito para descobrir.
– Depois dessa noite, acho que prefiro nem saber o que você faz para sobreviver...
– Bobo. – ela riu e balançou as pernas no ar, divertida com o ciúmes estampado na face tão gentil do rapaz – Sou chef de cozinha. Trabalho no Le Festin.
Anna deixou que ele terminasse de se vestir e puxou–o em direção à cama, forçando–o a um beijo desajeitado de despedida. Ao menos ela não se arrependeria de não ter aproveitado algo mais caso ele nunca mais a procurasse. Uma coisa era fato: o gosto daquele beijo ficaria por horas em sua boca e aquela noite sem dúvidas seria a mais especial de toda a sua vida, mesmo que ela apenas tivesse isso para se lembrar dele por toda uma vida.
Espero que tenham apreciado o primeiro capítulo.
Prometo que as coisas esquentam mais no próximo!
XD
