O Natal foi uma ocasião maravilhosa e assustadora, maravilhosa porque seria o meu primeiro novamente em família e assustadora porque eu seria oficialmente apresentada a toda família, leia-se então avós, tios, primos e até um tio-avô completamente surdo.
Até hoje lembro do meu vestido, de veludo, num tom de vermelho escuro, quase vinho, mangas compridas e golas brancas de renda, lembro da Lizzie e da Vicky arrumando meu cabelo, colocando uma fita da mesma cor do vestido.
Na hora H quem disse que eu saia do quarto? Nenhum argumento utilizado foi forte o suficiente para me fazer mudar de idé completamente, eu estava apavorada demais imaginando ter que encarar um monte de adultos e crianças estranhas e respondendo perguntas inconvenientes. E se não gostassem de mim? Se me achassem diferente ou ate estranha? Fiquei deitada na minha cama, deitada de costas pra porta, vendo a neve cair, ouvindo os convidados chegando la em baixo, enquanto lagrimas silenciosas rolavam por minha face.
Ouvi a porta do quarto se abrindo e se fechando, mas não me virei, escondi meu rosto no travesseiro.
- Você não vai descer mesmo? – disse uma voz baixa atrás de mim, me virei abruptamente, me sentando ao ouvir aquela voz, era ele, era Rob.
Não conseguia falar, só mexi com a cabeça de um lado para o outro em resposta, ele suspirou.
- Por que? – insistiu.
Olhei pra ele, pro rosto dele, procurando por algum sinal de malícia ou gozação, mas só encontrei calma e sinceridade.
- Estou com medo. – disse por fim.
Ele parou de me olhar e caminhou em direção a janela, ficando de costas pra mim.
- As vezes eu também tenho medo.- ele falou.
- Verdade? – perguntei fungando o nariz.
- Sim, gente me olhando sempre me deixa nervoso. – ficamos um momento em silêncio, até que ele se virou pra mim de novo – Você quer saber o que eu faço quando me sinto assim?
- Sim. – respondi baixinho.
Ele caminhou e sentou-se na beirada da minha cama.
- Eu conto mas você tem que prometer nunca dizer isso pra ninguém, promete? - Prometo. – disse aguardando.
- Certo, então esse vai ser o nosso segredo. – ele parecia indeciso de como começar - Quando estou assim nervoso ou com medo de enfrentar um monte de gente estranha, eu fecho os meus olhos e me imagino num palco, como se fosse um teatro e estou ali para atuar, para representar uma cena ou para dizer um texto e não tem ninguém na platéia, então posso ser o que quiser naquele momento, posso dizer o que eu quiser porque sei tenho um lugar onde estou protegido, onde não tem ninguém para me julgar. Então quando imagino isso fico mais calmo e faço o que tenho de fazer. Você quer tentar?
- O que?
- Fechar os olhos e fazer de conta que está num palco, pode te ajudar.
Olhei pra ele indecisa e ele sorriu, um sorriso tão lindo e tão doce que me desarmou completamente, foi a primeira vez que ele sorriu pra mim e foi aquilo que fez decidir, me sentei mais reta na cama, fechei os olhos suspirando e procurei imaginar o que ele tinha dito, aos poucos senti que relaxava, no final estava me sentindo até um pouco sonolenta. Abri os olhos ao sentir uma mão no meu ombro.
- Funcionou? – ele perguntou tranqüilo e agora era eu que sorria pra ele.
- Sim, - respondi
- Então... Você desce comigo? Prometo que fico do seu lado o tempo todo. – ao ouvir aquilo senti meu coração batendo mais forte.
- O tempo todo, promete mesmo? – eu não conseguia acreditar.
- Prometo. – ele se levantou da cama e estendeu a mão pra mim - Vamos? – olhei pra aquela mão e estendi a minha, ele agarrou com firmeza, me puchando.
- Essa é minha cor favorita. – ele disse apontando pro meu vestido e senti que corava.
- Sabe, acho que você poderia ser um ator. – disse quando me pus de pé.
- Ator? – ele disse surpreso - Por que diz isso?
- Não sei, mas quando você disse que se imagina num palco ou num teatro, tive essa impressão. Acho que você leva jeito, pense nisso.
- Hum, quem sabe? – ele disse sacudindo os ombros. Ao sair do quarto com ele ao meu lado, só não tive coragem de revelar uma coisa, quando fechei os olhos e vizualizei o palco, eu não me imaginei sozinha, me imaginei com ele.
Nota do autor:
Agora vamos dar um salto no tempo, a Marina tem 11 e o Rob 13 anos. E já que eles cresceram, a linguagem começa a ficar mais adulta. Espero que gostem!
O tempo passa rápido quando se está feliz, eu tinha a impressão que tinha piscado os olhos e já estava mais velha. E esse ano tinha cheiro de mudança no ar a começar pela escola, finalmente eu ia sair daquela escola feminina e ia para uma mista, a mesma que o Rob estudava.
Eram férias de verão e como todo boa londrina eu aproveitava o sol deitada numa toalha no gramado do quintal atrás da nossa casa, na verdade eu me sentia como se estivesse bebendo o sol através da minha pele, de tão boa que era a sensação, afinal num país que chove 200 dias por ano aquela estação era uma festa. Eu vestia uma camiseta branca, sem mangas, um short florido e curtinho e passava feliz meus pés descalços na grama, enquanto lia o livro do momento Harry Potter.
Mamãe e papai não estavam em casa pois já tinham saído pra trabalhar, Lizzie tinha saído para ensaiar com sua banda onde era a vocalista e Vicky estava viajando, tinha ido para um acampamento de férias por 2 semanas.
Pela posição do sol devia ser quase meio dia e comecei sentir fome, me levantei e fui até cozinha pensando em preparar algo rápido. Abri a dispensa, dei uma olhada e decidi por fazer um sandwich de atum, fiz bastante quantidade pois sabia que logo o Rob ia chegar da aula de piano e faminto com certeza. Fiz uma jarra de limonada geladinha e coloquei na geladeira. Preparei meu sandwich com pão integral com passas, alface e bastante do recheio de pasta de atum com maionese, me servi com um copo de limonada, sentei de frente pra mesa da cozinha e tinha acabado de dar a primeira mordida quando ouvi a porta da sala batendo, em segundos um Rob suado aparecia.
- Pôrra, que calor ta fazendo lá fora! Oba! Tem pra mim também? - ele perguntou, como eu estava de boca cheia apenas apontei na direção da pia onde eu tinha deixado tudo. Ele já ia pegar o saco de pão quando eu falei.
- Peraí porquinho, não esqueceu de nada, não? - ele se virou pra mim de testa franzida.
- O que?
- Primeiro princípio básico de higiene, lavar as mãos antes de comer. – falei dando mais uma mordida.
- Ih, lá vem você dar uma de mamãezinha.
- Faça como achar melhor, mas o risco é todo seu. – disse dando de ombros.
Ele pensou por um momento, mas acabou cedendo indo até a pia e pegando o detergente, ao terminar, enxugou as mãos na toalha e virou pra mim mostrando as mãos.
- Satisfeita "mamãe"? – eu dei uma olhada rápida.
- Serve, mas você está precisando cortar as unhas. – ele revirou os olhos.
- To morto de sede. – disse abrindo a geladeira e pegando a limonada, bebeu um copo de uma só vez.
Ele olhou pro pacote de pão integral e fez cara de nojo.
- Não tem pão "normal", não?
- Tem na dispensa. – respondi.
- Não sei como você agüenta comer essa coisa com passas, eca! – disse fazendo cara de nojo.
- Deixa de ser ingrato, quem foi que preparou tudo? E é melhor do aquele monte de gordura que você costuma comer no Mc Donald's.
- Por favor, não blasfeme contra o meu santuário gastronômico. – ele disse preparando o sandwich.
Ele sentou-se na minha frente e embora eu tivesse começado a comer primeiro, terminamos juntos. Me levantei, lavei meu prato e copo e voltei pro quintal.
Já tinha voltado pra minha leitura, quando o Rob apareceu só de bermuda, segurando o MP4, estendendo uma toalha do meu lado. Rob tinha crescido muito nos últimos anos, estava bem alto para a idade, mas era magro e desengonçado, com uma brancura que assustava até fantasma.
- Se eu fosse você colocava protetor solar. – falei voltando a olhar pro meu livro.
- Ah, não começa de novo, não! – disse irritado.
- Tá bom, tá bom, não está mais aqui quem falou.
Ele estendeu a toalha do meu lado, deitou-se e depois de um momento esticou o braço.
- Coloca o seu braço do meu lado. – ele pediu.
Levantei meu braço fazendo o que ele pediu e o contraste era chocante do meu bronzeado com a brancura dele.
- Nossa, como você conseguiu ficar com essa cor tão rápido?
- DNA, baby. – respondi – 100% DNA brasileiro nas células. – ele riu.
- Sorte sua. - ele disse sorrindo – Já eu no máximo viro uma lagosta, é pensando bem vou passar o protetor. - ele disse pegando o pote do meu lado e passando uma generosa quantidade no peito, braços e rosto.
- Passa nas costas pra mim?
- Ai, a exploração não tem fim, não? – eu disse tentando disfarçar.
- Você que deu a idéia. – ele disse estendendo o protetor pra mim.
- Ok.
Joguei o livro de lado, peguei o pote, coloquei uma boa quantidade nas mãos e comecei a espalhar.
Fazia um bom tempo que eu não pensava nos meus sentimentos pelo Rob, não que eles tivessem diminuído, muito pelo contrário, eu sentia aumentar de ano pra no, mas procurava me distrair ao máximo, fugindo da tortura de ter ele tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Só que em momentos como aquele ficava muito difícil resistir a onda de emoção que eu sentia em poder tocá-lo por um motivo tão inocente, procurei prolongar a experiência passando bem devagar, ouvi ele suspirando.
- Hum, isso é tão bom. – ele disse.
- Você parece aqueles gatos que ronronam quando a gente faz carinho neles. – brinquei procurando disfarçar – Pronto, acabei.
Ficamos ali juntos, curtindo a tarde, cada um fazendo o que gostava.
Algumas horas depois comecei a sentir uma dor incômoda na barriga, mas era uma dor estranha, não lembrava de ter sentido aquilo antes, procurei mudar de posição mas não melhorava, talvez a combinação de sandwich e calor não me tivessem feito bem.
- Rob. – chamei, mas ele estava de olhos fechados ouvindo música, toquei no braço dele.
- O que foi? – ele perguntou.
- Vou subir e tomar um banho, não to muito legal. – disse colocando a mão na barriga.
- O que você tem? – perguntou preocupado.
- Não sei, acho que foi o sandwich. – disse me levantando.
- Toma um antiácido. – ele sugeriu.
- Boa idéia.
Entrei e fui direto pro chuveiro, a sensação da água fria no meu corpo quente era agradável, me ensaboei, lavei o cabelo e estava acabando de tirar o excesso de condicicionador quando olhei pra baixo e vi o chão vermelho. Por um momento pensei que pudesse ter me cortado com alguma coisa sem perceber, mas examinando melhor vi que o sangue saia do meio das minhas pernas, aí a ficha caiu.
- Fiquei menstruada! – pensei agitada, agora eu entendia que aquelas dor eram as temidas cólicas.
Sai do box, me enrolei na toalha, pensando no que fazer primeiro, comecei a procurar por um absorvente no armário do banheiro e não achei nada. E agora? Eu tinha medo de sair andando pela casa, sujando tudo. Ai, por que isso foi acontecer logo agora que não tem nenhuma outra mulher em casa? Se bem que esses assuntos não eram novidade pro Rob, crescendo rodeado de mulheres isso era assunto banal. É não teve jeito, abri a janelinha do banheiro e gritei o nome dele, mas ele não respondeu.
- Droga, os malditos fones! – lembrei.
Peguei um rolo de papel higiênico, mirei e caiu bem no peito dele, ele olhou pra cima assustado.
- Vem aqui correndo! – gritei pra ele, um minuto depois ele batia na porta.
- Ta tudo bem aí? – ele perguntou.
- Mais ou menos. – respondi nervosa.
- Ainda ta passando mal?
- Mais ou menos.
- Quer parar de ficar respondendo mais ou menos e dizer o que está acontecendo! – respirei fundo.
- Preciso que você me faça um favor.
- O que? – fechei os olhos e respirei fundo.
- ! – falei rápido.
- Marina, repete que eu não entendi nada.
- Preciso que você pegue um absorvente pra mim. – repeti pausadamente e seguiu-se um profundo silêncio, já estava achando que ele tinha fugido quando ouvi sua voz.
- Isso que dizer que aquela dor era... – parou sugestivamente.
- Sim. – respondi rápido.
- Então você ficou... – outra pausa sugestiva.
- Sim. – respondi num fio de voz.
- Fudeu! – ele exclamou, nem eu teria dito melhor. – Mas não tem o que você precisa aí, não? – agora eu estava perdendo a paciência.
- Você acha que se eu tivesse, estaria pagando esse mico te chamando aqui?
- Ok, fica calma, onde posso achar?
- Qualquer lugar no quarto das meninas, rápido!
- To indo! – ouvi os passos dele se afastando.
Depois de um certo tempo, que pra mim pareceram horas, escutei uma batidinha na porta, abri uma fresta, lá estava ele com a cara vermelha estendendo uma caixa pra mim.
- Achei no quarto da Lizzie, estava escondidíssimo!
- Ah, obrigada! – peguei e fechei a porta correndo, mas assim que li o rótulo chamei ele de novo.
- Rob!
- O que foi agora?
- Esse não serve pra mim.
- Por que?
- Porque... Porque não é do tamanho certo. – eu queria morrer!
- Tamanho... Como assim?
- Isso aqui é tamanho super plus. – outro silêncio embaraçoso.
- Caramba, essa porcaria tem tamanhos diferentes?
- Claro, que tem!
- E agora? – pensei por um momento.
- Vou precisar que você me faça outro favor, dessa vez dos grandes.
- Eu sei que vou me arrepender de perguntar, mas lá vai, qual?
- Você pode ir na farmácia pra mim?
- Você só pode estar brincando! - ele berrou do outro lado da porta.
- Por favor, Rob, por favor, eu não tenho mais ninguém agora, por favor, fico te devendo pro resto da vida! – falei desesperada.
- Caramba, hoje não é meu dia!
- Olha tenho uma idéia, você pega um shampoo ou um desodorante, só para disfarçar e coloca o absorvente junto, ninguém vai reparar.
- Tá legal, me rendo, mas qual o tamanho certo então?
- O menor que você achar!- disse aliviada.
- Já volto!
Fiquei aguardando andando de um lado para o outro, finalmente ouvi ele chegando.
- Pronto ta aqui!
Abri a porta, peguei a caixa e li a palavra "teen".
- Perfeito! Valeu Rob! – gritei fechando a porta.
- Com certeza você me deve!
Agora vinha a outra parte complicada, colocar o bendito TAMPAX, minhas mãos tremiam. Depois de ler as instruções atentamente e 2 tentativas frustradas, na terceira fiz o gol. Em seguida me vesti rápido, coloque um vestidinho fresco, curto e soltinho.
- Rob! – chamei do corredor.
- To aqui! – a voz vinha do quarto dele, corri pra lá.
Encontrei ele deitado na cama, o ventilador de teto estava ligado no máximo, me aproximei e num impulso o abracei, deitando do seu lado, ele ficou imóvel.
- Obrigada. – falei com a voz tremula, depois senti uma mão nos meus cabelos, não sei porque mas o gesto dele me fez começar a chorar.
- Você ta chorando? – ele perguntou surpreso, não respondi só o abracei mais forte.
- Ah, vocês mulheres são tão complicadas... – escutei ele falando e senti que ele me abraçava também, passando a mão nas minhas costas, procurando me que extravasei o estresse com o choro, enchuguei os olhos, olhei pra ele e sorri.
- Valeu, você foi incrível!
- Ok, só me prometa NUNCA mais me peça algo assim novamente, ta legal?
- Nem precisa pedir! Te incomodo ficando aqui? – afinal era uma cama de solteiro.
- Não. – ele parecia meio indeciso sobre sua resposta.
- Vou virar, acho que pode ficar mais confortável. – me virei, ficando de costas pra ele, no estilo conchinha. - Melhor?
- Acho que sim. – ele respondeu – Eu estava pensando, será que a Lizzie não é mais virgem?
- Que idéia é essa?
- Ah, você não disse que o TAMPAX da Lizzie era tamanho super plus? Segui a lógica, você usa mini, ela usa o grandão, então...
- Então você tira logo conclusões apressadas, pode ser apenas uma diferença fisiológica, ela é tão mais alta que eu.
- É você pode estar certa, mas é que ela vive se agarrando com aquele namorado dela, então quem sabe?
- Eu é que não vou perguntar. – respondi encerrando o assunto.
Senti que a mão dele tinha voltado pro meu cabelo, fazendo um cafuné suave, depois me cheirou rapidamente atrás da orelha, me fazendo arrepiar toda.
- Você cheira igual a um Muffin.
- Muffin? – perguntei rindo.
- Sabe quando a mamãe faz Muffins no final de semana e a casa se enche com o cheiro de baunilha? Seu cheiro é parecido, meio docinho, mas sem ser enjoativo. – ele voltou a cheirar bem rapidinho e se afastou – Sim, definitivamente baunilha.
- Baunilha é bom? – ele demorou pra responder.
- Muito bom. – disse por fim.
Não sei quanto tempo ficamos assim, mas abri os olhos assustada, reparando que tínhamos adormecido, estava escuro, anoitecia lá fora. Enquanto dormíamos mudamos de posição, estávamos deitados de lado, de frente um pro outro, minhas mãos pousadas em seu peito, minha perna direita presa entre as pernas dele, olhei seu rosto e ele devia estar tendo um sonho bom, pois sorria levemente, sorri também respirando fundo, sentindo seu cheiro. Se eu era baunilha, ele era chocolate com pimenta, doce, forte, picante, tudo ao mesmo tempo.
Mexi minha perna e foi aí que senti "algo" diferente através da bermuda dele, tentei puxar a perna mas o efeito foi pior, senti que o "amiguinho" dele tinha ficado mais animado ainda. O que fazer quando seu tão suposto "irmão" está tendo uma ereção na sua perna? Dei um puxão mais firme com a perna, sem sucesso e só pra complicar mais a situação, mesmo dormindo ele me segurou pela bunda, me apertando mais contra sua virilha. Comecei a pensar que logo nossos pais estariam chegando e ia ser mais difícil ainda disfarçar, não teve jeito, tive que acordar ele. Comecei chamando baixinho pra não assustar mas ele estava num sono profundo, então sacudi seu peito e ele começou a abrir os olhos, primeiro ele me olhou parecendo meio sem entender onde estava, mas em seguida vi ele arregalar os olhos ao perceber o que estava acontecendo, ele me soltou tão rápido que perdeu o equilíbrio caindo da cama.
- Você está bem? – perguntei e ele não repondeu, se levantou ficando de pé e virando de costas pra mim.
- Marina, vai pro seu quarto. – falou curto e grosso – Agora.- saí com as pernas bambas.
Depois daquele episódio ele passou evitar ficar sozinho comigo, na verdade ele passou a ter o mínimo de contato físico possível.
Naquela tarde tínhamos atravessado um portal, o portal que separava a infância da adolescência, era um caminho sem retorno.
Agora mais um componente poderoso tinha se unido de forma definitiva a química do meu amor, o desejo. Naquele crepúsculo morreu o meu amor de menina e como a noite que surgia, nasceu o meu amor de mulher.
Capítulo 5
Último fim de semana antes de começar mais um período letivo, uma mistura de ansiedade, nervosismo e melancolia me invadia, pois as férias acabavam e segunda-feira além de recomeçar as aulas, estaria numa escola nova, com novos professores e novas amizades, pelo menos assim eu esperava.
Era manhã de sábado, papai lavava o carro lá fora, eu estava arrumando meu quarto quando escutei mamãe me chamando, a encontrei na lavanderia, tirando as roupas da máquina de lavar e colocando na secadora.
- Me chamou, mãe?
- Sim, querida. – ela disse parando o que estava fazendo e se virando pra mim, passndo a mão no rosto tirando o suor. – Por favor, eu esqueci de pegar a roupa do Rob para lavar e ele não me escuta com aqueles malditos fones no ouvido o tempo todo, você faria o favor de pedir pra ele trazer pra mim?
- Claro. – respondi.
- Obrigada, meu bem.
Subi as escadas e bati na porta do quarto dele, desde do dia fatídico episódio eu não tinha mais ido lá, por isso me sentia um pouco desconfortável agora. Ele não atendeu, bati de novo, nada.
- Droga! – comecei a literalmente socar a porta com as duas mãos.
- Que foi, o mundo acabou? – ele disse abrindo de sopetão, mas foi tão rápido, que não tive tempo de parar, perdi o equilíbrio indo com toda força em cima dele, caimos os dois no chão do quarto, comigo por cima.
- Porra, Marina! Ficou maluca? – ele disse zangado.
- A culpa é sua! Você nunca tira essa droga do ouvido! – respondi irritada.
- Puxa, começaram a suruba e nem pra me chamar em meu chapa! – ouvimos uma voz dizer da porta, levantei como um raio, ergui os olhos e me deparei com o sorriso cínico de Tom Sturridge, o melhor amigo do Rob, que estava encostado no umbral.
- Você tem uma mente poluída, sabia? – rebati.
- Bom dia pra você também, Marina – ele respondeu com aquele sorriso irritante.
- Oi, cara, bom te ver, voltou quando? – Rob disse sorrindo, nem tinha se abalado, já estava acostumado com as besteiras do Tom.
- Acabei de chegar, encontrei seu pai lá fora e ele me disse que podia entrar. Mas se eu soubesse que ia interromper um momento tão "delicado", não tinha vindo sem me anunciar primeiro.- virei pro Rob ignorando o idiota.
- Mamãe está pedindo sua roupa suja. – ele olhou pra mim.
- Ah, tá. – respondeu e começou a catar todas as roupas que estavam espalhadas pelo quarto, que não eram poucas e pegou mais algumas dentro do guarda roupa. – Pronto, pode pegar. – ele disse na minha frente.
- E lá eu tenho cara de empregada? Deixa de ser preguiçoso e vai lá entregar pra ela. – Rob era muito abusado, se eu desse tréla, ele ia pedir até que eu amarrase os tênis dele.
- Nossa, sua irmã continua o mesmo "doce" de pessoa. – disse Tom só pra me chatear.
- E você continua o mesmo babaca. – eu estava espumando de raiva.
- Ok, agora chega de "elogios". Você, fora do meu quarto – disse pra mim – Tom, espera aqui que eu já volto. - saí na mesma hora. - Certo, mas não demora que eu quero te contar sobre umas francesinhas fantásticas que conheci na viagem. – ouvi Tom dizer quando passei por ele.
Pra completar meu dia "perfeito" o Tom ficou pra almoçar, eu mereço! Mas não posso culpá-lo muito, a macarronada com almondegas da mamãe era famosa. Além desse motivo ele tinha vizivelmente uma quedinha pela Lizzie, passou o almoço inteiro olhando as pernas dela e ela o ignorava totalmente, pra minha alegria.
Depois do almoço nossos pais foram tirar uma soneca e eu e as meninas resolvemos ficar de bobeira no quintal, a Lizzie estava sentada na escada pintando as unhas, Vicky lendo uma revista de fofoca deitada numa toalha e fiquei do lado dela acabando meu Harry Potter, até que chegaram os meninos com uma bola de volley.
- E aí meninas, que tal uma partidinha? – o Tom perguntou se virando esperançoso pra Lizzie.
- Tô fora. – ela respodeu pra minha satisfação e decepção do Tom – Acabei de fazer as unhas.
- Eu topo! – disse Vicky – Você vem, Marina?
- Topo. – respondi só pra ter o prazer de tirar aquele sorriso bobo da cara do Tom.
Fiquei assistindo os meninos colocorem a rede de volley, quando eles terminaram, me levantei
- Meninas contra meninos? – perguntou o bobão.
- Acho que não vai dar certo, vocês dois juntos vão ter vantagem já que são bem mais altos que a gente, melhor dividir. – sugeriu Vicky. – fiz uma careta ao ouvir aquilo – Que foi? – ela perguntou olhando pra mim – revirei os olhos e ela entendeu, ela sabia que eu não ia muito com a cara do engraçadinho - Ah, tá... Então que tal, eu e Tom contra Marina e Rob, pode ser? – felizmente eles toparam.
Tom logo tratou de tirar camisa, aposto que só pra se exibir pra Lizzie, que patético! Tiramos a sorte no cara ou coroa pra ver quem começava, eu e Rob ganhamos. Rob sacou e começamos a partida. Eu podia ser baixinha, mas com certeza me garantia, fiz logo o primeiro ponto.
- Valeu, Mari! – gritou Rob rindo pra mim daquele jeito que me fazia virar manteiga, batemos a mãos dando um "gimme-five".
Terminamos ganhando o primeiro set e já estávamos com vantagem no segundo, quando ao me virar, senti uma bolada nas costas.
- Ai! – reclamei.
- Desculpa, foi mal! – Tom pediu desculpas, mas não vi arrependimento nenhum na cara dele.
- Tá, tudo bem? – perguntou Rob de longe.
- Tô, ótima. – respondi.
Aguardei o momento certo de revidar e a oportunidade sugiu, Rob levantou a bola pra mim, corri, pulei e saquei com força, a bola foi direto na cara do Tom.
- Desculpe, foi mal! – repeti a mesma frase dele, ele me olhou roxo de raiva.
- Sua cadelinha!
- Pede desculpas agora, Tom! – gritou Rob atrá de mim.
- Porra cara, mas foi ela que jogou a bola na minha cara!
- Não interessa! Pede, agora!
- Nem pensar! – Tom respondeu e Rob se aproximou da rede.
Rob era o cara mais calmo e tranquilo que eu conhecia, mas não queiram ver ele zangado, ele se transformava.
- Se você não pedir agora, te faço pedir. – ameaçou falando baixo com uma veia pulsando na testa.
- Calma, gente, vamos agir civilizadamente. – falou Vicky tentando apaziguar.
- Pede. – insistiu Rob.
- Agora você vai ficar do lado da irmãzinha, é? – Tom falou de gozação – Esqueceu que sou teu melhor amigo, meu chapa?
- Ninguém fala com a Marina assim na minha frente, NINGUÉM. – ele disse frisando bem a última palavra.
- Tudo bem, Rob. – falei me aproximando dele e colocando minha mão em seu braço, mas ele não olhou pra mim, continuava encarando Tom, aguardando.
Tom deu uma olhada para nós dois e surpreendentemente deu uma gargalhada.
- Ai quanta frescura! Tá bom... DESCULPA, Marina! – ele disse exageradamente – Pronto, satisfeito? – Rob parecia na dúvida.
- Ok, agora que tudo foi resolvido podemos acabar isso logo de uma vez? – disse Vicky.
Prosseguimos o jogo, placar final, 2 sets a um, ganhamos fácil.
No final da tarde a confusão já estava esquecida, Rob e Tom já tinham feito as pazes. Mamãe pediu umas pizzas e todos comemos avidamente com muita Coca-cola. Logo depois Tom se despedia todos, finalmente.
Tomei meu banho lembrando do rosto do Rob me defendendo, ele tinha ficado realmente irritado, mas não pude deixar de sentir uma onde de emoção com o ocorrido e também gratidão. Estava sentada na minha cama acabando de pentear meu cabelo quando o Rob apareceu na porta, segurando seu violão e umas folhas de papel.
- Posso entrar? – ele parecia inseguro.
- Claro. – respondi um pouco surpresa.
Ele se aproximou, puxou uma cadeira colocando perto de mim e sentou-se.
- Será que você pode me ajudar? - ele perguntou.
- Pode falar. – respondi.
Depois do que ele tinha feito por mim hoje, eu até andaria em brasas se ele me pedisse.
Ele me estendeu as folhas de papel, eu peguei e olhei pra ele.
- Aprendi essa música essa semana na aula de violão, meu professor disse que é uma música brasileira muito famosa, eu tenho a letra em inglês mas eu queria ouvir como ela soa no original em portuguêê cantaria pra mim enquanto eu toco?
Olhei pra folha e li o título: "Garota de Ipanema".
- Conheço essa música, mas não escuto faz muito tempo e meu português deve estar meio enferrujado.
- Não tem problema, faz assim, eu canto uma vez em inglês mesmo só pra você pagar o ritmo, depois é a sua vez.
- Tá bom. – respondi insegura – Mas não vai rir de mim!
- Combinado. – ele disse dando aquele sorriso de matar.
Ele pegou o violão posicionando na perna, logo começou a tocar, enchendo meu quarto com a melodia e começou a cantar com sua voz macia.
"Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço, a caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar
Ah, porque estou tão sozinho
Ah, porque tudo é tão triste
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
E também passa sozinha
Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor"
Quando ele acabou, eu estava sem fala, ele tinha cantado com tanta simplicidade e sentimento, quase infartei quando ele levantou o rosto no final, cantando a última estrofe me olhando nos olhos.
- E aí, foi tão ruim assim? – ele perguntou sem graça já que eu contianuava muda.
- Nananão! – gaguejei – Foi incrível, adorei!
- Sério? – ele disse alegre.
- Você arrasou! – confirmei.
- Tá legal, agora é a sua vez. – ele olhou minha cara de apavorada e sorriu – Pode deixar, não vou rir, prometo. - ageitou o violão novamente - Pronta?
- Não, mas pode começar. – falei trêmula.
Comecei a cantar bem baixinho, com medo de nem saber mais pronunciar direito, mas para minha surpresa, minha língua desenrolou e na segunda estrofe comecei a me desinibir, ele sorria pra mim me estimulando a continuar, olhei pra ele e vi os pelos de seu braço todos arrepiados, ele ficou vermelho quando percebeu que eu tinha visto essa reação. Terminei me sentindo super bem.
- Agora é a hora que você começa a jogar os tomates e ovos podres? – brinquei.
- Hum, sabia que tinha esquecido de trazer alguma coisa! – rimos juntos - Brincadeira, Marina! Vamos tentar mais uma vez? Agora vou gravar no meu MP4. – disse tirando o aparelhinho do bolso, fizemos então mais uma vez, agora eu me sentia mais confiante e soltei a voz
- Olha, adorei a música em português, soa muito melhor com a melodia e devo confessar, fica muito mais... romântico. – ele disse quando terminamos.
Depois disso eu não sabia mais o que dizer, a gente se olhava timidamente e o Rob sem graça comecou a dedilhar o violão, como alguém conseguia ser tão atrapalhado e fofo ao mesmo tempo?
- Que dane-se a timidez! – pensei.
Me aproximei rápido e dei um beijinho na bochecha na dele, ele congelou a arregalou os olhos.
- Obrigada, isto é por você ter me defendido hoje a tarde. – me virei e beijei a outra bochecha – E isto por tar cantado essa música linda pra mim. – voltei a sentar na cama.
- Humm... Er... De nada. – ele se levantou abruptamente - Acho... acho melhor eu ir agora pra ensaiar mais, outro dia a gente tenta de novo.
- Claro. – falei calmamente.
Não tive como não rir vendo o Rob sair tropeçando em tudo.
Segunda-feira, pouco depois de meia noite e nada do sono chegar, já tinha tentado de tudo, ler, ouvir música, contar carneirinho, mas estava muito difícil relaxar, estava ansiosa demais sabendo que ia começar escola nova pela manhã. Continuei rolando na cama por mais um tempo até que desisti e resolvi ir tomar um copo de leite, talvez ajudasse.
A casa estava silenciosa, todos já estavam dormindo em seus quartos, entrei na cozinha, mas não acendi a luz, apenas abri a geladeira e ela iluminou o ambiente o suficiente pra mim, peguei o leite e enchi um copo.
Fui até a porta de vidro que dava para o quintal e vi a chama de um isqueiro e uma silhueta sentada na escada do lado de fora, quem estaria fumando a essa hora lá fora, no escuro? Resolvi abrir a porta e conferir. Para minha surpresa, era Rob, nunca tinha visto ele fumar antes.
- O que você está fazendo aqui fora? – perguntei ao me aproximar, ele me pareceu assustado.
- Caramba, Marina que susto! – disse soltando a fumaça pela boca. – Pensei que era o papai! – e dizendo isso levou a garrafa que tinha nas mãos a boca, era cerveja.
- Se o papai te pega bebendo as cervejas dele, ainda mais a essa hora você está frito! – avisei.
- Não estou bebendo as cervejas, estou bebendo uma só, pelo menos por enquanto. – disse dando uma risadinha maliciosa e bebendo mais um gole – Quer experimentar? – perguntou me oferencendo a garrafa.
- Não, obrigada. – respondi fazendo uma careta – Já tenho a minha bebida. – falei mostrando meu copo de leite e ele sorriu.
- Sem sono? – ele perguntou.
- Sim. - respondi me sentando ao seu lado.
- Também não consegui dormir. – falou enquanto dava outra baforada.
- Você faz muito isso? – perguntei.
- Isso o que?
- Vir aqui fora de madrugada, fumar e beber escondido?
- As vezes, geralmente quando perco o sono como hoje. – disse olhando pro céu – Por que está sem sono? – perguntou virando-se pra mim.
- Ah, estou agitada por que as aulas começam amanhã. Como é a escola?
- Normal, o de sempre. – respondeu sem empolgação.
- Você não gosta muito da sua escola, né?
- Não é que não goste da "minha" escola, eu não gosto de escola, qualquer escola, aquilo lá não é a minha praia e odeio aquele uniforme. – disse colocando o cigarro na boca.
- Qual é a sua praia?
- Alguma coisa com música, eu acho. – ele disse pensativo – Alguma coisa no meio artístico, algo por aí, ainda tô decidindo.
- Estou animada pra amanhã, acho que vai ser legal estar numa escola com garotas e garotos. – ele me olhou de lado quando eu disse isso, mas não disse nada, dando outra tragada no cigarro – E você, porque não está dormindo?
- Hum, também estou agitado e a noite está quente, precisava beber algo bem gelado. – disse dando o último gole na cerveja.
Ficamos ali, calados enquanto eu acabava de beber meu leite e ele o cigarro, observando os vaga-lumes iluminando ocasionalmente a noite.
Olhei de esguelha, eu não gostava muito de cigarro mas era obrigada a concordar que na mão dele ficava muito charmoso, ele estava completamente a vontade e tranquilo. Fiquei olhando pra fumaça que saia do cigarro, subindo em espirais, quanto mais eu ficava perto dele, mais eu gostava da sua companhia e pior, eu sentia uma vontade louca de tocá-lo, de estender a mão e mecher no seu cabelo, de passar a mão por seu rosto, de segurar forte no seu pescoço, devia ser probido aquele nível de tentação.
- Chega, Marina! – pensei suspirando alto, isso chamou a atenção dele, olhou pra mim curioso, parecendo me analizar.
Senti o olhar dele firme no meu rosto e arrisquei dar uma espiada, encontrei um par de intensos olhos azuis me olhando de um jeito que me fez sentir o estomâgo torcer de nervoso e a pergunta que ele fez a seguir quase me fez saltar.
- Você já beijou alguém?
- Por que está perguntando isso? – perguntei de olhos arregalados.
- Bom, você disse que está animada de estudar numa escola com garotos, você vai ter oportunidade de conhecer muitos caras diferentes e essas coisas acabam rolando inevitavelmente. – explicou.
- Já rolou pra você? – não consegui segurar a curiosidade, ele deu uma risadinha maliciosa.
- Perguntei primeiro. – falou soltando outra baforada.
- Não. – respondi olhando pro céu – Ainda, não. Pode parecer bobo, mas quero que seja especial, tem que ser com um cara que eu goste mesmo. – ele me olhva atentamente – Pronto respondi, agora é sua vez.- ele riu.
- Sim, já rolou. – não tive como não ficar enciumada com aquela resposta.
- Como foi? – perguntei atrapalhada – Quer dizer, foi bom?
- Foi legal, meio apressado e muito molhado. – fiz cara de nojo e ele riu. – Mais ainda não rolou com alguém... especial, como você disse.
A gente ficou se olhando e senti uma estranha vibração no ar, uma sensação de expectativa, uma eletricidade estranha e misteriosa.
- É impressão minha ou Rob está respirando mais rápido? – pensei vendo o peito dele subir e descer repetidamente, mas ele virou o rosto quebrando a conexão.
- Vou subir agora. – ele disse jogando fora a bituca.
- Eu também, não quero perder a hora amanhã. – falei vermelha.
Subimos juntos a escada, estavamos no corredor quando o Rob parou e segurou meu braço, eu já ia falar alguma coisa, quando ele fez sinal para que eu ficasse calada.
- Escutei alguma coisa. – ele sussurrou bem baixinho, fiquei imediatamente alerta, prestando a atenção. Ele fez sinal para que o seguisse, andamos nas pontas dos pés e paramos em frente a porta do quarto da Lizzie, foi aí que eu também escutei.
- Ahhh... Uhhh... – gemidos masculinos vinham do quarto.
Arregalei os olhos e coloquei as duas mãos na minha boca aberta, Rob começou a rir baixinho, colocamos o ouvido na porta.
- Ai, Mark... – ouvimos a voz da Lizzie.
- Você me deixa louco! – disse Mark, namorado dela.
- Não te disse? Aquele tamanho "Super Plus" foi muito suspeito. – Rob murmurou pra mim, ele não párava de rir.
Ouvimos mais um pouco e os gemidos aumentavam, fiz sinal pro Rob pra gente ir embora.
- Agora? Quero ouvir mais! – ele sussurrou animadinho.
- Não é certo, Rob! – reclamei.
- Não é certo é a Lizzie ficar trazendo o namorado escondido aqui em casa! – ele revidou.
- Deixa de ser hipócrita, como se você não fizesse coisas escondidas também! – ele me olhou zangado.
- Deixa de ser criança, Marina! – ele sabia que eu DETESTAVA quando alguém me acusava de agir como criança.
- Olha quem fala! Se você é assim tão maduro, por que bebe e fuma escondido? Por que não assume? Você não tem moral pra falar da Lizzie porque ela tá fazendo DING – DONG! – ele arregalhou os olhos por um breve momento e inesperadamente soltou uma sonora gargalhada que ecoou pela casa.
Coloquei a mão rápido na sua boca e o puxei pro quarto dele que era o mais próximo, fechando a porta atrás de nós.
- Você ficou maluco? Quer que sejamos pegos? – falei nervosa – Fica quieto, Rob!
Mas não adiantava, quanto mais eu falava, mais ele ria deitado na sua cama, com a mão na barriga.
- DING... KKKK... DONG...KKKK... – continuava rindo.
- Será que aquilo era efeito da cerveja? – pensei alarmada.
Daqui a pouco a porta se abriu e aparece uma Lizzie descabelada, vestindo um roupão.
- Que barulheira é essa? O que vocês estão fazendo aqui juntos a essa hora? – perguntou nervosa e desconfiada.
- Com certeza... KKK... Não é... DING... KKK...DONG... - Rob disse rindo, já sem fôlego – E aí, Lizzie vc gosta mais de fazer o DING ou o DONG? – felizmente ela olhou pra ele aparentemente sem entender.
- Não sei do que você está falando. Vocês não têm aula amanhã? Vão logo pra cama antes que a mamãe levante! – disse com as mãos na cintura.
- Idiota! – falei pra ele, antes de sair.
Voltei pro meu quarto com a terrível certeza de que aquele episódio ia ser motivo de piada pelos próximos anos.
Acordei assustada com o despertador tocando e a impressão que tinha é que só fazia 5 minutos que tinha adormecido. Me arrastei até o banheiro, na esperança de que um banho me faria sentir melhor, no caminho escutei mamãe gritando pro Rob acordar.
Depois do banho, me animei um pouco, voltei pro quarto ouvindo minha mãe ainda chamando por ele. Já estava vestida e descendo pro café da manhã quando ouvi a ameaça final.
- Robert Thomas-Pattinson! Se não levantar agora considere sua mesada da semana suspensa!
Sorri ao ouvir um minuto depois ele correndo pro banheiro. Depois de 15 minutos entrava na cozinha um Rob de cara amassada, cabelo sem pentear, com camisa pra fora da calça, gravata na mão e cara fechada. Como meu humor também não era dos melhores continuei comendo calada meu misto quente enquanto assistia ele tomando café puro, de pé.
- Já está pronta? - perguntou mal humorado.
- Só preciso pegar minha mochila. – respondi sem olhar pra ele.
- Te espero lá fora. - disse ao sair.
- Nossa, ele está realmente azedo.- pensei me levantando.
Ao sair, vi que ele me aguardava encostado na cêrca, com as mãos nos bolsos da calça, a mochila nas costas, tinha enfiado a gravata de qualquer jeito no colarinho.
- Rob! – surgiu mamãe atrás de mim – Tome conta da Marina, ela é sua responsabilidade! – fiz uma careta ao ouvir aquilo, ele limitou-se a virar os olhos.
- Tenha um ótimo primeiro dia de aula, querida! – disse mamãe me abraçando ao se despedir, abracei-a também, dei-lhe um beijinho e andei até o Rob.
- Vamos passar primeiro pra pegar o Tom e depois seguimos pra escola. – ele disse quando estávamos na calçada.
- Ótimo! Vou "adorar" andar com o Tom todo dia pela manhã. – disse ironicamente, ele fingiu não ouvir meu comentário.
Quando chegamos na casa do Tom, ele já nos aguardava no portão. Enquanto Rob parecia ter saído de um furacão, Tom tinha a roupa e cabelos impecáveis.
- Bom dia, pessoas! E aí, animados? – disse com um enorme sorriso – Cara, o que você fez com seu uniforme, mastigou? – Rob respondeu mostrando o dedo pra ele.
- Nossa, estamos "alegres" essa manhã, não? – disse nos examinando.
- Cala a boca e vamos logo. – resmungou Rob.
A escola não ficava longe, chegamos lá em 15 minutos. A entrada estava lotada de estudantes, muitos conversavam animadamente, contando sobre suas férias e outros faziam cara de tédio igual ao Rob. Estava um pouco assustada ao me ver no meio de tanta gente estranha, me sentia perdida. A escola era enorme, um prédio antigo de 3 andares, com um grande pátio interno, campo poli-esportivo, auditório e piscina.
- Onde nós vamos agora? – perguntei.
- Daqui a pouco eles vão nos chamar para o auditório, a diretora sempre faz um discurso no primeiro dia de aula, para boas-vindas, apresentações, explicar as regras, toda essa merda. – respondeu Tom, Rob continuava caladão.
Não demorou muito apareceram vários funcionários da escola chamando os estudantes, nos dirigimos devagar para o local indicado, sentamos numa das fileiras de trás.
Havia um grande palco onde vi vários professores sentados, ao centro numa cadeira um pouco mais decorada, sentava a diretora, vestida num tailleur elegante. Depois que todos estavam devidamente sentados, ela levantou-se e se dirigiu a um microfone que estava bem no meio.
Olhei pro Rob, ele se recostou na cadeira, fechou os olhos e fingiu que dormia. Já o Tom era o oposto, estava tão animado que não parava de pular na cadeira, parecia até que tinha sentado num formigueiro.
O discurso realmente foi longo e chato, eles tinham regras pra tudo, algumas óbvias, tipo: não se podia fumar, ingerir bebida alcoólica ou drogas dentro da escola, era proibido o uso de aparelhagem de som ou celular durante as aulas, assim como era proibido a leitura de material não didático e só podíamos freqüentar o banheiro correspondente ao nosso sexo, com essa última eu tive que rir.
- Resumindo, proibido viver! – disse o Rob de olhos fechados.
- Caraca, aonde vou dar os meu amassos esse ano? – disse Tom procupado.
- Como assim? – perguntei, Rob abriu os olhos e respondeu.
- Ano passado o Tom foi pego no banheiro feminino, atracado com uma garota de 15 anos.
- Adoro mulher mais velha. – ele confirmou com um sorriso safado.
- Daí quando levaram ele pra diretoria e o acusaram de quebrar as regras, ele se defendeu dizendo que nunca havia sido informado sobre ser proibido de freqüentar o banheiro feminino. – olhei pro Tom e ele sorria cinicamente – Acho que por isso esse ano eles resolveram colocar essa regra oficialmente. – disse fechando os olhos novamente.
No final fomos oficialmente dispensados e a diretora indicou um funcionário que levaria os alunos do primeiro ano para a sala de aula.
- É isso aí, Marina, bem-vinda a selva! – disse Tom enquanto nos levantávamos.
- Você deveria dizer purgatório. – contradisse Rob.
Nos despedimos ali mesmo e segui o caminho indicado junto com outros alunos. Entramos na sala de aula, me sentei numa mesa encostada a parede aguardando impaciente, observando os outros estudantes que entravam. Uma menina morena, de olhos grandes, e cabelo preto e comprido se aproximou de mim, parecia indiana, havia muitos deles vivendo na Inglaterra.
- Já tem alguém aqui? – ela me perguntou sorrindo, apontando para a mesa ao meu lado.
- Não, pode sentar. – respondi retribuindo o sorriso.
- Meu nome é Shanti, qual é o seu?
- Marina.
- Nossa, estou tão animada! Meu irmão estuda aqui também, não via a hora de vir pra cá. Você viu quantos gatinhos tem por aí? Tenho certeza que vamos nos dar bem esse ano!
A menina falava sem parar, mas era simpática e alegre, sempre sorrindo com aqueles dentes muito brancos, gostei dela da cara e com o tempo nos tornamos grandes amigas.
Na hora do almoço fomos juntas pro refeitório, entramos na fila para pegar nossa refeição, olhei ao redor mas não vi Rob, nem Tom. Sentamos numa mesa junto com outros colegas de turma. Já estávamos comendo a algum tempo quando a Shanti disse baixinho.
- Você já se deu bem.
- Como assim? – perguntei sem entender.
- Não se vire agora, mas tem um carinha que não pára de olhar pra você.
- Tem certeza? – falei muito vermelha.
- Absoluta.
- Como é que ele é?
- O inglês típico, branco feito papel, parece alto, mas como está sentado não dá pra ter certeza, magrelo, tem uma cara engraçada, olhos azuis, cabelo castanho precisando urgente de um bom corte, sobrancelhas que parecem duas taturanas e suas roupas parece ter sido usadas como pano de chão. – ela disse tão rápido que quase não consegui entender tudo, mas deu pra perceber que era esperta e observadora.
Depois que consegui absorver o que ele tinha dito, logo percebi quem se encaixava com perfeição aquela descrição.
- Acho que já sei quem é. – afirmei, olhando pra trás, não deu outra – É ele mesmo. – falei bebendo meu suco.
- Quem é? – ela perguntou curiosa.
- Meu irmão, Rob.
- Irmão?- disse franzindo a testa – Mas vocês são tão diferentes.
- Não somos irmãos de verdade, sou adotada. – já estava acostumada com as pessoas fazendo aquela observação.
- Ah, entendi! E eles são legais?
- São maravilhosos! – respondi sinceramente – Sempre me fazem sentir parte da família.
- Legal! – ela deu mais uma olhadela na direção deles.
- Nossa, aquele que está conversando com ele não é nada mal. – dei mais uma olhada.
- Esse é o Tom, o melhor amigo dele.
- Interessante. – ela disse com os olhos cheios de cobiça. Nessa hora tocou o sinal e nos levantamos, mas fiz uma anotação mental sobre avisar a Shanti sobre a chave de cadeia que era o Tom.
PASSAGEM DE TEMPO (Marina com 16 e Rob com 18 anos):
Nos anos que se seguiram, nossa rotina não mudou muito, exceto que crescemos, estudamos, cada um fazendo os cursos que gostava.
A Lizzie por exemplo, terminou o colégio, saiu de casa para morar com o namorado e se tornou cantora profissional, começava a fazer sucesso com sua banda.
Vicky também se formou e foi pra universidade estudar marketing, agora só a via nas férias ou por telefone.
Já o Rob estava no último ano, era excelente músico, tocando piano e violão, continuava um boêmio, adorando uma noitada no pub com os amigos e tinha entrado para um grupo de teatro. Fisicamente ele agora tinha mais corpo de homem, ainda meio magro, mas definido, muito alto e até um pouco complexado com sua altura, por isso andava meio curvado.
Eu não fiquei muito mais alta, tive que me contentar com meus 1,65cm. Junto com Shanti comecei a ter aulas de dança, o que me fez emagrecer, afinar a cintura e ter pernas bem torneadas. O que realmente não tinha parado de crescer foram os meus seios, não que fossem exagerados, mas é meio embaraçoso quando você aos 13 anos tem mais busto do que sua irmã mais velha. Lembro até hoje da primeira vez que fui pra escola de sutiã, tinha a sensação que todos estavam olhando pra mim, ainda mais com o olhar descarado do Tom e com o que ele disse.
- Puxa Marina, como você "cresceu" esse ano! – disse olhando claramente pra baixo do meu pescoço, mas não deixei essa passar barato.
- Engraçado, já você parece ter encolhido. – falei olhando pra sua calça, ele ficou uma fera.
Minha relação com Rob tinha se mantido a mesma, fraterna, pelo menos exteriormente, porque por dentro ainda me desmanchava toda por ele, apesar das constantes implicâncias um com o outro, como naquele sábado de manhã.
- Marinaaaaaaaaaaaa! – Rob entrou no meu quarto gritando como um doido, fingi que continuava dormindo, nem me mexi.
- Anda, acorda! – disse me sacudindo, continuei imóvel.
- Puta merda Marina, você pediu. – disse subindo em cima de mim, fazendo cócegas por todo meu corpo.
Ele sabia que esse era meu ponto fraco, que eu não resistia a cócegas, eu ria descontroladamente, mandando ele parar, já estava ficando sem segurou minhas mãos acima da minha cabeça e aproximou o rosto do meu.
- Se rende? – ele perguntou com um sorriso diabólico.
Abri os olhos, respirando fundo e encontrar seu rosto tão perto do meu fez meu coração dar um salto no peito. Mesmo depois de todos esses anos de convivência, ele ainda tinha aquele efeito sobre mim. Olhei pra baixo e ele estava sem camisa, só usava uma calça de moletom preta, quase fiquei vesga só de olhar pro peito dele, minha vontade era estender as mãos e corre-las pelos pelos do seu tórax., sorte minha que elas estavam bem presas por ele.
- Acordada? – ele insistiu.
- O que você acha? – perguntei irônica – Será que agora dá pra me soltar?- ele me olhou por mais um instante e soltou minhas mãos, mas continuou sentado de pernas abertas em cima de mim – Posso saber o porque desse ataque matinal?
- Estou aqui pra isso. – disse num sorriso glorioso – Passei Marina, vou ser o Cedric Diggory em Harry Potter e O Cálice de Fogo!
Sentei na cama na mesma hora.
- O que? Sério, quando? – perguntei atordoada.
- Acabaram de ligar, tô dentro, Mari!
- Ahhhhhhhhhhhhh! – gritei de alegria, saltando da cama, ficamos de frente um pro outro, pulando como duas crianças.
Saltei no pescoço dele, ele me segurou apertado e rodopiou comigo pelo quarto, rindo juntos de pura felicidade.
- Isso é maravilhoso! – exclamei.
- Nem me fale! Ainda não acredito, parece um sonho! – ele estava tão feliz, era contagiante.
- A gente tem que comemorar! – eu falei.
- Com certeza, vou marcar um encontro no pub com a turma toda. Você topa?
Na minha cabeça sonhadora eu já tinha imaginado um jantar a luz de velas, num lugar romântico, mas despenquei para a realidade depois que ele sugeriu o pub, mantive o sorriso no rosto apesar da minha decepção e respondi o óbvio.
- Claro, já estou lá!
- Vou começar a ligar pra galera agora mesmo! – ele disse me dando um beijo rápido no rosto e saindo em seguida.
- Marina, quando você vai aprender? – falei comigo mesma quando já estava sozinha – Controle-se! Mantenha o foco!
As vezes era muito difícil lembrar que ele era só o meu irmão, principalmente quando havia alguma proximidade física como tinha acontecido a pouco, o amor e o desejo fervendo nas minhas veias. Respirei fundo procurando me acalmar e fui pro banheiro para começar meu dia.
Já tinha tomado o café da manhã quando ouvi meu celular tocando, olhei pro visor já adivinhando quem seria.
- Pronta? – Shanti me perguntou assim que atendi.
- Quase, te encontro em 20 minutos.
Tínhamos combinado de ir ao shopping aquela manhã para fazer compras, almoçar por lá mesmo mais tarde e claro fofocar um pouco. Coloquei minha inseparável combinação de jeans, tênis e camiseta, prendi o cabelo num rabo de cavalo, passei um batom rosinha nos lábios e argolas nas orelhas. Olhei-me no espelho confirmando se não tinha esquecido nada, satisfeita peguei minha bolsa e sai.
Encontrei Shanti na frente do shopping e juntas fomos às compras, na verdade quem fazia compras mesmo era ela, mas mesmo assim era divertido ajuda-la escolher roupas, sapatos, entre outras coisas. Deixamos minha loja favorita para o final, uma livraria imensa, que também era papelaria, além de vender cd's e dvd's. Para desespero de Shanti, saí de lá com 3 livros balançando numa sacola.
- Sabia que com o que gastou nesses livros, poderia comprar uma roupa incrível? – ela disse enquanto sentávamos no meu restaurante italiano favorito.
- Sei Shanti, mas no momento não estou precisando de nada. – ela me olhou incrédula.
- Marina, uma garota sempre precisa de alguma coisa, nunca é demais. – suspirei desistindo de contradizê-la, naquele assunto Shanti era absolutamente irredutível.
Depois que o garçom anotou nossos pedidos, Shanti virou-se pra mim com atenção, pousando suas mãos cruzadas em cima da mesa.
- Ok, Marina. – disse com um meio sorriso – Esperei que você me contasse por iniciativa própria, mas parece que vou ter que arrancar a informação de você então desembucha, como foi seu encontro com John ontem a noite?
Mordi os lábios nervosa, realmente eu havia evitado aquele assunto a manhã toda, porque eu sabia exatamente qual seria a reação dela quando contasse.
- Foi assim tão ruim? – ela perguntou, me observando.
- Na verdade não, o filme foi bom, ele é legal, comprou as pipocas e refrigerante pra gente, mas... – não consegui continuar.
- Mas... – ela disse me encorajando.
- Mas ele tem uma risada bem estranha. – falei olhando pra baixo esperando os gritos da Shanti, mas como ela permaneceu em silêncio, ergui os olhos, ela estava de olhos fechados respirando fundo.
- Marina – disse devagar – Não me diga que você saiu desse encontro sem beijar o cara? Ele é uma gracinha!
- Mas não dava Shanti, ele fazia umas piadinhas estranhas e depois dava uma risada esquisita, não teve clima! – disse tentando me justificar
- Marina você tem 16 anos é ainda é BV!
- Eu sei bem disso, não precisa me lembrar. – falei me sentindo péssima.
- Puxa, sabe com quantos caras você saiu esse ano e NADA ainda aconteceu? Um montão!- ela disse enérgica – Um tem mal hálito, o outro pés tortos, outro se veste mal, outro tem nariz engraçado... Marina, o que você está procurando?
Continuei em silêncio sem coragem de responder.
- Nenhum deles vai ser o Rob, querida. – fechei os olhos quando ela disse isso. Shanti havia descoberto meu segredo logo no primeiro ano de escola, mas sempre foi muito leal e nunca contou a ninguém.
- Eu sei, eu sei. – respondi triste.
- Até parece maldição! Você tem que se livrar dessa assombração chamada Robert Pattinson! – disse impaciente – Honestamente eu não sei o que você vê nesse cara, desengonçado, se veste mal, tem aquelas sobrancelhas que mais parecem duas taturanas pregadas na cara e faz cada piadinha sem graça... – não tive como não rir de ver como a Shanti enxergava o Rob.
- Como explicar por que uns gostam morango e outros não? Simplesmente olhei pra ele e gamei na hora, simples assim.
- Mas esse sentimento não está te fazendo bem, Marina! Você disfarça bem, é verdade, mas posso imaginar o que deve ser estar passando naquela casa, vendo o cara dos seus sonhos todo dia passar por você e nada acontecer. Por que você não tenta esquecer ele?
- Olha eu to tentando...
- Não, você não está! – disse me interrompendo - Olha Marina, me desculpa, mas sou sua melhor amiga e tenho que ser sincera, você não pode continuar vivendo assim, sempre esperando, sempre suspirando pelos cantos, sempre fantasiando com ele. Se você quer tanto esse cara por que não parte pro ataque?
- Não é assim tão simples.
- Então me explica, porque não sei mais o que pensar.
- Veja bem. – fiz uma pausa tentando organizar meus pensamentos – Eu e Rob somos criados como irmãos de verdade, o tempo todo nossos pais falam "seu irmão isso" ou "sua irmã aquilo", fica impossível esquecer qual é o nosso papel lá em casa. Na cabeça dos nossos pais não existe qualquer possibilidade romântica entre nós dois, então você já imaginou o choque? Se rolasse alguma coisa, o que duvido que possa acontecer, talvez eles nunca aceitassem. – ficamos um momento em silêncio.
- Já reparou que você diz muito as palavras "se" e "talvez"? – ela recomeçou – Isso significa que você não tem certeza de nada. Pode ser que rolasse, pode ser que eles aceitassem.
- Mas eu nem sei se ele me corresponde, Shanti! – desabafei.
- Você me disse que as vezes ele te olha diferente.
- As vezes quando olho pra ele eu tenho a "impressão" de algo no ar, mas sempre é tão rápido e geralmente logo depois ele já mudou, começa a falar outro assunto ou simplesmente vai embora. Talvez seja coisa da minha cabeça, sabe? - dei uma risada – Vai ver sem perceber, depois de todos esses anos, enlouqueci de paixão e estou vendo coisas que não existem!
- E se você arriscasse?
- Como assim?
- Agarra ele e pronto, tirava sua dúvida!
- Já pensei nisso, mas a verdade é que tenho tanto medo, medo de ser rejeitada, dele não me querer como eu o quero, medo do que vou ver nos olhos dele. E se ele ficar com raiva de mim, ou pior nojo, sei lá! Eu não suportaria, Shanti! Eu não conseguiria suportar que ele pensasse mal de mim! – cobri o rosto com as mãos ao terminar meu desabafo.
- Marina, olha pra mim, vai! – levantei o rosto e rolavam algumas lágrimas que eu secava rapidamente com as mãos.
- Não puxei esse papo pra te deixar triste, mas pra fazer você refletir sobre como está sua vida no momento. Para te incentivar a tomar atitudes. – ela falou carinhosamente.
- E quais são minhas alternativas? – perguntei limpando o nariz no guardanapo.
- Tenho duas pra você, primeira: cair de boca no Rob literalmente, pegar o cara a unha, tascar um beijo daqueles e ver como ele reage.
- E a segunda? – perguntei tremendo.
- A segunda é partir pra outra e esquecer que o cara existe. Mas você tem que realmente querer isso Marina, você tem que querer esquecer ele e encontrar outra pessoa. Poxa, tem um monte de caras bonitos e interessantes aí fora, que adorariam ter uma chance com você. – paramos a conversa pois chegou o garçom com nossos pedidos.
- Vai pensar nas coisas que eu te disse? – ela perguntou quando ficamos sozinhas de novo.
- Vou sim.- respondi com sinceridade.
- Quero que você saiba que não importa o que escolher, estarei do seu lado, pro que der e vier. – disse dando uma tapinha na mesa.
- Obrigada, te prometo que quando eu decidir você será a primeira a saber.
Fui pra casa com a cabeça cheia de interrogações. Shanti estava certa ao dizer que eu não podia continuar vivendo assim, eu tinha que ter minha própria vida, tinha que fazer uma escolha e ter coragem de seguir em frente, ter coragem de assumir as conseqüências, de correr riscos.
Ao me arrumar pra ir no pub aquela noite, me olhei no espelho e pensei o quanto estava cansada daquilo tudo, de ser covarde, de esconder meus sentimentos ou de romper logo com aquilo tudo e mudar definitivamente, esquece-lo.
Acabava de passar o batom quando ouvi uma batidinha na porta.
- Pode entrar.
A porta se abriu e apareceu Rob, vestido de preto da cabeça aos pés, cabelo cheio de gel e aquele sorriso matador nos lábios. Olhou-me de cima a baixo soltando um assovio, corei de prazer.
- Gostou? – perguntei dando uma voltinha, fazendo rodopiar meu vestido vermelho escuro.
- Muito, você sabe que fica muito bem com essa cor, combina com seu tom de pele.- ele disse observando o ondular do tecido.
- Obrigada.- agradeci sorrindo.
- Vamos, já deve ter um monte de gente nos esperando. – ele estava eufórico.
Pegamos um táxi até o lugar marcado e quando entramos o pub já estava lotado.
- De onde o Rob conhecia aquele povo todo? – pensei.
- Marina, alguém já te disse que você está altamente "pegável" essa noite? – disse Tom assim que se aproximou – Patz, se fosse minha irmã não deixava. – falou virando-se pro Rob.
- Pode olhar a vontade, Tom. – respondi pra ele - Agora tocar só em pensamento, baby!
- Hum, adoro mulher difícil! – revirei os olhos, Tom não aprendia mesmo.
Comecei a caminhar passando por um monte de gente fumando, bebendo e deixei Rob recebendo os cumprimentos dos amigos pela sua conquista. Finalmente avistei Shanti numa mesa, ela estava acenando pra mim.
- Guardei um lugar pra você! – ela teve que gritar para que eu pudesse ouvir.
- Caramba, isso aqui está uma loucura hoje! – falei.
- Nem me diga, não sabia que o Rob era tão popular!
- Pra falar a verdade, nem eu! – concordei.
Pedimos nossas bebidas e ficamos ali batendo papo, rindo, brincando e observando o movimento.
- E aí meninas, posso me sentar com vocês um pouco? – era o mala do Tom.
- Claro! – disse Shanti se espremendo toda contra a parede para que ele se sentasse do seu lado, ela sempre tivera uma quedinha por ele, a fuzilei com o olhar por cima da mesa.
- Marina, se prepara que agora o telefone não vai parar na tua casa! – ele disse rindo.
- Por que? – perguntei.
- Porque o seu querido irmãozinho acaba de entrar pro distinto hall dos maiores pegadores de Londres. – olhei pra ele confusa.
- Ainda não entendi, explica. - ele revirou os olhos.
- Agora ele está num filme do Harry Potter e ainda por cima vai ser o Cedric, o cara que todas as gatinhas de Hogwarts tão a fim, o que vocês acham que vai acontecer, ou melhor, que já está acontecendo? – e apontou para uma mesa onde o Rob estava sentado rodeado de gente. Olhei com mais atenção e vi uma garota loira, pendurada no ombro dele, rindo de alguma coisa que ele falava em seu ouvido, congelei na hora.
- Quem é a garota? – perguntou Shanti.
- Conheci essa noite, se chama Karen e desde que chegou não sai de perto dele. O Rob vai ser um otário se não ficar com ela hoje, ela ta toda "fácinha".
A garota era realmente bonita, mas com um jeito um pouco vulgar, reparei que ela tinha acabado de aceitar um cigarro que ele tinha oferecido, observei ele pegando o isqueiro do bolso e acendendo o cigarro pra ela. Baixei os olhos pra minhas mãos, bebi mais um pouco procurando disfarçar minha tristeza. Tom e Shanti engataram num papo animado sobre filmes e eu fingi prestar atenção, mas olhando de vez em quando na direção do casalzinho, reparei que ela se inclinava toda sedutora falando alguma coisa no ouvido dele, fazendo ele rir em seguida. O tempo passava, a Shanti e o Tom agora pareciam estar marcando um cinema, mas já não prestava nenhuma atenção, concentrada em outra direção. De repente a tal Karen se levantou, com o Rob atrás e foram juntos na direção dos banheiros. Contei mentalmente até 30, não agüentei mais e me levantei.
- Vou ao banheiro, já volto. – falei pra Shanti que só resmungou um "tá bem" e continuou no papo com o Tom.
Andei devagar por entre as pessoas, finalmente sai do salão e entrei no corredor mal iluminado onde ficavam os banheiros. Mal tinha dado três passos quando os vi, a garota estava encostada na parede, segurando o Rob pelos cabelos enquanto se beijavam. A impressão que eu tinha é que tinham me dado um tiro no peito tamanha a dor que senti, precisava sair dali e rápido. Mas me virei rápido demais e não vi uma garçonete que passava atrás de mim com uma bandeja cheia de copos, esbarrei nela e caiu tudo no chão, o barulho fez o dois pararem de se beijar e olharem na minha direção, por um segundo meu olhar se encontrou com os dele surpresos, reparei que ele se afastou da garota na mesma hora mas não esperei pra ver mais nada, me desculpei rápido com a garçonete e saí dali voando. Parei na minha mesa, pegando rápido minha bolsa.
- Shanti, vou pra casa agora! – falei rápido.
- Já? – ela perguntou.
- Depois me liga! – falei pra ela antes que me fizesse mais alguma pergunta, só queria sair daquele lugar, assim que cheguei na calçada peguei um táxi.
Entrei em casa e fui correndo pro meu quarto alegando pra minha mãe que tinha chegado mais cedo por estar com dor de cabeça. Entrei, fechei a porta e arranquei com raiva aquele vestido que ele tinha gostado tanto, nunca mais usaria aquela porcaria. Fui ao banheiro tirar a maquiagem deixando finalmente as lágrimas rolarem livres.
- Você é uma idiota, idiota completa! Chega de ser boba!– falei comigo mesmo olhando pro espelho – Nunca, nunca mais choro por você Robert Pattinson! – jurei pra mim mesma.
Apaguei a luz e deitei na cama, mas estava sem sono não conseguia dormir, rolava na cama, as horas passavam, a casa estava escura e silenciosa. Ouvi quando um carro parou em frente a nossa casa, fui à janela e vi Rob saindo do táxi. Corri pra cama, me cobri até o pescoço, ouvi passos na escada e depois silêncio. Ouvi a maçaneta da minha porta abrindo e fechei os olhos fingindo dormir, ele devia estar parado na porta, pensei que ele já tivesse ido embora quando senti seus passos no tapete em minha direção. O que ele estava fazendo ali? Senti um carinho suave em meus cabelos e um suspiro, mas continuei imóvel, estava magoada demais. Senti que depois disso ele não se demorou mais e saiu do quarto. Voltei a chorar até cair no sono.
Acordei tarde com meu celular tocando, olhei o visor era Shanti, atendi e disse rápido:
- Lembra aquela escolha que eu tinha que fazer? Já fiz.
- Shanti, você tem certeza que isso é necessário? – perguntei receosa.
- Absoluta. – disse decidida – Agora deixa eu ver como ficou. – respirei fundo e sai do provador.
Eu estava usando o short mais curto e apertado que já tinha usado na vida, cintura baixa e pra completar vestia uma camiseta tipo top, de algodão branco, me sentia a própria Britney Spears naquele look.
- Perfeito! – disse Shanti sorrindo satisfeita – Não tem como um cara olhar pra você com essa roupa e não começar a uivar e babar. Vamos levar 3 shorts e meia dúzia desses tops em cores variadas. Além das calças, blusas e saias, é claro.
- Você não acha muito?
- Não, isso é só o início. – disse piscando o olho, me deixando alarmada.
Saímos da loja cheia de sacolas e fomos lanchar, assim que sentamos já com nossas bandejas, Shanti pegou sua agenda, uma caneta e começou a rever seu plano mirabolante.
- Muito bem, acho que já temos quase todas as armas que precisamos. – ela disse enquanto corria os olhos por uma lista anotada na agenda.
- Quase todas? – perguntei surpresa, enquanto mordia meu cheese-burguer.
- Sim. – disse dando um sorrisinho malicioso – Depois que a gente acabar de comer, falta o último item da minha lista para comprar, a arma final para o nosso plano "Morte ao Porco!". – porco, leia-se Robert Pattinson.
- Você é formidável, Shanti! – não tinha como não rir quando ela dizia aquilo.
- Agora, vamos recapitular. – ela disse enquanto comia as batatinhas – Plano fase 1: Ignore o "Porco", como estamos? – me perguntou.
- Muito bem, essa tem sido fácil, depois que ele começou a ir pro estúdio, a gente quase não se vê mesmo e a noite quando ele chega em casa, finjo que ele não existe.
- Ótimo! – disse feliz – E o contato visual, fez o que a gente combinou?
- Fiz, se ele fala comigo, olho pra qualquer outro lugar, menos pra ele. – a gente tinha combinado isso porque eu confessei pra Shanti que eu ficava meio boba quando ele sorria pra mim.
- Certo, isso vai quebrar ele com certeza, ele vai ficar com uma minhoca na cabeça, vai desestabilizá-lo, deixa-lo vulnerável e inseguro, pronto pra Fase 2: Faça o Porco Sofrer.
- Vou ser sincera Shanti, essa parte do plano me assusta! – falei enquanto bebia meu refrigerante.
- Essa parte é essencial, ele precisa saber o que perdeu, Marina! – disse com ódio nos olhos.
- O negócio é eu conseguir ter coragem de vestir essas roupas e sair desfilando na frente dele. – falei ruborizando, ela revirou os olhos.
- Você lembra dele beijando a garota?
- Claro, nunca vou esquecer!
- Então pronto, toda vez que te faltar coragem, lembre-se dessa cena! – fechei os olhos lembrando e automaticamente uma onda de raiva me atingiu com força.
- Certo, isso realmente ajuda. – concordei.
- Na fase 2, você precisa ficar completamente irresistível, porém intocável, ele tem que ver exatamente o material que escapou de sua mãos. Pra isso você vai mostrar mais carne, aposente de vez aquele seu guarda-roupa "freirinha" e use e abuse das roupas "bitch". – demos juntas uma boa risada.
- Será que vai funcionar? – perguntei insegura.
- Marina, você não confia no seu taco, não? – ela perguntou incrédula – Você tem o maior corpão, só que ele vive escondido! Quando você começar a revelá-lo tenho certeza que os caras vão ficar malucos, especialmente o "porco"! A noite, quando ele estiver em casa vendo TV, você vai entrar naquela sala com sua roupa de guerra, rebolando muito o traseiro, balançando os peitinhos e fazendo cara de paisagem, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ah, por falar em balançar os peitinhos, nada de sutiã, os homens ficam doidos com isso!
- Como você sabe tanto essas coisas? – perguntei curiosa.
- Tenho irmãos mais velhos em casa lembra? Escuto esses papos o tempo todo! Ah, eu queria ser uma mosquinha pra ver a cara do Rob quando você aparecer pra ele pela primeira vez. – disse sonhadora. – Faça esse cara ter sonhos molhados, ouviu?
- Vou fazer o possível. – falei rindo.
- Esse seu novo visual também vai ajudá-la na fase 3: Morte ao "porco!". Enquanto estiver na fase 2, comece a escolher o alvo, procure um carinha que você possa esfregar na cara do Rob, vai ser o golpe final! – falou dramática.
- Shanti, o que eu faria sem você? – falei agradecida.
- Para isso que servem as amigas meu bem, para ajudar a torturar homens pobres e indefesos. Agora vamos acabar logo de comer, que ainda temos mais uma loja para conferir.
Quando saímos dali e a Shanti me levou a loja Victoria's Secret e fiquei sem fala, começamos a olhar um monte de lingerie.
- Shanti, o que estamos procurando?
- Hum, algo sexy, mas sem ser vulgar, algo insinuante e ao mesmo tempo ingênuo, algo que valorize os atributos que a mãe natureza de teu. – ela disse enquanto analisava cada peça do cabide – Acho que encontrei, experimente! – disse me estendendo um baby-doll branco.
(Nota da autora: se quiserem ver como é o baby-doll da Marina, confiram o link abaixo)
.?namespace=productDisplay&origin=&event=display&prnbr=CP-208654&page=1&cgname=OSSLPPYJZZZ&rfnbr=5240
- Pra que isso? – perguntei desconfiada.
- Faça o que estou falando e não discuta, anda!
Suspirei resignada pegando a peça da mão dela, fui para o provador e coloquei o baby-doll. Shanti as vezes era chata com aquele mania de achar que sabe tudo, mas ao olhar meu reflexo no espelho, fui obrigada a concordar, ela realmente tinha bom gosto.
- Maravilha! – ela disse quando abri a cortina – Ele vai cair o queixo!
- Como assim, "ele" vai cair o queixo? – perguntei, fazendo-a dar um sorriso maquiavélico.
- Esse vai ser o golpe de misericórdia, Marina. Depois que você tiver escolhido o seu bofe e estiver prestes a desfilar com ele, você vai aparecer pro Rob com essa roupa.
- Você está brincando!
- Você acha que eu brinco com coisa séria? – ela realmente falava pra valer – Você vai escolher o melhor momento, provavelmente um pouco antes de dormir, quero que ele se revire na cama a noite toda sabendo que deixou um avião como você escapar.
- Shanti, nunca quero te ter como inimiga! – declarei.
- Toma, pegue também esse conjunto de sutiã e calcinha, veja como fica.
- Você quer que eu apareça de calcinha e sutiã na frente dele? – perguntei histérica.
- Não, Madre Teresa de Calcutá! Esse aqui é pra você usar quando sair com seu pretendente, nada como uma lingerie nova pra fazer a gente se sentir poderosa. – respirei aliviada.
(Nota da autora: se quiserem ver como é a lingerie da Marina, confiram o link abaixo)
.?namespace=productDisplay&origin=&event=display&prnbr=CP-237307&page=8&cgname=OSBRPSASZZZ&rfnbr=6038
Fui pra casa com as mãos cheias de sacolas e a cabeça cheia de expectativa, será que o Rob iria reagir como a Shanti esperava? Eu estava dividida, ao mesmo tempo que eu queria que a noite chegasse, eu também não queria, as horas passavam devagar, tomei um banho demorado, passei hidratante por todo corpo para ajudar a aliviar a tenção. Finalmente escutei quando a porta bateu, ouvi ele entrando, passos na escada, depois indo em direção a seu quarto. Esperei impacientemente que ele tomasse banho, trocasse de roupa e fosse pra cozinha ou pra sala. Dei uma última olhada no espelho, ajeitei os ombros, empinei os seios, sem sutiã como a Shanti tinha frisado e sai rebolando escada abaixo.
- Seja má, seja má, seja má... – eu ficava repetindo mentalmente como um mantra.
Ele não estava na sala então com certeza devia estar comendo na cozinha, fui pra lá, parei, respirei fundo e abri a porta.
Ele estava de pé bem de frente pra mim, então quando ele ergueu o rosto não tinha como não me ver, foi com uma imensa satisfação interna que tive o prazer de ver os olhos dele se arregalarem e ele soltar a colher que estava levando a boca, deixando cair no chão. Fingi que não tinha acontecido nada, fui até a geladeira e peguei uma garrafa de água.
- Com licença. – falei me aproximando dele, como ele não se mexia, repeti sorrindo – Alô, câmbio, Terra para Marte, quero pegar o copo que está atrás de você!
Ele piscou parecendo meio atordoado, mas saiu do lugar, passei bem perto dele, quase roçando em sua perna, ele se afastou um pouco mais, enchi o copo d'água e comecei a beber devagar. Ele pegou a colher que tinha caído no chão e foi se sentar de frente pra mesa.
- Roupa nova? – perguntou olhando minha barriga.
- Nem tanto, eu já tinha comprado a algum tempo, mas tinha esquecido dela. – menti descaradamente.
- Ah! – foi a única coisa que respondeu.
Saí da cozinha e ao passar por ele dei uma boa rebolada. Fui pro quarto rindo comigo mesma. Passou-se um certo tempo, ouvi alguém chegando, era o Tom.
- Perfeito! – pensei e fui pra sala.
O Tom estava sentado no sofá, ao lado do Rob, falando sem parar sobre algum assunto, mas quando ele me viu descendo as escadas, parou de falar e arregalou os olhos.
- Caralho! – ele soltou.
Continuei fingindo que nada estava acontecendo, me abaixei propositalmente fingindo pegar o controle remoto na mesa, de maneira que eles tiveram uma visão privilegiada do meu decote. Sentei na poltrona, coloquei meus pés na mesa para que minhas pernas ficassem bem a mostra e liguei a TV.
- Marina, onde você escondia todo esse material? – olhei pra ele e apenas sorri inocentemente, dei uma espiada na cara do Rob e ele encarava o Tom com um olhar assassino.
- Vem, vamos pro meu quarto. – disse Rob se levantando irritado.
Quando eles estavam subindo a escada ouvi o Tom dizer.
- Nossa, como ela tá gostosa!
- Cala a boca, Tom! – disse Rob.
- Você viu aquelas tetas?
- Cala a boca, Tom! – ele repetiu.
- Você vai dizer pra mim que tem uma deusa dessas no final do corredor e nunca fez nada?
- Eu juro que se você falar mais alguma asneira, te boto pra fora a ponta pé! – Rob ameaçou.
- Você é capado? – escutei a porta do quarto do Rob fechando com força e ri.
Continuei olhando pra TV sorrindo, peguei meu celular, apertei o send e disse assim que Shanti atendeu:
- Iniciada fase 2 com sucesso. – escutei a gargalhada dela do outro lado da linha.
Depois de duas semanas daquilo não era só o Rob que estava tenso, eu também estava uma pilha, a gente mal se falava, primeiro porque ele estava se dividindo entre escola e ensaios do filme, segundo porque eu continuava bancando a indiferente sexy o tempo todo, comecei a sentir muita falta dele, do nosso companheirismo, das conversas na cozinha, dos desabafos na varanda, sentia saudade da naturalidade da nossa convivência agora sempre tão carregada de mágoa, dor e sedução.
- Não sei por quanto tempo mais agüento isso. – dasabafei com Shanti por telefone certa noite.
- Agüenta firme, Marina! Se você chegou até aqui, pode ir até o fim. Na verdade esse final vai ser decidido por você, quando encontrar o novo pretendente a namorado. Por falar nisso, alguma sorte nessa busca?
- Nada. – respondi desanimada.
- Não esquenta vai aparecer, tenho certeza, você só não pode exigir perfeição, porque isso não existe! – nisso eu discordava totalmente da Shanti, a perfeição existia a duas portas de distância, mas preferi não falar nada.
Naquele noite ele chegou muito tarde, mais do que de costume e para meu espanto foi direto pro meu quarto.
- Posso entrar? – perguntou parado na minha porta.
- Claro. – disse sem olhar pra ele, continuei encarando a tela do computador.
Ele entrou e sentou-se no tapete, com as costas apoiadas na parede, mas sem falar nada, achei aquilo estranho e resolvi dar uma olhadela.
Ele estava de olhos fechados, com uma aparência cansada e abatida, meu coração balançou.
- Foco, Marina foco! – disse comigo mesma e voltei a olhar pra tela, foi então que ele disse algo que me fez perder completamente a compostura.
- Vou desistir do filme. – disse baixo.
- O que? – falei chocada, me virando pra ele e olhando dentro de seus olhos pela primeira vez desde o triste incidente.
- Vou desistir de tudo, Marina. – falou triste.
- Mas... Por que? – eu não conseguia acreditar - Você queria tanto, batalhou tanto por essa chance, por que está desistindo?
- Por que... Ah, isso é tão embaraçoso! – ele disse passando as mãos no rosto cansado.
- Fala logo, antes que eu tenha um troço! – agora eu tinha me levantado e sentado na frente dele de pernas cruzadas.
- Eu não sei dançar, não consigo aprender a coreografia do maldito Baile de Inverno! – ele confessou com o rosto vermelho de vergonha, eu abri a boca de espanto.
- Mas e os outros, também estão achando difícil? – ele riu sem humor.
- Alguns melhores, outros piores, mas nenhum é tão ruim quanto eu, pode estar certa disso! – encostou a cabeça na parede e novamente fechou os olhos, tive que me conter para não abraça-lo, coisa que eu faria em outros tempos.
Não podia acreditar que o Rob ia perder a grande chance da sua carreira por algo tão banal como uma coreografia idiota, eu mesma já tinha me apresentado várias vezes, pois há anos estudava ballet. Papai inclusive tinha mandado espelhar uma parede inteira do meu quarto e colocado uma barra para facilitar os meus treinos e foi olhando nessa direção que tive a idéia mais idiota da minha vida.
- Não, você não vai desistir! Eu vou treinar essa coreografia contigo até fazer seus pés sangrarem! – falei impetuosamente – Mas você não vai abandonar a chance da sua vida! – agora era ele que me olhava de boca aberta.
- Você está falando sério? – perguntou incrédulo.
- Alguma vez já falhei contigo? – disse decidida.
- Meu Muffin da Baunilha! – ele exclamou sorrindo.
Num momento ele estava me olhando agradecido, depois ele deu um grito de alegria e não sei como, no momento seguinte ele tinha se jogado completamente em cima de mim e já que era muito maior e mais pesado do que eu, perdi o equilíbrio caindo pra trás, com ele por cima, me abraçando e agradecendo sem parar.
- Você é incrível, maravilhosa, fantástica... – a cada elogio que ele me fazia, beijava minha testa, minha bochecha, meus cabelos, meu pescoço, eu estava sem fôlego com ele desabado em cima de mim e surtando com aquela proximidade toda, mesmo sendo por um motivo tão inocente, tive que fazer um esforço sobre humano para não retribuir o abraço tão esfuziante dele.
- Rob, ok... Mas estou sem ar... – e era verdade, ele se levantou imediatamente e respirei aliviada.
Quando consegui me sentar novamente, ele já estava de pé, andando de um lado pro outro.
- Já sei como vamos fazer! – ele disse – Amanhã te levo pro estúdio comigo para você aprender a coreografia junto com o restante do elenco, se for necessário te levo todo dia até você aprender e puder treinar comigo.
- Se não for problema pra você, pra mim tudo bem!
- Ótimo! Nossa, estou tão aliviado que até me deu fome, acho que vou fazer uma boquinha. Quer vir comigo? – ele perguntou.
- Não, obrigada, estou sem fome. – respondi, ele se virou e e foi pra cozinha.
Assim que ele se afastou, peguei o celular e liguei pra Shanti pra contar as novidades.
Já faziam quase dez minutos que a Shanti gritava sem parar no telefone, depois que contei a história toda.
- Aaaaaaaaaaaahhhhhhhhh! Você vai conhecer o tesudo do Dan,! Aaaaaaaaaahhhhhhh! Você vai conhecer a fofa da Emma! Aaaaaaaahhhhhhh! Você vai conhecer meu futuro marido Rupert! – e assim prosseguia sem parar.
- Puta que pariu, pára de gritar um pouco mulher, vou ficar surda! – gritei em resposta, finalmente ela sossegou e me deixou continuar.
- E agora como fica nosso plano? – perguntei.
- Não muda nada, você ajuda o Rob, mas continua secretamente torturando o porco até passarmos pra fase 3.
Terminei a ligação prometendo tirar fotos de tudo e dizer pro Rupert que ele já tinha uma noiva chamada Shanti.
No dia seguinte depois da escola, lá fomos eu e Rob, na van da produção do Harry Potter para os estúdios Leavesden, estava bastante nervosa mas ele me acalmou dizendo que o pessoal era bem legal.
Logo que chegamos percebi que o estúdio era enorme, parecia uma cidade, tínhamos que andar em carrinhos de golfe para cruza-lo. Depois que descemos de um desses carrinhos, fiquei olhando feito boba ao redor, surpresa com os cenários gigantescos, fui andando de costas sem olhar pra trás e quando me dei conta estava caindo de um degrau enorme e gritei.
Estava preparada para sentir um chão duro, mas surpreendentemente me vi segura por dois braços fortes e ouvi uma voz com um sotaque delicioso em meu ouvido.
- Se eu soubesse que choviam garotas bonitas na Inglaterra tinha vindo pra cá mais cedo.- disse a voz risonha.
Olhei pro rosto do meu salvador e ele me pareceu familiar, eu ainda estava muda de choque, mas consegui murmurar um agradecimento.
- As ordens, foi um prazer! Meu nome é Stan, mas se preferir pode me chamar de Krum.
- Marina, você tá bem? – perguntou Rob preocupado, me olhando lá de cima – Já vou descer!
- Acho que agora você pode me colocar no chão. – falei sem graça para Stan, pois ele continuava me segurando no colo, ele era um gato e tinha braços enormes.
- Você conhece o Rob? – perguntou curioso, me soltando.
- Claro que ela me conhece, somos irmãos. – respondeu Rob de forma possessiva ao ficar do meu lado.
- Irmãos? – ele perguntou surpreso, me olhando de cima a baixo – Puxa, ainda bem que você não disse que ela é sua namorada, já pensou ter que trabalhar com namorado ciumento? – disse sorrindo e piscando o olho pra mim, fiquei vermelha, ele tinha um sorriso sedutor.
- Marina, daqui pra frente, olhe por onde anda, ta bem? – Rob disse virando-se pra mim e ignorando Stan – Você nem pode pensar em se machucar agora, se não quem vai me ajudar?
- Ok, não precisa ficar nervoso! – respondi chateada.
- Você veio conhecer o estúdio? – Stan me perguntou e novamente o Rob respondeu por mim, me deixando ainda mais irritada.
- Não, ela veio dançar COMIGO. – ele parecia incomodado com alguma coisa e eu não consegui entender o motivo – Vamos, não quero me atrasar.
- Vou com vocês, também estava indo para a aula de dança. – observei que Rob fechou a cara ainda mais.
Caminhamos um pouco, entramos num corredor comprido, chegamos em frente a uma porta enorme, abrimos e entramos num salão espelhado.
Lá estavam todos eles, Dan, Rupert, Emma e outros que eu não lembrava o nome, fiquei super emocionada.
- Ai, são eles! – falei baixinho.
- Se controla e vê se não dá vexame. – Rob sussurrou no meu ouvido – Vem, vou te apresentar. – falou me puxando pela mão.
Eles estavam reunidos agrupados num canto, conversando tranquilamente, alguns sentados, outros em pé.
- Oi, gente! Essa aqui é minha irmã, Marina. – disse Rob, simples assim, e eu fiquei lá sorrindo.
- Oi, tudo bem? – foi o que consegui dizer para todos.
Emma se aproximou me dando um beijinho no rosto, acabou que depois todos os outros seguiram seu exemplo, me deixando super vermelha.
- Se a Shanti me visse agora, ia morrer de inveja! – pensei assim que o Rupert se aproximou.
- Quando eu vi você entrando segurando-a pela mão, pensei que fosse dizer que era sua namorada. – disse Dan brincando com o Rob – Mas ainda bem que não é.
- Você já é o segundo que me diz isso hoje. – falou Rob azedo.
- É mesmo? – perguntou Dan rindo – Quem foi o outro?
- O búlgaro. – respondeu.
- Relaxa e vai se acostumando, isso que dá trazer irmã gatinha no meio da rapaziada. – disse dando tapinhas no ombro do Rob.
- Fica tranqüila, Marina. – disse Emma do meu lado – Esses garotos latem, mas não mordem.
- Olha que eu já te dei umas mordidas... – brincou o Dan com ela.
- Até parece! – ela respondeu brincalhona e virou-se novamente pra mim – Vocês são bem diferentes, os garotos nunca iam imaginar que são irmãos. – disse apontando para o Rob.
- Eu sou adotada. – esclareci – Sou meio inglesa, meio brasileira.
- Ah, entendi! Nós temos um rapaz brasileiro no cast, peraí que vou te apresentar. – ela olhou ao redor e avistou alguém – Felipe, vem cá! – se aproximou de nós um rapaz alto e musculoso.
- Quero te apresentar a Marina, ela é irmã do Rob e é meio brasileira.
- Que legal! – disse me dando um beijinho no rosto – Você fala português?
- Falo, mas estou meio enferrujada. – respondi sem graça.
- Está é uma boa oportunidade de praticar. – falou sorrindo.
- Bem, então vou deixar vocês aqui praticando. – disse a Emma se afastando, dando uma piscadinha de olho.
- Você é mesmo irmã do Rob? – começamos a conversar em português.
- Sou adotada, sou neta de brasileiros, mas vivi minha vida toda aqui.
- A então está super adaptada! – ele era simpático, pensei - E aí está gostando do estúdio?
- Adorando, é incrível! E você como veio parar aqui? – perguntei.
- Sou lutador de capoeira, vou fazer uma participação como aluno da Durmstrang, quando eles chegam em Hogwarts.
- Que máximo!
- Quem sabe um dia a gente pode combinar de você assistir um treino meu.
- Boa idéia, eu...
- O que você pensa que está fazendo? – Rob apareceu me cortando e fuzilando com os olhos.
- Conversando. – respondi.
- Sei, mas agora chega de papo furado, quero te apresentar pro coreógrafo que acabou de chegar. – disse me puxando.
- Depois a gente combina. – Felipe ainda conseguiu dizer.
- Nossa, precisava ser tão grosso? – disse quando nos afastamos.
- Precisava ser tão "simpática"? – mostrei a língua pra ele.
Um homem alto e bem magro se aproximou de nós.
- Brad, quero te apresentar minha irmã, Marina. – nos cumprimentamos educadamente – Ela veio aprender a coreografia para treinarmos juntos, ela estuda ballet.
- É mesmo? Treinar com o Pattinson...Você é corajosa! – disse rindo para constrangimento do Rob – Você trouxe sua roupa de dança? – me limitei a confirmar com a cabeça – Ótimo, pode se trocar que já vou te ensinar.
- Vem por aqui. – Rob me chamou, mostrando onde ficavam os vestiários. Troquei de roupa rapidamente, prendi o cabelo e voltei para o salão.
- Vou te mostrar os passos básicos e você tenta me imitar, ok? – disse Brad.
- Sim. – respondi prestando atenção. Ele pediu que ligassem a música e começamos.
Os passos eram relativamente simples, só que tinham que ser bem ensaiados e o rapaz teria que rodopiar comigo no ar, estava com medo do Rob me deixar cair no chão.
- Acha que já assistiu o bastante? Quer tentar comigo agora? – Brad perguntou.
- Vamos tentar. – respondi.
Deslizamos pelo salão e a medida que dançávamos, Brad me corrigia, depois do quinto rodopio já começava a me sentir mais segura, percebi que agora todos nos observavam, parecendo gostar, paramos em frente ao Rob.
- Sua irmã é muito graciosa, Pattinson! Pena que essa qualidade não é comum a todos na família. – disse dando uma risadinha. – Podem começar a ensaiar. – me virei pro Rob.
- E então o que achou? – ele perguntou.
- Não é muito difícil, mas você tem se concentrar bastante para memorizar os passos e contar no ritmo certo.
- Parece tão fácil quando você faz, você pegou tão rápido! – ele me olhava surpreso.
- É porque já estou acostumada. Pronto pra começar? – ele me olhou nervoso.
- Não! Mas com dizem por aí, quem está na chuva é pra se molhar.- disse me pegando pela cintura.
- Você confia em mim? – perguntei olhando nos olhos dele.
- Sempre. – respondeu sorrindo.
- Então faça tudo o que eu mandar. – começamos a ensaiar.
No início ele pisou um bocado no meu pé, sempre se desculpando constrangido.
- Rob, pára de olhar pros seus pés, olha pro meu rosto e conte os passos mentalmente.
- Isso não vai dar certo!
- Vai, sim! Anda, faz e não discuta.
A primeira vez que ele me ergueu, rodopiando comigo confesso que pensei que ele fosse me derrubar no chão, mas inesperadamente ele me sustentou o tempo todo, me colocando no chão com cuidado.
- Parabéns, Rob. – ele sorriu de prazer com o elogio.
Já tínhamos dado no mínimo umas 20 voltas, mas já tínhamos progredido bastante.
- Ai, deixa eu sentar um pouco, preciso recuperar o fôlego! – ele falou enxugando o suor da testa.
- Já ficou cansado? Isso é que dá tanto cigarro! Você tá muito fora de forma. – senti uma mão na minha cintura.
- Posso ter a honra? – era o Stan, antes que eu pudesse responder ou o Rob reclamar, ele me puxou e começamos a dançar pelo salão.
Ele era ótimo dançarino, não errou uma única vez e me ergueu no ar com facilidade, sorria pra mim de um jeito encantador.
- Você dança muito bem. - elogiei.
- Obrigado, mas com uma parceira como você, não preciso fazer muito esforço. – ele retribuiu – O Rob escondeu você direitinho, muito esperto da parte dele.
- Como assim? – perguntei curiosa.
- Bom, ele nunca mencionou você antes, pelo menos até hoje e imagino que ele agiu assim porque sabia que no momento que o pessoal te descobrisse, não ia largar do seu pé. – disse flertando descaradamente.
- Nossa, como você é exagerado! – falei sem graça.
- Não posso garantir pelo os outros, mas da minha parte é o que eu faria, ou melhor pretendo fazer. – disse me apertando mais forte como para que reforçar o que dizia.
- Sempre ouvi dizer que franceses e italianos são os homens mais conquistadores da Europa, mas pelo que estou percebendo vão ter que incluir os búlgaros também. – ele deu uma sonora gargalhada.
- Que é isso Stan, monopolizando a garota mais bonita do salão? Não seja egoísta. – disse Felipe parado do nosso lado – Vem Marina, vamos ver se você tem mesmo sangue brasileiro nas veias. – disse me tirando dos braços do Stan, que pareceu não gostar nem um pouco.
Felipe fez um sinal para alguém que mexia no som, de repente começou a tocar um samba e ele saiu rodando comigo, eu me sentia numa gafieira. Ele grudou o corpo musculoso no meu enquanto requebrava, com uma de suas pernas entre as minhas. O pessoal começou a aplaudir a performance, enquanto desenvolvíamos passos mais elaborados.
- Acho que por hoje é só Amante Latino. – disse Rob colocando a mão no ombro do Felipe – Acabou por hoje, vamos pra casa.
- Ah, que pena! – disse Felipe me soltando – Estava realmente me divertindo!
- É deu pra notar. – falou enquanto me puxava pra longe.
- Precisava dar todo esse espetáculo? – ele disse.
- Olha estou aqui te fazendo um favor, isso não significa que também não posso me divertir com alguém que não pise nos meus pés! – respondi irritada.
- Com licença. – disse Emma se aproximando – Tchau, Marina foi um prazer conhecer você, espero que possa vir sempre aos nossos ensaios. Parabéns, você é muito talentosa! – disse me dando um abraço, que eu retribui agradecendo. Ela já estava se afastando quando voltou e disse rápido – Ah, só mais coisa, se eu não soubesse quem vocês são, eu juraria que são um casal de namorados brigando. – disse dando um sorrisinho malicioso antes de partir. Depois dessa só me restou sair dali e trocar de roupa.
Freqüentei os ensaios por uma semana e acabei ajudando não só o Rob, como outros membros do elenco, tirei fotos dançando com todo o elenco principal, quando levei as fotos pra escola todo mundo morreu de inveja.
Stan e Felipe ficavam se revezando pra chamar minha atenção e se antes o problema era arrumar um pretendente, agora o problema era decidir quem seria o escolhido.
- Ué, na dúvida fica com os dois. – disse Shanti como se fosse a coisa mal natural do mundo, olhei pra ela chocada com a sugestão.
No último dia de ensaio o Rob já estava dançando direitinho e sem erros, claro que ele nunca seria um dançarino profissional, mas pelo menos não ia mais pagar mico.
Chegamos em casa aquela noite e fui direto tomar um bom banho, confesso que estava exausta, tinha sido uma semana muito puxada tanto física, como emocionalmente. Fiz um lanche rápido e fui direto pra cama, mal tinha começado a ler uma revista quando o Rob apareceu também já de banho tomado, de cabelo molhado.
- Estou atrapalhando?
- Não, pode entrar. – falei enquanto continuava a ler a revista.
- Eu só queria agradecer pelo que você fez por mim essa semana. – ele disse com sinceridade.
- Não foi nada, tenho certeza que se fosse o oposto você faria o mesmo por mim.
- Sim, mas eu queria te agradecer de alguma forma especial, então resolvi trazer isto. – disse me mostrando algo parecido com uma embalagem de creme dental.
- O que é isso?
- Creme corporal relaxante, vou te fazer uma massagem caprichada nos pés! – disse já sentando na minha cama.
- Que? – falei constrangida – Não, precisa Rob, de verdade.
- Deixa de ser boba, isso é o mínimo que eu posso fazer. – disse pegando meus pés, colocando em cima de suas pernas cruzadas – Agora, relaxa e aproveita. - Relaxar? Eu estava mais tensa do que nunca!
Ele começou espalhando o creme pelo meu pé direito, depois iniciou um massagem deliciosa, fazendo movimentos circulares com os dedos. Comecei a sentir arrepios que me subiam pelas pernas e iam até meu último fio de cabelo, comecei a respirar mais rápido enquanto as sensações só aumentavam.
- Minha nossa e ele ainda está no primeiro pé! – pensei – Que tortura!
Quando ele começou a apertar mais forte, tive que morder o lábio pra não gemer. Eu nunca tinha tido um orgasmo, mas pelo que eu ouvia falar o que eu estava sentindo devia ser muito parecido.
- Estou te machucando? – ele perguntou de repente – Você está com uma cara engraçada, parece que está sentindo dor.
- Não, tô ótima é que eu tenho os pés muito sensíveis. – falei tentando disfarçar. Ele sorriu e passou a massagear o outro pé, enquanto eu cobria os olhos com meu braço.
- Huuummm... – acabei murmurando quando ele apertou um ponto especialmente sensível.
- Sabia que você ia gostar. – disse sorrindo angelicamente.
- Ai, aperta mais aí... – pedi
- Aqui?
- Isso, vai com força e não pára! – pedi completamente rendida.
- Deixa comigo!
- Ai, que delícia! – suspirei, ele soltou uma risada.
- Não parece que a gente ta fazendo um monte de sacanagem? – fui obrigada a rir também – Já ouvi falar que pra algumas pessoas os pés são zonas erógenas.
– Com certeza eu sou uma delas! – pensei.
- Pronto, acabei. Foi bom pra você?
- Foi ótimo, obrigada. – se ele ao menos desconfiasse o quanto tinha sido bom pra mim, de repente tive uma idéia. – Agora é a minha vez.
- Como assim? – ele perguntou surpreso
- Quero retribuir a delicadeza. – disse me levantando – Vem tira a camiseta e deita aqui de costas. – disse dando um tapinha no colcção, ele pareceu meio na duvida, mas acabou fazendo o que eu pedi.
Me sentei de pernas abertas em cima dele, peguei o tubo, coloquei uma quantidade generosa de creme nas mãos e comecei a espalhar nas suas costas. Comecei massageando seus ombros vigorosamente, sentindo os nódulos de tensão e me concentrando neles.
- Nossa, onde você aprendeu a fazer isso? – ele perguntou.
- Digamos que isso é um talento natural. – respondi.
- Você dança, faz massagem, me pergunto o que mais você sabe fazer bem... – ele disse rouco, preferi não responder.
Continuei fazendo a massagem, baixando as mãos lentamente até que me aproximei da sua calça e escutei um gemido. Me concentrei naquela região só por mais um tempo, parei, dei um tapinha rápido no seu bumbum e disse:
- Prontinho, pode levantar. – e sai de cima dele.
Foi aí que vi que seu rosto estava vermelho, suado e mordia meu travesseiro com força. A fase 2 do plano essa noite tinha sido um sucesso.
As filmagens começaram a exigir todo o tempo do Rob, acabou que foi necessário pedir uma dispensa da escola, para que desse atenção exclusiva ao filme. Ele e todo o elenco viajaram para a Escócia para filmagens externas, ficaram lá cerca de 1 mês.
Enquanto isso tive muito tempo para pensar nos meus sentimentos por ele, naquele plano maluco que havia seguido e nas escolhas que estava prestes a fazer. Eu amava o Rob, profundamente, desesperadamente, totalmente e tolamente. Sim, eu era uma tola por amá-lo tanto, a tanto tempo e sem a menor possibilidade de vê-lo concretizado, bastaria uma palavra dele para que jogasse tudo para o alto, eu daria qualquer coisa só por um simples beijo, por uma simples carícia que demonstrasse claramente que eu significava algo mais pra ele e não a irmãzinha.
Mas como a Shanti me lembrou tão bem, até quando esperar, até quando deixar de ter minha própria vida, de experimentar algo concreto, real e parar de viver apenas de sonhos e fantasias?
Foi com dor no coração e na alma, que decidi desistir dele, decidi virar essa página constantemente sem conclusão na minha vida. Shanti continuava me pressionando a acabar logo com aquilo, mas fui firme com ela ao esclarecer que um amor de uma vida inteira não se deixa assim, como se descarta um sapato velho, era necessário me despedir aos poucos, me despedir de todas as lembranças, de todos os momentos que passamos juntos, das risadas, dos sorrisos, das piadas, das lágrimas, das brigas, do toque, dos cheiros, tudo que simbolizasse ele. Me perguntava o que sobraria em mim, depois de todo aquele exorcismo, porque amá-lo era como estar possuída por uma força sobrenatural. Tudo o que sentia agora dentro de mim era um profundo vazio, se eu pudesse gritar por dentro, só meu próprio eco me responderia.
Foi nesse clima sombrio que o recebi, foi com uma frieza cortante que o respondia quando falava comigo e eu podia enxergar em seu olhar confusão, mágoa e ressentimento com minha mudança de atitude. E assim fui me afastando, destruindo pontes e desfazendo laços.
Na noite anterior ao evento coloquei o baby doll comprado com a Shanti em cima da cama, olhei-o indecisa até que decidi não usar, não senti necessidade e nem motivação, deixaria ele reservado para uma outra ocasião.
Chegou o dia da estréia do filme, toda a família ia comparecer ao evento, era uma ocasião de gala, me arrumei com todo o cuidado, o melhor penteado e a melhor maquiagem, porque decidi que aquele seria o dia definitivo na minha transformação, meu futuro parceiro já estava definido.
Logo depois da apresentação do filme haveria um jantar e em seguida uma festa fechada num night club, só para VIPS e como irmã do Rob e amiga de quase todo o elenco, claro que havia sido incluída nessa comemoração. Decidi que lá se daria o desfecho final e iniciaria uma nova fase na minha vida. O Rob também tinha avisado que logo na manhã seguinte a estréia, ele e boa parte do elenco viajariam por duas semanas percorrendo vários países para divulgar o filme.
Coloquei meu vestido de tafetá tomara que caia, era num tom de verde oliva, com bordados e detalhe em vinho, um pouco acima do joelho. Ainda bem que o sutiã que eu tinha comprado com Shanti tinha alças removíveis, tinha chegado o dia de usar a lingerie que me faria sentir poderosa.
(Nota da autora: confiram o vestido da Marina no link abaixo.)
Fiz um rabo de cavalo estiloso, brincos compridos para combinar, salto agulha, uma boa borrifada de perfume e estava pronta.
Tinha acabado de tirar minha carteira de motorista e iria dirigindo o carro da mamãe, porque nossos pais voltariam pra casa logo depois do jantar e eu iria seguir pro night club, infelizmente dando carona pro Rob. Peguei meu casaco, bolsa e desci as escadas.
- Uau, nossa princesa está linda! – disse papai assim que me viu, tirando uma foto, eu pisquei os olhos com o flash.
A família estava toda reunida na sala, minhas irmãs também estavam presentes, todos vestidos muito elegantes, meu olhar percorreu o ambiente e quando encontrei Rob senti o familiar aperto na boca do estômago, ele estava tão lindo com aquele cabelo cuidadosamente despenteado, calça social preta, camisa social cinza e palitó preto risca de giz. Desviei rapidamente o olhar, evitaria olha-lo o máximo possível essa noite, queria me concentrar totalmente no meu objetivo, o que não o incluía.
Tiramos várias fotos todos juntos, evitando fotos ao lado dele, mas foi impossível quando mamãe sugeriu.
- Vai Rob, só ficou faltando uma foto sua com a Marina! – disse fazendo um gesto com a mão para que nos aproximássemos.
Olhei pro Rob, ele estava sério, se aproximou de mim e ficamos parados, de pé, retos, um ao lado do outro.
- Que caras são essas? Vamos sorriam e se abracem! – encorajou mamãe.
Não tivemos outra solução, nos abraçamos pela cintura e demos sorrisos forçados. Assim que papai tirou a foto, nos afastamos rapidamente.
- Ok, já ta bom, né? Não quero me atrasar! – Rob disse andando em direção a porta.
Entrei no carro e em seguida ouvi a outra porta se abrindo, vi Rob entrando, se sentando ao meu lado e colocando o cinto, dei partida no carro e engatei a primeira. Andava devagar pelas ruas, nervosa por ser a primeira vez que dirigia oficialmente e por estar com ele ao meu lado.
- Nessa velocidade vamos chegar amanhã! – disse impaciente.
- Quem sabe agora que você ficou famoso e cheio da grana, compre um carro pra você e aprende a dirigir. – rebati.
- Não gosto de dirigir. – ele disse fazendo uma careta.
- Como você pode dizer que não gosta, se nunca aprendeu?
- Você não precisa tomar veneno pra saber que é perigoso, não é mesmo? Além disso carros me deixam nervoso. – disse encerrando o assunto, mexendo as mãos sem parar.
- Você está nervoso? – perguntei.
- Muito! Vai estar cheio de gente lá, olhando, tirando fotos, você sabe como me sinto em multidões! – desabafou, rindo nervosamente.
- Fica tranqüilo, tenho certeza que o filme vai ser um sucesso. – disse tranqüilizando-o – Respire fundo, sorria e pense: "Sou talentoso, bonitão, fiz um bom trabalho e minha roupa está arrasando!"
- Você realmente pensa isso? – ele perguntou olhando fixamente meu rosto.
- Que você é talentoso? Claro, já te disse isso várias vezes! – respondi distraída.
- Não, a outra parte, você realmente me acha bonitão? – ele sorria cinicamente agora – Gostou da minha roupa? - tive vontade de morder a língua por ter dito aquilo, droga, agora não poderia voltar atrás.
- Olha, você sabe que tem boa aparência, certo? – disse irônica – E sim, gostei da sua roupa, ficou muito elegante. – senti que ele me olhava de alto a baixo.
- Também gostei muito da sua, está muito sexy. – quase bati o carro quando ele disse isso, freando abruptamente – Ei, cuidado, quero chegar vivo! – ele reclamou nervoso se segurando na porta.
- Então pára de me distrair e me deixa dirigir! – ficamos em silêncio até chegar ao nosso destino.
O lugar estava uma loucura atores, jornalistas, convidados, fãs, curiosos, gente gritando histéricamente, seguranças, policiais. Guiei o carro com dificuldade até um estacionamento reservado, assim que saímos do automóvel, comecei a ouvir:
- Aaaaaaaahhhhhhhhh! Chegou o gato do Cedric! – tinha uma garotada enlouquecida gritando pelo Rob.
- O que eu faço agora? – ele me perguntou nervoso.
- Vai lá, fale meia dúzia de bobagens para os jornalistas, sorria muito, dê autógrafos, tire fotos e aproveite! Esse é o seu momento! - disse começando a me afastar.
- Não! Fica comigo, por favor! – ele estava realmente apavorado.
- Robert, calma! – disse parando a sua frente – Vai dar tudo certo, respire fundo, vamos! – tentei puxá-lo, mas ele não se mexeu.
- Espera, antes de ir você faria uma coisa por mim? – pediu segurando minha mão.
- O que?
- Me dá um abraço de boa sorte. – pediu.
Olhei seu rosto, coisa que estava evitando fazer até agora e vi um par de olhos muito azuis suplicantes, olhos de menino, os mesmos olhos que vi tão curiosos, descendo a escada na primeira vez que cheguei em nossa casa tantos anos atrás. E eu soube mais uma vez, não importava que eu já tivesse desistido dele, não importava quantos homens passariam por minha vida no futuro, eu sempre amaria aqueles olhos, até meu último suspiro.
Me aproximei dele, ergui os braços e o abracei pelo pescoço, ficando na ponta dos pés, sentindo o cheiro maravilhoso de sua colônia em seu pescoço, ele retribuiu me abraçando pela cintura, me apertando contra seu peito e respirando profundamente.
- Obrigado, você sempre me acalma. – sussurrou no meu ouvido.
- Ok, agora vamos, já estamos atrasados! – disse me afastando, tentando conter a emoção.
Entramos juntos no tapete vermelho, mas logo ele foi parado pelos jornalistas e fotógrafos, continuei andando até entrar no cinema, nossa família já estava sentada nos lugares reservados, nos aguardando.
- Vocês demoraram! – disse Vicky quando sentei ao seu lado.
- Lá fora está uma loucura, um monte de gente chamando o Rob! – respondi.
- Imagino! – ela concordou.
Depois de um bom tempo chegou o Rob, sorrindo e com os olhos brilhando, sentando-se ao meu lado.
- Consegui, ufa!
- Vá se acostumando, isso é só o início! – disse Vicky.
As luzes finalmente se apagaram e o filme começou. Estávamos todos ansiosos, na hora que passou o Baile do Inverno, não resisti, me virei pra ele e perguntei:
- Quantas vezes você pisou no pé da Katie Leung? – que era seu par no filme.
- Só duas. – respondeu rindo.
Na hora que o Voldemort matava o Cedric, não me contive e chorei mesmo.
- Fala sério, Marina! – disse Rob tirando um lenço do bolso.
- Ah, cala a boca! – respondi embaraçada, pegando o lenço que ele estendia e assoando o nariz.
O filme terminou e começou a hora dos cumprimentos, todo mundo feliz e orgulhoso do resultado, parabenizei todo o elenco, tirei um monte de fotos.
Senti uma mão na minha cintura e uma voz macia com sotaque carregado no meu ouvido.
- Alguém já te disse que está linda essa noite?
- Oi, Stan! Obrigada, você também está ótimo! – falei observando suas roupas – Parabéns pelo filme, está maravilhoso!
- Obrigado. – disse sorrindo – Você vai conosco na comemoração, mais tarde?
- Claro, não vejo a hora! – disse sorrindo insinuante.
- Ótimo, quero dançar com você a noite toda. – disse claramente demonstrando suas intenções ao apertar ainda mais minha cintura.
- Combinado, a gente se vê lá. – ele me deu um beijo no rosto e saiu piscando o olho.
- O que o búlgaro queria? – perguntou Rob, surgindo de repente.
- Não é da sua conta. – respondi friamente, irritada com seu tom de voz, nos encaramos com raiva.
- Então, vamos jantar? – perguntou mamãe surgindo atrás de nós.
O jantar foi num salão imenso, todo decorado com símbolos e imagens do filme, nos sentamos numa mesa redonda reservada para nossa família. O diretor do filme chegou e todos o aplaudimos, ele ergueu os braços pedindo silêncio e fez um breve discurso de agradecimento, no final entraram vários garçons servindo taças de champagne e brindamos a boa sorte do filme e de todos. Voltamos a nos sentar, a comida começou a ser servida e devoramos tudo com vontade, estávamos famintos e a comida deliciosa. Depois de uma maravilhosa sobremesa de Petit Gateau de Chocolate, começamos a nos despedir.
- Está pronta? – perguntou Rob.
- Sim, só vou colocar meu casaco. – respondi.
Voltamos para o carro e nos dirigimos ao night club que não era muito longe dali. Deixei o carro no estacionamento, saímos e fomos em direção a porta do club. Era uma imensa casa de dois andares, lindamente decorada no estilo art-decó, com mesas e cadeiras ao redor de uma imensa pista de dança, as luzes coloridas piscavam hipnoticamente no salão semi-iluminado, a música envolvente tocava vibrando por todo o espaço, várias pessoas já dançavam.
- Rob, agora cada um por si. – falei me virando pra ele.
- Como assim? – ele perguntou desconfiado.
- Quero dizer, que vou procurar minha turma e você procure a sua. Até mais!– disse me afastando dele, rindo ao deixa-lo lá, parado de boca aberta.
Passou um garçom servindo champagne e peguei uma taça, essa era minha noite e eu ia aproveitar cada momento dela.
- Finalmente encontrei a minha dama. – disse Stan surgindo atrás de mim – Pronta pra fazer dessa, uma noite inesquecível? – sorri pra ele, acabando de beber o champagne.
- O que estamos esperando? – falei, ele sorriu de volta, pegou meu copo vazio, colocando numa mesa próxima, em seguida pegou minha mão, deu um beijo nela, olhando-me fixamente, o que me fez arrepiar de expectativa e me conduziu a pista onde tocava Hollaback Girl da Gwen Stefani.
- Adoro essa música! – gritei pra ele.
- Eu também! – ele respondeu animado.
Começamos a dançar, rindo e brincando, nos requebrando com o ritmo alucinante. As músicas mudavam e nos soltávamos completamente, cantando junto o que mais gostávamos, de vez em quando bebendo mais taças de champagne gelado para refrescar. Quando começou My Humps do Black Eyed Peas, me soltei completamente, remexendo os quadris de forma sensual. Stan logo se animou, me segurando pela cintura e me puxando para perto do seu corpo, ficando bem próximos, movendo nossos corpos no mesmo ritmo.
- "She drives me crazy!" – ele cantava a música no meu ouvido e dei uma risada.
Ao tocar Feel Good Inc. do Gorillaz o Stan surtou de vez, me pegando pelo quadril, me virando e grudando minhas costas no peito largo dele.
- Estava louco pra dançar essa música com você! – falou enquanto cheirava meu pescoço.
Nessa hora ergui o rosto e vi Rob do outro lado salão, ele estava com uma cerveja na mão, ao lado de algumas pessoas que conversavam, mas parecia não estar prestando nenhuma atenção pois olhava disfarçadamente em minha direção, por um momento nossos olhares se cruzaram e senti o Stan beijando meu pescoço. Fiz questão de encarar o Rob fixamente nesse momento, adorando a sensação de vingança ao registrar o resultado da carícia do Stan, vendo o rosto furioso do Rob. Mais músicas se sucediam, pedi licença ao Stan por um momento para ir ao toalete, o banheiro era enorme com uma imensa bancada de mármore preto que ia de uma parede a outra, me olhei no espelho refazendo a maquiagem e passando as mãos no cabelo, os rosto afogueado, os olhos brilhando, me sentia ótima, poderosa, Stan me aguardava lá fora e eu iria até o fim. Ao sair peguei outra taça de champagne, mas alguém retirou-a rapidamente das minhas mãos.
- Chega, você já bebeu muito! – disse Rob ao meu lado.
- Quando você bebe, parece nunca ser demais! – falei irritada.
- Você não está costumada e isso não é suco! – rebateu.
- Vá cuidar da sua vida! – falei furiosa, me afastando dele.
- Está tudo bem? – perguntou Stan, observando meus olhos tensos.
- Tudo bem, só o Rob com essa mania de tomar conta de mim que me irrita! – desabafei.
- Esquece, vem a noite ainda é uma criança. – sorri, deixando-me guiar por suas mãos fortes.
De volta na pista dançamos várias outras músicas, rolando mais champagne, agora com nossos corpos se roçando sugestivamente, ao tocar Candy Shop do 50 Cent, grudamos nossas pernas e ouvi o Stan gemer baixinho, suas mãos descendo e subindo por minhas costas.
- O que você acha de irmos para um dos reservados lá em cima? – disse mordendo minha orelha, me deixando excitada, confirmei fazendo um gesto com a cabeça e ele sorriu animado.
Saímos da pista, subimos a escada que dava acesso a um balcão onde várias dançavam, admirando a pista lá em baixo, algumas se abraçando ou beijando. Vi também várias portas, o Stan ia na frente, a maioria já ocupada, até que ao abrir uma, entrou e me puxou com ele. Entramos numa sala pequena, iluminada por um abajur no canto, um sofá imenso de couro preto cobria toda a parede, com uma mesa ao centro. Ele sentou-se no sofá, comigo ao seu lado, me abraçou com carinho e com uma das mãos segurou meu rosto.
- Você é tão linda. – ele disse aproximando o rosto do meu.
- Ai, caramba, vai ser agora, meu primeiro beijo! – pensei ofegante, fechando os olhos, sentindo o calor do seu hálito na minha pele.
Inesperadamente a porta se abriu com violência, nos fazendo pular surpresos.
- O que você pensa que está fazendo? – gritou um Rob furioso, entrando na sala.
- Saia já daqui! – gritei igualmente furiosa, pondo-me de pé.
- Chega desse espetáculo, você já foi longe demais! – ele gritou de volta.
- Calma, Rob... – disse Stan tentando acalmar a situação.
- Com você eu me acerto depois! – ameaçou Rob.
- Cala a boca, Rob! Você não vai se acertar com ninguém, muito menos com o Stan, você não manda na minha vida!
- Vem comigo agora, Marina!
- Nem pensar, você não é NADA meu para dizer o que faço ou o aonde vou!
- Marina, esse é o último aviso, vem comigo agora! Ou você vem por bem, ou vem por mal!
- Nem amarrada! – gritei.
- Eu te avisei! – subitamente Rob me agarrou pela cintura, me jogando em seu ombro, indo pra porta.
- Peraí Rob, vamos conversar... – ouvi Stan dizer.
Rob virou-se pra ele e disse apontando o dedo.
- Você fica fora disso, isso é assunto de família! – em seguida saiu porta a fora, comigo esperneando jogada em seu ombro, tentando chuta-lo com minhas pernas, xinguei-o com todos os palavrões que eu conhecia, até inventei uns novos, as pessoas nos olhavam assustadas.
Ele desceu as escadas comigo assim e como eu não parava de lutar, entrou comigo por uma porta, colocando-me no chão ao entrar, vi então que era o banheiro feminino que tinha ido anteriormente, completamente furiosa vi Rob trancando a porta e se virando pra mim.
- Você enlouqueceu? – gritei.
- Quem parece ter enlouquecido é você! – gritou de volta.
- Você não tinha esse direito! Você não é meu pai!
- Duvido que você fosse se comportar desse jeito na frente dele! Rebolando, se agarrando com um quase desconhecido na pista de dança, bebendo sem parar...
- Pode parar! – cortei – Eu estava me divertindo, dançando como todo mundo e o Stan não é um desconhecido! Já vi você fazer coisa bem pior nos pubs que frequenta com suas "amiguinhas"!
- Isso é diferente, Marina!
- Não, não é diferente, estamos no século XXI, direitos iguais, lembra? Nunca vou te perdoar por me fazer passar essa vergonha, agora suma daqui! – disse virando de costas pra ele, tremendo de raiva.
- Nunca pensei que um dia fosse te ver fazendo papel de VADIA! – aquela foi a gota d'água, me virei rápido e dei um sonoro tapa na cara dele.
Fiquei olhando pro rosto dele virado com o meu tapa, seus olhos fechados, vi as marcas vermelhas que os meus dedos fizeram em sua pele e me dei conta de que tinha ido longe demais. Ele virou o rosto pra mim, numa máscara de fúria que me fez gelar até os ossos, seus olhos fervendo numa raiva intensa, já tinha aberto a boca para me desculpar, quando ele me agarrou pelos braços com força, quase me machucando.
- Você não sabe que só existe um castigo para a mulher que bate em um homem? – e me puxando com violência esmagou meus lábios com os dele.
Fui pega completamente de surpresa com aquele ataque repentino, Rob me apertava com força, sua boca obrigando a minha a se abrir, bati com os quadris na bancada, enquanto ele me pressionava com seu corpo.
Senti sua língua invadir a minha boca, obrigando uma rendição total, literalmente me senti sendo devorada por ele. Estava em choque com seu ataque, me segurei em seu pescoço para não cair, até que o beijo foi mudando de intensidade, indo da raiva para algo mais lento e sensual, sentia sua língua se movendo dentro da minha boca, ele deve ter percebido minha inexperiência porque se afastou por um momento e sussurrou:
- Relaxa os lábios e mexe sua língua junto com a minha. – disse respirando rápido.
Olhei rapidamente em seus olhos e não vi mais raiva, apenas desejo, fechei os meus e aguardei ansiosa, me entregando ao momento. Primeiro senti seu hálito, uma mistura de bebida, cigarro e saliva que me deixou inebriada, depois senti o toque suave de seus lábios nos meus, senti uma de mãos em minha nuca enquanto a outra me segurava pela cintura, com firmeza e carinho. Nossas bocas se moviam em harmonia e quando nossas línguas se encontraram pela primeira vez o abracei fortemente junto a mim.
O estouro de uma manada de búfalos furiosos, a explosão de uma bomba nuclear, o impacto de um meteoro, tudo isso era pouco ao tentar expressar as emoções que foram liberadas naquele momento, sensações fortes e intensas demais que vinham em ondas cada vez maiores, sentia como se estivesse me afogando em fogo líquido, se é que isso era possível. Quando me dei conta, estava deitada em cima da bancada, com o Rob deitado em cima de mim, fazendo pressão com seu corpo, ele finalmente soltou minha boca e começou a beijar meu pescoço enquanto suas mãos passeavam por mim. Pareci ouvir batidas na porta, mas não tinha certeza pois Rob nessa hora voltou a atenção novamente pra minha boca, me dando mais um beijo arrasasador, sugando minha língua e me fazendo arder em chamas, o abracei ainda mais forte, porém agora eu ouvia que estavam realmente esmurrando a porta e desgrudei a minha boca da dele.
- Rob... – falei sem fôlego – Tem gente batendo na porta, querendo entrar.
- Eles podem esperar. – falou enquanto mordia minha orelha.
- Abram essa porta ou vamos arrombar! – ouvi uma voz de homem ameaçando.
- Rob, por favor, vamos sair daqui! – implorei criando coragem e empurrando-o com minhas mãos.
Ele olhou meu rosto e vi tanto desejo em seus olhos que senti minhas pernas ficarem moles, mas ele pareceu me ouvir dessa vez pois se levantou, me puxando com ele.
- Já vamos! – disse Rob ajeitando suas roupas e cabelo, fiz o mesmo me olhando rapidamente no espelho, alisando o vestido e passando a mão no cabelo.
Rob abriu a porta e demos de cara com um segurança mal encarado.
- Algum problema Srta.? Esse cavalheiro a está molestando? – perguntou se dirigindo a mim, já preparado para partir pra cima do Rob.
- Não, está tudo bem, garanto! – respondi rápida.
- Tem certeza? – ele perguntou, confirmei afirmando com a cabeça e depois dele lançar mais um olhar ameaçador pro Rob, partiu.
- Vem! – disse Rob me puxando pela mão.
- Aonde vamos? – eu ainda estava atordoada e tropeçava sem parar.
- Você ainda não dançou comigo essa noite. – ele respondeu me conduzindo a pista de dança.
Ao chegarmos na pista começou a tocar Don't Cha das Pussycat Dolls, ele se agarrou comigo e começamos a dançar mexendo os quadris de forma sensual no ritmo da música, se é que aquela ralação toda podia se chamar de dança. Eu não conseguia parar de olhar seu rosto, vermelho, excitado, olhos brilhando e dando aquele meio sorriso que acabava com as boas intenções de qualquer garota. A música mudou para uma mais tranqüila, You And Me do Lifehouse e aquilo ajudou a nos acalmar um pouco, sentia um clima de encantamento no ar, entrelaçamos nossas mãos, pousei minha cabeça em seu peito sentindo seus lábios em meu cabelo enquanto nos movíamos de um lado para o outro.
"Que dia é hoje e de que mês?
Esse relógio nunca pareceu tão vivo
Eu não consigo prosseguir e não consigo voltar
Tenho perdido tempo demais
Porque somos você, eu e todas as pessoas
Com nada para fazer, nada para perder
E somos você, eu e todas as pessoas e
Eu não sei porquê
Não consigo tirar meus olhos de você
Todas as coisas que quero dizer
Não estão saindo direito
Estou tropeçando nas palavras
Você deixou minha mente girando
Eu não sei pra onde ir daqui
Porque somos você, eu e todas as pessoas
Com nada para fazer, nada para provar
E somos você, eu e todas as pessoas e
Eu não sei porquê
Não consigo tirar meus olhos de você
Existe algo sobre você agora
Que não consigo compreender completamente
Tudo o que ela faz é bonito
Tudo o que ela faz é certo
Porque somos você, eu e todas as pessoas
Com nada para fazer, nada para perder
E somos você, eu e todas as pessoas e
Eu não sei porquê
Não consigo tirar meus olhos de você
Você, eu e todas as pessoas
Com nada para fazer, nada para provar
E somos você, eu e todas as pessoas
E eu não sei por que
Não consigo tirar meus olhos de você
Que dia é e em que mês?
Este relógio nunca pareceu tão vivo..."
Começou a tocar Breakaway da Kelly Clarkson e reparei vários casais se formando na pista. Ele me abraçou pela cintura, enquanto passava minhas mãos atrás de seu pescoço e nos deixamos envolver pela melodia.
"Eu abrirei minhas asas e eu aprenderei como voar
Eu farei qualquer coisa para tocar o céu
Faça um desejo, aproveite a chance,
Faça uma mudança, e jogue tudo pro alto.
Fora da escuridão em direção ao sol.
Mas eu não esquecerei todos os que eu amo.
Tenho que correr o risco, ter uma chance,
Fazer uma mudança, e me libertar."
- Quero que todos vejam que você é minha. – ele sussurrou no meu ouvido e tremi de alegria ao ouvir aquelas palavras.
Olhávamos nos olhos um do outro completamente esquecidos do que rolava ao nosso redor, senti seu rosto se aproximando do meu mais uma vez, fechei meus olhos e ele me beijou com tanta ternura que juro que se ele não estivesse me segurando tinha caído ali mesmo. Abracei ele firme, passando minhas mãos por seu cabelo, sentindo a textura de seus lábios quentes, macios e o sabor da sua língua na minha. Quando o beijo acabou, dei uma olhada rápida ao redor e pude ver vários pares de olhos surpresos, algumas pessoas rindo discretamente e outras descaradamente apontando pra gente. Fiquei um pouco sem graça, afinal cheguei na festa como irmã dele e agora aparecíamos nos agarrando daquele forma, pra quem assistia devia ser no mínimo esquisito.
- Vamos embora? – ele sugeriu.
- Vamos. – respondi, naquele momento eu iria até o inferno se ele pedisse, desde que fosse com ele. Fomos pegar meu casaco e minha bolsa.
- Melhor você me dar a chave do carro. – ele pediu.
- Mas você não sabe dirigir. – argumentei.
- E você não está em condição de dirigir depois de tanta champagne. Vou pedir pra alguém da produção levar o carro pra gente e nós vamos de táxi. – fui obrigada a concordar com seus argumentos e entreguei a chave a ele.
Saímos de mãos dadas na noite fria.
- Onde você quer ir? – ele perguntou, pensei por um momento.
- Estou com fome. – acabei por responder.
- Ótima pedida, vamos comer alguma coisa. – ele concordou sorrindo, parando um táxi.
Já era muito tarde, quase tudo já estava fechado, então resolvemos parar no primeiro McDonald's que encontramos aberto. Eram quase 3 da manhã quando nos aproximamos de mãos dadas da moça no caixa.
- Vou querer uma promoção do McNífico, com Coca e duas tortas de maçã. – ele falou logo de cara.
- E a sua namorada? – a moça perguntou sorrindo.
Fui pega completamente desprevenida com aquela pergunta. Namorada? Até a pouco era irmã, agora ao me ver ser chamada de namorada por uma desconhecida me deixou sem fala.O que será que eu era pro Rob nesse momento? Não tinha certeza. Como eu continuava muda, a atendente virou-se novamente pro Rob.
- Ah, eu já sei, pra ela pode pedir uma promoção do McFish, com laranja e um sunday de morango com muito amendoim. – ele respondeu por mim.
- Legal quando o namorado da gente conhece nossos gostos, né? – comentou a garota sorridente e eu quis sumir, Rob não parecia nem um pouco perturbado.
- Se você quiser pode ir se sentar, que eu levo a bandeja. – ele sugeriu, sai dali na mesma hora, antes que pudesse ouvir outro comentário daqueles.
Escolhi uma mesa ao lado de um espelho e pude dar uma boa olhada no meu rosto. Estava com as bochechas muito rosadas e um olhar estranho, parecia que estava com febre, o cabelo um pouco despenteado mas ainda no lugar, os lábios completamente sem batom e sorri comigo mesma ao lembrar do motivo, acabei por dar uma risadinha, achando graça no meu reflexo.
- O que é tão engraçado? – perguntou Rob ao se aproximar, sentando-se na minha frente.
- A vida. – respondi alegre – Oba estou faminta! – disse avançando no sandwich e procurando as batatinhas.
Enquanto comia continuei me olhando no espelho, analisando meu rosto, minha expressões, me olhando analiticamente até que ouvi uma risadinha.
- Você fica muito engraçada bêbada. – ele disse rindo.
- Bêbada? Estou bêbada? – perguntei surpresa.
- Bem, não muito, só de pilequinho na verdade. Mas você esta muito engraçada comendo McFish e se olhando nesse espelho, com um olhar de quem está "toda se querendo". – não tive como não rir do comentário dele.
- Peraí, isso merece ser registrado, seu primeiro pileque.. – ele pegou o celular e mirou na minha direção, fiz uma pose segurando o sanduba e ele tirou a foto.
A gente continuou comendo com aquela naturalidade de quem se conhece a vida toda, rindo, brincando, fazendo comentários bobos sobre alguém que entrava e caindo na risada.
- Senti muito falta disso. – ele disse segurando minha mão por cima da mesa.
- Do que?
- De estar assim com você, conversando sem estresse, falando um monte de bobagem, sem julgamentos, sem brigas. Você tem estado muito diferente de uns tempos pra cá. – baixei os olhos e dei um suspiro – Por que? Por que você mudou tanto? – ele perguntou com um olhar triste.
- Você não desconfia? – disse olhando para nossas mãos unidas.
Ele segurou meu queixo com sua outra mão me obrigando a encará-lo.
- Nós? – ele perguntou me olhando nos olhos – É esse o motivo?
- Sempre foi. – confirmei, não precisava dizer mais nada por enquanto, eu sabia que ele tinha entendido.
Ele se levantou e sentou-se ao meu lado, passando o braço por trás de mim.
- Mas agora esse motivo não existe mais. – ele disse carinhosamente.
- Não? – perguntei insegura.
- Não. – ele disse mexendo no meu cabelo – Você acha que agora que eu provei o gosto da sua boca vou te deixar fugir? – senti várias borboletas voando pelo meu estômago quando o ouvi dizer aquilo.
- Quem disse que quero ir embora?
- Não sei, nunca se sabe quando pode aparecer um gavião na área. – fui até seu ouvido e sussurrei:
- Nunca houve outro, só você. – já ia afastar meu rosto, mas ele me segurou pela nuca impedindo que eu me afastasse.
- Você não espera dizer uma coisa dessas no meu ouvido e sair ilesa, não é? – disse com um sorriso na voz e me beijando apaixonadamente em seguida.
Quando terminamos o beijo ele estava tão sem fôlego quanto eu, encostando sua testa na minha.
- Deixa eu tirar uma foto da gente junto. – ele colocou o rosto ao lado do meu, ergueu o celular e sorrimos.
- Vamos namorada? – ele disse ao se levantar, olhei pra ele ainda sem acreditar que tudo aquilo estava acontecendo.
- Namorada? Tem certeza? – perguntei abraçando-o pela cintura.
- Longe de mim contrariar uma caixa do McDonald's! – disse me dando um beijo rápido no nariz.
Pegamos um táxi e fomos pra casa, o carro da mamãe já estava estacionado bem em frente.
- Puxa, esse pessoal do Harry Potter é realmente eficiente. – comentei já na calçada.
- Com certeza. – ele confirmou - Mas é melhor a gente colocar logo o carro dentro da garagem, não é?
- Sim, é melhor. – concordei – Cadê a chave?
- Ta aqui, no lugar que eu combinei. – disse pegando embaixo do capacho e me entregando – Você está bem para guiar o carro lá pra dentro?
- Tranqüilo, pode deixar. – ele entrou ao meu lado no carro e manobrei sem problema, abrindo a garagem com o controle remoto.
Entramos, parei o carro e ficamos em silêncio, vendo o portão da garagem se fechar atrás de nós, só as luzes do painel nos iluminando.
- Já quer subir? – ele perguntou.
- Qual é sua sugestão?
- Hum, eu podia colocar uma música aqui pra gente. – disse já mexendo no som, em seguida comecei a ouvir Collide do Howie Day, estava rolando o maior climão. Olhei pro relógio, passava um pouco das 4 horas da manhã.
- Que horas eles vem te pegar? – perguntei.
- 6:30h. – respondeu desanimado.
- Você não vai dormir nada! – falei preocupada.
- Não vai ser a primeira vez.
- Então... a gente não tem muito tempo, né?
- Não. – respondeu baixinho.
Primeiro nos olhamos assim meio de lado, quase com timidez, no segundo seguinte nos atiramos um ao outro, nos beijando com avidez. Eu sentia uma urgência diferente no Rob, talvez fosse por causa do pouco tempo que tínhamos antes dele viajar. Ele parou de me beijar, virando-me inesperadamente, me puxando e me colocando sentada de lado em seu colo, encostando minhas costas na porta ao lado dele. Ele começou a beijar e chupar meu pescoço, me provocando sensações desconhecidas e intensas. Movi minhas mãos para sua camisa e comecei a desabotoá-la, tinha aberto o primeiro botão quando suas mãos me soltaram e seguram as minhas.
- Peraí, eu tenho uma idéia. - disse abrindo a porta do nosso lado e saindo do carro, deu a volta, e abriu a outra porta onde no momento estavam meus pés, vi ele arrancar o palitó rápido e jogar no banco de trás, em seguida ele me puxou pelos tornozolos, de maneira que fiquei deitada nos dois bancos da frente, a cabeça numa porta, os pés na outra. Ele entrou no carro, ficando exatamente em cima de mim, pressionando minhas pernas com a dele, se sustentando em seus braços.
- Melhor? – ele perguntou sorrindo.
- Muito melhor. – disse puxando-o pra mim pela camisa.
Nos beijávamos completamente entregues ao momento, passava minhas mãos sem parar pelos seus cabelos, descia por seu pescoço e seguia pelas sua costas. Ele soltou minha boca, percorrendo meu pescoço com seus lábios, brincando com minha orelha, mordendo-a de leve e voltando pro meu pescoço. Minhas mãos passaram pra frente da sua camisa voltando a desabotoá-la, quando acabei de abri-la, ele parou o que fazia e segurou minhas mãos.
- Marina, acho que isso não é uma boa idéia. – falou tentando controlar a respiração.
- Como assim? – perguntei, confusa.
- Você não está acostumada com isso, não quero ir ... longe demais com você. – falou me encarando.
Não sabia porque mas aquela rejeição fez aflorar em mim todos os meus complexos reais e imaginários. Será que ele não me queria por não me achar bonita ou por não me achar experiente o suficiente pra ele? Rob me conhecia muito bem, ele logo viu no meu rosto que havia alguma coisa errada.
- O que foi? Por que essa ruga aqui? – disse tocando minha testa com a ponta de seus dedos.
- Nada. – falei.
- Desembucha, Marina! Se você não disser vou ficar maluco tentando adivinhar. – permaneci em silêncio, ele analisou meu rosto mais um pouco – Te magoei, não foi? – neguei com a cabeça mas na mesma hora meus olhos se encheram de lágrimas traidoras.
- Marina... Você está chorando? – ele parecia apavorado – Por favor, não faz isso, anda fala pra mim o que você está pensando, não importa o que seja.
Era muito difícil falar sobre isso e eu não sabia como começar.
- Você...
- Sim? – disse me encorajando.
- Você me acha atraente? – falei num fio de voz.
Ele olhou pra mim com uma expressão que eu não soube decifrar e para meu espanto em seguida caiu na gargalhada.
- Sua bobinha, é isso que você está pensando? Que eu não te acho atraente só porque pedi pra você parar? – ele segurou meu rosto em suas mãos com delicadeza – Você é a coisa mais linda do meu mundo! – e como pra que provar isso me deu um beijo arrebatador.
- Eu pensei que talvez não soubesse te fazer se sentir atraído o suficiente por mim. – confessei quando nossos lábios se separaram.
- Sinta como você me deixa. – disse pegando minha mão, levando-a em direção a sua calça, pressionado-a com firmeza sob seu membro em plena ereção me fazendo arregalar os olhos, ele soltou minha mão – Percebe como te quero? O que mais desejo no momento seria te possuir aqui e agora, mas não posso fazer isso, não seria certo e nem justo com você. Você merece algo belo e especial, não uma transa rápida, dentro de um carro apenas pensando na minha satisfação. – ele me segurou forte em seus braços e sussurrou em meu ouvido – Quando fizermos amor pela primeira vez quero ouvir você gemer de prazer em meus braços, quero sentir você tremer sob meu toque e quero olhar dentro de seus olhos quando você gozar. – ele voltou a olhar meu rosto com ternura – Fui claro?
- Como água. – respondi ainda surpresa com sua declaração.
- Bom, isso não significa que não podemos brincar um pouco até lá. – disse insinuante.
- Adoro aprender brincadeiras novas. – disse me fingindo de ingênua – Você quer ser meu professor?
- Só se prometer ser uma aluna aplicada. – disse aproximando os lábios dos meus.
Começamos a nos beijar, ele sugava minha língua com perícia, depois chupou mansamente meu lábio inferior e logo me sentia inundar em chamas invisíveis. Finalmente fiz aquilo que ansiei por tanto tempo, corri minhas mãos livremente por seu peito, sentindo seus músculos em minha palma, seus pelos nas pontas de meus dedos. Percebi que enquanto ele me beijava, corria as mãos por todo meu vestido como se procurasse por algo, até que ouvi ele suspirar frustrado.
- O que foi?
- Onde fica o zíper do seu vestido? – perguntou se afastando para me olhar melhor.
- Aqui do lado. – disse apontando para a lateral do meu vestido.
- Caramba, bem na minha cara! – disse colocando sua mão onde eu tinha indicado – Se você não quiser... – ele parecia um pouco inseguro se devia continuar.
- Quero. – falei sem titubear e o vi dar um largo sorriso.
Ele foi abrindo devagar, quase com medo, descendo o zíper lentamente. Depois de aberto senti a ponta de seus dedos na lateral do meu sutiã e vi seus olhos se arregalarem.
- Renda? Você que me matar? – ele perguntou desesperado.
- Algum problema? – perguntei confusa com sua reação – Você é alérgico?
- Não! Sou tarado por lingerie com renda! – dei uma risada gostosa com sua resposta.
Ele foi puxando devagar meu vestido para baixo e quando meu sutiã apareceu por completo senti que ele tinha parado de respirar.
- Ai, meu santinho... – murmurou com a voz carregada de desejo – É perfeito! – corei violentamente ao ouvir o elogio.
Ele aproximou sua mão e tocou a renda do sutiã delicadamente com a ponta de seus dedos, quase com reverência.
- Rob, é você? – ouvimos uma voz ainda distante e nos olhamos apavorados.
- É o papai! – disse pulando imediatamente.
- PUTA QUE PARIU! – ele disse me soltando.
- O que fazemos? – perguntei assustada.
Estávamos num estado difícil de disfarçar, completamente despenteados, Rob com a camisa desabotoada, eu com o vestido aberto quase na cintura e de sutiã. Rob deu um puxão no meu vestido, tentando coloca-lo no lugar, mas ouvimos os passos se aproximando.
- Se abaixa e fica completamente imóvel. – disse saindo do carro, passando as mãos no cabelo e abotoando rápido alguns botões, vi que ele fechou os olhos se concentrando e quando os abriu sua feição estava completamente relaxada e casual. Nossa realmente ele era um ótimo ator!
- Sou eu papai! – Rob disse se afastando, ouvi uma porta se abrir.
- Rob, ouvi o carro entrando na garagem e vim ver se está tudo bem. – ouvi papai dizer.
- Está tudo perfeitamente bem. – garantiu.
- Onde está sua irmã? – fiz uma careta ao ouvir aquilo.
- Já foi se deitar. – mentiu Rob com a maior cara de pau.
-E o que você ainda faz aqui?
- Vim procurar meu celular, acho que deixei no carro.
- Ah, então está bem. Vou voltar pra cama. Daqui a pouco você viaja não é mesmo?
- Sim, em poucas horas. – confirmou.
- Certo, se não voltar a vê-lo pela manhã, boa viagem, filho!
- Obrigado!
Ouvi os passos do papai se afastando e continuei sem me mexer até o Rob se aproximar me fazendo um sinal para que saísse do carro. Fiquei de pé ao seu lado, colocando o vestido no lugar e fechando o zíper.
- Essa foi por muito pouco! – falei ainda nervosa.
- Nem me fale, ainda estou em choque!
- Você merecia um Oscar por sua atuação, não deu pra perceber nada!
- Deixa os elogios pra depois, agora vamos subir antes que mais alguém apareça!
Tiramos os sapatos, saímos da garagem e subimos as escadas na ponta dos pés.
- Vá pro seu quarto, vou tomar um banho e terminar de arrumar minhas coisas, passo lá antes de sair. – disse sussurrando.
- Tá bom. – sussurrei em resposta, ficando na ponta dos pés para conseguir beijar seu queixo.
- Tentação! – ele disse se aproximando.
- Vai, vai logo! – falei rindo e empurrando-o para a porta do quarto dele.
- A aula foi suspensa, mas ainda não terminou! – sussurrou pra mim, dando aquele sorriso maroto, antes de fechar a porta do seu quarto.
Acordei devagar, de um sono muito profundo, me mexi pensando que horas seriam. Sentia a cabeça um pouco pesada e a língua seca, realmente eu tinha exagerado noite passada, não estava acostumada a beber e eu tinha entornado litros de champagne pelo que me lembrava.
Apesar do desconforto físico, me sentia leve, satisfeita e tentei organizar meus pensamentos procurando pelo motivo de me sentir tão bem. Imagens começaram a inundar minha mente em flashes, quando as últimas lembranças da madrugada me atingiram, abri os olhos e sentei na cama quase ao mesmo.
- Oh... – senti minha cabeça rodar por causa do movimento brusco que fizera.
Olhei para a janela e pelo jeito como a luz entrava no quarto já devia ser bem tarde, olhei para o relógio do meu lado e confirmei minhas suspeitas, passava das 3 horas da tarde.
- Droga! – falei baixinho.
Tinha caído no sono esperando pelo Rob e não tinha conseguido me despedir dele. Voltei a deitar frustrada, teria adorado dar um último beijo de despedida.
Ainda não estava muito certa de que tudo aquilo tinha acontecido, a noite passada parecia um sonho fantástico, passei os dedos nos lábios lembrando dos beijos que trocamos, das carícias, do seu toque aveludado e desesperado, do jeito intenso, carinhoso e meio tarado que ele me olhou, das suas palavras gentis e ao mesmo tempo cheia de más intenções. Só de pensar em tudo aquilo sentia meu corpo vibrar e ansiar por ele. Meu coração cantava em meu peito uma música alegre, sentia-me tão ridiculamente feliz!
Me espreguicei com um sorriso nos lábios, levantei e fui dançando até o banheiro. Me despi sem pressa, liguei a água quente e entrei de cabeça, ao ensaboar meus seios lembrei do Rob olhando pra eles e ri embaraçada ao pensar na sua reação. Ele disse me achar bonita, ele disse me querer, minha nossa, ele disse querer fazer amor comigo! Só podia ser um sonho, uma ilusão criada pela minha mente cheia de bebida e fantasia.
Mas ao me olhar nua no espelho do banheiro pela primeira vez, encontrei as primeiras provas de que a noite passada tinha sido bem real. Meu pescoço estava coberto dos dois lados de manchas roxas e vermelhas, prova mais do que concreta de que uma certa boquinha tinha passado um bom tempo ali. Imaginei a mamãe e o papai vendo aquilo e gelei, teria que usar alguma coisa para esconder as provas do crime. Me enxuguei e corri pro quarto antes que alguém me visse. Abri o guarda roupa decidindo o que usar, encontrei uma pachemina e enrolei no pescoço. Me olhei no espelho e fiquei satisfeita com o resultado, disfarçava perfeitamente. Fui pra cozinha colocar alguma coisa no estômago e encontrei mamãe que me encheu de perguntas sobre como tinha sido a comemoração, falei animada de quase tudo, menos é claro das partes em que envolvia o ataque de um certo alguém de olhos azuis e cabelo bagunçado. Estava acabando de comer quando ouvi a campainha, fui atender e assim que abri a porta, uma Shanti sorridente entrou sem esperar convite.
- Marina, anda me conta, como foi? Quem tava lá? Dan, Emma, meu noivo Rupert, ousou olhar pra outra garota? Tinha muito gato? Que músicas tocaram? Dançou com alguém? Quero saber tudo e ... – coloquei minha mão em sua boca, fazendo parar aquela metralhadora verbal.
- Calma, uma pergunta de cada vez, prometo responder todas, mas primeiro vamos pro meu quarto. – falei rindo.
Assim que entramos fechei a porta e sentamos na minha cama, de frente um pra outra. Comecei a descrever tudo, desde que saí de casa brigando com o Rob no carro, nossa chegada no cinema, o tapete vermelho, a exibição do filme, nesse ponto da minha narração Shanti me fez descrever vária cenas, quis saber o que cada ator vestia e com quem falei.
- Você tirou fotos, né? – perguntou ameaçadora.
- Sim, Shanti, de tudo! Agora pára de me interromper e deixa eu continuar! – ela pareceu satisfeita com minha resposta e ficou quieta.
Quando cheguei na parte da festa no night club, comecei a falar do lugar, de como as pessoas estavam vestidas e ela me interrompeu estendendo as mãos.
- Ta já entendi, tudo lindo, todo mundo muito chique, mas vamos para a pergunta que não quer calar. Você beijou alguém? – perguntou ansiosa.
- Sim. – respondi sem conseguir deixar de sorrir.
- Ah, milagres existem! – ela disse rindo, jogando as mãos para o alto e olhando para o teto – Quem foi o príncipe encantado que quebrou o feitiço? Já sei, deixe-me adivinhar, Felipe, o garanhão brasileiro!
- Ih, ta muito frio, Shanti! – disse rindo com vontade.
- Não? Então só nos resta o gostosão búlgaro no páreo! Acertei?
- Hum... Esse aí realmente quase conseguiu, esteve muito perto, mas no último segundo alguém passou na frente. – disse fazendo suspense.
- Outro? – disse arregalando os olhos surpresa – Minha nossa Marina, não vai me dizer que você ficou com o Dan! – disse quase gritando e eu caí na gargalhada.
- Não, Shanti, também não foi ele. Olha, deixa eu te mostrar uma coisa primeiro, antes de revelar quem foi o príncipe. – tirei a pachemina e aguardei a reação dela.
- Isso, é o que estou pensando? – ela perguntou incrédula – Cruuuuuuuuzes! Então não foi um príncipe e sim um vampiro! Ai, Marina acaba logo com essa agonia e me conta, por favor!
- Você realmente não consegue adivinhar? Acho que agora ficou tão óbvio!
- Tão óbvio... – ela repetiu apertando os olhos pensando – Peraí! Não vai me dizer que o chupa-cabra que te fez isso foi o... Rob? – sorrindo de orelha a orelha confirmei.
- Sim, foi ele!
- ! – ela começou a gritar, tampei sua boca de novo.
- Calma, Shanti! Daqui a pouco a mamãe vai vir aqui se você continuar histérica desse jeito!
- Caramba, essa foi demais, Marina! O porquinho finalmente agiu? Anda, COSPE tudo agora, quero muuuitos detalhes!
Contei então um resumo do que havia acontecido, da minha quase pegação com o Stan, Shanti ficou incorformada com o "quase", do surpreendente ataque de fúria do Rob e do desenrolar da briga até o momento culminante do beijo.
- E aí, como foi o beijo?
- Bom, eu nunca beijei outra pessoa pra comparar, então não sei se é sempre assim que a gente se sente, mas... – fechei os olhos lembrando da sensação ao ser beijada por ele – Foi incrível! Ele foi tão carinhoso e sedutor ao mesmo tempo, e o gosto da boca dele, hum... – falei dando a entender.
- Ai, amiga! Estou tão feliz por você! Depois desse lance no banheiro, parou por aí? – perguntou desconfiada.
- Nem te conto! – e relatei todo o restante da história, até a hora do quase flagrante pelo papai.
- Mas que noite alucinante, Marina! Então vamos recapitular a noite passada: quase amassos com o Krum (não me conformo!), você não é mais BV, obra do porquinho vampiresco chupa-cabra, você tomou seu primeiro porre classudo de champagne, escutou um monte de confissões românticas e eróticas, pegação em alto nível no carro da sua mãe, momento quase terror com a chegada do seu pai e a promessa de mais pegação no futuro. – ela disse tudo isso num fôlego só, de tão rápido – Esqueci alguma coisa?
- Só uma, ele me chamou de namorada. – disse isso fechando os olhos e me jogando na cama.
- Realmente esse foi um ponto alto da noite. – ela concordou sorrindo.
- Ah, Shanti, sou louca por ele! – confessei ainda de olhos fechados.
- Eu sei, você está radiante sabia? Nunca te vi tão feliz e você merece essa felicidade depois de esperar tanto tempo por aquele bossal. – abri os olhos e fiz uma careta pra ela – Mas... sem querer jogar água na fervura, ontem para um primeiro encontro vocês foram bem longe, não? – fiquei pensando um tempo antes de responder.
- Não sei, talvez. – respondi ainda refletindo – Mas é que é tão diferente esse lance com a gente.
- Diferente, como assim?
- Bom, por exemplo, se eu tivesse ficado com o Stan em vez do Rob, com certeza a coisa não teria ido tão longe, porque eu ainda não o conhecia direito, a gente se beijaria, dava uma pegada mas eu ia parar por aí. – sentei novamente antes de continuar – Já com o Rob não rola esse negócio, eu conheço completamente aquela cabeça desmiolada, conheço seus gostos, suas manias, qualidades, defeitos, já vi o acordar de cara amassada pela manhã, já vi ele chegar em casa bêbado carregado pelos amigos, já o vi tocar violão uma música só pra mim, já o vi correndo pro banheiro com dor de barriga, já brigamos, já fizemos as pazes, já rimos e choramos juntos, se duvidar eu o conheço melhor do ele mesmo. – disse terminando minha análise.
- Te ouvir falando assim soa quase como se vocês já fossem casados! – brincou Shanti.
- A gente convive na mesma casa há quase 9 anos, como não conhecer uma pessoa depois desse tempo todo? Então quando ficamos juntos a gente não tinha aquela insegurança que dá quando num relacionamento você ainda está na fase de se conhecer melhor, simplesmente porque já ultrapassamos tudo isso, a única coisa que falta mesmo entre nós é a intimidade física. – disse pensativa.
- E pelo jeito que a coisa vai, em breve essa também vai uma etapa concluída. – disse sorrindo maliciosamente.
- Ah, não sei, vamos ver... – falei sem graça – Agora estou mesmo é com saudade dele.
- Ah, qual é? Fazem só algumas horas que ele partiu!
- Eu sei, mas queria tanto que ele estivesse aqui! – suspirei tristonha.
- Fica assim não! Pensa que quando ele voltar vocês vão estar mortos de saudade um do outro e com bastante tempo pra ficarem juntos! – ela disse animada.
- Tomara, Shanti!
Já fazia um tempo que Shanti tinha ido embora quando resolvi navegar um pouco na internet. Abri minha caixa de e-mails, procurando alguma novidade quando o título de um e-mail me chamou a atenção, no local assunto lia-se: "Toda Se Querendo". Abri ansiosa e li o seguinte conteúdo:
"Bom dia, Namorada!
Ou será boa tarde, talvez boa noite? Sonhou comigo?
Não importa, estou aqui escrevendo rapidinho no aeroporto, pensando em você.
Opa, estão me avisando que o avião já vai partir, tenho que ir, estou mandando nossas fotos pra você não se esquecer da nossa noite.
Sinta-se beijada da cabeça aos pés,
Namorado."
Terminei de ler o e-mail rindo, chorando, tudo ao mesmo tempo, eu lia e relia sem parar. Abri o anexo e lá estava eu na foto, rindo pra ele, fazendo um olhar "toda se querendo" como ele chamava e depois a próxima foto nós juntos, num momento perfeito.
Respondi o seguinte:
"Boa tarde, Namorado!
Obrigada, adorei a surpresa!
Já comecei a contagem regressiva pro seu retorno, volta logo!
Saudade,saudade, saudade...
Beijos de baunilha,
Namorada."
Coloquei nossa foto como proteção de tela no meu computador e fiquei olhando pra ela um tempão. Beijei um dedo da minha mão e encostei o mesmo dedo em cima da imagem dele.
- Por favor, não demora Namorado. – sussurrei.
Foram as duas semanas mais longas da história! Procurava acompanhar pela internet todos os lugares que ele percorria, via as fotos, lia os comentários, as críticas e sempre via o Rob cercado de fãs e admiradoras. Bateu uma insegurança, com tanta garota rodeando ele o tempo todo, será que ele tinha se segurado? Será que tinha pensado em mim?
O tempo passou até que um dia a noite recebi o seguinte e-mail:
"Namorada,
Voltando pra você!
Chego amanhã a tarde, faça um bom uso da sua habilitação e esteja no aeroporto pra me pegar.
Adoro explorar namorada gostosa, rsrsrs...
Beijos molhados,
Namorado"
- AAAHHH! – gritei e saí pulando pelo quarto.
A manhã seguinte não parecia ter fim, mal consegui almoçar de tanta ansiedade, de tarde já estava quase infartando, olhando o relógio a cada 5 minutos. Peguei o carro e cheguei no aeroporto com quase 1 hora de antecedência. Ficava andando de um outro, sentava, levantava, não conseguia ficar parada. Finalmente foi anunciado que o vôo dele tinha chegado, corri para o portão de desembarque e fiquei aguardando torcendo as mãos.
O portão finalmente foi aberto, começaram a sair algumas pessoas e nada dele, já estava achando que estava no lugar errado quando alguém, alto, desengonçado e com uma toca ridícula na cabeça apareceu.
Senti-me numa cena de filme, assim que ele me viu abriu um largo sorriso, esquecendo quem eu era e aonde estava, corri e pulei no colo dele, abraçando-o com minhas pernas em volta de sua cintura e segurando-o pelo pescoço com minhas mãos.
- Bem vindo! – disse alegremente.
- Uau! – ele exclamou surpreso e feliz antes de me beijar.
Foi um beijo com gosto de saudade, forte e intenso, cheio de promessas. Fomos interrompidos por uma voz bem do nosso lado.
- Por favor, procurem um quarto. – olhei surpresa e vi o Dan passando pela gente com um sorriso malicioso.
- Será nosso próximo passo! – gritou Rob pra ele.
- Acho que exagerei, né? – perguntei sem graça, colocando os pés no chão.
- Não, você foi apenas você mesma. – disse me abraçando e dando um beijo rápido - Nunca tenha vergonha de mostrar o que sente. – ouvir aquilo fez borboletas voarem pelo meu estômago.
Pegamos sua bagagem e fomos para o estacionamento, assim que sentamos lado a lado no carro, ele pegou minha mão e a beijou ternamente,
- Senti sua falta. – ele disse se inclinando na minha direção.
- O tempo não passava nunca! – confessei, observando ele beijar as pontas do meus dedos.
- Eu sei exatamente o que você que dizer. – respondeu enquanto mordiscava minha mão, provocando arrepios pelo braço.
Ele começou a beijar novamente minha mão, seus lábios foram subindo pelo meu braço, como se seguisse minhas veias e intensificando os arrepios, parou um pouco na dobra do meu cotovelo, chegaram no meu ombro e se concentraram no meu pescoço, enchendo-o de beijos, descobrindo um lugar sensível bem atrás da minha orelha e se concentrando ali. Com a outra mão ele me segurou pela cintura me fazendo virar pra ele. Senti sua boca se abrindo e sua língua chupando mansamente a região.
- Não, assim não. – falei recuando.
- Por que? – ele perguntou surpreso, erguendo o rosto, mas ainda sem me soltar – Não está bom pra você?
- Não é isso, muito pelo contrário. – ao dizer aquilo ele sorriu avançando novamente, mas o parei com um gesto - Mas é que estamos indo pra casa, papai e mamãe estão lá e vai ser muito suspeito se eu chegar com um chupão bem a mostra. – disse tentando explicar racionalmente.
Ele me olhou longamente antes de responder.
- Está bem. – disse se afastando.
Dei partida no carro e começamos a sair dali, um silêncio estranho entre nós, olhei pra ele de esguelha e reparei que estava sério, quase carrancudo.
- Está zangado comigo? – perguntei.
- Não. – ele disse sem olhar pra mim – Só muito irritado.
- Comigo? – disse nervosa.
- Não. – respondeu dando um suspiro alto – Estou irritado por ter que manter essa situação ridícula pro nossos pais. – virou-se pra mim e continuou exaltado - ODEIO quando eles nos chamam de irmãos, ODEIO ter que voltar pra casa e ver que as coisas continuam as mesmas, ODEIO não poder curtir você do jeito que gostamos por que eles podem descobrir!
- Odeio isso tanto quanto você. – falei baixinho – Mas seja sincero, como você acha que eles vão reagir se chegarmos em casa agora e confessarmos tudo? Você os conhece tão bem quanto eu, como você acha que eles iriam reagir? – perguntei mordendo o lábio.
Ele ficou mudo, passando nervosamente a mão pelo cabelo, parecia mais calmo quando respondeu:
- Nada bem.
- Sim, nada bem. – concordei – Olha, minha sugestão é que por algum tempo mantenhamos nosso relacionamento em segredo, mas apenas o tempo suficiente para que eu possa ficar mais independente, ganhar maior idade, depois disso ninguém mais pode mandar em mim.
- O QUE? – ele quase gritou – Marina, você ainda vai completar 17 mês que vem! Isso significa termos que ficar mais de um ano nessa farsa!
- Eu sei. – disse ao entrar na nossa rua – Mas não consegui pensar em nada melhor.
Entrei com o carro na nossa garagem e ficamos ali, sentados em silêncio, olhando pra frente.
- Se você achar que isso tudo não vale o sacrifício eu vou entender, não vou culpá-lo por querer algo diferente, ou melhor. – falei com a voz trêmula. Tudo o que eu mais queria era ficar com ele, para mim nenhum sacrifício era grande o bastante, nenhum obstáculo era difícil o suficiente, mas não poderia obrigar Rob a se sentir como eu, ou tomar as mesmas decisões.
- Melhor? Do que você está falando, enlouqueceu? – ele parecia alucinado – Quando você diz "isso tudo", signica nós, Marina? OLHA PRA MIM! – virei meu rosto pra ele mordendo a boca nervosa.
- Quero deixar uma coisa bem clara, eu NÃO vou desistir de NÓS! Não depois de passar quase 9 anos enlouquecendo nessa casa! – ele me agarrou pelos ombros - Vendo você todo dia, sem poder te ter, sentindo seu cheiro, sem poder te ter, desejando você, sem poder te ter! Eu quero você! Quero você na minha vida, na minha cama, na minha alma! Eu te amo!
Olhei pra ele só por um segundo antes de nos atirarmos nos braços um do outro, sua boca se movendo urgente junto com a minha, nossa línguas se encontrando com desespero, cada célula do meu corpo clamava por ele, por suas mãos habilidosas, por seu toque, por seu olhar cheio de carinho, por seu abraço delicioso. Mas não era só isso, era muito mais do que apenas o desejo físico que exigia por satisfação, era a necessidade da presença dele, de sua personalidade sensível e inteligente, do seu senso de humor único e de tantas outras características que admirava nele.
- Eu te amo a tanto tempo! – consegui dizer quando nossos lábios se separaram – Mas tinha medo que não fosse correspondida. – disse olhando seus olhos.
- Ah, meu amor! – ele sussurrou antes de encher meus rosto de beijos – Não sei bem como, mas vamos fazer "isso tudo" dar certo, de alguma forma, vamos conseguir!
- Eu sei! – falei confiante – Agora que sei como você me ama, nada é impossível!
Ficamos ali abraçados por algum tempo, como que temerosos de nos afastarmos, sabíamos que ao sair dali teríamos que voltar a usar nossas máscaras, sabíamos que sería doloroso, mas sabíamos que valeria a pena e foi essa certeza que nos deu força de sair do carro e enfrentar o que viesse pela frente, juntos.
