N.A.: Harry Potter e outros personagens pertencem à Tia Rô. Só estou exercitando meu cérebro com eles, sem fins lucrativos, de fã para fã, blá, blá, blá...
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N.A².: Faz séculos que eu estou escrevendo isso e só hoje (09/09/05) consegui terminar o primeiro capítulo. Estou gostando da história e tudo o mais, e quem me conhece sabe que isso é maravilhoso porque eu costumo ser muito pessimista, mesmo. Reviews, plixxx!
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Capítulo 1 - Fuga
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"SIRIUS!"
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Ele podia ouvir Harry gritar, mas nada podia fazer para atender o chamado, por mais que assim quisesse. Era o fim, estaria tudo acabado. Foi o que pensou, até bater num chão de pedra gelada, no que parecia ser uma sala sem janelas e sem iluminação. Ele conhecia aquela sala de algum lugar, sabia disso. Algo ali lhe era terrivelmente familiar. Um retrato vazio na parede dava risadinhas desdenhosas e uma porta atrás de Sirius começou a ranger enquanto era aberta. "Não pode ser". Mas era. Sirius se virou e viu uma porta aberta à sua frente e um corredor do lado de fora. Olhou para maçaneta e lá estava o brasão da família: uma serpente enrolada. Sirius voltara a casa dos Black.
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Não pensou duas vezes antes de sair correndo do daquela sala e passar por todo o corredor gritando por Harry ou qualquer outra pessoa. Mas empacou quando quase colidiu com uma criaturinha verde que saía de um quarto carregando alguns lençóis, talvez para lavar. Era Kreacher, porém bem mais "jovem". O elfo nem deu atenção ao seu senhor e continuou sua caminhada lenta até a escada. Sirius voltou sua atenção extasiado para o corredor, então e viu, para mais espanto e atordoamento, sua prima Bellatrix que acabara de "matá-lo" num vestido de festa de modelo medieval e incrivelmente bela, coisa que decididamente não era no momento em que atirara-o no véu.
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"O que ainda está fazendo aqui? Já estão todos descendo."
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Sua voz soou fria, como sempre fora, mas tinha vida, vigor e beleza no jeito em que falara. Não poderia ser a Bellatrix que fora para Azkaban, mesmo porque aparentava estar mais jovem, assim como Kreacher. Sirius, já de queixo caído, resolveu então olhar para o salão lá em baixo. O local estava numa agitação só; convidados entrando, elfos servindo bebidas e avistou lá de cima o motivo da festa: Narcisa e Lúcio Malfoy conversavam perto de uma mesa com comida. Claro, só podia ser. Sirius lembrava daquela festa, era o noivado de sua prima Narcisa, com Lúcio. Lembrava-se muito bem da ocasião, pois fora quando fugira de casa, afinal, com todos ocupados em bajular os noivos, sua fuga só seria percebida quando já estivesse longe. Mas se todos estavam lá, na casa, então onde ele, Sirius, estaria? Sim, porque se voltara no tempo, como parecia ser, então ele deveria estar lá naquela ocasião. Percorreu a casa toda, à procura de si mesmo até chegar no seu quarto. Quando entrou e não encontrou ninguém, sentou numa cadeira para descansar um pouco. Porém quase teve um ataque do coração quando se olhou no espelho. Estava lá, com seus desesseis anos e dentro das mesmas roupas que estivera naquela noite a mais de vinte anos atrás. Andrômeda entrou no quarto e sentou-se na sua cama, enquanto observava o primo extasiado em frente ao espelho.
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"Se acha tão belo assim à ponto de se petrificar? - brincou."
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"Hã? Ah, o que está acontecendo?"

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"Como assim? Bem, seja lá o que for, sua mãe já está se despedaçando por que você não desce nunca pra cumprimentar os noivos."
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"Em que ano estamos? - Sirius não deu atenção ao comentário anterior."

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"1967, oras. O que foi que te deu? Logo a única pessoa decente desta casa deu pra ter lapsos de memória?"
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"67? Então, o que eu... O aconteceu?"
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"Sirius, se isto for alguma espécie de brincadeira eu juro que vou te matar quando a festa acabar, mas de qualquer forma, DESÇA!"
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Adrômeda desceu cintilante para a festa e deixou o primo a sós consigo mesmo. Sirius passou ainda uns dez minutos olhando-se no espelho, vez ou outra se tocando, só pra ter certeza de que estava ali mesmo. "Pra que diabos aquele véu manda as pessoas de volta pra onde estiveram vinte e oito anos atrás?" Pensava enquanto descia lentamente a sua velha conhecida escada. Chegou ao hall, e ainda havia convidados entrando na casa. Todos com uma arrogância de dar náuseas, alheios ao mundo, apenas preocupados em estar com a roupa certa nos lugares certos. Convencido de que não conseguiria ficar ali por muito mais tempo, isolou-se na cozinha, de onde Kreacher provavelmente saíra para servir os convidados no salão. Deixou-se escorregar pelo chão, ao lado da porta, e lá permanecer sentado, pensando.
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Se estava de volta, então... Talvez devesse fazer as coisas do mesmo jeito que há anos atrás; simplesmente fugir e ir pra casa de James. Oh, James... Ainda estaria vivo, não é mesmo?
Neste ponto de suas reflexões os olhos de Sirius marejaram. Mais ainda quando lembrou de como estaria Remus, no Departamento de Mistérios, pensando que ele morreu. Câmara da Morte. Véu. Ninguém nunca soube o que havia por trás do véu; desconfiava-se de que nem os Inomináveis soubessem. Ninguém, portanto, saberia que ele ainda estaria vivo.
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"E será que eu estou mesmo vivo?" - Sirius se pegou perguntando em voz alta a si mesmo, quando, mais uma vez, Adrômeda veio lhe interromper os devaneios.
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"Filosofando sobre a existência da vida, primo?"
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"Talvez. Ad, me diz uma coisa..."

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"Pergunte"
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"Se você voltasse no tempo, daqui a muitos anos, para essa mesma festa, você faria a mesma coisa que fez hoje ou mudaria as coisas?" - Adrômeda pareceu refletir por um momento com a pergunta maluca do primo. Depois respondeu lentamente.

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"Bem, eu acho que... Eu acho que tentaria mudar algumas coisas que não me convêm. Se eu pudesse..."
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"Se você pudesse...?" - Sirius a estimulou vendo que ela hesitava.
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"Se eu pudesse eu fugiria daqui de vez, sabe? Ia arranjar algum lugar pra ficar e... Sei lá. Tem tanta coisa pra se fazer quando se volta no tempo!" - riram. Sirius lembrava claramente de como ele e Adrômeda conversavam frequentemente sobre besteiras e coisas importantes, também. E lembrou do futuro da prima. Ia se formar em Hogwarts, fugir com Ted Tonks, ter Nimphadora e viver numa casinha muito aconchegante ao norte da Irlanda...
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"Não fuja hoje."

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"Porque?"

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"Você vai ser mais feliz se esperar ao menos terminar Hogwarts"

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"Está prevendo o futuro, primo?"
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"Talvez, Ad, talvez..."
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Deixando a frase no ar, Sirius se levantou e se dirigiu novamente ao seu quarto, deixando a prima meio abobalhada. Pensou preocupado em como estariam Harry e os outros, mas... Se Dumbledore está lá, tudo está bem. Tentou se acalmar com tal pensamento, mas vendo que não conseguiria, pôs-se a fazer alguma coisa pra se distrair. "Mas claro, arrumar as malas para fugir!"

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Arrumou uma mala com as coisas mais importantes que haviam em seu quarto e abriu a janela. Já sabia muito bem o que fazer. Se voltou no tempo, com certeza seu corpo ainda está em forma. Se esforçando para manter esse pensamento positivo na cabeça, esgueirou o corpo lentamente pela janela e desceu com cuidado até o fim, onde pulou levemente. Feliz em saber que veria James de novo, Sirius correu para a sua moto, arrastou-a até uma distância em que a partida não pudesse ser ouvida e virou a chave em direção a casa dos Potter em plenas onze horas da noite.
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... algumas horas depois ...

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Sirius chegou à casa dos Potter uma hora da manhã, como da outra vez.
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"Ok, Padfoot, agora é só lembrar do você disse pra eles aquela noite... Quer dizer, hoje."
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Inspirou fundo, tomou coragem, e finalmente tocou a campainha. Esperou uns cinco minutos. Tocou de novo e de novo e de novo...
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Uma voz particularmente irritada e com sono gritou do outro lado da porta quando as luzes de repente se acenderam.
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"É o Sirius!"
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"Quem garante?" - um bom e velho Sr. Potter, sempre desconfiado...
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"Eu garanto, agora me deixe entrar!"
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"O que o Sirius viria fazer aqui de madrugada? Muito suspeito..."
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"Ele estaria fugindo de casa, se quer realemente saber. E, aliás, creio que um Comensal não tocaria a campainha pra entrar,sabe..."
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A voz do outrolado da porta se calou. Sirius viu a Sra. Potter dar uma olhadinha pela janela e acenou furtivamente para ela que sorriu e alguns segundos depois ouviu cochichos audíveis.
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"É ele mesmo. Abra a porta."
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E ela se abriu. James a abriu. Com cara de sono e com os cabelos mais despenteados que nunca, dentro de um pijama listrado.
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"Pra quê diabos você foi fugir, seu..."
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Antes que ele pudesse completar a frase, Sirius não agüentou e se atirou no amigo, abraçando-o às lágrimas.
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"Pad... Pad, o que houve?"
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"Ele deve ter brigado feio com a família, oh Merlin, vou arrumar o quarto de hospédes, coitadinho..."
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Sirius ouvia as vozes ao seu redor como num rádio mal sintonizado. Agora só importava a ele ver seu amigo, vivo. Realmente não parava de chorar, e James ainda conseguiu arrastá-lo, grudado ao seu pescoço, até o sofá.

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"Ok, Pads, eu sei que você me ama, mas não precisa me sufocar por isso..." - Sirius soltou o amigo e observou-o massagear o pescoço já vermelho.
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"Senti sua falta, seu cervo de merda!"
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"Oh, eu pude perceber! O que houve, Sirius?"
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"Eu fugi de casa."
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"Isso eu também já percebi, Sirius! O que eu quero saber é o motivo! Você não costuma sair abraçando as pessoas e chorando desesperadamente no ombro delas, sabe."
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"Sei, mas sei também que não vamos falar sobre isso agora"
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Disse tentando escapar de ter que contar ao amigo que o motivo de seu ataque foi que ele havia simplesmente morrido e estavam se "reencontrando" décadas depois. Na mesma hora a Sra. Potter chegou na sala de estar chamando Sirius para ir dormir e repreendendo o filho por estar, provavelmente, lhe fazendo perguntas incômodas.
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E Sirius chegou ao quarto de hospédes, deu boa-noite a uma sorridente Sra. Potter que lhe lembrava muito Molly, e foi se deitar, olhando pro teto e pensando na vida. Ou na morte, quem sabe.