Título: Ce Soir

Shipper: Hermione e Lucius

Classificação: M

Gênero: Romance


Disclaimer: As personagens pertencem exclusivamente à escritora J.K Rowling. Se pertencessem a mim, Lucius Malfoy usaria sua varinha em outra pessoa.


Nota da Autora: Escrevi essa fic para dar de presente para a Bea! Fico super feliz que tenha gostado. Adorei escrevê-la, pois se passa em um lugar que sonho desde pequena, e eu pude treinar um pouco meu francês. Haha. Para quem não está familiarizado com o idioma, as traduções estão no final do capítulo. Feliz Natal, Bea! ;)


Ce Soir

Parte I

Hermione fitava com um olhar sonhador a paisagem única que estava a sua frente. Suspirou ao sentir o ar peculiar de Paris quando esse bateu de encontro ao seu rosto. Por mais que já tivesse ido à cidade diversas vezes em férias com seus pais, o motivo da viagem agora era totalmente novo, fazendo todas as sensações serem diferentes.

Os olhos castanhos amendoados correram pela cidade. Estava no primeiro andar da Torre Eiffel e poderia ver Paris por completo. Vestia-se com um casaco pesado, um cachecol que Harry lhe dera no natal passado estava enrolado no pescoço. Ela esfregava as mãos de vez em quando para tentar aquecê-las, mas sabia que de qualquer maneira teria que descer do monumento.

Paris podia ser surpreendentemente fria no mês de janeiro.

- Incrível como a arquitetura trouxa pode nos impressionar.

A voz arrastada e peculiar chegou aos ouvidos dela e ela estremeceu levemente. Respirou fundo, já sabendo quem estaria atrás de si. Virou-se vagarosamente. Lucius Malfoy a fitava com uma curiosidade estranha nos olhos cinzentos. Estava vestido com um elegante casaco preto, a blusa de tecido pesado que estava por baixo era em um tom esverdeado, o preferido dos sonserinos. Não usava a bengala, e ela perguntou-se mentalmente se o bruxo havia escolhido outro lugar para a varinha.

- Há muito no mundo trouxa que pode nos impressionar.

Respondeu de forma vaga e virou-se novamente para a paisagem. Preferia ver os campos verdes do Champ de Mars serem parcialmente cobertos pelos primeiros flocos de neve do que ver o rosto de Lucius Malfoy.

Lucius correu os olhos cinzentos pelo corpo dela de forma calma. Não poderia negar que a paisagem que a tal Torre Eiffel proporcionava era espetacular, principalmente à noite.

Ele se aproximou, ficando um pouco atrás dela. O cheiro do perfume dela entrou pelo nariz de Malfoy no momento em que ele respirou fundo para indicar à garota que ele ainda estava lá.

Ela arqueou as duas sobrancelhas. Por Merlin, estava em Paris! De repente aquilo ficou mais claro em sua mente e ela sentiu vontade de fazer a pergunta mais óbvia que poderia fazer.

- O que você está fazendo aqui?

Só encontrara Malfoy em Londres, sabia que o bruxo morava naquele lugar. Hermione havia se mudado da cidade depois de circunstâncias que ela preferia não lembrar, estava mais do que acostumada em vê-lo perambulando pelo Ministério da Magia ou pelo Beco Diagonal nos tempos antigos em que ela frequentava Hogwarts. Mas em Paris?

Lucius sorriu de uma forma que apenas ele conseguia sorrir. Um sorriso frio, mais gelado do que a temperatura do primeiro andar onde estavam. Ela o olhou de forma curiosa, observando o rosto do bruxo com atenção pela primeira vez.

- Draco está em um jantar de negócios.

Apontou para cima, indicando a presença do filho no segundo andar da Torre, onde havia mais um restaurante. Aquela informação era totalmente irrelevante para ela, então ela apenas deu de ombros e voltou a fitar a paisagem deslumbrante a sua frente.

- Eu não sabia que os Malfoy frequentavam lugares trouxas.

Respondeu de forma calma, mais para expressar uma surpresa do que para implicar com assuntos antigos. Lucius sorriu novamente.

- Há um restaurante bruxo no segundo andar.

Aquela informação pegou Hermione de surpresa. Não sabia que havia um restaurante bruxo na Torre Eiffel, e pela primeira vez ela se perguntou se aquele monumento não sofrera algumas influências de magia. Mas preferiu não colocar suas dúvidas em voz alta. Deixar Malfoy ter conhecimento de sua falta de atenção só traria satisfação ao bruxo.

Ela pegou a bolsa que estava no chão e passou a alça no ombro, suspirando. Uma lufada branca de ar saiu de sua boca com o gesto e ela começou a esfregar as mãos novamente para se aquecer. Malfoy arqueou as duas sobrancelhas.

- Está com frio?

Ela apenas o olhou, o rosto um pouco pálido por causa da temperatura baixa do local. Já não bastasse estar em Paris no mês mais frio do ano, estava a aproximadamente sessenta metros de altura.

- Um pouco. Não estou acostumada com essa temperatura.

Ele franziu o cenho. Londres era um lugar frio. Paris não tinha uma temperatura tão baixa em relação à cidade.

- Creio que Paris não se diferencia em demasia de Londres quando o assunto é inverno.

Ela conteve um sorriso. Jogou novamente a bolsa no chão, desistindo de ir embora do local. Malfoy estava encurralando-a, mas não parecia se dar conta disso. Ele já havia se aproximado da garota, e ela não tinha como desviar-se dele. A não ser que pulasse da Torre Eiffel, ou desaparatasse. O que não seria muito educado.

Apesar de Lucius Malfoy não merecer nenhum gesto relacionado à educação.

- Eu não moro mais em Londres. Estou trabalhando no Ministério da Magia da Argentina.

Ela o atualizou dos fatos e Malfoy arqueou as duas sobrancelhas em um gesto de surpresa. Poderia jurar que havia visto a garota andando pelos corredores do Ministério da Inglaterra. Mas ele era orgulhoso demais em dizer isso em voz alta. Poderia estar vendo coisas.

- Buenos Aires?

Ela gesticulou afirmativamente com a cabeça. Ele sorriu e inclinou-se minimamente para ela.

- Uma cidade que tem os seus encantos. Possuo uma propriedade em Recoleta.

Ela fez um esforço sobrenatural para não revirar os olhos ali mesmo. É claro que Malfoy possuía uma mansão do tamanho do seu ego, e em um dos bairros mais caros de Buenos Aires. Ela morava em Barracas, um bairro um pouco menos nobre do que o dele, mas de longe mais agradável. Na opinião dela.

- Por que essa mudança brusca de vida e de cidade? Ah...

Malfoy sorriu cinicamente e o rosto de Hermione começou a arder. Ela sabia que estava ficando vermelha, e perguntou-se mentalmente se isso seria visível mesmo com seu rosto branco por causa do frio. Ao julgar pelo sorriso dele, era.

- Não há nada mais para mim em Londres e no mundo bruxo inglês. Apenas meus amigos...

Respondeu convicta e adicionou logo após a sua exceção. Não queria tocar naquele assunto tão delicado da sua vida justamente com Lucius Malfoy.

Ele não insistiu. Granger poderia ser uma pessoa educada, mas ele sabia que ela era de um temperamento estressado quando pressionada em certos aspectos. Não era segredo para ninguém o divórcio escandaloso que a melhor amiga de Harry Potter havia tido.

Afinal, Ronald Weasley saindo da residência de Lavender Brown fora o primeiro passo para o que Malfoy chamava de desencadeamento de descobertas.

Ele se aproximou ainda, ficando finalmente ao lado da garota. O rosto dela estava firme como pedra, mas ele podia ver os olhos castanhos com um brilho incomum, como se ela estivesse repreendendo as lágrimas.

- Os Weasley sempre foram uma vergonha para o mundo bruxo.

Foi o suficiente para que as primeiras gotas escorressem pelo rosto jovem. Hermione lembrou-se de como amava aquela família de ruivos, e de como se entregara totalmente para Rony, achando que o amor seria completamente recíproco. Gostava daquele bruxo desde seu primeiro ano em Hogwarts, e ver o seu companheiro a trair com um caso que ele tivera foi um golpe na vida dela.

O Profeta Diário não falava de outra coisa, Rita Skeeter aproveitou-se da situação para jogar todo o seu ácido em cada palavra das reportagens, vingando-se indiretamente de Hermione com aquela atitude.

Todos os sentimentos reprimidos de repente voltaram à tona e ela se lembrou do motivo principal da viagem. Escolhera Paris para esquecer-se completamente de tudo o que havia passado, para tentar algo novo. De repente a ironia parecia jogar na cara dela que aquela fora a decisão mais estúpida.

Paris era a cidade do amor, dos casais. Ela olhou o homem que estava ao seu lado com fúria, virando-se para ele e ficando de frente.

- Por que não consegue ficar calado? O que quer comigo?

Perguntou para ele e Malfoy não respondeu, apenas retirou as suas luvas e entregou-as para ela.

- Você está tremendo.

Ela pegou as luvas com raiva e jogou-as de volta para ele. Malfoy apenas as pegou e deixou no parapeito de onde estavam.

- Eu estou tremendo porque estou nervosa, seu bruxo presunçoso!

Conteve as lágrimas, não querendo demonstrar mais sua falha emocional. Já estava humilhada demais, Lucius Malfoy apenas olhava para ela, como se estivesse se divertindo com tudo aquilo. Isso a deixou mais desconcertada.

- Por que faz isso?

Malfoy revirou os olhos vagarosamente em um gesto de impaciência e se aproximou da garota. Os olhos cinzentos a fitaram com intensidade e ela percebeu o quão perto ele estava dela. Ele possuía um cheiro masculino, de um perfume bastante caro para ela saber qual era o nome. Era agradável, mas ao mesmo tempo perigoso.

- Eu só queria que você visse o óbvio.

Disse de forma arrastada, a voz fria como o lugar onde estavam. Ela percebeu o seu corpo se arrepiando, mas não se deu por vencida.

- E o que é óbvio? Que ele me trocou? Que fui traída?

Malfoy sorriu. Um sorriso que mandou uma onda elétrica pelo corpo dela. Um sorriso maldoso, como se ele soubesse de um fato que ela não sabia ainda. Mas como se ele estivesse prestes a revelá-lo.

- Não. Que quando eu falo que os Weasley são uma vergonha para o mundo bruxo, me refiro ao seu ex-marido deixando uma bruxa tão peculiar solta por aí. Em Paris... tão desprotegida...

Ele se aproximou e ela ficou estática. Aquilo estava estranho. Estava em uma cidade que não morava, em férias, na companhia de Lucius Malfoy. E ele estava deixando-a incomodada e... quente. Os olhos cinzentos ainda a fitavam, ele se aproximou ainda mais, os lábios finos e frios roçando levemente os lábios rosados dela. Ela conteve uma demonstração de surpresa. E de repente ele se afastou.

- Aproveite os seus dias em Paris. Há algo nessa cidade que sempre nos surpreende.

Ele gesticulou com a cabeça, virando-se para o lado norte do primeiro andar da Torre Eiffel e caminhando. Hermione não percebeu em que momento depois daquilo o bruxo havia sumido, mas ficou com uma sensação estranha depois que tomou conta de tudo o que havia acontecido.

Ela levou a mão direita aos lábios, passando-a levemente naquele lugar do seu rosto, como se fosse sentir novamente os lábios frios de Malfoy roçando ali. Seu rosto se esquentou, percebendo como o loiro havia deixando-a sem reação com apenas aquele gesto.

Sentiu um ar gelado correr por todo o seu corpo e virou-se para pegar a bolsa e descer da Torre Eiffel, a fim de voltar para o hotel. Viu que ele deixara as luvas ali, feitas de um couro negro e de aparência cara. Colocou-as sem pensar duas vezes. Agora que ele tinha ido, junto com a raiva dela, percebeu o quanto suas mãos estavam geladas. Era quente por dentro, e o corpo dela estremeceu quando ela se perguntou se as mãos de Malfoy eram quentes ou se era por causa do tecido grosso das luvas.

Meneou a cabeça, retirando os pensamentos estranhos e impróprios. Olhou novamente ao redor para saber se estava sozinha e desaparatou, abrindo os olhos e reconhecendo o beco escuro da rua em que ficava o hotel onde estava hospedada.

Caminhou pela rua, vendo os casais parisienses e os estrangeiros andando com fascínio. Idiomas diversos chegavam ao ouvido de Hermione, ela podia distinguir o espanhol, no qual estava mais habituada por morar agora em Buenos Aires, o francês, idioma falado em qualquer canto da cidade, e o inglês.

Aproximou-se da porta do hotel e um homem abriu-a para ela, sorrindo de forma aberta.

- Bonsoir, Mlle. Granger.

- Bonsoir. Merci.

Sorriu de volta e entrou no hotel, caminhando para o elevador. Sabia que o lugar era totalmente trouxa, e Hermione havia o escolhido justamente por aquele motivo. Não queria ter contato com o mundo bruxo tão cedo. Cada faísca de magia lhe lembrava do mundo em que vivia, e consequentemente Ronald Weasley. E a última coisa que queria se lembrar era daquele ruivo.

O gerente do hotel a alcançou.

- Bonsoir, Mlle. Granger. Nous aurons une fête ce soir. Dois-je faire une réservation?

Hermione parou ao lado do gerente educadamente. Alugar o quarto mais caro do hotel abria espaço para que todos achassem que ela queria todas as regalias que o local poderia oferecer.

- Pardon, mais je vais reposer. Je suis très fatigue aujourd'hui. Merci beaucoup.

O gerente apenas gesticulou educadamente com a cabeça e ela entrou no elevador, respirando fundo, louca para entrar em seu quarto e se atirar na cama enorme e confortável. Poderia tomar um bom vinho e pedir um jantar pelo serviço de quarto.

Estava com frio, definitivamente um bom vinho aqueceria o seu corpo. Retirou as luvas das mãos e sentiu um cheiro levemente masculino quando as correu pelos cabelos. Era o cheiro dele. Hermione quase teve certeza de que Malfoy conseguiria aquecê-la de forma satisfatória em vez do vinho. Abriu os olhos e mexeu a cabeça para afastar os pensamentos que estava tendo. Por Merlin! Ele era Lucius Malfoy!

Obviamente estava em um momento de vulnerabilidade, e sabia que esse era o motivo de um simples roçar de lábios ter feito com que ela ficasse tão... aberta. Hermione se surpreendeu em como um simples reencontro com alguém que ela achava no mínimo desagradável poderia fazer esse efeito no seu corpo.

E se surpreendeu ainda mais quando se deu conta de que seus pensamentos eram preenchidos pelo bruxo sonserino loiro, e não pelo grifinório ruivo.


Curiosidades:

- Mlle. é a abreviatura da palavra francesa Mademoiselle, que é o mesmo que Senhorita (Srta.) em português.

- "Ce soir" significa "Essa noite".


Traduções:

- Boa noite, Srta. Granger.

- Boa noite. Obrigada.

- Boa noite, Srta. Granger. Vamos fazer uma festa essa noite. Quer que eu faça uma reserva?

- Desculpe, mas eu vou descansar. Estou muito cansada hoje. Muito obrigada.