A cidade fracamente iluminada pelo sol exalava cheiro de bitucas de cigarro. Estava uma manhã fria de outono e depois de se arrumarem morosamente, pois queriam ficar deitadas para sempre num abraço por baixo da coberta fina, foram juntas ao ponto de ônibus. As mãos entrelaçadas. Asami tinha uma entrevista de emprego e sua namorada estava atrasada para a aula. Seu ponto, entretanto, era do outro lado da rua.
- Não tem problema. – ela dava seu sorriso largo nesses momentos. – Eu espero.
Dissera também que estava especialmente bonita e apesar de sua amada não conseguir esconder a espinha inconveniente com maquiagem, ela se sentia especial aquele dia. Como se sentia ser todos os dias depois que passaram a morar as duas na mesma casa apertada, com pintura descascando e alissos ao pé da janela, convidando as abelhas para uma visita às seis horas da matina.
Garoava irritantemente e os bancos estavam molhados pela madrugada chuvosa. Ficaram em pé, portanto. O gosto das panquecas queimadas do dia anterior e do café forte ainda estava em sua língua, sentia seu próprio bafo ao bocejar e que percebia ser quase igual ao de Korra quando ia beijá-la.
- Já deve ter passado.
- Hmm.
- O ônibus.
- É.
- Assim temos mais tempo. – brincava com os dedos entre os dedos de Asami.
- Sim, temos.
Seus olhos brilharam enquanto queria ajeitar a franja perturbadoramente desarrumada de Korra, mas segurava uma bolsa e na outra segurava a mão dela levemente suada. Permaneciam assim com mimos e frases curtas, anestesiadas pelo sono e pela preguiça, enquanto mais pessoas apareciam para pegarem o transporte coletivo.
Em algum momento o ônibus surgiria, cada qual seguindo seu caminho de rotina por consequência e apenas voltando a se ver ao fim do dia. Nessa curta percepção dos fatos da vida, veio um impulso singelo e genuíno em Korra. Espontaneamente sua voz saiu, como que para dizer mais alguma coisa banal e aleatória.
- Quer casar comigo?
Asami piscou ainda de olhos na estrada, no cinza da rua pavimentada. Lembrava que tinha de comprar algumas frutas, pães e uma lâmpada. O nariz gelado de Korra se encostou a sua bochecha – estava pedindo por atenção. Um riso anasalado quebrou a respiração suave e os pensamentos dispersos de Asami. A resposta era proporcionalmente óbvia a importância daquele pedido, já outrora feito e respondido sem as palavras.
- Já estamos casadas.
nota: Voltando a escrever com uma pequena bobagem.
