001 _ Senhorita Sidle

Acordei cansada o suficiente para ligar para o laboratório alegando um mal-estar. Então dormi até as dez, uma coisa rara na minha rotina que varia entre Grissom, trabalho e Grissom novamente.

Já era quase meio-dia quando meu celular tocou, o número conhecido fez meu estomago se agitar.

_ Gil!Hey _ eu atendi o celular entusiasmada.

_ Sara, Ecklie me disse que você estava mal é verdade? _ ele perguntou com um tom de preocupação em sua voz.

_ Eu acordei indisposta hoje, mas já estou melhor. Não se preocupe.

_ Que bom, querida! Pois bem... terei que desligar agora. _ Grissom falou sussurrando, parecia cansado.

Eu sorri de lado. Gil sempre foi tão esforçado em relação ao trabalho. Sempre dava o melhor de si em tudo.

_ Eu te amo! _ eu me apressei em dizer, lembrando-o mais uma vez do sentimento que crescia cada vez mais dentro de mim.

_ Eu também, Sara.

Desliguei o telefone e sorriso no rosto continuava.

Mantínhamos nosso relacionamento em segredo, quero dizer, quase. Catherine e Brass sabiam desde o inicio. Nick, Rick e Greg souberam pouco tempo depois. O único que tínhamos receio é o Ecklie. Ele não é exatamente o cara que eu gosto de ter como superior.

Me sentindo totalmente renovada pelo bom sono, resolvi tomar um banho e passear com o Hank. O pobre coitado já devia estar entediado dentro do apartamento.

Tomei um banho morno e vesti uma roupa confortável. Estava calor lá fora, então resolvi prender meus cabelos (que agora estavam mais longos) em um rabo de cavalo.

_ Hank! Venha aqui rapaz. _ o cachorro apareceu abanando o rabo assim que eu o chamei. _ Quer passear? _ Hank deus alguns latidos _ Bom garoto!

Peguei sua guia que estava no canto da sala e prendi junto com a coleira.

Logo que começamos a andar Hank se interessou por uma poodle do outro lado da rua, seus latidos graves começaram a fazer minha cabeça latejar.

_ Hank, para garoto! Hey, Hank! _ eu pedi em um tom baixo, mas já era tarde de mais. Assim que o sinal fechou, Hank saiu em disparada, me levando junto, pois o cachorro era mais, muito mais, forte que eu. Hank chegou perto da poodle e deu alguns latidos felizes. A dona da cadela, por outro lado, parecia aterrorizada.

_ Me desculpa, senhora. _ eu falei tentando ignorar uma dor em minha mão e ao mesmo tempo acalmar a mulher _ Ele não morde. _ dei a mesma desculpa que todos os donos dão sobre seus animais. Eu puxei o cachorro que se deu por vencido e saiu de cima da pequena cadela.

_ Chega de passeios por hoje, Hank!

Fomos pra casa em silêncio. Minha mão continuava a arder e Hank parecia... envergonhado.

Assim que chegamos em casa eu soltei o cachorro que foi para seu canto.

_ Isso mesmo! Sinta-se envergonhado! _ eu disse apontando um dedo em direção ao cachorro e me virei para ir ao banheiro _ E vê se da próxima, escolha alguém compatível ao seu tamanho!

Fui ao banheiro e lavei minha mão, percebendo que a palma da minha mão e alguns dedos estavam queimados pelo puxão da guia sintética. Passei uma pomada para queimaduras e fui até a cozinha para pegar um pouco de gelo.

Quando a dor já estava mais amena, resolvi fazer o almoço. Desde que começamos a morar juntos, Gil vinha almoçar em casa. Era uma parte do dia na qual eu adorava. Almoçávamos juntos, conversávamos sobre o nosso caso do dia. E as vezes, só as vezes, eu me deixava pensar sobre algumas crianças almoçando conosco algum dia.

Quinze minutos depois do almoço pronto, Gil chegou com um sorriso torto no canto dos lábios.

_ Olá dorminhoca! _ ele falou colocando uma pasta em cima do balcão e em seguida veio ao meu encontro me dando um breve beijo nos lábios.

_ Olá, homem dos insetos! Como foi a manhã no laboratório? _ eu perguntei, colocando algumas panelas em cima da mesa.

_ Assassinato na Strip. Sem carteira, sem dinheiro, sem o braço esquerdo... _ ele foi dizendo as novidades.

_ Hmm... _eu falei pensando no caso e logo após foquei minha atenção no almoço. _ Vem, vamos comer.

_ Honey..._ ele segurou minha mão, olhando para a queimadura _ Como isso aconteceu?

_ Pergunte ao seu filho _ eu respondi simplesmente, lançando um olhar aonde Hank geralmente está.

Grissom se virou falando em um tom mais alto:

_ Hank! Venha já aqui! _ segundos depois o cachorro já estava no cômodo.

_ Viu o que você fez na mão da Sara? Vamos, peça desculpas! _ o cachorro fez uns sons como se estivesse argumentando com Grissom. _ Isso não está em negociação, Hank!

Em seguida, com um olhar cabisbaixo, cachorro veio até mim e abanou o rabo e se enroscou na minha perna.

_ É claro que eu te desculpo, Hank. _ eu acariciei o cachorro com a minha mão boa e sorri.

Grissom e eu lavamos as mãos e fomos almoçar.

Durante o almoço, Gil para de comer e pergunta:

_ Sara, como isso aconteceu? _ ele apontou para a minha mão, deixando claro no que ele se referia.

_ Ele se interessou por uma poodle e então, me levou para conhece-la – eu falei dando uma leve risada.

_ Ele quis cruzar com uma poodle? _ Gil perguntou segurando o riso.

Eu apenas assenti rindo.

_ Faz tempo que estou pensando em dar uma companheira para o Hank. Eu sei o quanto é ruim ficar sozinho _ ele falou retomando a atenção a comida.

_ Gil, você já pensou em... Castrar o Hank? _ eu perguntei em um tom apreensivo.

_ O quê? Não Sara! Ele não merece isso!

Eu dei mais uma risada, vendo sua preocupação com o cachorro.

_ Tudo bem. Então, vamos começar a pensar em arranjar uma namoradinha para ele.

Terminado o almoço, Gul apareceu com uma roupa diferente, dentes escovados e perfumado. Depois que ele pegou sua pasta e casaco, ele me deu um beijo de despedida.

Sozinha, escovei os dentes e resolvi alugar um filme, sem o Hank dessa vez. Coloquei outra roupa e peguei minha bolsa. Fui caminhando , escutando música no meu Ipod até que acidentalmente eu esbarro em alguém.

_ Ah, me desculpa. _ eu falei até olhar pra cima, dando de cara com ninguém menos que... _ Lady Heather? Que... Que surpresa _ Eu

_ Ah surpresa é toda minha. _ ela respondeu em um tom debochado. _ Você sabe se o Gil está em casa? Sophia me disse que ele veio pra casa almoçar.

_ Não, ele não está _ eu respondi direta, deixando claro que mais perguntas não eram mais bem-vindas.

_ E como você sabe? _ Lady Heather perguntou novamente, me testando. Querendo que eu deixasse algo escapar.

_ Nós estamos morando juntos. Vai fazer sete meses. _ eu respondi com um sorriso debochado _ Estamos noivos.

Sua expressão foi do nojo ao espanto e ao nojo novamente.

_ Eu sempre achei que o Gil tinha um gosto estranho _ ela deu uma risada sarcástica _ Insetos, corpos, você...

Dessa vez, foi a minha vez de rir.

_ Achou engraçado? Pois eu também achei... _ ela se aproximou de mim e levantou o dedo indicador na minha direção. _ Escute aqui Sidle, é melhor você tomar cuidado. Noivados podem terminar em um piscar de olhos.

_ Lady Heather, se tem amor a sua vida, é melhor tirar o dedo da minha cara. _ eu falei entre dentes. Ela entendeu o recado e abaixou a mão. _ Passar bem, Heather.

E então, sai de lá, deixando-a com raiva, com certeza. Porque tudo na minha vida tinha que ter alguma coisa errada? E porque justo uma dominatrix tinha que se apaixonar pelo meu noivo?

Minha vontade de ver filme se esgotou e acabei andando por Las Vegas. Vendo as lojas, os casinos, os turistas. Observando pessoas que tinham suas vidas, seus empregos, suas casas, suas famílias. Cada uma com uma história diferente. Com filhos, com pais. Com mulheres e ... Maridos.E u respirei fundo e fiz meu caminho de volta pro apartamento. Assim que entrei, larguei minha bolsa no balcão e fui pro sofá. Me sentei confortavelmente, respirei fundo e fechei os olhos e pensei na minha vida até agora. Fiz questão de passar os primeiros anos da minha vida e focar na melhor parte dela. E com certeza, Grissom faz parte dessa melhor parte. Ele me salvou de todos os jeitos. E eu o amava tanto!

Mas, será que ele me amava o suficiente para desistir dos prazeres de privilégios da vida de um homem solteiro? Será?