O título é de uma música do MUSE que eu não consegui parar de ouvir enquanto escrevia isso.

E, claro, não possuo Glee ou nenhum persongem da série.

E nem queria. Ter o Chris Colfer já estaria de bom tamanho.


SING FOR ABSOLUTION

Na verdade eu não o conheço.

Eu não sei exatamente quantos anos ele tem ou o que gosta de fazer nas horas vagas. Não sei sua cor preferida, os lugares que ele gosta de ir, as músicas que o fazem dançar sem se importar se alguém está olhando, sua comida preferida e o que ele sempre pede pra beber quando se encontra com os amigos. Eu nem sei se ele gosta sair à noite ou se ele prefere o dia, se ele gosta de caminhar ou se prefere ler enquanto chove. Que faculdade ele fez, se ele realmente gosta do seu trabalho, se já pensou em mudar a cor do cabelo, se prefere McQueen como eu ou se é adepto ao jeans-mais-camisa-e-sapato habitual. Eu realmente não sei nada disso. Será que ele é de câncer? Ou Talvez escorpião? Talvez ele não acredite em horóscopos, talvez não acredite em Deus como eu, talvez prefira Buda ou então Platão.

Hoje ele pode ter acordado e tomado café normalmente. Ele pode ter ido ao Starbucks na rua de baixo, sentido o cheiro da massa quente no forno, ter falado com o atendente enquanto pediu seu café, ter voltado pra casa decorando os detalhes do caminho curto até seu prédio pela última vez e dado bom dia a senhora do sétimo andar. Ele pode ter lido uma revista velha depois do almoço e de um banho gelado. Pode ter olhado pela janela com seu chá quente quando a noite começava a aparecer no horizonte. Pode ter pensado em sua vida ou pode não ter pensado em nada.

Ele pode por outro lado, nem ter desejado acordar essa manhã. Pode ter ficado tarde e ele tenha preparado seu café na hora do almoço enquanto procurava algo interessante na televisão. Ele pode ter bebido a ultima cerveja que havia na geladeira, passado o dedo na Nutella sem medo do dia seguinte e voltado pra cama, escondendo-se nos lençóis. Talvez ele tenha ficado ali o resto da tarde. Talvez ele tenha chorado, ou pelo contrário, talvez ele tivesse sorrido. Talvez ele não estivesse triste por que ele não parecia triste quando o vi pela primeira vez. Ele parecia em paz. E foi estranho porque eu nunca pensei que ficaria tão assustado ao ver alguém parecer tão sereno e calmo na minha vida.

Na verdade eu nem deveria está aqui. Mas as pessoas ao redor estão preocupadas demais pra notar que eu ainda estou presente. Melhor assim. Olho pra eles e imagino os momentos que estão passando por suas cabeças, os dias que passaram com ele, as conversas, os olhares, sorrisos, as piadas que ele contava ou como seu rosto ficava quando as lágrimas caiam. Desde o problema de coração do meu pai eu não piso em hospitais e eles continuam tão desagradáveis quanto daquela vez. Nunca vou me acostumar com a atmosfera de um lugar desses.

Estamos todos tão pálidos quanto resto da sala de espera, o que com certeza não era difícil pra mim que sempre tive a pele clara demais. Eu olho pra eles e imagino se estão se sentindo culpados, se é por isso que a mãe dele não para de chorar, se é por isso que o pai dele não se move da posição em que está, abraçado a sua esposa. Ou então eles só não querem acreditar, só nunca imaginaram ou nem mesmo acreditaram quando a recepcionista ligou e contou o que havia acontecido. O rapaz sentado tem o maxilar tão tenso que eu me pergunto se ele não sente dor ou se ele simplesmente escolhe ignorá-la de tanto que se pergunta o que ele poderia ter feito pra ajudá-lo e não fez. Ele não está chorando, mas como eu, parece que não o faz porque seu corpo de alguma forma se esqueceu dessa que é uma reação básica em situações desse tipo.

As duas mulheres em pé, olhos inchados, celulares na mão. Pra quantos amigos elas ligaram até aquela hora? Quantas pessoas devem está preocupadas agora? Quantas estão rezando? Quantas se surpreenderam? Quantas o acham imaturo pelo seu gesto? Quantas tem pena dele? Eu não tenho. Não pena. Eu não deveria ter, na verdade. Eu nem o conheço. Pergunte a cada uma dessas pessoas um simples fato sobre ele e você obterá uma resposta. Pergunte pra mim e eu não saberei dizer nem ao menos qual a cor dos seus olhos. Mas mesmo assim, mesmo assim, eu não vou embora. Mesmo assim eu tenho que ficar e ver se ele está bem. Eu não queria ter que lidar com isso, mas eu sei que eu tenho. Pelo menos até eu entender que sentimento eu estou tendo agora.

Acho que quando o susto passar eu saberei. Já tive que lidar com a morte antes e com a proximidade dolorosa dela. Acho que passar por isso acordou de algum modo a lembrança desses sentimentos dentro de mim de modo que eu não consigo controlar ou evitar me sentir assim. A realidade é mais que totalmente diferente dessa vez mas a morte em si é igual pra todo mundo, vem pra todo mundo. Logo, não deve ser assim tão estranho que eu ainda esteja sentado aqui, percebendo a fragilidade de nossas mentes e corpos, observando reações ou só evitando elas.

Está frio, na verdade. Assim como estava o quarto dele quando eu entrei. Estava bem iluminado, as cortinas fechadas, a porta encostada, o chão bem encerado e tudo em seu devido lugar. Mas estava frio quando eu entrei, eu lembro. Fui andando pelo aparamento e chamando por alguém, mas à medida que eu não obtinha resposta, eu só continuava e continuava. Afinal, eu tinha que avisar a alguém que o cachorro tinha saído e corrido escada abaixo. Minhas costas doem agora, mas não vou me mexer. Principalmente por que não quero chamar atenção pra mim. Não que isso venha a acontecer mas é melhor evitar de qualquer modo.

O rapaz levantou e cruzou os braços. Parei de olhar pra eles naquele momento pois já era estranho demais o fato de eu estar ali, um estranho que entrou em cena em suas vidas em um momento como esses. Então esperei olhando pros meus sapatos até que um doutor apareceu fazendo todo mundo levantar menos eu. Ouvi atentamente o que ele falou, ouvi quando disse que ele não estava acordado mas que eles poderiam vê-lo de longe já que agora ele estava fora de perigo. Perguntei-me de novo o que eu estava fazendo aqui. Voltei aos meus belos sapatos, balançando lentamente distantes da minha cadeira, esperando, esperando, esperando, sem saber o que exatamente. Saíram pouco tempo depois, falando comigo antes de pegarem o caminho do elevador.

Não gosto das palavras. Eu quero dizer, é claro que eu gosto, que pensamento idiota, elas são tão responsáveis por nossas vidas e necessárias quanto o quê? Respirar, por exemplo. Mas em certas situações elas simplesmente são ínfimas. Eu prefiro um olhar. Porque 'obrigado', por exemplo. É o que dizemos quando o vendedor nos dá a revista que pedimos na banca de jornal, quando recebemos o troco do ônibus, quando nos elogiam ou quando alguém segura a porta do elevador num dia em que você está atrasado pro teste de elenco no ultimo andar. Então como supostamente um 'obrigado' vai significar a gratidão de alguém quando outra pessoa salva seu filho de um incêndio, acha a cura pra uma doença, te tira do mar quando você está sem ar nos pulmões? Como pesar a equivalência da mesma palavra nessas situações? De uma única forma, acredito eu: com um olhar. Sem nenhuma palavra a mais a mãe daquele rapaz me falou o quanto ela estava agradecida por eu ter chamado os paramédicos quando o encontrei. O quanto ela estava aliviada por esse meu gesto que pra mim seria a coisa mais normal do mundo a se fazer, mas que era pra ela, o que havia ajudado a salvar o que existia de mais precioso na terra. E como eu respondi de maneira a ser suficientemente significativo? Eu a abracei. E então eles foram embora com acenos de cabeça, olhos vermelhos e esperança. Ele estava vivo. Mas certamente ele não iria acordar tão cedo.

Se eu fosse uma pessoa mais compassiva eu teria dado o bilhete que encontrei no seu quarto a mãe dele. Mas mesmo que fosse a coisa certa a fazer, não acho que ela iria querer ler algo como isso. Eu nem mesmo sabia se os médicos tinham dito se foi um acidente ou não. Bom, isso é certamente improvável, mas ainda assim. Acho esse conceito comum de que ser bom é fazer a coisa certa todo o tempo muito inconsistente. Se eu não errar, como eu vou aprender? E como eu sei o que é certo se eu não conheço o errado? Porque o que é certo pra você pode não ser pra mim, ora essa. E eu não falo em transgredir leis, burlar normas ou ser um psicopata pra saber disso. Eu falo sobre viver. Minha vida inteira foi uma questão de auto-policiamento, de proteger meu espaço pessoal, de não confiar inteiramente nas pessoas. Porque eu tinha que cuidar do meu pai, porque eu tinha que evitar as provocações no colégio, porque eu tinha que atuar duas vezes melhor que os outros rapazes pra garantir que o papel de heterossexual não seria menos másculo se eu encenasse, porque eu tinha que ensaiar até esquecer o meu nome para cantar e dançar melhor que os outros e conseguir a vaga na faculdade e assim por diante. Por que se eu falhasse em uma dessas coisas, o mínimo que fosse, as conseqüências seriam grandes demais pra que eu pudesse lidar. Mas agora, formado, com meu pai casado e trabalhando naquilo que eu faço de melhor, por que raio de motivo eu teria que me preocupar com isso? Por que eu teria que me preocupar em ser perfeito todo o tempo? Em não errar? No palco sim, sem sombra de dúvidas. Mas como pessoa, como ser humano? Por quê? Se é tudo um aprendizado no fim das contas? Não, não vou entregar esse papel a ninguém. Além do mais, esse bilhete não é meu. Não posso dar o que não me pertence, certo? Tirei-o do bolso e li mais uma vez.


Às vezes eu penso na noite como um outro eu que vem me fazer companhia e me afundar ainda mais na monotonia. Dias iguais, roupas diferentes. Lugares iguais, comidas diferentes. No fim o que é igual se sobressai e o que lhe resta quando você olha no espelho? Tédio. Já passei por muitas, já estou satisfeito. Eu venho pensado sobre isso algumas vezes, eu realmente venho. E eu estou certo que algumas pessoas perceberam. E eu estou certo que elas sempre tentaram me ajudar. Mas me ajudar em que se eu não tenho problemas? Físicos, sociais, financeiros, com meus pais ou amigos. Não tenho. É só solidão. Que eu tenho que confessar: me atrai de certa forma.

Mas ultimamente... Ah, ultimamente. Tenho me comportado diferente comigo. Converso e não me entendo. Explico, repito, mas a decisão tomou-se por conta própria, longe de qualquer artifício que eu possa usar para dissuadi-la.

Talvez em uma outra vida, eu venha como um pássaro daqueles sem lugar fixo e voe tanto quanto minhas forças permitirem. Talvez eu venha como um peixe abissal e permaneça na escuridão causando curiosidade aos pesquisadores e viva até que um peixe maior me encontre e me torne seu jantar. Talvez eu não volte mais, mas talvez e apenas talvez, da próxima vez, eu consiga perceber outras coisas que eu não vejo agora mas que eu sei que estão lá fora. Estou cansado demais pra procurar.

Eu nem posso contar o quanto eu sinto muito por isso, mãe, pai, amigos. Eu os amo com a força da minha alma. Mas por agora, vou fazer o que é melhor pra mim, o que me fará me sentir melhor.

Foi assim que eu aprendi.

Com amor e pesar,

Blaine.


Não, eu não contei o tempo que eu esperei olhando pros meus sapatos, na verdade. Só levantei e fui até onde eu achava que era o quarto daquele menino que eu tinha visto deitado parecendo tão tranqüilo em seu quarto, com um frasco de calmantes vazio na mão e uma folha de papel no criado mudo. Sinceramente, ele parecia mais velho que eu. Mas alguma coisa nele era tão jovem e tão pura, que chamá-lo de menino em pensamento fazia todo o sentido. Entrei sem que ninguém percebesse. Ele não parece tão bem dessa vez. Está mais pálido e tem uma quantidade relativa de parafernálias médicas saindo do seu corpo. Sentei na cama e segurei sua mão repetindo o gesto que tinha feito mais cedo em sua casa, após ter ligado pra emergência quando percebi o que estava acontecendo. Tão cedo que já tinha se tornado ontem. Segurei a sua mão e esperei até que a ambulância chegasse, hora vendo a persiana se mover na janela, hora observando seu peito se movimentar enquanto ele respirava. Ele devia ter tomado aquilo pouco tempo antes de eu chegar. Mas não sei dizer se naquela hora ele não queria abrir os olhos ou ele não conseguia mais.

Como será que ele se parece quando sorri? Será que tem aquelas covinhas no rosto? Será que seus olhos ficam apertados e suas bochechas rosadas? Como será que ele se parece quando canta com a música no rádio? Será que ele passeia de bicicleta aos domingos ou ele prefere assistir a maratona de alguma série na TV? Ou baseball, como meu pai? Eu aposto que ele prefere doces ao invés de massas. Ele tem cara de quem prefere. Espera, tem mesmo? Talvez ele seja vegetariano. Responderia a maciez da pele e a textura do cabelo negro. Não, acho que isso vem daqueles produtos que ele deve ter no banheiro. Eu gosto de suas sobrancelhas. São engraçadas, charmosas. Gosto do modo que a barba dele está, começando a crescer silenciosamente pelo contorno do seu maxilar forte, másculo. Ele deve ter olhos claros. Mas também se forem escuros, vai combinar com sua pele. Ele parece com sua mãe de um modo geral, mas talvez tenha herdado os olhos do pai. Talvez. Será que ele escreve em algum lugar? Um diário? Um caderno? Eu aposto que sim, sua caligrafia não é tão ruim, é de quem pratica. Será que ele tem namorada? Não parecia ser uma daquelas garotas. Ou namorado, então? Acho que a mãe dele falou alguma coisa sobre isso, sobre um colégio que ajudou com problemas sobre sua sexualidade, mas eu não consigo lembrar exatamente. Estava mais preocupado em ouvir o número do seu quarto.

Eu gostaria que ele visse o que eu vejo quando olho pra ele, o que eu imagino pelo menos, o que acho que ele poderia ser, as coisas boas que ele poderia fazer. Mas acho que isso nunca vai ser possível. Porque ninguém nunca é capaz de convencer alguém do seu potencial a menos que a pessoa queira ouvir de coração. E não só ouvir, queira acreditar. Queira olhar nos seus olhos e acreditar. Isso soa tão hipócrita da minha parte, esses discursos que eu nunca acreditei quando falavam pra mim, que chega até ser engraçado do jeito mais deprimente que uma coisa possa ser engraçada nessa vida. Sorri. Não exatamente, mas eu gosto de pensar que eu sorri.

Espero ter feito a coisa certa quando falei no telefone que havia um rapaz desacordado e aparentemente sofrendo uma overdose de calmantes no meu prédio ontem à noite. Porque sem falso moralismo aqui, eu acho que ele deve ter seus motivos e eu não sou nada além de mais um ser humano que não tem nada a ver com as decisões que as pessoas tomam com respeito a si mesmas. Todos tem o direito de viver e morrer como querem, certo livre arbítrio? Não é isso que você prega? Que seja. Eu espero que não tenha sido só uma das tentativas que ele venha a fazer, eu espero que não esteja devolvendo ele a algo pior que a morte, espero que ele não me odeie no fim das contas e que algum dia possamos conversar. Só conversar, sabe? Sobre alguma coisa que ele queira. Eu aposto que ele só precisa de algo assim, de alguém que se importe de verdade. Mas mais do que isso, ele que precisa se importar consigo mesmo. Ame a você mesmo e as pessoas ao redor vão acabar fazendo isso também, era o que meu avô dizia. Não exatamente, mas o sentido era o mesmo. Cada um sabe o que carrega de bom e de ruim, isso é verdade, mas tendo aprendido a tempo que há saídas muito melhores do que essa que ele tentou, eu sei que eu poderia ajudá-lo.

Talvez mais do que conversar um vez, poderíamos tomar um café um tarde dessas. Ou caminhar pela manhã. Ele poderia me ver no palco ou então eu poderia passar no seu trabalho no final do expediente. Ou então, na pior das hipóteses, ele poderia pelo menos me dizer mais que um oi quando nos cruzássemos no corredor. Por que talvez ele não queira conversar sobre isso com um estranho. Isso seria uma pena. Porque eu não o conheço, não exatamente. Mas o Blaine é agora uma das pessoas que eu mais gosto nesse mundo. Por que somos parecidos? Por que vendo ele aqui me lembra de mim mesmo há um tempo atrás? Por que eu posso imaginar o que ele sentiu e o que passou por sua cabeça quando ele tomou aquelas pílulas?

Quer dizer, em parte. Por que no meu caso, eu as vomitei antes de qualquer mal estar maior. Por que eu me arrependi antes do meu pai chegar em casa e encontrar seu único filho deitado e sem vida no seu quarto decorado com tanto esmero a lá principado de Mônaco. Ele reclamou da comida do colégio e até ameaçou ir lá no dia seguinte dizendo que o descaso por parte da direção era a causa do meu mal estar. E então ele cuidou de mim, perguntou se precisava ir ao médico, disse que tudo ia ficar bem. Chorei quase incontrolavelmente aquela noite e nunca fiquei tão feliz em ter me arrependido a tempo de algo na vida. Se não fosse por mim, que fosse por ele, pensei, pelo meu pai. Mas esse rapaz não tinha ninguém por perto pra fazer isso por ele. Ou talvez ele tenha e só não percebeu a tempo e se arrependeu como eu. Mas era mesmo só por isso que eu ainda estava aqui? Por que somos vizinhos agora que eu me mudei pro seu prédio? Por que temos mais coisa em comum do que eu posso imaginar? Por que eu sinto que temos? Não sei. Mas eu sei que eu tenho uma caneta na minha bolsa.


Um pássaro, um peixe ou qualquer outro animal, eu tenho que dizer, não me parece uma boa idéia. Nenhum deles é capaz de sentir como nós sentimos. Seria divertido mas eu aposto que você não se arrepende da sensação no final do seu ultimo livro, da emoção. Ou depois daquele olhar acompanhado do sorriso de um amigo, daquela cena que te fez rir e chorar ou chorar de tanto rir, ou daquela música que você repetiu por tantas vezes que não saberia estimar um número correto.

Mas não olhe lá fora da próxima vez.

Queira ver, queira achar e então, você irá. Não importa aonde. Talvez o que você mais precise esteja dentro de você, nessa parte intocada pela noite, que clareia o cômodo ao redor sempre que você permite que lhe tome por inteiro. Já procurou aí?

Eu diria que só tem um jeito realmente bom de voltar, sabe?

E é exatamente desse jeito que você voltou. Como o Blaine. Por que a gente nunca tem tempo suficiente pra viver tudo que a gente pode viver em uma vida só, pra provar tudo que a gente pode degustar, visitar todos os lugares interessantes, tocar instrumentos que a gente sempre achou difícil, rolar na grama como se tivesse doze anos ou tentar roubar aquele cachecol que te fizeram usar no seu ultimo editorial de moda.

(Aprendi que essa ultima não da certo então, aconselho que você não a repita.:)

Aproveita a sua segunda, mas não se acostume porque eu acho que essa regra de ter sete vidas vale apenas pros gatos. E ainda assim, há controvérsias.

Aliás, seu cachorro fugiu. Mas tudo bem porque eu vou encontrá-lo.

E na verdade, não, você não conhece o dono dessa caligrafia.

Então, muito prazer, vizinho. Pode me chamar de Kurt.


Dobrei o papel de novo e o devolvi pro seu dono, deixando-o no lugar que a minha própria mão ocupava junto à dele. Suspirei alto e olhando seu rosto pela última vez, saí do quarto.

Ele vai ficar bem. Algo me diz isso.


Obrigado por ler. ;)

Love xx.