E tudo começou de uma forma que eu jamais iria cogitar. Para mim, isto de romance de professor e aluna era apenas coisa que eu lera em Lolita, para mim amor e ódio não eram linhas tênues, para mim sorrisos não eram máscaras e continham apenas desprezo.Não admiração.Não desejo.Só e unicamente anos passados, cinco com desdém implícito, dois com repulsa gritante. Isso para ele, sete com admiração, cinco com fascinação e dois com paixões em comum: de início livros e conhecimento e, tempos depois, firewhisky.
usóbrio/u - imarcado por temperança, equilíbrio, moderação e/ou seriedade; contido nas emoções e caprichos/i
Nada foi colocado as claras no início. No começo foram só duras palavras, reclamações, cobranças. Eu chorei, ele riu. Me desesperei, ele olhou. Acreditava que se deleitava em cada gota do meu suor e não que me queria em seus braços a cada momento. O proibido. O sonhado. Regras e mais regras tão estúpidas como uma sociedade tão hipócrita que não vê com bons olhos diferenças de idade. Não acreditam em sentimentos, em felicidade, querem corroer a toda e qualquer relação como tubarões famintos, anseando o fim. E por vezes quase conseguindo - porque logo depois de uma briga monumental vinha um pedido de desculpas. Não verbal, não material. Um olhar e nada mais. Porque eu sabia que ele sentia muito e ele sabia que eu também. E assim a gente se entendia.
usóbriou - idespojado de exibições de poder, cultura, inteligência; de caráter ou comportamento sereno, discreto, recatado/i
Quando eu o vi na Ordem aquela vez, foi com outros olhos. Não como uma estudante obcecada em ser a melhor em tudo olhando para aquele que deve ensinar, mas como uma mulher olhando. Eu tinha vinte e cinco, e ele, vinte anos a mais. Enquanto os outros se preocupavam em empunhar a varinha, nós traçávamos planos e rabiscávamos pergaminhos e mais pergaminhos: éramos tão bons em planejar tudo o que era feito e manipular cada um em cada situação que não percebemos quando caímos na nossa própria armadilha. Nenhum queria assumir - eu por me negar a aceitar que aquele que fora objeto de meu desafeto por tantos anos agora me era agradável, ele por não acreditar que eu pudesse sentir o mesmo. Achamos que éramos rejeitados um pelo outro embora compartilhassemos livros, penas, tintas e garrafas de bebida. Não éramos do tipo chamado para festas, sempre ficando a margem com um comentário ácido (da parte dele), uma garrafa - sempre com algo que contesse álcool - e dois copos. Bêbados calados, julgando-nos melhor do que tanta gente, caíamos na grande armadilha, a pior de todas, aquela que não dá para se livrar com facilidade. No primeiro beijo, ele cheirava a whisky. Eu tinha gosto de martini.
usóbrio/u - ide tom ou cor não vistosa, chamativa/i
Ele me olhou diferente uma certa vez. Eu sorri. Ele também. A gente simplesmente sabia.
Agora eu continuo aqui. Eu sei que já faz algum tempo mas continua difícil viver sem ele (estou melhorando, mas ainda não estou bem), sem aquele que me abraçou quando eu estive triste, que secou cada uma das minhas lágrimas. O que sempre me atraiu nele não foi a beleza nem as posses, os modos ou a firmeza. Foi a inteligência, o fato de não ligar para o que os outros diziam. Ele era auto-suficiente e com isso, me ensinou mais do que qualquer professor. E eu o amei. E três meses após sua morte, ainda o amo. Três meses e eu continuo sem um pingo de álcool na boca, sem vontade de beber o que restou do nosso último firewhisky e perder tudo o que tenho dele nesse mundo. E eu continuo respirando, esperando para ter meu último suspiro e então estar mais uma vez com ele onde quer que seja.
usóbrio/u - isinônimos: discreto, grave, sério,bsevero/b/i
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Short demais, eu sei, mas simplesmente saiu assim. Mais tarde talvez eu me aventure melhor nos shippers que eu gosto tanto de ler. Prometo escrever algo decente da próxima vez. Inspirada em Sober, da Kelly Clarkson.
b-justaweirdowithnoname/b
