VANGELIS
PORTRAITS
Pandora's Girls
Nota de Esclarecimento: Por motivos alheios, a equipe do Pandoras Team resolveu reeditar todo o fic Vangelis Portraits para melhor a leitura de todos e tampar buracos. Peço desculpas pela demora e acompanhem agora aventura!
Com vocês...Vangelis.
"Os humanos nada sabem, mas houve sim, antes deles, antes de tudo, no começo da criação, antes de Eva e Adão, outros da espécie humana já existiram. Nós, depois da eliminação de todos eles, apagamos todo e qualquer rastro desses seres, por ordens diretas do Senhor. Esses seres eram exatamente como os de hoje: eram capazes, reflexos do Senhor... Mesmo que, naquela época, não soubessem construir arranha-céus, desafiar e brincar de Deus, falar diversas línguas, armar guerras e intrigas, eram criaturas divinas, que todos nós cuidávamos com prazer. Sim, nós protegíamos a todos, assim como o Senhor, e juramos defendê-los e à Terra a todo custo.
Estávamos errados... Iríamos falhar... Nós, todos nós, iríamos falhar...
E começamos as intrigas, não entre os homens, os quais seria fácil acabar, pois eram criaturas muito compreensivas, humildes, que sabiam quando erravam. Mas, sim, entre nós. Um de nossos companheiros, cego pela vontade de se igualar, ou até ser mais que o Senhor, denominado Lúcifer, junto com outros anjos que também possuíam o coração corrompido pela ambição, rebelaram-se contra o Primum Mobile, contra o Senhor. Ele, até o fim, protegeu seu povo, mas foi em vão... De nada adiantou, pois em pouquíssimo tempo, todo aquele povo maravilhoso morreu... Guerras, prostituição, genocídios, suicídios, pedofilia, ódio, ambição, pragas, doenças, incestos... As pessoas, inclusive os irmãos, começaram a se matar. Os parentes de sangue, todos praticavam atos incestuosos, e mães seduziam os próprios filhos. Nunca houvera catástrofe maior...
Lúcifer, sorrindo de vitória, conseguiu o que queria.
Ele destruiu aquela raça... Todos se foram, e aquele incidente foi, pela ciência, encoberto como o início do universo, quando se ocorreu o que eles chamam de Big Bang. Sim, houve uma grande explosão, mas essa foi a explosão da raça, da Terra, anunciando um recomeço doloroso para todos nós...
Os homo sapiens atuais têm vergonha do que, antes, sucedera-se nesse planeta. E eu não os culpo.
Eu também tenho vergonha em lembrar-me daquele tempo. Tempos bons, transformados em desgraças... E nunca haverá desculpas, o que explique o que deixamos fazer por nos deitarmos demais na fé, na sabedoria Dele. Não podíamos questionar qualquer ordem do Senhor... E quando Ele nos mandou explodir a Terra, para recomeçarmos... Como sofremos! Destruir todos aqueles seres, por mais corrompidos que ficaram, foi terrível. Afinal, quantas vezes Ele quis recomeçar?
O que Ele quer, na verdade? O bem de seus filhos? Ou uma raça perfeita?
O 'Big Bang', a arca de Noé, e agora... Quantas vezes mais Ele quer destruir o planeta, para 'recomeçar'? Eu sou um Anjo, não posso rebelar-me, mas essa dúvida me come há séculos. O que nosso Senhor quer de verdade?".
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Um dos jovens padres do Vaticano entrou na sala escura, onde guardava-se os mais secretos arquivos, histórias, relatos, testemunhas, e tudo que ligava-se à religião, do planeta. Curioso por descobrir mais sobre uma pequena marginália que encontrara num livro, onde se dizia que havia, ali, anotações especiais para saber-se mais sobre o Éden, ele fechou-se na sala escura, e acendeu, ternamente, uma vela.
Ele sabia que, naquele dia, a segurança não estava tão pesada. Por isso foi fácil entrar ali.
Um padre que, antes de vestir a batina, foi ladrão e arrombador de portas profissional, um gaturno, não teria problema nenhum em driblar alguns poucos seguranças, sem chamar a atenção. Sendo um "oficial da fé", aquilo tornava a entrada ainda mais fácil. Ao entrar, depois de ligar a vela, deparou-se com incontáveis prateleiras, cheias de livros empoeirados. As teias de aranha davam um ar assombroso ao recinto, e até já faziam parte da decoração, de tantas que havia. Andou sorrateiramente pelas prateleiras, a sombra que produziam com a tênue luz da vela assustava o novato ainda mais.
Ao fundo, finalmente, ele encontra uma pequena mesa, repleta de papéis. Aproximou-se, a curiosidade e a adrenalina, o medo de ser descoberto, palpitando em cada veia, cada movimento do jovem padre.
Encobertas por uma montanha de papéis, encontrava-se, uma de cada lado da mesa, algumas pedras.
Como aquelas que Moisés usou para apresentar os dez mandamentos ao povo, que na verdade, eram doze. Sim, aquela velha história do tropeço de Moisés, onde uma das pedras quebrou-se, e onde encontrava-se dois mandamentos, era antiga, mesmo que pouco conhecida, e não precisava ser relembrada naquele momento.
Tomou uma das pedras na mão, e percebeu que não havia letras, apenas gravuras.
"O que é isso...?"-murmurou o jovem padre, perplexo e encantado diante daquele mistério.
Gravuras eram fáceis! Poderia decifrar facilmente, mas era uma lástima que a adrenalina lhe tirava parte da capacidade mental.
Na primeira delas, encontrava-se algumas pessoas na parte inferior. Acima delas, majestosamente, havia uma nuvem com um homem sentado num trono, e outros seres o rodando, alguns tocando instrumentos.
"Deus e os Anjos, hein."-sorriu o novato, feliz com a descoberta.-"E estes devem ser os primeiros homens!"
Aquilo estava o interessando.
Na segunda delas, desta vez, um dos homens que rodavam aquele que estava sentado apontava uma espécie de lança para o ser sentado. Os outros pareciam perplexos. Abaixo deles, ainda sim, havia as pessoas.
Na terceira, o homem sentado levantou-se, com uma expressão severa, parecendo querer punir o anjo de arma. Abaixo dele, os homens que, antes, pareciam em paz, agora estavam aglomerados, torturando-se, matando-se, cometendo atrocidades uns aos outros, como um bando de pecadores.
Na quarta pedra, o anjo que se rebelara contra o ser sentado, assim como alguns outros anjos atrás daquele armado, são jogados nas profundezas das trevas. Estas estavam representadas como nuvens negras dançando abaixo da terra.
Na quinta, os homens estavam numa verdadeira guerra. Os seres celestes estavam na Terra também.
Na sexta pedra, os seres celestes estavam girando a Terra, todos com fortes energias sendo emanadas de seus corpos, como se estes fossem uma espécie de bomba, prestes a explodir.
Na sétima, o planeta, como se fosse um Big Bang, explodiu.
"Nossa...O que é isso, Deus...?"-perguntava-se o padre novato, extasiado com aquelas pedras. Por Deus, o que era aquilo? Parecia uma raça antiga, assim como no nórdico Ragnarok, onde o povo descontrolou-se. Aqueles eram anjos que destruíram a Terra, como se fosse uma explosão. O que era tudo aquilo?
Na oitava pedra, enfim, apareciam dois seres. Um homem e uma mulher. Adão e Eva, com certeza... Era fácil para alguém que conhecia, de cor, todas as "fábulas" da bíblia. Eles admiravam uma cobra enrolada numa árvore.
"Adão e Eva...E a serpente da tentação!"-o padre sussurra, a luz tênue da vela iluminando fracamente as pedras e sua expressão admirada, com medo de gritar e ser descoberto.
Na nona, o homem e a mulher são envoltos em uma nuvem negra, a mulher com uma maçã comida na mão.
Na décima pedra, encontrava-se um navio pronto, com um homem colocando diversos animais dentro dele. As pessoas, aquelas que estavam vendo aquilo, tinham uma expressão divertida.
Na décima primeira das pedras, uma parede de água, semelhante à um grande dilúvio, afogou aquela população. O barco continuou navegando, seguro.
Na décima segunda, o barco "aportou" em cima de uma montanha.
"Este é o dilúvio...A arca de Noé! Tudo igual!"-ele falava com alegria e convicção.-"É tudo igual!"
E ali acabava o primeiro monte de pedras. Ele as depositou no mesmo lugar de onde as tirou, e finalmente pausou-se para respirar. O que era tudo aquilo? Contava com fidelidade os incidentes do Éden e de Noé... Mas o que era aquele primeiro incidente? Ele percebeu que estavam em ordem de tempo, de quando aconteceu... Portanto, haveria um outro acontecimento antes da criação do planeta, do Éden? O que era? Aquilo tudo era mais do que o jovem padre conseguia agüentar racionalmente, e ele estava realmente excitado.
Ao sentir que seus músculos estavam finalmente relaxados, e suas pernas já não mais tremiam tanto, ele tomou o segundo monte de pedras, que pareciam estar mais limpas e recentes, como se tivessem sido "fabricadas" há pouco tempo.
Na primeira destas, encontrava-se uma fila contínua de prédios, e algumas pessoas passeando por estes.
"Deve ser na atualidade..."-ele respirou com dificuldade.
Na segunda pedra, nove pessoas subiam aos céus, e nove anjos posicionados, estavam ali, como se estivessem recebendo-as. O jovem padre percebeu que se tratava dos nove anjos das nove categorias. Abaixo deles, no subsolo, um anjo de asas negras, Lúcifer, era provável, recebia seis pessoas.
Na terceira, aquelas nove pessoas pareciam ter se fundido com os anjos.
Na quarta pedra, os dois humanos recebidos por Lúcifer lutavam contra as nove pessoas com os anjos, e lá em cima, nas nuvens do céu, Lúcifer e Deus estavam juntos. O demônio tocava nos ombros do Senhor.
Na quinta pedra, os anjos, munidos com uma esfera de energia, pareciam perfurar as nove pessoas que, antes, guerreavam com eles.
Na sexta pedra, aqueles mesmos nove anjos matavam a todos da Terra.
Na sétima, eles novamente, como naquela sexta pedra do primeiro monte, posicionaram-se como uma roda, entre o planeta Terra, explodindo em seguida.
Na oitava pedra, a Terra estava como uma poeira cósmica.
Na nona pedra, Lúcifer destruía todo o universo, e Deus parecia jogado num canto, como se estivesse morto. Ao redor Dele, os anjos que, antes, destruíram tudo, também pareciam mortos.
Olhou novamente todas as pedras, como se não acreditasse no que enxergava. As últimas, com a destruição daquelas nove pessoas, as pessoas do mundo inteiro, a explosão do planeta, o Senhor e os Anjos mortos... Era algo fantástico demais para ser verdade, mas também assustador demais para ser ignorado.
"Será que... Isso é realidade? Então... O que acontecera...?"-ele repetia, como medo evidente. Qualquer um que conhecesse a religião, que enxergasse aquelas pedras, qualquer um assustaria-se.
Por que o Vaticano escondia aquilo? Por que possuíam aquilo?
Saiu com mais pressa do que aquela que possuía quando entrou da sala, deixando as pedras, a pressa, jogadas no chão. Mas o novato não viu os escritos atrás da décima pedra, em latim, que continuavam sendo iluminados pela escuridão: "Vangelis Portraits" e "Anima Mundi".
Continua...
