The Prophet's Song

"Listen to the wise man..."

I.

"Death on two legs,
You've never had a heart of your own."

Depois de passar pelos olhos abertos de Rowena a mão para fechá-los, Helga deixou-se cair na cadeira. O sol se punha e tingia de laranja o quarto, azulava os cabelos do cadáver. Rowena, um cadáver. Helga repreendeu-se em sua mente por tal pensamento. Ainda a sentia quente, segurara-lhe os dedos desde que a sentira com febre.

Era hora de avisar os homens.

Levantou-se, mas os dedos ainda entrelaçados com a da amiga – da irmã em sentimento, mesmo que longe do sangue – lhe prenderam o olhar e a ação. Uma parte de Hogwarts acabara de morrer, um pedaço da escola e do sonho estava pálido sob a luz do sol, que se deixava sumir por trás das montanhas que circundavam o castelo.

Era hora de avisar os homens. Atravessou a sala com decisão, embora suas mãos tremessem. Antes de abrir a porta, deu uma última olhada para o quarto. Sabia que Rowena nunca o deixaria, morta que estivesse.

Godric chorou no instante em que ela atravessou a porta. Uma surpresa para Helga, não tendo ela mesma chorado, mas não se deixou paralisar e envolveu-o num abraço tremido. Talvez as segurasse desde os primeiros desmaios de Rowena.

"Era o que ela preferia", tentou Helga.

A nenhum dos dois ocorreu falar com o segundo homem do corredor. Era o habitual: que me ignorassem. Godric a envolveu e chorou em seu ombro, os cabelos vermelhos se misturando com os vermelhos dela. Não havia em toda a Bretanha par de irmãos como Godric e Helga; liam os pensamentos um do outro, completavam-se como a uma canção.

Eu também lia seus pensamentos, mas disso não faziam idéia. Quanto a mim, pouca idéia faziam de qualquer coisa.

"E ela estava doente há tanto tempo..."

(Chorar pelos mortos; algo que tanta utilidade tinha quanto teria a volta de Helena. A moribunda mãe não teria se recuperado, nem lhe seria a terra mais leve com o retorno da filha. Seus desejos de morte nada mais eram que desejos de morte. Ouvi-la seria falta de inteligência. E quem melhor que a doce Rowena para lastimar falta de inteligência?)

Ergui-me e dei as costas para a elegia das crianças. Nada traria Rowena da morte e nada a salvaria; principalmente, nada mais podia salvar Hogwarts.

"E você não vai dizer nada, Salazar?"

Não é de meu feitio nem de meu gosto descrever meus próprios pensamentos e ações; sou um observador, e um observador sensato. Do tipo que não vê necessidade na explicação. Mas ah, as mentes pequenas dos leões...

"O que há para dizer senão que nada há para se fazer?"

(Também não é de meu feitio ou prazer me repetir, e tanto tenho falado sobre a morte do castelo, da escola e da diretora. E aqui posso confiar apenas nas páginas do pergaminho, que não me julgarão por isso; mas de certa forma morri também, quando Rowena caiu doente, assim como nasci verdadeiramente quando juntos construímos a escola.

Não por passar à frente conhecimento e sabedoria. Não. Não sei bem ao certo, e há muito deixou de ser do meu interesse.)

Virei-me antes de haver resposta.