Black Butterflies

Salazar Slytherin odiava borboletas. Todas elas. Elas eram pequenas, bonitas e frágeis. Eram quase Rowena. Tirando o fato de que Rowena não era frágil.

Salazar Slytherin era masoquista. Deitava-se embaixo de um carvalho em seu jardim e passava a tarde inteira observando borboletas. Porque elas eram pequenas, bonitas e frágeis. Quase Rowena.

Salazar Slytherin poderia falar sobre a grande variedade de borboletas que observara e suas conclusões sobre estas. Ele era um especialista em borboletas.

Borboletas azuis. Elas tinham aquela cor calma, aquele vôo calmo, transmitiam tanta calmaria... O vento soprava de leve em suas as asas e o ondular destas era hipnotizante. Mas borboletas azuis, constatara ele, eram as mais perigosamente inteligentes! As borboletas azuis enxergavam a sua vítima – uma flor qualquer – se preparavam, fingindo estar apenas voando calmamente e então: atacavam!

Borboletas rosa ou lilás eram bipolares. Essa era a maior constatação de Salazar Slytherin. Elas tinham aquele jeito doce de voar, doce de pousar, doce de sugar o néctar das flores... Mas tendiam a tornarem-se agressivas quando contrariadas. Quando, por exemplo, Salazar Slytherin tentara manda-las para longe de suas flores preferidas: as orquídeas. Salazar Slytherin poderia jurar que a borboleta dera um rasante em sua direção. Era vingança, ele sabia.

Borboletas laranja eram estranhas. Como mulheres de TPM. Comiam demais, se isolavam demais. E surgiam aos montes.

Borboletas douradas. Eram as que Salazar Slytherin mais odiava. Eram lindas. Eram pequenas. Eram absurdamente frágeis. Exalavam um brilho perolado, eram vistas de longe, admiradas por todos. Salazar Slytherin não gostava disso.

Borboletas vermelhas. Salazar Slytherin não podia dizer que as odiava. Mas elas não chegavam perto dele. Por isso ele não gostava delas. Tinham aquele vôo que para os... Borboletos ou borboletas macho deveria ser... Sensual. Quase como uma dança de acasalamento. Isso definitivamente as colocava em posição de vantagem na lista de Salazar Slytherin.

Ele vira pouquíssimas borboletas verdes. Mas essas... Por essas ele tinha um ódio especial. Diferente. Elas passavam aquela mensagem de esperança. Salazar Slytherin não gostava de ter esperança. Esperança sempre fora a sua ruína.

As borboletas brancas prendiam seu olhar mais que todas. Faziam saudade brotar em seu coração. E era por isso que as odiava. Saudade era um sentimento muito... Sentimentalista. Aquelas borboletas brancas, as menores de todas, as mais frágeis de todas... Lembravam algo como infância, inocência... Saudade. Nada mais sentimentalista do que saudade. Argh.

Mas Salazar Slytherin nunca havia visto a borboleta que agora via em sua frente. Ela o fez esquecer seus devaneios sobre os tipos variados de borboletas e seu ódio por elas. Até mesmo esquecer de seu masoquismo. Ela era negra. E estava pousada em sua mão direita. Ele a olhava com brilho nos olhos e um pequeno sorriso nos lábios. Ela era pequena. Ela era bonita. E ela não era frágil. Ela era Rowena pura.

Desde aquele dia Salazar Slytherin nunca mais sentou debaixo de um carvalho em seu jardim, observando as tão odiadas borboletas, em um ato obvia e totalmente masoquista. A partir daquele dia Salazar Slytherin esqueceu de todas as suas teses sobre borboletas – que ele chegou à conclusão de que não eram sobre os tipos variados de borboletas e sim sobre os tipos variados de sentimentos que tinha sobre Rowena -, e observou apenas uma borboleta: a sua Rowena.