Capítulo 1
Milo abriu os olhos.Estava deitado numa cama desconfortável,e um apito eletrônico indicava seu ritmo cardíaco.Olhou para os lados,mas o quarto estava demasiadamente escuro para conseguir enxergar alguma coisa.
-Alguém aí?-arriscou.
-Pensei que fosse demorar mais para acordar.-murmurou uma voz masculina de algum canto do recinto.
-Por que?Há quanto tempo estou aqui?
-Contando com o dia de hoje,duas semanas.-respondeu a mesma voz.Nesse momento,Milo ouviu um clique e a luz do quarto se acendeu,revelando Camus sentado numa poltrona um pouco distante de sua cama.
-O que aconteceu comigo,Camus?-insistiu ele,sentindo a cabeça latejar ao tentar se lembrar de alguma coisa.
-Não se lembra de nada?
-Só de algumas coisas.Uns borrões esquisitos,meu carro batendo de frente com outro carro e uma moça.Aliás,linda,por assim dizer.-respondeu ele,ligeiramente delirante.
-Bom,você realmente bateu o carro e essa moça também existe.Foi contra o carro dela que você bateu,pensei que fosse morrer.-explicou o francês.
-E ela ficou bem?
-Ela vem te visitar todos os dias,em alguns ela chega a vir duas vezes.Ficou bem preocupada.Mas acho que ela não devia se preocupar tanto,afinal,quem estava bêbado era você.
-Bêbado?Como assim?Ah,cara,minha cabeça tá estourando.-disse Milo,fazendo uma careta.-Qual o nome dessa moça?
-Moa.Deve vir amanhã.Vai ficar feliz quando ver que você acordou.
-É?Digo,é.-murmurou o grego,parecendo extremamente confuso.-Chame logo os médicos,eu quero sair daqui o quanto antes.
-É só apertar esse botão do lado da cama.-respondeu Camus,indicando um botão vermelho ao lado da cama de Milo.Esse pressionou o botão,e não demorou muito para uma enfermeira chegar.
-Ah,acordou!Era de se esperar,suas melhoras estavam sendo realmente positivas,sabe…vou chamar o Doutor Sapporo.-disse a senhora gorda e sorridente,saindo do quarto quase no mesmo instante.Logo ela voltou,dessa vez acompanhada do médico responsável por Milo.
-Ah,que novidade boa.-sorriu o tal Sapporo.Era um homem com as feições meio distorcidas,muito magras.Tirou o estetoscópio que envolvia o seu pescoço e se aproximou de Milo para examiná-lo.
-Ei,olha onde você coloca isso!-protestou ele quando o médico encostou a esfera prateada no seu peito.Depois de constatar que Milo estava bem,Sapporo pediu uma bateria de exames para o dia seguinte e disse que na próxima noite ele já poderia dormir em casa.
A última coisa que Milo gostaria de fazer naquela noite era dormir.Ficou mirando o teto por vários minutos,enquanto a madrugada passava lentamente.Que engraçado,pensar em Moa lhe dava uma certa segurança.Talvez em alguns momentos de lucidez ele tivesse conseguido ouvir a voz dela.Lembrava-se vagamente de uma voz suave mas objetiva.E de um rosto belíssimo,com feições tão delicadas que poderiam pertencer a um anjo,com cabelos negros e muito lisos que iam à altura do pescoço,com uma franja que cobria parcialmente seus olhos.Não sabia se essa moça era fruto de sua imaginação ou se ela realmente era a tal Moa,a quem "nunca" conhecera.Virou para o lado e acabou adormecendo depois de tanta resistência.
