Capítulo 1

Dos quase sete mil km² de floresta amazônica, Sara e Grissom conheciam uma boa parte. Tinham estado no Equador, Peru, Venezuela, e agora, se encontravam na Colômbia, mais precisamente, em Bogotá, onde pegariam um jatinho, que os levaria ao país, que , já que não simpatizarapossuía a maior parte da floresta amazônica: o Brasil.

Grissom não conseguia e nem tentava segurar, a excitação que sentia. Parecia um garotinho esperando Papai Noel. Sara pedia-lhe para que fosse com calma: já não era nenhum menino, tinha que cuidar do coração.

- Ora, Sara! Se sobrevivi aos trancos, de CSI, não será uma viagem que irá acabar comigo!

Ela não tinha tanta certeza. Certo que ele estava muito contente, ao lado da mulher amada, estudando a fauna de lugares que ele nunca pensou ver, descansando bastante e re-aprendendo a ser feliz.

Entraram no pequeno avião, que os levaria a uma razoável distância de Manaus; aí iriam numa van, até a ilha de Silves, aonde se hospedariam. Com eles, no avião, viajavam os Buchannans, um casal de americanos de meia idade; Franz Steiner, um alemão, radicado no Brasil, há já alguns anos e Lucas , um índio Mura, muito mal encarado.

O piloto Gonzalez sorriu para eles, quando entraram no avião. Os cabelos negros do colombiano brilhavam como seu sorriso, ao contemplar seus passageiros. Deu as boas-vindas, num impecável inglês.

Grissom estava aproveitando para desenferrujar seu espanhol, nessa longa viagem a América Latina. Confessou ao dono do último hotel, em que estivera que não falava uma palavra, em português. Sossegou com a resposta do outro:

- O brasileiro é um povo muito receptivo e, adora estrangeiro, pode falar inglês mesmo, que muita gente entende. E para os que não entendem, fale o seu ruim espanhol, que com a infinita boa-vontade deles, entenderão você.

Sara não falava nenhuma palavra em espanhol. Nem precisava, porque Grissom traduzia tudo para ela. Os Buchannans eram de Minnesota, e essa era a primeira viagem internacional deles. Só falavam inglês mesmo, e como uma boa parte dos americanos, ficava sinceramente surpresa, que o resto do mundo não falasse.

O roliço alemão, embora estivesse há alguns anos no Brasil, tinha um sotaque bem carregado, que transferia para o seu inglês básico, aprendido no colégio. Lucas entendia tudo muito bem, mas mantinha-se longe das conversas. Detestava todo estrangeiro, não importando, a que nacionalidade pertencesse. Tinha o mesmo olhar desconfiado, com todos, e um ar distante, altivo, como toda a sua gente.

O piloto entrou na pequena cabine e começou a conversar, com o co-piloto brasileiro, Luiz Carlos. Riu com ele, quando imaginou a reação deles, se soubessem que aquela rota que fariam e aquela pista de pouso, que usariam, há bem pouco tempo, pertenciam ao tráfico de drogas.

- O índio, certamente, não voaria conosco, o alemão, nem ligaria; a Sra. Buchanan, nos faria um sermão e por fim, o casal voaria com a gente. Quanto ao outro casal, honestamente, não faço idéia! – Comentou rindo, Luiz.

Enquanto isso, Sara tentava fazer contacto com a , já que não simpatizara com o alemão e o índio se mantinha ensimesmado, não querendo conversa com ninguém.

Ela era uma mulher pequena, cheia de carnes,com cabelos curtos, castanhos encaracolados que emolduravam seu rosto redondo, onde olhinhos redondos e inquietos, como os de um rato, pareciam não perder nada do que se passava em volta. Se mostrava muito moralista, o que levou Sara a apresentar os dois, como os Grissoms

Falava "Meu Deus!", cada pouco, a propósito de tudo e de nada. Suava em bicas, apesar de usar um vestidinho leve, enxugava o rosto e a nuca, constantemente, com um lencinho:

- Meu Deus! Que calor insuportável! Não sei como essa gente agüenta! – Disse esbaforida, enxugando a papada.

- Nasceram aqui; devem estar acostumados, Sra. Buchannan. – Replicou Sara.

- Me chame apenas de Maisie, querida!

A certa altura cochichou alguma coisa no ouvido do marido, o que fez com que ele se levantasse. A Sra. Buchannan, ocupou o lugar dele. Deu uns tapinhas em seu lugar, convidando Sara, a ocupá-lo.O Sr. Buchannan então sentou-se ao lado de Grissom que, aboletado à janela, embriagava-se com aquele verde, sem fim.

Grissom tinha oferecido a janela a Sara, mas ela não aceitou o oferecimento, porque estava enjoada, com tanto verde.

- Não me canso de olhar para essa imensidão verde! – Disse Grissom, cujo suor deixava seu rosto lustroso.

- Nem eu! – Confessou o novo companheiro de Grissom. - Herbert Buchannan, contador em Minneapolis.

Grissom virou-se para ver melhor, quem lhe estendia a mão. Herbert era um homem calvo, da idade de Grissom, a altura de Brass, usava uns óculos retangulares, que quebrava um pouco a angularidade, do seu rosto. Seus olhos eram cansados, de quem precisa mesmo tirar férias.

- Gil Grissom! Antes CSI, em Las Vegas, agora, não sei bem o que sou ou de onde sou! – Disse e riu consigo mesmo, perante a sua situação... INSÓLITA.

O avião tinha lugar para doze passageiros. No momento, contava com seis, Grissom e Sara e os Buchannans, ocupavam os primeiros assentos, à esquerda e à direita; o alemão estava atrás de Grissom e o índio ocupava o último banco, do corredor, estando o lado da Sra. Buchannan, vazio, a não ser pelas duas mulheres que conversavam bastante.

A Sra. Buchannan não era o seu tipo favorito de pessoa,,. mas no momento, qualquer criatura que falasse inglês e lembrasse a sua pátria, era bem é mesmo aquela mulherzinha gorducha, que disparava "meu Deus!", a torto e a direito.

Herbert olhou para as duas e falou para Grissom:

- Nossas esposas parecem estar se dando bem!

Grissom olhou para elas e suspendeu a sobrancelha "Esposa? Bem que gostaria, mas não era. Ele bem que pedira..,". Ia falar que não eram casados, mas alguma coisa o impediu, o que foi ótimo, pois Sara ficaria uma fera se falasse alguma coisa. Herbert continuou:

- Conheci Maisie na faculdade, e estamos juntos desde então. Você e sua esposa se conhecem há muito tempo?

Grissom olhando amorosamente para Sara gaguejou ao responder:

- N-não! Sim! Quero dizer eu a conheço há muito tempo, mas estamos juntos há pouco...

- Entendo! É uma segunda lua-de-mel – disse Herbert, dando-lhe uma piscadinha marota.

- Na verdade, é a primeira. O serviço,,. você sabe... – falou Grissom, com o rosto vermelho, sem ele saber bem porquê.

Maisie tecia considerações, sobre o índio, com Sara:

- Que sujeito mais mal encarado, meu Deus! E aqueles olhos apertados e frios...

- Os índios brasileiros têm ascendência asiática, Maisie, dai vem os olhos amendoados - explicou Sara..

- De qualquer forma é assustador!

Sara deu de ombros, o índio não a perturbava, mas daquele alemão que agora conversava com Grissom e Herbert, ela definitivamente, não gostava. Era um sujeito roliço, com cabelos e barba ruivos, pele rosada e na faixa dos 40 anos. Tinha olhos verdes, maliciosos e argutos. Ela não gostara, nem um pouco do jeito que ele olhara pra ela, antes de embarcarem.

"Um olhar pornográfico!". E agora Grissom estava ali, conversando com aquele sujeito. Virou-se para trás e cruzou com o olhar de Lucas. Quanto ao índio ela não tinha problema: ele não queria conversa, era só deixá-lo em paz. Já o alemão, fazia o tipo pegajoso, difícil de desgrudar.

Feitas as apresentações, Franz começou a falar mal do índio, seu assunto predileto, conforme observaram Grissom e Buchannan.

- Esses selvagens se educam, mas nunca "perrrrrderrr" arr selvagem! Trrribo Murrrra-Pirrrrarrrrrã não "gostar" de nós, desde idos de 1700!

- Do homem branco, você quer dizer! – Disse Grissom, a quem Mura-Pirarrã, dito pelo alemão fizera seu ouvido doer.

Franz olhou para ele com ar de quem não gosta de ser interrompido e continuou:

- Qualquer um! "Ser" os Murrrra que mais se destacarrram entre as "grupas" tribais, pelo fato de evitar contato com a "civilizaçon" branca e rechaçar qualquer tentativa de "invason" de seus terrrrrritórios.

- Estou me lembrando de uma notícia, que vi faz pouco tempo, na CNN. Um grupo de índios Mura- Pirarrã deteve por uma noite, um grupo de turistas americanos e apreendeu seu equipamento. Parece que os americanos participavam de uma pescaria esportiva e acabaram entrando no rio Marmelo, na reserva indígena e parece que aí se criou a confusão! Os turistas eram do Texas e foram libertados, após negociações, entre a FUNAI e a Polícia Federal Brasileira! - Disse Herbert.

- Eu não disse que "essas" selvagens "ser" muito "perrrrrrigosas! A gente precisa ficar com a olho bem aberto! – Falou o alemão, esticando o olho direito, com seu dedo gorducho.

- Pelo amor de Deus, Franz! Não aconteceu nenhuma selvageria! E você também não defenderia seu território de intrusos? – Concluiu Grissom.

O alemão não falou mais nada. Recostou-se no seu assento e fechou os olhos, pensando que Grissom devia ser um desses fanáticos pelo ecossistema. Não adiantava querer conversar. E Buchannan, bem, não tinha opinião formada sobre ele. Só sentiu que era fraco, talvez fosse fácil convencê-lo de qualquer coisa. Mas este calor dava uma preguiça... Um sono...

Herbert estava confuso, sem Maisie para lhe dizer, que direção tomar. Naquela família, quem vestia calças era ela. Era só ficar um pouco com eles, que já se percebia quem mandava. Na falta de alguma coisa para fazer e aproveitando a penumbra, que Grissom fizera ao fechar a cortina da janelinha, ajeitou-se no banco e tirou um cochilo.

Grissom gostava muito, de ver a floresta, do alto, mas àquela hora o sol era abrasador; era impossível ficar com a cortina aberta, por mais que tivesse vontade. Ainda que o conjunto safári, de linho cáqui fosse fresco, ele transpirava em abundância, e quanto mais água tomava, mais calor sentia. Olhou para os outros e resolveu tirar uma soneca também.

Do seu lugar, Lucas observava todo mundo. Quanto aos dois homens da frente, não os vira muito bem e ainda não formara uma idéia clara sobre eles. O alemão era seu desafeto há muitos anos, residiam na pousada e não se toleravam. Lucas era uma espécie de defensor da floresta; enquanto Franz estava sempre metido em algum negócio escuso. Agora, por exemplo, com um sócio, estava exportando madeira ilegal, da Amazônia, para o exterior.

As duas mulheres, de onde ele estava, podia vê-las bem: a baixinha gordinha, que parecia ter sua própria fonte, tal o volume de líquido que saía de seus poros, era como uma centena de outras que já vira:apesar da baixa estatura, o olhava de cima, com um insuportável ar de superioridade. Tinha medo dele, entretanto. Já a alta e magra, não o temia, nem o olhava com superioridade. Quando seus olhares se cruzaram ele percebeu, que ela era uma pessoa sofrida, com um olhar límpido e confiável.

Maisie remexeu na bolsa e mostrou o retrato de uma moça sorridente, e apresentou-a como sua filha Dorothy:

- Ela é médica em Chicago, faz o 2º ano de residência – declarou com orgulho.

Sara olhou para a foto, e viu que a moça tinha os cabelos encaracolados da mãe e era bicuda como o pai, mas sem o auxílio de óculos para quebrar isso.

- Têm filhos, Sara?

- Não! Estamos juntos, há pouco tempo – disse e sentiu um arrepio.