Estava em um jardim lindo no terraço de um prédio bem alto. Era uma noite fresca e bonita. Eu usava um vestido de arrasar que tinha visto em uma revista na semana passada e em minha frente se encontrava ninguém menos que Chace Crawford. Ele me olhava com um sorriso flertador super sexy. Meu coração palpitava esperando ele dizer algo, até que ele abriu a boca e disse:
– Beep beep beep.
Eu o olhei incrédula.
– Desculpe Chace, querido. Eu não entendi.
Ele então abriu a boca e tentou falar de novo.
– Beep beep beep.
Eu abri meu meus olhos frustrada. Estava em um encontro com Chace Crawford! Por que o maldito despertador tinha que começar a tocar? Desliguei o alarme idiota e me levantei da cama, e caminhei, intensamente frustrada, para me preparar pra mais um dia de aula.
Bem, deixe-me explicar. Eu me chamo Rosemarie Hathaway, Rose para todo mundo que não quer levar um soco ao me chamar de Rosemarie. Moro em New Moscow (Nova Moscou), Pensilvânia e sou estudante do último ano do ensino médio do colégio Vladimir Charsie High School, Crazy Vlad (Vlad Louco) como nós a apelidamos, devido ao estado duvidoso da insanidade do fundador da nossa escola.
Nova Moscou foi inicialmente uma colônia de russos, romenos e outros povos vindos do leste europeu que fundaram uma vila e que tempos depois se tornou uma cidade. A cidade era repleta de descendentes desses povos então era comum sair na rua e andar pela rua Irkutsk*, falar com o senhor Băsescu**e comer uma Paskha*** na lanchonete da esquina. Inclusive havia um boato de que algumas das famílias imigrantes eram descendentes da própria realeza russa e romena, por isso que haviam tantas famílias super ricas em Nova Moscou.
(Para quem quer saber: *Cidade da Rússia **Sobrenome romeno ***Comida típica russa)
Saí do banho, escolhi uma roupa legal para ir pra escola e desci para tomar café. Eu moro em uma casa grande de dois andares e quatro quartos, em um bairro da classe alta de Nova Moscou com minha mãe, Janine Hathaway. A casa é realmente grande demais para nós duas já que eu não tenho irmãos e meu pai não vive conosco, mas mesmo assim mamãe gostava de manter a casa pois foi aqui que eu cresci.
Cheguei à espaçosa e vazia cozinha e comecei a preparar o café quando ouvi o som de saltos altos no andar de cima e logo vi minha mãe descendo as escadas.
- Bom dia, querida. – Ela falou me dando um beijo na bochecha. Como sempre minha mãe estava impecável, com o cabelo ruivo preso em um coque alto, um terninho cinza que mostrava a boa forma que a maioria das mulheres da idade dela não tinha e sapatos de salto alto preto combinando.
- Bom dia, mãe. – Eu respondi, servindo café para nós duas enquanto mamãe arrumava sua pasta de trabalho. Foi então que eu notei a pequena mochila que mamãe levava quando ia passar mais de um dia fora de casa. – Mãe, você não vai dormir em casa?
- Ah querida, não seja boba. Eu tenho uma reunião importante em Pittsburgh que pode terminar tarde então estou levando algumas coisas, caso eu precise dormir lá. – Ela me explicou mordendo uma torrada.
- Hoje é quinta, mãe! – Eu reclamei. Desde que eu tinha cinco anos às quintas-feiras eram dias sagrados para nós, pois pedíamos pizza, tomávamos coca-cola, comíamos doces e víamos filmes, uma tradição que eu e minha mãe criamos. Eu adorava as quintas-feiras, mas de uns tempos pra cá se tornou mais difícil passar esse tempo com a minha mãe.
Mamãe é uma importante advogada e trabalha para uma empresa de segurança, que cuida da proteção do patrimônio e dos investimentos de seus clientes, ou algo assim. Não é realmente importante e, principalmente, não é uma coisa fácil de explicar para seus coleguinhas de seis anos no Dia das Profissões da escola. Ela basicamente cuidava da segurança das contas bancárias enormemente gordas de empresários enormemente chatos. Aparentemente eles tinham algum tipo de paranóia, como se um vampiro sugador de dinheiro fosse cravar seus dentinhos nos cofres dos bancos e deixá-los sem nada. O importante é que rendia uma penca de dinheiro e nós vivíamos muito bem.
- Eu sei, querida! E eu prometo que vou fazer de tudo para chegar cedo. Se tiver que pegar a estrada onze horas eu faço só pra ficar um pouquinho com você, ok? – Ela sorriu para mim e apertou minha mão carinhosamente, tomando mais um gole de café.
- Não seja boba, mãe. Se for muito tarde você não deve pegar a estrada, ok? Você deve dormir lá. Promete? – Eu lhe lancei um olhar sério.
- Claro, Rose. – Ela respondeu e depois me lançou um olhar implorador – Eu prometo te compensar. Que tal ir jantar fora no fim de semana? Ou um dia só Rose & Jani? Eu prometo que vou pensar em algo! – Ela falou e eu tive que sorrir. Eu não ficava chateada com a minha mãe por estar ausente nos últimos tempos. Quando eu era pequena, uns quatro anos, e meus pais se separaram mamãe fez de tudo para eu me sentir melhor e deixou um pouco sua carreira de lado. Ela trabalhava somente quatro dias por semana e ficava bastante tempo comigo. Foi só quando eu fiquei maior que decidimos juntas que ela deveria se dedicar mais ao trabalho. Eu já não precisava tanto dela e queria que ela se realizasse em algo. Mesmo assim, não ter ela por perto às vezes me deixava triste, como se faltasse algo.
- É, Jani, eu sei que você vai pensar! Bom, já que talvez você não esteja aqui, tudo bem eu chamar Lissa ou ir pra casa dela?
- Claro querida! Se eu conseguir vir cedo eu te ligo. Se não, marque algo com Lissa! Eu tenho que ir agora! – Mamãe me deu um beijo na bochecha e saiu apressada em direção a garagem. – Te ligo mais tarde, meu bem! Te amo!
A porta da garagem se abriu e logo depois eu vi pela janela o carro da minha mãe ir embora. Demorei mais alguns minutos tomando meu café, lavei a louça e comecei a me preparar para ir para aula. Antes de ir dei uma última olhada em mim mesma no espelho que ficava do lado da porta.
Essa era eu. Cabelos castanhos longos e uma franja rebelde colocada para o lado, olhos castanho escuros e rosto de feições bonitas. Não me leve a mal, mas eu tenho dezessete anos e já ouvi algumas vezes que eu era bonita, uma gata, ou gostosa pra caramba. Não é que eu acreditasse completamente em tudo que dizem, mas eu faço bastante sucesso quando o assunto é 'garotos'. Eu dei uma olhada em minha roupa, uma calça jeans skinny com pequenos detalhes bordados, uma blusa roxa e uma jaqueta preta por cima. Era quase inverno e as coisas estavam pra ficar bem frias.
Eu saí para o ar gelado da manha e esperei alguns minutos até que vi um carro vermelho conversível dobrar a esquina, parar em frente a minha casa e minha melhor amiga pular pra fora do carro e correr para mim.
- Bom dia, Rose! – Lissa disse me abraçando. Essa era minha melhor amiga/quase irmã, Vasilisa Dragomir.
Lissa é loira, de olhos verde jade e estatura e físico de uma modelo profissional, ou seja, ela era linda e perfeita. Esta manha ela tinha o cabelo preso em uma trança com algumas mechas 'estilosamente soltas', usava um blazer cinza e jeans.
- Bom dia, Liss. Me diz, por favor, que não vamos com a capota abaixada!
- Aaah, qual é? Não tá tão frio!
- Tá congelando. Não, Lissa. Sério, só porque você tem uma resistência maior ao frio do que a maioria das pessoas, não quer dizer que eu vou ter que chegar na escola sem sentir minhas mãos e com o cabelo bagunçado. Se for assim eu vou com o meu carro.
- Certo, certo. Hoje vamos fazer do seu jeito. – Ela disse sorrindo amplamente. A verdade era que Lissa sempre conseguia fazer as coisas do jeito dela. Sempre. Não era porque ela era filha de um dos maiores empresários da região, quem sabe até do estado, e sua família era também uma das doze famílias fundadoras da cidade. E isso aqui em Nova Moscou era algo importante, acredite. Mas não era por isso que ela conseguia tudo, era porque Lissa tinha uma incrível habilidade de conseguir as coisas das pessoas somente usando palavras e gestos. Era inacreditável porque às vezes parecia que Lissa conseguia compelir as pessoas a fazer o que ela queria. – Estou sentido ótimas vibrações hoje e...
Lissa parou de falar ao olhar por cima do meu ombro. Eu me virei para ver o que ela estava vendo. Christian Ozera, meu vizinho rebelde e maluco, estava passando correndo em roupas de ginástica suadas e que mostravam seu bom físico. Ele nos lançou um olhar sombrio por seus olhos azuis um pouco escondidos pelo cabelo escuro caído na testa e continuou correndo até entrar em sua casa, diretamente ao lado da minha. Christian era o garoto esquisito e mal-humorado que toda escola tem e que a maioria das pessoas jurava que era drogado.
Ozera era uma das famílias dos fundadores, mas isso não queria dizer nada quando se tratava da família de Christian. O pai dele foi indiciado alguns anos atrás por uma série de crimes, incluindo desfalque e formação de quadrilha. A mãe de Christian havia sido acusada de participar como cúmplice dos crimes. Hoje, os dois eram foragidos da policia e provavelmente viviam em um paraíso fiscal, bebendo martinis e comendo ostras, sem nem se lembrar do filho.
Às vezes eu me pegava sentindo pena de Christian, deixado pra trás e sendo criado pela tia, só alguns anos mais velha que ele. É claro que ele ainda tinha dinheiro, beleza, uma boa casa e a tia dele parecia ser legal, mas mesmo assim, acontecimentos como os que Christian passou deixavam marcas nas pessoas. Não era a toa que ele ficava olhando torto para os outros e acendendo o maldito isqueiro que ele levava para todos os lugares.
Mesmo sentindo pena, eu queria que ele mantivesse uma boa distancia de mim e, principalmente, de Lissa.
- Esquisito. Esse cara é super esquisito. – Eu disse, tirando Lissa de algum tipo de transe.
- É, é...
Nós entramos no carro e fomos felizes para escola, ouvindo e cantando Kelly Clarkson, Ke$ha e Lady Gaga. Eu amava o tempo que passava com Lissa pois ela era realmente como uma irmã para mim e as vezes eu até pensava que era mais. Em várias situações eu já senti que sabia exatamente como ela estava se sentindo ou o que estava pensando sem nem mesmo olhar para ela. Eu gostava de pensar que Lissa e eu tínhamos um laço que mais ninguém possuía e que era inquebrável.
Quando estávamos perto da escola Single Ladies da Beyonce e eu e Lissa gritamos juntas. - Eu adoro essa música!
Rimos histericamente ao perceber que falamos juntas e ao lembrar da festa de dois fins de semana anteriores, na casa de Kevin Drozdov, em que tínhamos bebido de mais e depois tentado dançar a coreografia do clipe.
Estacionamos carro e caminhamos conversando animadamente para dentro da escola até que fomos paradas por alguém que tapou os olhos de Lissa.
- Adivinha quem é? Princesa Dragomir. – Aaron o persistente ex namorado de Lissa falou com uma voz que ele supôs ser sexy atrás dela.
- Vejamos, quem mais me chama de princesa Dragomir além de Aaron Markov? – Ela falou e eu tive que me segurar para não rir. Às vezes Aaron podia ser tão brega e não-sexy, mesmo ele sendo um gato. A história dele com Lissa havia acabado a algum tempo quando ela percebeu que não o amava, mesmo assim o cara continuava flertando e rondando. É o que dá ser uma das meninas mais populares e desejadas do colégio.
- Bom dia, Lissa. – Ele falou abraçando-a. E eu pude sentir, sem mesmo enxergar o rosto de Lissa, o quão desconfortável ela estava. Foi aí que meus dois salvadores apareceram.
- Aaah, Markov. Deixa de ser arroz! – Mason Ashford um dos meus melhores amigos se aproximou de nós, seguido, como sempre, por outro melhor amigo meu Eddie Castile.
- Ninguém te chamou na conversa, Ashford. – Aaron respondeu corando, sem tirar os braços da cintura de Lissa, que estava me lançando um olhar implorando que eu fizesse alguma coisa. Eu só ri e encolhi os ombros.
-Iiiih... relaxa irmão... – Eddie falou, dando um soco no ombro de Aaron. Eddie e Mason eram jogadores do time de futebol, por isso eram enormes de forte. Mason tinha cabelos ruivos e sardas e Eddie tinha cabelos castanhos e olhos cor de mel, os dois eram bem altos e muito gatos também. Mas eu não conseguia vê-los como material namorável, afinal nós nos conhecíamos desde criança e entre puxões de cabelo e banhos de tinta nas aulas de artes eu só conseguia vê-los como... bem... irmãos.
- A gente só tá cuidando da amiguinha aqui. – Mason completou a fala de Eddie, tirando Lissa do abraço de Aaron. Outra coisa sobre eles é que os dois eram inseparáveis. Quando Eddie repetiu em química, e teve que fazer curso de verão, Mason fez também. Quando Mason quis entrar no time de futebol, Eddie foi também. Eles raramente faziam coisas separados, a não ser quando tinha a ver com garotas, necessidades fisiológicas, comida e bem... sexo.
Eu abracei os dois e cumprimentei Aaron enquanto entrávamos na escola.
- Bom, minhas garotas... E Aaron. Foi maravilhoso ser brindado com tanta beleza de manha, mas eu vou pra aula agora. – Eddie se despediu e foi embora.
- É, gente, eu tenho que ir também. Tchau Liss. Nos vemos no almoço. – Eu falei abraçando ela. – Vamos, Mase? – Eu e Mason tínhamos o primeiro período juntos.
- Claro. Tchau, 'pombinhos'- Mason disse enquanto Lissa nos lançava adagas pelo olhar. E eu quase pude ouvir o "você me paga" em minha mente.
- E então? Novidades? – Mason perguntou enquanto eu ia até o meu armário que era perto do dele.
- Não muitas. Hoje é quinta – eu disse feliz, mas depois me lembrei da conversa que tive com a minha mãe.
- Ah, quinta da pizza, né? – Ele me perguntou. Minha mãe e eu tínhamos essa rotina a tantos anos que praticamente toda cidade já sabia agora.
- Yeah, mas nem sei se vai rolar. Acho que minha mãe vai ter que trabalhar.
- Huum. Sem pizza, então? – Ele me perguntou como se não quisesse nada.
- Ah, talvez eu peça sim uma pizza, veja um filme. Quem sabe eu chame a Lissa?
- É, a gente podia pedir uma pizza sim, eu vou falar com o Eddie e você pode falar com a Mia. Saiu em DVD 'Sempre ao seu lado', é um filme de garota, seria legal ver. – Ele falou com o olhar esperançoso e eu vi o que raras vezes ele me mostrava, que ele tinha uma queda bem grande por mim.
- Mason, desde quando Rose Hathaway vê filme de garota? – Eu falei rindo.
- Pode ser outro filme então... hum, você escolhe. – Ele realmente não ia desistir facilmente.
- É... quem sabe, Mase. Se minha mãe não for mesmo chegar em casa cedo.
- Legal! – Ele falou feliz enquanto andávamos para a nossa primeira aula.
