A chuva caia lá fora, tão forte que por horas parecia que o chão iria se abrir. Gina acabara de sair do banho, enrolada em sua toalha, com os cabelos ruivos presos num coque improvisado, estonteante com suas pernas esguias a mostra e suas curvas desenhadas na pequena toalha.

Depois que terminou o namoro com o heroi Harry Potter, resolveu se mudar para Londres e ali trabalhava como chefe do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos. Adorava o que fazia e, agora que estava de férias, achou que era hora de voltar para casa, afinal, fazia exatos quatro anos que não ficava em casa por mais do que algumas horas. Na verdade, não queria voltar, não queria encontrar Harry novamente, não queria que toda aquela raiva reprimida que ela sentia voltasse. Com ele, ela aprendera a tênue linha existente entre o amor e o ódio e, tinha certeza, hora ou outra ele ia estar lá, afinal, sua família era a família dele também.

Colocou um jeans escuro, uma blusinha justa e uma sapatilha vermelha. Simples, porém apresentável, concluiu, ao se olhar no espelho.

Suspirou alto, pegou sua mala e aparatou em direção à Toca.

"Harry, querido, venha sentar a mesa!" Chamou Sra. Weasley com aquela voz maternal que não abandonava nem para chamar 'suas crianças' de vinte e quatro anos. "Ron, Mione, vocês também."

Ron e Hermione estavam casados fazia cinco anos e tinham dois filhos, lindos, Hugo e Rosa. Ambos estavam agora, para a sorte de sua mãe, dormindo solenemente no quarto que pertencera aos gêmeos.

"Arthur!" Exclamou Molly olhando o marido tirar um naco da torta que ela havia feito para a sobremesa. "Espere os outros se sentarem a mesa para comer!"

Harry riu da indignação de Molly e se sentou em seu lugar costumeiro, logo ao lado de Ron e de frente para Arthur.

Mal Molly tinha acabado de falar, Gina abriu a porta e entrou com um enorme sorriso no rosto. Nesse momento, Harry sentiu suas entranhas se revirarem; ele realmente não estava esperando a ruiva.

Ele a observou atentamente, tentando disfarçar o que quer que estivesse pensando, embora não tivesse certeza se estava se saindo bem. Todo o corpo de Gina mudara nesses quatro anos em que eles estiveram separados... Agora ela tinha realmente o corpo de uma mulher e mesmo que suas curvas estivessem escondidas pelas vestes, Harry sabia que ela estava com o corpo mais lindo que nunca, sabia, porque conhecia cada curva décor. Olhou para os seios fartos e pigarreou, levantando-se e se encaminhando em direção a Gina. Como ele queria que as coisas entre eles tivessem sido diferentes...

"Gina." Harry disse apenas, não sabendo o que mais poderia falar. Ela nunca dera oportunidade para ele esclarecer algumas coisas entre os dois. Harry lhe lançou um olhar que lhe dizia mais do que ela podia entender. Ele pedia para que, pelo menos dessa vez, eles não brigassem.

"Harry." Ela o olhou friamente, ignorando seu coração descompassado.

Gina olhou para Harry de relance. Ele não era mais aquele garoto magricela que ela amou, era agora um homem, forte, com os músculos bem definidos e ombros largos. Seu rosto de menino se tornou másculo, seus traços ficaram mais rudes, atraentes, porém seus cabelos ainda eram pretos e despenteados, tapando-lhe um pouco a visão conforme caiam pelos olhos. Era fácil notar que a cicatriz não o incomodava mais.

Pelo menos não a de sua testa. Agora as cicatrizes que incomodavam Harry eram as da sobrevivência. As cicatrizes que denunciaram que ele lutara. Que vivera. Mas que, acima de tudo, matara. E pelo verde opaco e misterioso de seus orbes, era fácil notar que ele se envergonhava delas. Que carregava ainda pesado em seu coração o fato de ele estar vivo, quando tantos outros bruxos, melhores e mais dignos, se foram.

Sentaram-se todos a mesa e Gina teve consciência de que não conseguiria se sentir em casa, completamente a vontade. Não com Harry sentado ao seu lado, naquela mesa cujo tamanho fazia com que as pernas de ambos roçassem constantemente. Gina sentia toda aquela raiva dentro dela borbulhar. Céus, como era estúpida e rancorosa, pensou amargamente.

"Então Gina," Iniciou Arthur, "ainda está namorando aquele tal de Holt?"

Harry parou de mexer na sua comida, meio abobalhado. Não tinha pensado na possibilidade de Gina ter arrumado um namorado. Sempre fora tão simples e prazeroso saber que ela sempre fora sua e de mais ninguém, que agora era estranho pensar que Gina, a sua (ex)Gina poderia estar outro!

"Bem, nós acabamos há algum tempo... Achei melhor assim."

"É uma pena, vocês formavam um casal lindo." Hermione observou, fazendo com que Harry tivesse vontade de socá-la. Como assim eles faziam um casal lindo?

"Estou melhor sozinha." Gina respondeu, com acidez na voz, encontrando os olhos verdes por um segundo.

Depois do que, para Gina, pareceram séculos, ela foi ajudar sua mãe com a louça, sentindo-se subitamente animada por estar novamente em casa, nem que por alguns poucos dias.

Sua mãe estava no meio de um monólogo, falando-lhe de como não aguentava mais que Arthur trouxesse tanta quinquilharia trouxa para casa, quando Hermione entrou na cozinha segurando o pequeno Hugo que berrava a plenos pulmões.

"Molly." Disse ela. "Eu preciso da sua ajuda aqui. Não importa o que eu faço, ele simplesmente não para de chorar." Completou com uma voz agoniada.

Gina se segurou para não rir da cena, sabendo que Mione a mataria e decidiu sair para o jardim, deixando Hugo e seu choro estridente na cozinha.

Saiu andando sem rumo, com seu pensamento longe. Sentou-se em uma pedra e ficou lá, olhando para o céu. Fazia muito disso quando morara ali e, nessa hora, parecia o certo a se fazer. Depois de minutos, ouviu o barulho típico da grama sendo amassada.

Virou-se com um sorriso no rosto, imaginando que um de seus irmãos estava vindo lhe pregar uma peça, afinal, eles ainda eram os Weasley, mas foi com surpresa que viu Harry. Ficou calada até ele se aproximar e sentar ao seu lado.

"Hei." Cumprimentou-a, com sua voz rouca. Ele estava perto e Gina pode sentir seu cheiro, não sabendo como agir, mesmo depois de tantos anos. "Você nunca me deixou explicar. E depois que você partiu e as coisas mudaram muito por aqui..." Ele ia continuar, querendo que pelo menos uma relação civilizada se estabelecesse entre os dois, quando Gina o interrompeu.

"É fácil notar... É só olhar para você, menino-que-sobreviveu."

Ele riu, ignorando a acidez das palavras da ruiva, e ela pode sentir seu hálito quente.

"Posso dizer o mesmo de você e não vou dizer que não aprovei." Lançou-lhe um olhar felino, que despiu Gina da cabeça aos pés. "É bom finalmente voltarmos a nos reunir todos naquela mesa, como nos velhos tempos."

Dessa vez ela o encarou levemente irritada. "Os velhos tempos não me trazem boas lembraças." Acusou-o. "Nem o heroi prepotente que sempre está em minha casa."

Ao ouvir isso, ela pode ver os olhos de Harry endurecerem ainda mais do que o normal e, por longos momentos, eles ficaram em silêncio.

Harry chegou mais perto e encostou seus lábios no ouvido direito de Gina. "Já faz quatro anos, está na hora de você começar a agir como mulher e deixar essa birra para trás. Um bom ponto de partida seria aceitar a minha verdade." Harry falou com rouquidão na voz.

Gina sentiu um frio lhe percorrer as espinhas, mas não admitiria nunca, pois a vontade de quebrar a cara de Harry nesse instante foi maior do que qualquer coisa. Olhou-o fundo nos orbes opacos, vendo-se refletidas neles com assombrosa clareza.

"Vá se foder." Disse, levantando-se.

Foi nesse exato momento que Ron apareceu na porta da Toca e começou a chamá-los. Gina passou pelo irmão um pouco mais apressada do que planejara, entrando na cozinha, dirigindo-se para a sala e, quando Harry ia fazer o mesmo, Ron o deteve.

"Harry." Ron o olhou com uma expressão séria, que não combinava muito com seu rosto. Tinha ambas as mãos nos bolsos. "Você sabe que é o meu melhor amigo." Fez uma pausa. "Mas se você fizer a Gina sofrer novamente..."

"Eu nunca quis fazer aquilo." Harry o interrompeu. "Você mais do que ninguém sabe disso."

"Eu sei, mas está estampado no rosto dela que ela ainda se ressente pelo que você fez. Talvez seria melhor você a deixar em paz..."

"E deixar que esse clima ruim entre a gente perdure por mais se sabe lá quanto tempo? Nope."

"Harry," Ron começou, balançando a cabeça "Eu nunca pensei que iria dizer isso para você, mas, se você machucar ela novamente, eu não vou me importar nem um pouco se você é o bruxo mais poderoso da Terra. Lembre-se do tamanho da família que ela tem e se lembre que você faz parte dela."