Caramelo
por Ireth Hollow
Nessa noite, a Lua era um caramelo que alguém já mordiscara. Não fora ela, obviamente, porque Luna não se limitaria a dar uma dentada e ir embora, deixando aquela delícia para trás. Não, devia ter sido alguém que, num ímpeto de curiosidade, quisera provar o caramelo, mas não apreciara o sabor.
Draco Malfoy estava deitado na relva, alguns metros à frente. Tinha os olhos postos no céu, embora não pudesse dizer com certeza se fitava a Lua ou aqueles rastos de açúcar que alguém usara para polvilhar o azul-escuro da noite.
Talvez tivesse sido ele quem comera parte do caramelo celeste. Talvez agora estivesse a ponderar repetir ou provar antes o açúcar de uma estrela. Fazia sentido… Por que outro motivo estaria em plena noite no relvado da escola?
Silenciosamente, Luna aproximou-se do rapaz, tendo cuidado para não lhe dar a entender que queria disputar os doces: ele podia ser bem desagradável, quando se sentia ameaçado! Contudo, a jovem só queria ver se havia algum trilho de caramelo nas suas vestes, algum grão de açúcar no seu cabelo – também ele um caramelo, àquela luz.
– Eu acho que não devias ter medo, sabes? Ninguém tem o direito de te julgar por quereres fazer as tuas próprias escolhas…
A voz dela, baixa e suave, não o sobressaltou. Porém, Draco desviou o olhar do firmamento e encarou a loira, que se deitava a seu lado com uma tal delicadeza que não foi capaz de a desprezar. Algo nas suas palavras soava a dolorosamente verdadeiro, algo que produzira um forte eco no seu âmago.
– Achas mesmo, Lovegood?
Não havia nenhum traço de troça no seu tom, no entanto, era notória uma certa amargura. Talvez não tivesse sido ele a mordiscar a Lua, afinal; talvez apenas desejasse tê-lo feito…
– Sim, Malfoy. Não és obrigado a gostar de limões, se preferes caramelos.
A gargalhada que ele soltou foi o único som que voltou a perturbar o silêncio nocturno, mas Luna não se importou: cheirava a caramelo e isso bastava.
N/a: Nunca pensei escrever Draco/Luna, mas quem disse que eu faço o que quero?
