Desprezada.
Era como ela se sentia.
Havia desprezo no ar daquele quarto medíocre, daquele hotel medíocre.
Havia desprezo dissolvido na amarga estupidez das lágrimas que rolavam por sua face.
Ela chorava silenciosamente diante do espelho do banheiro, assistindo sua autodestruição se consumar a cada dia ao lado do homem que dormia tranquilamente do outro lado da porta.
Ela queria desistir.
Ela queria abandonar.
Ela simplesmente não era capaz.
Havia em suas veias um veneno atroz que a fazia cada dia mais dependente daquele que ela desejava com todas as forças conseguir odiar.
Odiar por ele ser tão absurdo. Por permitir que o mesmo drama clichê se desenrolasse todas as noites sob aquele teto que resistia em não cair sobre suas cabeças.
Mas por maior que fosse o esforço, ela só conseguia amá-lo enquanto alimentava o ódio de si mesma.
Ele sempre pertenceria à Astoria.
Ele nunca seria dela.
Ela sabia disso, e não se importava mais.
Pansy estava acorrentada à Draco como um dependente químico se une à cocaína. Ele era nada menos que um vício.
A garota encarou seu próprio reflexo destruído emoldurado no espelho.
Ela procurou o brilho dos próprios olhos. Não encontrou.
Ela não encontraria mais nenhum resquício de si mesma naquelas íris.
Levou a água fria que escorria da torneira ao rosto poluído pelas lágrimas, limpando a superficialidade de sua angústia, colocou de volta sua antiga máscara de segurança inabalável e entrou de volta no mundo onde ela era apenas a distração do marido de outra.
Draco já estava acordado a esta altura, também com sua máscara de bom amante.
Pansy capturou seus lábios com a avidez da abstinência, entregando-se mais uma vez ao seu calvário particular.
As mãos dela passeavam pelos ombros do rapaz, massageando-o com força, arrastando as unhas pela sua pele a fim de rasgar-lhe o braço e deixar ali ao menos uma marca que fosse sua.
- Eu amo você – Ela disse, rompendo o beijo, mas ainda passeando suas mãos agora pelo tórax de Draco. – Não pelo que você é. Não pelo que você faz por mim. Não pelo que nós podemos um dia vir a ser. – Ela cravou as unhas com mais força - Eu te amo por ser tão estúpida. Por cair sempre nesse jogo ridículo onde nós dois sempre perdemos.
Eu te amo por você ser a única parte de mim sobrevivente.
- Fique comigo. – Draco disse antes de recuperar o beijo que outrora havia sido quebrado.
E sempre seria assim. Um relacionamento fragilizado e suspenso pela dependência visceral que algumas pessoas insistem em nutrir umas pelas outras.
Algumas a julgam amor.
Outras simplesmente ignoram.
