Epifania,

Pouca coisa me inebria como você, Rick. Ou melhor, pouca coisa me inebria como nós.

Você faz com que eu me perca de forma sôfrega e inevitável, mas sinto que mesmo perdido, com você encontro-me facilmente; encontro-me em mim e em você, porque você foi e sempre será o norte.

Os encontros são escuros, mas logo ficam claros, pois os motivos que sempre nos deram para que nossos momentos não passassem de momentos tornam-se mínimos perto de nós.

Somos grandes e completos; completamo-nos em nossa magnitude, e juntos nossos problemas inexistem.

Esse turbilhão de conflitos internos que infelizmente venho sofrendo, costuma desaparecer com você – com o teu toque. Então tudo passa a fazer sentido, e o que antes me confundia, tornou-se a solução única para todos os problemas. Você é a solução, Rick.

E é tudo alucinógeno, você é alucinógeno; imaginar as coisas sem você é encontrar a lucidez, e esta, por sua vez, nunca me encantou.

Intimidade.

Nossos corpos se chocando sem nenhum pudor ou censura é o suficiente para me fazer acreditar que conosco não há limites – serei ousado e usarei de redundância para frisar que é tudo interminável.

Toque, suspiro e verbalização; você fala e eu recuo, pois a melodia que há em tua voz é sagrada e precisa ser reverenciada.

Então vem o tato novamente. Suas mãos massacram o pouco que resta de minha sanidade, enquanto a aglutinação de nossos corpos faz com que eu consiga nos deslocar para um lugar só nosso.

E tudo fica mais perfeito, porque nesse lugar somos apenas eu e você – eu, você, o tato, o ato, os sons e o proibido, mas tudo vale a pena; vale por ser você.

Você e eu.

Intensidade.

Somos intensos até no ato de respirar, pois o ar que sai de sua boca e colide em minhas costas faz com que eu perca o meu compasso, esqueça a letra, e dance só a tua música.

Três, dois, um.

Três, dois, um.

Você me atinge fundo e com força, mas não dói – não dói porque é você, e a necessidade de ser invadido dessa forma grita em mim de forma latente. Essa invasão de sensações faz-me tremer, perder o controle – e a vontade que tenho é ter você por dentro, mas desta vez de forma física, pois como disse, nunca nada me inebriou como você, como nós.

Então o despertador toca com um grande choque de realidade; a invasão de lembranças passadas tritura os meus sentidos, mas não da forma que você costuma fazer, e eu quero que você faça, mas você não está aqui, Rick.

A culpa que me assola é algo difícil de lidar, e eu não quero lidar com isso; eu não preciso. Você não está aqui para me ensinar a enfrentar tudo isso, estender-me a mão, me auxiliar com o toque, e assim resolvo acabar com tudo, porque desde o início, desde que você se fora, nada mais fazia sentido.

Seu maior erro fora não se despedir.