Disclaimer: Beyblade pertence ao Takao Aoki.
Nota: Essa história se passa antes da primeira temporada de Beyblabe. Por isso, Tyson e os outros não aparecem.
Nota 2: A Grace é uma personagem original criada por mim.
Capítulo 1
- Todo dia é a mesma coisa. Sempre quando passa, essa menina olha para cá. Na ida ao colégio pela manhã, na volta, em um simples passeio... O que ela vê de tão especial na minha humilde casa? Será por que é a mais bonita do bairro? A mais suntuosa? Ou ela está interessada em algum morador? E não é só uma simples olhadela. Ela para, e fica esperando alguém aparecer. Quem será ela? Parente de um dos empregados? Não sei. Só sei que ela me irrita fazendo isso. Sei que olhar não tira pedaço, mas para que tanta fixação? Um dia vou pará-la e perguntá-la. Mas espere! Por que não faço isso agora? Afinal, ela está passando agora...
E ele foi. Desceu as escadas correndo, adentrou o jardim e escondeu-se atrás do muro, próximo aos portões. Era uma tarde clara, sem nuvens. A menina apontara da esquina e veio, distraída. Parou. Suspirou.
- Então ele mora aqui...
Kai deslizou pelo muro e parou próximo a ela, do lado de dentro.
- Ela é tão bonita, não é?
A menina levou um susto com a voz. Depois, empalideceu ao ver de quem era.
- V-você...
- A minha casa. Você a acha bonita? Pena que nunca chegará a morar numa mansão dessas.
A menina nem ouvira o que ele dissera. Estava paralisada. Kai não gostou nem um pouco dessa fixação. Primeiro com sua casa, agora era com ele!
- Quem é você? – Perguntou, escondendo a irritação na voz.
-Eu? M-meu nome é Grace.
- Eu sou Kai Hawatari, líder dos Blade Sharks. E você está me incomodando.
- Me desculpe...
- Agora me responda: por que essa vigilância toda? Há tempos que eu te vejo passando por aqui, e você sempre para e olha para alguma janela, como se tivesse procurando alguém...
- Mas eu procuro, mesmo! Quer dizer... Eu procurava, por que eu já encontrei... – A última frase foi dita num sussurro, que Kai não ouviu.
- Como é? Fale mais alto, por favor. – E a menina berrou:
- Quero que me ensine a jogar beyblade! Eu tenho uma beyblade, mas não sei jogar corretamente! Quero que me ensine, por favor! Não peço nada mais além disso...
Kai ficou sem ação. Nunca tinha lidado com isso, era uma situação nova. Por um momento, arregalou os olhos e ficou olhando a figura à sua frente. Grace era magra, branca, de cabelos lisos e castanhos amarrados em um rabo-de-cavalo que agora estava pendendo para frente. Tinha uma franja cortada perfeitamente sobre a testa. Roupa? Uma saia de pregas azul-escuro com suspensórios e legging até as canelas, de mesma cor. Usava uma blusa branca de mangas até os cotovelos por baixo dos suspensórios. E por cima de tudo, um casaco rosa-claro de botões. Tênis brancos surrados. Olhos verdes, penetrantes. Não podia negar, era uma garota bonita. Deu um sorrisinho de canto de boca, e decretou:
- Você é uma garota muito corajosa para vir até aqui e ter a sorte de me encontrar. Sabe, eu sou um garoto muito ocupado, tenho competições para vencer e treinos muito rigorosos. Tenho um grupo que eu lidero que é o maior dessa cidade. Dá trabalho manter aqueles moleques sob as minhas ordens. E ainda me vem uma guria com a maior insolência do mundo me pedindo para ensinar beyblade? O que você pensa que eu sou? Um benfeitor?
A menina não entendeu muito bem o motivo do discurso. Mas se sentia mal com essas palavras. Abaixou a cabeça e disse num fio de voz:
-Me desculpe Kai... Eu não queria –
- Tá, tá! Chega de choramingar! Se você quer tanto isso... – E deu um suspiro - Eu te ensino.
Os olhos de Grace brilharam.
- Obrigada, Kai! Obrigada! – E começou a pular em frente ao portão. Sorte que não tinha ninguém na rua para ver o espetáculo. O garoto ficou com vergonha alheia, mas não pode deixar de sorrir com o desafio. Treinar uma menina bonita? Fichinha para Kai Hiwatari. Depois do momento de alegria, a menina tirou do bolso do casaco uma beyblade e mostrou-o. Era rosa-claro de lâminas amarelas.
- Essa é a minha beyblade. Ela é boa para jogar?
Kai pegou a beyblade para analisar. Já estava cansado de conversa pelas grades, e abriu o portão.
- Entre. Se vamos começar o treino, tem que ser agora.
Grace entrou. Nem acreditava que um dia estaria ali, nos jardins da mansão Hiwatari. Era como um sonho. O líder dos Blade Sharks era seu ídolo, adorava vê-lo duelando pelas ruas, mesmo de longe, pois não tinha coragem de se aproximar. Por isso, a vigilância involuntária em frente à mansão.
Kai se dirigiu para o lado direito da casa e Grace o seguiu. Ali, no meio da relva verde, havia uma cuia de luta.
- Eu venho aqui para treinar minha Dranzer. Agora será a sua escola. Preste bastante atenção, pois só ensinarei uma vez. Sua beyblade é boa, mas ainda é muito fraca. Vamos lutar para ver como ela se sai.
E jogou o pião para a menina. Kai tirou sua Dranzer do bolso e preparou-se. A menina imitou seus movimentos.
- Pronta? 3, 2,1! Let it rip!!!
As duas beyblades se chocaram, numa velocidade estonteante. Mas para a infelicidade da garota, não durou por muito tempo. Sua beyblade voou contra a parede da casa e formou-se em mil pedaços. A menina ficou com os olhos marejados, mas engoliu o choro. Não queria fazer feio na frente do seu treinador no primeiro dia de aula. Kai já imaginava essa reação e consolou-a:
- Vou te ajudar a construir uma beyblade melhor do que essa. Tenho peças que posso te emprestar. Volte aqui no mesmo horário, amanhã. Começaremos sério.
- A-amanhã?
- Sim! Você é surda? Agora vai. Está escurecendo.
Grace deu um sorriso e logo obedeceu. Ainda não estava acreditando que seria treinada por ele. ELE. Kai Hiwatari, seu ídolo. Juntou seus pedaços e se foi. Ao atravessar o portão, o garoto a advertiu:
- Ah, e não quero que comente com ninguém que estou te treinando, ouviu bem?
O que seria uma grande alegria de contar para as amigas, transformou-se em frustração.
- Mas por quê?
- Porque eu não quero! Agora vai!
A menina saiu desapontada. "Não dá para se ter tudo", pensou. Para que ele continuasse a ser o seu treinador, tinha que seguir as suas regras. Mas não se deixou abater. Logo levantou a cabeça e andou confiante pela calçada. "Talvez seja melhor assim, ninguém saber de nada. Pode despertar inveja."
Ao passar por uma lata de lixo, jogou os restos de sua beyblade fora. E saiu assobiando pelas ruas, até chegar em casa.
