Enquanto caminhava pela areia em direção ao mar, tentando desesperadamente me acalmar, minha cabeça era tomada por milhões de pensamentos. Medo, insegurança, agonia, felicidade, êxtase... Emoções tão contraditórias e poderosas, todas num mesmo turbilhão. Sabia que ela também estava nervosa, diria até que a beira de um ataque de pânico. Uma parte de mim me dizia que era claro que ela se sentiria assim... Casada com um monstro e pronta para arriscar sua vida. Devia estar arrependida... Talvez eu devesse voltar ao quarto agora mesmo e dizer a ela que o trato estava desfeito, que eu não a exporia ao perigo mais uma vez.

Mas eu sabia que não podia fazer isso, eu havia prometido. E ela havia se casado comigo! Isso mesmo, Bella Cullen, minha esposa! Parecia que meu peito iria explodir de satisfação. Deus, como eu a amava. Um humano jamais poderia sentir tamanho amor, não seria capaz... E ela era minha, só minha, para sempre.

Enquanto a esperava na água (sabia que a espera poderia ser longa, já que conseguia ouvir o barulho da água do chuveiro, seu coração batendo descompassado e sua respiração apressada), pensava na longa jornada que nos trouxera até àquele momento...

A primeira vez na nossa clareira, quando descobri que era forte o bastante para ficar ao seu lado e amá-la. As horas intermináveis que passamos abraçados, em que fui tomado por uma emoção que não sabia ser possível. Tão forte, tão humana, tão devastadora.

Meu desespero ao encontrá-la semi-consciente sob as garras de James no estúdio de balé. Onde por uma fração de segundo pensei que fosse tarde demais. A terrível decisão de limpar seu sangue daquele veneno nojento e maligno e acordar o monstro sedento em mim. Lembrava claramente como a criatura deplorável que morava dentro de mim ficou feliz ao imaginar seu desejo atendido. O pânico de não me imaginar capaz de parar e a satisfação de mais uma vez me sentir mais forte do que pensava. Ou melhor, meu amor me fazendo mais forte do que imaginava ser.

A terrível noite de seu aniversário de 18 anos, quando meus planos de ir embora já estavam formados, antes mesmo de sair daquela cozinha onde não fui capaz de ficar, pois o cheiro que sempre me enlouqueceu desde o primeiro dia, me instigava a matar a mulher que amava.

Os dias sombrios que antecederam minha partida. Minha falsa frieza e distanciamento me machucando mais do que poderia descrever. A dor de imaginar que ela pudesse realmente seguir sua vida sem mim e que não restasse nada para provar a mim mesmo que havia vivido aquele sonho. Que realmente houvesse tocado sua vida.

Os meses sem fim que passamos separados. A agonia que nunca fui capaz de lhe contar, assim como não tive coragem de lhe confessar que não fora somente ela que imaginara coisas durante aquele tempo. Durante todos aqueles meses, também cultivei minha Bella imaginária. A imagem de seu rosto e sua voz, que surgiam nos momento de maior desespero para me confortar. Um sorriso veio aos meus lábios ao lembrar de sua confissão. Seu medo que a achasse louca. Bella bobinha... Se ela soubesse o alívio que senti ao ouvi-la. Afinal, eu é que me imaginava louco, apesar de não saber se um vampiro poderia enlouquecer realmente. Mas sua confissão só me fez acreditar ainda mais o quanto estávamos predestinados. Compartilhando medos e emoções. Mas claro que eu não podia lhe contar isso. Torná-la ciente dos detalhes do sofrimento pelo qual eu passara, só a deixaria mais triste.

Todo o terror em Volterra. O horror que ela parecia não entender então, de ter que prometer que a transformaria. Durante mais de 70 anos, havia lutado contra o monstro em mim. Não podia condenar alguém a quem amava tanto a uma vida como a minha. Se eu a queria transformada? Imensamente. Poder tocá-la sem medo, poder amá-la intensamente, sem riscos. Não me preocupar com sua vida a cada milésimo de segundo. Mas querer isso não provava que eu realmente era um monstro? Porque tudo isso eu queria por mim. Poderia haver alguém mais egoísta? Amar não é colocar o outro sempre acima de si mesmo? Naquela época eu acreditava que ela realmente não entendia as conseqüências do que me pedia, que não entendia o que significava se tornar uma de nós. Então achava ser meu dever protegê-la (dos outros, de mim e também dela mesmo).

O pânico que me tomou no vôo de volta de Volterra, quando a senti tão hesitante, tão distante. A conversa que havia visto na mente de Alice, quando Charlie lhe contou sobre o relacionamento de Bella e Jacob. O quanto ela havia se ligado a ele. Imaginei que aquela hesitação era porque era tarde demais e não tive coragem de beijar seus lábios, pois a dor que sentiria quando ela me mandasse embora depois, seria imensa. A dor de ser rejeitado por Bella... Só consegui a segurar em meus braços e passar a viagem memorizando seu rosto (como se fosse possível esquecê-lo).

A felicidade que senti quando finalmente entendi que ela ainda me amava. Logo seguida pelo desespero por sua decisão pela transformação. Ela podia não desconfiar, mas claro que eu sabia de sua total fobia pelo casamento. Era fácil ler na mente de Charlie, as acusações que Renée tantas vezes havia feito e que seriam impossíveis de não deixar marcas profundas em Bella. Ao saber que ela havia tomado sua decisão de ser transformada e que teria Carlisle ao seu lado, eu só conseguia pensar em maneiras de ganhar tempo, para que ela tomasse consciência do erro que estava cometendo. Tá bom, não havia sido só isso, eu queria desesperadamente tê-la como minha esposa. Era um sonho que me faria o "homem" mais feliz do mundo. Então é claro que havia esperança do seu "sim", apesar de novamente me achar terrivelmente egoísta. E quanto a saber de seu desejo que eu mesmo a transformasse, bem, essa era fácil. Nos amávamos! E que pessoa apaixonada não iria querer ter uma parte do outro fazendo parte de si mesmo? O simbolismo de se sentirem unidos de corpo e alma. Eu já não sentia mais sede de seu sangue, mas saber que havia provado algo tão poderoso e que assim ela estava presente em cada célula do meu corpo de pedra, fazia com que me sentisse de certa forma "especial", ligado a ela de maneiras que não podem se explicar com palavras.

Os meses que se seguiram, onde eu vivi assombrado pela idéia de perdê-la para Jacob. Lutando entre o dilema do que eu queria e o que seria melhor para ela. O pânico que me tomava cada vez que a levava a fronteira da reserva. Pânico de que não voltasse, ou voltasse apenas para me dizer que havia decidido ficar com ele. O alívio em cada reencontro, de poder ler em seus olhos que ela me amava. O medo de ouvir em seu sono as palavras me matariam novamente se fosse possível, que ela o amava.

Ela me ver matando Victoria, quando eu pensei que realmente a tivesse perdido. Que ela finalmente me veria como o monstro que eu era e correria para Jake, que nunca a machucaria como eu poderia machucá-la. Mal tive coragem de me virar para ela aquele dia. Não queria ter que ver em seus olhos seu horror por mim. A indescritível emoção que senti quando vi que o único medo que ela teve foi que eu pudesse me ferir. E então as palavras inacreditáveis que me fizeram transbordar de felicidade: "Da próxima vez eu vou lutar ao seu lado". Isso queria dizer que ela havia me escolhido.

O Casamento! Ler em seus olhos, gestos, reações, que ela estava tão feliz quanto eu, por finalmente estarmos nos unindo. Minha para sempre! Agora eu sabia que ela realmente entendia o significado da transformação e apesar de ainda hesitar em condená-la àquilo, sabia que ela queria ser minha para sempre. Afinal éramos metades de um inteiro. Os dois, uma única alma. Ela havia feito com que eu acreditasse ter uma alma.

Enquanto divagava por esses pensamentos, ouvi seus passos suaves na areia. Ela não parecia hesitar agora. Lutei novamente contra o pânico. Além do imenso pavor de machucá-la, havia outros medos. Medos muito mais humanos e que não teria coragem de confessar...

Ela sempre havia dito que eu era bom em tudo, mas nisso eu era tão inexperiente quanto ela. Claro que havia conversado com Carlisle e com meus irmãos sobre o que esperar, mas não tinha idéia de como fazer isso. Era como se fosse encenar uma peça, subir ao palco e de repente descobrir que não sabia as falas. E se eu não fosse bom o suficiente para ela? Se ela não gostasse? Não era ingênuo, sabia que sexo era uma parte importantíssima num relacionamento. E se ela se decepcionasse comigo? Acho que ela não tinha a menor idéia da força de meu desejo... Do quanto a queria.

Foi então que senti sua mão na minha...

- Lindo. – Ela disse, imaginando que eu estivesse contemplando a lua.

Virei-me suavemente. Ver seu corpo nu, sentir seu calor, me deixou completamente inebriado. Tive que controlar minha voz para falar.

- É legal. Mas eu não usaria a palavra lindo. Não em comparação com você aqui.

Ela deu aquele sorriso que sempre me deslumbrava, deu um passo em minha direção e pousou sua mão em meu peito. Foi como se uma corrente elétrica passasse pelo meu corpo... Não consegui segurar o tremor, cada célula minha ansiava por ela, pelo calor de seu corpo, por sentir seu gosto, sua maciez... A excitação que tomou conta de mim era indescritível, a antecipação do prazer. Precisei de todo meu auto controle para dizer o que precisava, uma última vez... Dar-lhe uma chance de desistir caso ela quisesse:

- Eu prometi que nós poderíamos tentar. Se... se eu fizer algo errado, se eu te machucar, você tem que me dizer na hora.

Uma parte de mim realmente queria que ela desistisse, enquanto outra, mais forte a cada segundo, queria tomá-la em meus braços e explorar cada centímetro de seu corpo.

- Não tenha medo. – Bella murmurou com a voz carregada de emoção. - Nós pertencemos um ao outro.

Sim, eu sabia que essa era a verdade. Estávamos destinados...

Passei meus braços em volta de seu corpo, contra mim. A sensação de sua pele na minha, seus seios nus no meu peito, acabaram com qualquer hesitação que ainda houvesse. Não havia mais humana ou vampiro... Somente dois corpos carregados de desejo e paixão.

A arrastei para águas mais profundas...