Nota da autora: Bom... Mais uma resposta a um Desafio do Mundo dos Fics! Eu ia começar outro fic, também Aoshi/Misao, mas não podai deixar de participar do Desafio! Um "thanks" muito especial à Mônica, por fazer "Brainstorn" comigo à meia noite (!) e à Li, pelas dicas e por revisar para mim!

Disclaimer: Rurouni Kenshin e seus personagens não me pertencem. Só se um dia eu conseguir dar o golpe do baú no Watsuki... Daí ele vai passar o dia fazendo ilustrações do Aoshi para mim! o

"fala"

'pensamento'

Escute seu coração

Chovia forte naquela noite. Grossos pingos de chuva batiam impiedosos na janela, abafando todo e qualquer barulho mais fraco que ousasse invadir a noite. O inverno estava no auge, e prometia ser rigoroso.

Foi com uma certa dificuldade que Aoshi escutou as leves batidas na porta de seu quarto. Elas pareciam se misturar ao insistente tamborilar da chuva, e aos uivos incontidos do vento.

Afastou as cobertas, e levantou-se rápido, seus reflexos ninja agindo antes mesmo que ele acordasse completamente. Estava acostumado a ser acordado no meio da noite, durante as batalhas. E mesmo em tempos de paz, seu corpo e mente não relaxavam. Ficou de pé, em silêncio, por alguns segundos. Tentando identificar pelo ki quem batia em sua porta àquela hora da madrugada.

Misao...

Aoshi suspirou. Misao andava muito estranha ultimamente. Estranhamente silenciosa, na verdade. Parecia sempre distraída e pensativa, e às vezes o encarava como se quisesse dizer alguma coisa. Mas nunca dizia. Isso não era típico de Misao. Geralmente ela não ficava quieta um minuto sequer... E agora, batia em sua porta no meio da noite. Algo estava muito errado.

Aoshi deslizou a porta para o lado, no exato momento que um relâmpago iluminou a figura esguia da jovem. Misao estava com os longos cabelos soltos, caindo sobre os ombros, e vestia apenas seu yukata. O jovem Okashira não conseguiu ignorar uma onda de desejo ao observá-la. Aliás, estava cada vez mais difícil não reparar nas formas adultas que o corpo da jovem estava tomando.

Foi com algum esforço que Aoshi ergueu o olhar de seu corpo, e a encarou nos olhos. Misao tinha uma expressão decidida, como poucas vezes ele viu antes. E, na maioria dos casos, essas "poucas vezes" sempre tinham alguma relação com ele... Deu um passo para trás, dando passagem para que ela entrasse no quarto. Qualquer coisa que Misao quisesse lhe falar àquela hora da noite com certeza era muito importante. Fechou a porta e virou-se, encarando a garota.

"O que faz acordada a essa hora Misao? Aconteceu alguma coisa?"

Misao hesitou por um instante, olhando-o fixamente nos olhos. Depois respirou fundo, e começou a falar, a voz pouco mais que um sussurro.

"Eu... Eu passei vários dias tomando coragem para vir aqui, Aoshi-sama... Para falar com você. Eu... Eu não agüento mais essa situação... Essa dúvida! Eu preciso saber... Eu quero ouvir de você. Me diga Aoshi-sama: O que você sente por mim?"

Aoshi continuou com sua expressão indecifrável como sempre... Mas por dentro, foi como se tivesse levado um soco. Confessar o que sentia por Misao?

Como ele poderia confessar algo que ele tentava evitar a todo o custo?

'O que você quer que eu diga, Misao? Que eu sempre vi você como a menininha que eu amava, e que deveria proteger a todo o custo? Mas desde que eu voltei, não consigo mais enxergar em você aquela garotinha, e o amor que eu sinto por você agora não é mais fraternal? Agora eu vejo uma mulher. Uma linda mulher florescendo para a vida. E tudo o que eu mais tenho desejado é ter você em meus braços, e transformar você em minha mulher. Mas eu sei que isso é errado, Misao. Eu não mereço você. Você é perfeita demais, pura demais para mim. Você merece alguém melhor do que eu, Misao... Alguém que não tenha um passado manchado por sangue...'

Mas Aoshi não chegou a proferir estas palavras. Apenas continuou encarando a jovem, com seus olhos frios e sem vida. Não sabia o que dizer. E sua presença, tão próxima, o deixava sem saber como agir. Ele não queria ter que mentir para ela. Mas não podia confessar a verdade. Isso estava fora de cogitação.

"E então, Aoshi-sama?"

As mãos de Misao seguravam o nó do yukata, e Aoshi percebeu que elas tremiam levemente. Por um breve instante, ele quase cedeu à tentação de abraçá-la. Vê-la assim tão frágil, expondo seus sentimentos assim dessa forma, faziam-no ter vontade de jogar para o alto todo o bom senso... E tomá-la em seus braços ali mesmo.

Mas Shinomori Aoshi sempre fazia o que era sensato. Ouvia sempre sua mente, nunca seu coração.

Desviou os olhos de Misao, e afastou-se alguns passos.

"Não é apropriado você estar aqui sozinha, a esta hora da noite, Misao. Volte para o seu quarto."

"Não é apropriado? Por quê?" Misao perguntou, dessa vez de forma mais decidida, enquanto ia se aproximando devagar de Aoshi novamente.

"Porque você é uma moça" Aoshi disse simplesmente, não conseguindo pensar em mais nada para dizer, que não o denunciasse.

"Uma moça? E o que mais, Aoshi? O que mais você pensa de mim? Vamos Aoshi, me diga!".

O jovem permaneceu em silêncio, observando Misao. Ela já o segurava pelos braços, como se sua vida dependesse daquilo! Havia urgência em sua voz, quase desespero. Sentindo um ódio irracional por si mesmo, ele a segurou pelos ombros, e fez com que ela se afastasse.

"Vá dormir, Misao".

A jovem soltou uma exclamação exasperada, fechou os olhos e colocou as mãos na cabeça, tentando se acalmar. O que, no caso de Misao, era quase impossível. Ela acabou explodindo mesmo assim.

"Será que você não entende, Aoshi? Será que você é tão cego que não consegue ver? Você finge não ver? Ou será que você não quer aceitar?"

E, com um movimento rápido, ela desatou o nó do yukata, e deixou deslizá-lo por sobre seus ombros até o chão, ficando completamente nua.

Sem dar nem mesmo chance a Aoshi de dizer – ou fazer – alguma coisa, ela separou o pouco espaço entre eles, enlaçando seu pescoço.

"Eu quero você, Aoshi... Eu desejo você mais do que tudo! Eu amo você, Aoshi-sama..."

Dentre todas as batalhas que Aoshi já participara na vida, nenhuma delas, nenhuma, se comparava à que ele estava travando dentro de si próprio, naquele momento. O corpo delicado e quente de Misao colado ao seu, os braços em volta do seu pescoço, sua respiração tão próxima, seu perfume... Faziam seu corpo formigar de desejo e paixão.

Mas ele tinha que ser forte. Por ela.

Os lábios da garota roçaram de forma provocativa os dele, esperando por alguma reação. Que não aconteceu. Aoshi permaneceu na mesma posição, sem mexer um músculo sequer. Aquilo estava lhe custando toda a sua determinação.

Quando percebeu que não estava sendo correspondida, Misao afastou-se um pouco, e encarou Aoshi nos olhos. Era a chance que ele precisava. Aoshi desviou o olhar, e tirou os braços dela de cima de seus ombros, segurando-a pelos pulsos, e soltando logo em seguida.

Misao pareceu confusa por um momento, mas a confusão logo deu lugar a raiva. Raiva dele, de si própria, de toda aquela situação. Com o rosto vermelho e a voz tremendo de ódio, frustração e vergonha, ela vociferou:

"Aoshi, olhe para mim!"

E assim ele o fez. E o que Misao pode ver em seus olhos foi a mais cruel e fria forma de desprezo. Um desprezo que a feriu onde ela nunca imaginou que pudesse ser ferida. Em sua alma.

Nenhuma palavra mais foi dita. Confusa, magoada e triste, Misao baixou a cabeça, pegou seu yukata, vestiu-o de qualquer jeito, e saiu apressada do quarto, sem dirigir o olhar a Aoshi uma vez sequer.

No momento que sentiu que ela estava longe o suficiente, o jovem se deixou tomar pelas emoções, e socou a parede com força. Aoshi sentia um ódio mortal de si mesmo. Ele sabia que havia magoado Misao, de uma forma que ela provavelmente nunca mais o perdoaria. Havia mexido com seu orgulho. Mas, a seu ver, não havia outra forma de fazê-la entender que ela precisava se afastar, que eles não podiam ficar juntos. Não podiam!

Aoshi precisou recorrer a toda sua força de vontade, para não se entregar àquele roçar de lábios, e beijá-la como realmente desejava, como realmente sonhava há muito tempo. Ele sabia que se a beijasse, se abrisse a guarda, não teria mais volta... Maldito bom senso! Maldita responsabilidade! Maldito amor que sentia por Misao, e que era mais forte que qualquer tipo de desejo que pudesse sentir...

A razão gritava em sua mente 'Você fez o que era certo! Você fez o que devia ter feito, o que era correto'. Mas seu peito doía de arrependimento com o que acabara de fazer. Havia mentido para ela. Havia lhe lançado um olhar duro e frio, que ocultava seus verdadeiros sentimentos. Havia escondido sob a fachada de um falso desprezo todo o amor que nutria por ela...

'Por favor, Misao perdoe-me... Esqueça o que sente por mim... Vai ser melhor para você. Você merece alguém melhor do que eu.'

E perdido em seus próprios pensamentos, Aoshi não chegou a escutar os leves passos que se afastavam velozes do Aoiya, no meio da chuva, e se perdiam na escuridão da noite.