NA: Seguinte, a diagramação do estava me fazendo subir pelas paredes, assim como alguns erros espalhados pelos capítulos. Deu 5 minutos e eu deletei a história para e fiz as alterações que queria. Coisa pouca, mas mesmo assim, vale o aviso. Vejamos se dessa forma vai.

Aproveitando: eu posto aqui e no AO3, onde acho muito mais cômodo. Deem um alô se estiverem lendo aqui, do contrário só atualizarei nesta página quando esse monstro estiver completo, OK? (não, não é chamada pra review. Eu vou postar anyway. O que vai mudar é a demora para sair tudo mesmo).

Ok, estabelecidas as preliminares, informo como DISCLAIMER que Game of Thrones, nem as Crônicas de Gelo e Fogo pertencem à minha pessoa.

Besos!


Lyarra I

Lyarra Snow olhava de maneira fixa a linha do horizonte. Ela estava do alto das ameias, esperando a comitiva do senhor seu pai aparecer na estrada.

Logo naquela manhã, chegara a informação de que um desertor da Muralha fora capturado. Lord Stark reunira alguns guardas, assim como Theon, seu protegido, e seus irmãos, Robb e Bran e partira para a execução.

Lyarra mordeu os lábios, apreensiva. Ela sabia como uma decapitação podia ser algo impressionante, e era a primeira vez de Bran, seu meio-irmão de 10 anos. Mesmo se Robb estivesse com ele, a moça ainda assim preferia se certificar que estava tudo bem.

Ela suspirou exasperada. Teria ido, se não fosse pela comoção de mais cedo. Robb ajudara Bran a treinar arco e flecha no pátio (com alguma participação de Lyarra, era verdade) e sua irmã Ayra - selvagem, incrível Arya - surgira do nada, insistindo ser melhor que pobre Bran. Quando a noticia da execução chegara, a menina de 11 anos tentara se enfiar na comitiva usando a presença de Lyarra como argumento. Isso despertava um pontudo olhar de reprovação de Lady Stark, que com certeza responsabilizava a filha do marido pelo péssimo exemplo. Ao final, as duas haviam sido proibidas de ir, Lady Catelyn ainda recriminando Lyarra pela falta de bom senso e decoro.

Como é próprio da sua laia fora o complemento não dito, mas que pairou pesado no ar.

Há muito, Lyarra tentava se adaptar a ideia da esposa de seu pai odiá-la por ser bastarda. No entanto, não era porque tentava que tais recriminações machucassem menos. De fato, elas pareciam aumentar o sentimento de que Lyarra não pertencia a Winterfell.

Porque você é uma bastarda e bastardos são mesquinhos, ladrões, traidores e putas.

Lyarra mordeu a língua, engolindo um choro acumulado. Chorar por feridas antigas não adiantaria nada, por mais que suas entranhas doessem para fazê-lo. Tanto melhor esperar os irmãos que amava tanto e se certificar que Bran conseguira cumprir seu dever com o mínimo de trauma possível.

E talvez..., ela pensara, talvez ela devesse antes procurar Arya, que murchara e lançara um olhar de contrição à irmã mais velha quando ambas haviam sido punidas. Encarapitar-se no meio das torres sem dizer nada à criaturinha não fora certo, mesmo que depois do sermão de Lady Stark Ayra tivesse sumido pelos corredores do castelo.

- Lya? - e como conjurada por mágica, lá estava a diabinha, a massa de cabelos escuros escapando do emaranhado de tranças. O tom que Ayra usava ainda não era o seu normal, como se ela estivesse avaliando se Lyarra estava zangada com ela – o que era absurdo, Lyarra não conseguia ficar nem 5 minutos chateada com a irmã mais nova.

- Ei. - disse Lyarra com um sorriso, sinalizando que estava tudo bem - fugiu das lições?

Aquilo pareceu funcionar, pois Ayra disparou em sua direção e se sentou ao seu lado, fazendo uma expressão de desolamento.

- Costura é insuportável! – ela exclamou, enérgica – Mais ainda com a Septã Mordane dizendo a cada meio minuto como o trabalho de Sansa é incrível e como Sansa tem um talento nato e como eu devia tentar me espelhar mais na minha irmã mais velha! – mais um grunhido de impaciência - Você é minha irmã mais velha e não costura!

- Isso não é verdade. Eu só tive as minhas aulas quando vocês eram mais novas. – Lyarra corrigiu gentilmente. Sinceramente, ela não se importava tanto com a agulha e bordados, sendo melhor em ajustar e remendar algo pronto do que fazer algo do zero, e nem em mil anos ela conseguiria fazer com tantos enfeites e detalhes como Sansa.

Mas deuses a livrassem de dizer em voz alta na frente de Arya, pois aí sim a rebeldia da pequena nunca teria fim.

- Teria sido melhor que estivesse conosco! Eu fiquei sozinha com Sansa e Jeyne! – Ayra falou de forma rabugenta, cruzando os braços sobre o peito.

Ah, pensou Lyarra, E aí chegamos a outro tipo de problema.

Ayra não tinha jeito para costura e geralmente achava as canções sobre princesas e amores de verão estúpidas, preferindo correr e brincar de luta com os meninos ou montar a cavalo. Fora isso, ela não era como Sansa, sempre elogiada por sua beleza Tully ou como a própria Lya, lembrada por sua semelhança com sua tia Lyanna, há muito morta. Não, Ayra tinha o rosto longo dos Stark e quase todo gritando por Ned. Ela também nunca parecia conseguir ficar limpa, com furos na saia e joelhos sujos e esfolados.

Para Lyarra, não importava nenhuma dessas coisas, mas ela sabia que vez ou outra as outras meninas aproveitavam e faziam troça com os pontos fracos da irmã. Como muito provavelmente agora.

Lyarra soltou um suspiro.

- O que elas disseram dessa vez?

Nada, apenas uma expressão emburrada. A mais velha tentou chamar a atenção dela uma segunda vez, o tom milimetricamente mais duro.

– Ayra...

Ayra exalou o ar de forma impaciente e pareceu pensar por um momento, até que decidiu por onde começar:

- Elas não disseram nada, na verdade. Mas quando a Septã me corrige, elas sempre ficam de risinhos, olhando para mim! – e aí a menina jogou os braços para o alto, exasperada - Para que importa saber fazer essas tranqueiras com pano, afinal de contas!?

Lya mordeu os lábios para não rir com a intensidade da fala. Ela sabia compreender bem as aflições da irmãzinha, mas a abordagem melodramática sempre era divertida em certo ponto. Por fim, ajeitou as saias e disse em um tom apaziguador:

- Bom, é útil saber como consertar as próprias roupas. – e completou – E você não devia se comparar à Sansa, que é ridiculamente boa com essas coisas miúdas e faz praticamente magia com aquelas linhas. O que a Septã disse sobre o bordado de Jeyne?

Ayra parou por um momento, relembrando. Não demorou muito e um pequeno sorrisinho ocupou seus lábios.

- Que estava torto demais e que os pontos estavam soltos. Teria que refazer metade do trabalho. – e novamente fechou a cara - Mas não é tão ruim quanto o meu!

- Ah, mas você é melhor que elas em contas, não? História das Batalhas também. E você aprende passos de dança melhor que ninguém. E de luta. Jory comentou comigo outro dia que você fica escondida repetindo o treino dos meninos.

Isso pareceu animá-la. Tanto que exclamou orgulhosa:

- E sou a melhor no cavalo também!

Lyarra sorriu internamente e revidou com um fingido ar de arrogância.

- Não exagere, você não é tão boa quanto eu.

Os olhos de Ayra brilharam em desafio.

- Há! Espere só para ver! Daqui a pouco você está velha, seca e carcomida demais para montar! Mais do que você já está!

Lyarra levantou uma das sobrancelhas e fingiu ultraje.

- VELHA!?

- Aham. Você até tem cabelo branco que eu sei! Uma mecha inteira!

De fato, ela tinha um grosso cacho de fios prateados, que mantinha sempre escondido junto à nuca ou no meio da trança. Achava que atraía muito a atenção em contraste aos longos fios escuros. Tivera-o desde que se conhecia por gente e lhe causava embaraço de tempo em tempos, principalmente depois de começar a cultivar uma pequena dose de vaidade. Mas, por ser Ayra, a detentora de todas as prerrogativas do mundo, Lyarra não se sentia nem um pouco ofendida.

- Oh, sua pestinha, venha aqui e eu lhe mostro a velha!

E sem pestanejar, Lyarra avançou contra Arya em um decidido ataque de cócegas. A mais nova deu um grito e tentou se desvencilhar, mas o que faltava a Lya de força, lhe sobrava em jeitos de incapacitar e prender alguém, de modo que a pequena Stark se viu presa entre os braços e mãos ágeis.

- Aaaah! Sua bruxa, misericórdia, misericórdia! – exclamou Arya com a voz aguda de riso, lágrimas saindo pelo canto dos olhos.

- Oh? E desde quando bruxas velhas tem misericórdia de monstrinhos como você?! – e Lyarra procedeu a provocar ainda mais cócegas contra as costelas da menor, seguida pelos clamores de "eu me rendo! Eu me rendo!".

Isto é, até ambas ouvirem o grito dos sentinelas para abrirem os portões.

Pai e os outros haviam chegado.


Arya passava pelos andares e escadarias como um foguete e, não pela primeira vez, Lyarra maldisse sua falta de jeito para se mover com as camadas de saias do vestido.

- Arya, mais devagar! – ela tentou chamar a atenção da irmã com um grito sussurrado enquanto cruzaram a ala em que Lady Catelyn e a Septã Mordane geralmente ficavam. Não adiantaria nada toda a afobação se alguma das duas interceptasse a menina.

- Vamos logo, você não quer saber como Bran se saiu ?! – Ayra respondeu já da metade do lance de escadas, as saias levantadas em um nível que faria Lady Stark empalidecer de exasperação - Aposto que ele ficou com nojo do sangue!

- Ora, mais que coisa para se dizer!

Mas a pequena já estava longe. Lyarra soltou um suspiro e diminuiu o passo, admitindo que não conseguiria alcançar o relâmpago que ela chamava de irmã. Oh, bem, melhor chegar com um mínimo de dignidade até o pátio. Lya podia não ser tão minuciosa quanto Sansa quanto à limpeza pessoal, mas ela gostava de ao menos estar minimamente em ordem.

Lyarra encontrou com Sansa no caminho e, quando chegaram até o pátio, puderam ver Bran, Rickon e Ayra congregados em um pequeno bolo de gente, enquanto que o pai e Robb davam os cavalos aos estábulos.

- Lya! Sansa! Venham ver! – Bran exclamou cheio de energia, o que já deu alento ao coração de Lyarra.

Lyarra acenou com a cabeça e com um tímido "Lorde Stark" para o Pai, como sempre fazia quando estavam em público e tomou uma das rédeas, acariciando o dorso de um dos animais antes de dá-lo ao cavalariço– Foi tudo bem? – ela perguntou.

- Mais do que imagina - Robb então se voltou para ela, um sorriso nos lábios. Foi então que ela percebeu a pequena bola de pelos que ele segurava.

- Ah, mais olhe só para você! – Lyarra se ouviu falar baixinho, toda ternura que nutria por animais tomando conta dela por um momento. O filhote no colo do irmão era cinzento e parecia se distrair mordiscando o couro grosso das luvas de Robb, os olhos amarelos brilhando com o que parecia ser inteligência. Foi então que ela percebeu a comoção: havia um conjunto de filhotes de lobo aos pés dos irmãos, farejando e tentando ao mesmo tempo reconhecer o novo lugar e se aninharem uns nos outros.

Filhotes de lobo incrivelmente grandes, Lya pôde notar.

A moça se voltou para Lorde Stark, uma interrogação pairando no rosto.

Lobos gigantes. Os encontramos na estrada, próximo à carcaça da mãe. Foi derrubada por um veado do bosque.

- Foi Bran que os achou – completou Robb. – Pai deixou trazê-los se cada um de nós se responsabilizasse por um.

Lya ergueu uma das sobrancelhas.

- Cada um de nós... ?

- Tem seis filhotes, Lya! Para você também. – Bran exclamou feliz, claramente já com a cria escolhida nos braços enquanto Ayra e Rickon pareciam indecisos qual seria a próxima vítima de uma enxurrada de abraços esmagadores.

Lyarra olhou de Bran para Robb, que assentiu bobamente com a cabeça, confirmando que sim, ela também fora incluída.

O peito dela se inflou até quase o ponto de explodir e ela não conseguiu esconder o sorriso – Obrigada – ela murmurou, dando um beijo da bochecha do mais velho, depois se agachando e fazendo o mesmo com o mais novo.

Mais perto, ela percebeu o quão diferente era a ninhada entre si, tanto em tamanho como em temperamento. Em um exercício de criatividade, Lya pensou se cada um dos filhotes sairia tal qual o dono: dois selvagens e inquietos como Rickon e Ayra, outro refinado como Sansa, um calmo como Bran ou um tal como Robb...Ou até mesmo como ela.

Um puxão em suas saias chamou sua atenção e a moça olhou para baixo, vendo um montinho encardido de pelos caído no meio do tecido esverdeado do vestido.

O menor da ninhada, com pelagem que seria branca se não fosse pela sujeira e olhos vermelhos e silenciosos, a fitando de maneira fixa.

- Olá – ela cumprimentou e as orelhinhas da criatura tremeram, como se tivessem entendido o que ela havia dito. A cabecinha logo seguiu, se inclinando para o lado de forma inquisitiva.

Lyarra aproximou a mão do filhote, percebendo como ela parecia tão maior que o bichinho. Coçou-lhe as orelhas, vendo-o fechar os olhos em contentamento.

- É o resto da ninhada. – Uma sombra a cobriu, Theon se materializando ao seu lado. – Esse aí é seu, Snow. – disse de forma sarcástica, como sempre fazia.

Lyarra tinha a impressão que o custodiado de Winterfell adotava como esporte pessoal achar novas maneiras de provocá-la. Ao menos Robb vinha em seu socorro na maior parte das vezes.

- Theon...- o ruivo avisou com um tom sério, extremamente parecido com o de Lord Stark.

- Está tudo bem. – ela lhe assegurou, pois estava mesmo. Ainda que Lya reservasse em um pedacinho do coração cada defesa que Robb fazia em seu nome, ela já havia desenvolvido certa resistência às tiradas do Nascido do Ferro. Não valia a pena se deixa levar por cada provocação levantada.

Mas ela se voltou para o filhote menor, que ainda estava embolado em suas saias e ainda a mirava com o olhar fixo e vermelho. Ele parecia tão pequeno e menos alimentado que os demais e a encarava como se nem vivo fosse, como uma alma penada.

Ela fez carinho mais uma vez na cria de lobo. E mais uma vez ele pareceu mais do que feliz em recebê-lo.

Talvez Theon estivesse certo, afinal de contas. Aquele realmente era o lobo dela.