"I love your mouth
The words you say to me make me scream and shout".
Para Lestat
Se tomasse a decisão de escrever-lhe essa carta quando ainda éramos próximos, ou mesmo se arriscasse molhar o bico da pena após ter te visto, não conseguiria exprimir metade do que penso. Ainda não demonstrarei em perfeição o que sinto; isso me é impossível. Mas a distância me trouxe saudade, e, mais tarde, a reflexão.
Divido nossa trajetória em três momentos: o choque inicial; o ódio e a aceitação. Quando primeiro em transformou em vampiro, iludi-me com você, colocando-o ao lado do mundo mágico que eu descobri, e passei a amar. O misto de sensações, o sangue, o medo me fizeram a amar a vida. E a te amar também. Será que não poderíamos ter dado certo? Não. Dediquei-me tempo demais a reflexões para não gerar dúvidas nessa carta, a qual considero ato único e definitivo. Os fatores foram vários, e sua combinação é talvez o motivo mais provável para nossa decadente relação. A pobreza, a fome, Claudia. O Teatro dos Vampiros. Armand. O mágico se perdeu, a definição do místico de desprende de você ,e me encontro sozinho, perdido no escuro: na ausência de sentidos, desiludido e fraco. Te odiei e odiei não te amar.
Não pense que estou escrevendo uma biografia apenas nessa carta! Estou retomando memórias, pensamentos para formarem o meu "Eu" hoje. Foi na fase da aceitação. Logo após viajar o mundo com Armand, desisti de viver, e isso para um vampiro, significa levar em estado vegetativo as funções básicas que determinam nossa existência; mas então te encontro no ponto de início ( e esse reencontro foi há quantos anos, 10, 20?), e você estava lá. Decrépito, maltrapilho e asqueroso. Não consegui sentir pena – senti mais que compaixão, como se de repente meus órgãos se contraíssem e relaxassem freneticamente, num misto de gozo e horror, como se toda minha vida de vampiro estivesse passando pelos meus olhos, e não fosse mais nada; como se critérios fossem mudados naquele momento, meus pensamentos, minhas ideologias. Era como aprender a ver a magia na vida pela segunda vez, agora com muito mais experiência e noção de prazer.
Cheguei em casa fraco.Não consegui dormir naquela noite.
Estou agora sobre aquela velha escrivaninha que arranjamos na nossa primeira mansão (revestida de lembranças!). Debruço-me com tanto vigor sobre ela que , no fundo, acho que apenas quero me fundir para sempre com essas memórias, com nossa vida anterior. Estou de partida. Será minha segunda viagem pelo mundo; meus estudos solitários, mas agora com outra visão de mundo. E o que realmente quero lhe dizer se resume única, exclusivamente e resumidamente nessa única frase.
Eu te amo.
Eu te amo mais do que minha própria vida. Por toda minha trajetória ,amei cada mudança de seu ser. Amei você como mestre do mundo novo, como sábio sedutor; amei você decadente, ser de pura raiva e ignorância, aquele que tornou meus dias um inferno, mas que por dentro açoitava minha alma.
E hoje estou sábio, lúcido. E ainda te amo. Amo cada pedaço de você.Seu corpo e sua Alma. Agonizo ao pensar que não há maneira de consumir esse amor, apagar esse vício. Tremo, grito, alucino de dor. Porque te quero, te desejo do fundo da minha alma, e cada célula do meu corpo passará sua vida pensando em você. As malas estão prontas. Faz frio, e antes de partir vou atrás de um pouco de sangue. Enquanto ler essa carta, estarei em um navio, em alguma rua, em algum mar, algum céu. Em todos os cantos, em canto nenhum. Porque, sem você, sou apenas suspiros na imortalidade. Meu pensamento me guiará até você. Voltarei para te buscar.
Eternamente desse mundo, infinitamente teu.
Loius.
