CAPÍTULO I
Destino
Vela e Incenso
( A luz que guia, o perfume que eleva )
XVIII.
Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance or nature's changing course untrimm'd;
But thy eternal summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou owest;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou growest:
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this and this gives life to thee.
- William Shakespeare
- Você não está concentrado o bastante. Há tempos eu o treino, mas você nunca aprende, não é, Mu?
- Shion, você está sendo injusto. Sou seu melhor pupilo. Sigo tudo que diz. Posso ser o ferreiro dos cavaleiros, estou pronto para tudo.
- Não, não est�! E não role lágrimas nesse rosto de boneca para me impressionar, como sabe, meu coração é seco. Não terei piedade pelos seus lamentos. É melhor que chore agora.
- Está sendo demasiado cruel comigo, Shion. Você sabe o quanto eu desejo permanecer aqui...
- Não está pronto... logo eu irei embora, outra vez. E você? O que fará sem que eu esteja por perto para gui�-lo?
- Mas, Shion...
- Cale-se, Mu... céus! Que horríveis sons são estes?
Saíram ambos da casa de Áries correndo e viram Máscara da Morte trazendo arrastado um jovem loiro, de longos cabelos, sujo, maltrapilho, de olhos fechados. Impressionado, Mu ficou em silêncio.
- O que h�, Máscara da Morte? – Shion perguntou, observando o rapaz que trajava a túnica dos monges.
- Esse ladrãzinho safado vai ter o que merece.
- Céus, um ladrão... aqui? Quem seria idiota o bastante para isso?
- Agora mesmo eu vou fazer como fazem na minha terra, nas margens do Nilo, quando a gente pega um safado a gente corta os bracinhos do meliante para servir de aviso! Nunca mais vai roubar nada, vagabundo!
Trêmulo, Mu ergueu a voz para perguntar:
- O que ele roubou, Horemheb?
- O merdinha aqui roubou duas tangerinas do rapaz que vende frutas lá embaixo...
- Duas tangerinas? Só isso? – a voz de Mu era suave a baixa.
- Só isso para você! Para o pobre do moleque que vende frutas para não morrer de fome faz toda a diferença! Não interessa o que você roubou, viu? – ele sacudiu vigorosamente o 'bandido'. – Vai ficar sem braço, para não tomar o sustento de ninguém!
- Mas, Horemheb... arrancar os braços de um homem por tão pouco... olhe para ele, parece ter fome... eu pago as tangerinas...
- Isso não é o que interessa! O mundo ia ser bem um samba de crioulo doido se todo mundo que tivesse fome roubasse de alguém! Eu sou assassino, mas não sou ladrão! E odeio quem rouba! Já devolvi as tangerinas para o moleque... e agora... somos eu e você, seu safado!
Mu olhou para o homem arrastado pelo Máscara. Ele era lindo.
- Você não fala nada em sua defesa? Vamos... ele vai arrancar o seu braço...
O homem continuou em silêncio, mas levantou os olhos na direção de Mu. Olhos fechados.
- Você é cego?
- Cego nada! Para roubar, enxergava bem, pegou as duas maiores tangerinasÉ um cínico!
- Céus, Máscara da Morte... leve-o daqui, ele fede! Deve ser um mendigo. Dê-lhe uma boa surra e largue-o. Viver já deve ser um castigo para um indigente como ele...
- Esperem! Vocês falam dele como se fosse um gato vadio... é uma pessoa! Está faminto, sujo... não podemos maltrat�-lo e jog�-lo fora...
- Podemos sim! Eu vou jogar ele fora pra um lado e os bracinhos dele para outro!
- Você sempre desviando sua atenção para objetivos pouco nobres, Mu.
Mu aproximou-se do rapaz, passou a mão no rosto dele, ele levantou-se resoluto.
- Ele arde em febre... está doente e não sairá daqui sem que eu cuide dele.
- Céus, não seja ridículo, Mu!
- Está com febre! Essa é boa! Está com as fuças em chamas porque vim arrastando ele, Mu! Não é, safado?
Quando Máscara o sacudia, Mu via os arroxeados nos braços dele.
- Chega, Horemheb.
Horemheb, o Máscara da Morte, largou o 'bandido' ante o silencioso protesto nos olhos de Mu. Normalmente o ignoraria como sempre, mas não sabia bem o porquê, tinha pena de desafiar Mu na frente de Shion – porque ninguém poderia humilhar Mu mais do que Shion o fazia. Por um lado, achava bom: Mu era um frouxo. Mas por outro, tinha pena. Shion também não era grande coisa, na sua opinião. Afastou-se de fininho, mas antes de sair bateu o pé e disse: "Vou sodomizar você por horas e arrancar seus bracinhos depois, loirinha! Estou de olho em você! Não ouse roubar nada!"
Mu calmamente replicou:
- Não se impressione... Horemheb é um bom homem.
- Céus... é um assassino, Mu... Não minta.
- Ele é bom... – ele ignorou Shion. – Ele realmente é um assassino, mas não é de todo mau. Você vai ver.
- Mu, a sua generosidade excessiva e sua tolerância são suas virtudes mais belas, mas são provavelmente as armas para destruí-lo. Você é fraco. Muito fraco. Será um ferreiro pobre, e um cavaleiro pior ainda.
- Pode ir embora, Shion.
- Está me mandando embora?
- Disse que não sou bom ferreiro e que nunca serei o Cavaleiro de Ouro de Áries. Só peço que me empreste a casa para que eu cuide deste homem. Depois, voltarei a Jamiel. E de lá não sairei. A armadura terá um melhor dono.
- Você está me respondendo, Mu?
- Não. Estou libertando você do fardo de guiar um fraco.
- Mas...
- Não perca seu tempo comigo... eu tenho a casa de Áries?
- Fique o quanto quiser... – Shion estava desconcertado. Mu nunca ousara respondê-lo antes. – Não há cavaleiro que a ocupe. Que sirva para os mendigos que recolher, Mu.
Shion afastou-se. Mu ajudou o estranho a se levantar. Lágrimas rolavam dos seus olhos claros, o rosto branco com manchas rubras ardendo de vergonha.
- Por que deixa aquele homem falar assim com você? – a voz do estranho era deliciosa. Máscula, firme, gutural.
- Por que deixou Máscara da Morte arrast�-lo até aqui sem protesto?
- Buda sabe que o destino é de caminhos tortuosos.
- Você tem febre. E tem fome, não tem?
- Sim, eu tenho fome.
- Eu vou lhe dar de comer. Você tem nome?
- Shaka.
Comentários: Sim, há muito que explicar sobre as aparições de Shion, mas Mu se encarregará de fazer isso mais a frente. Alguns personagens, como Máscara da MOrte, têm uma estória própria que eu inventei para uma outra fic, ' A Gênese', para a qual eu fiz MdM ser 'Horemheb', um egípcio. Se alguém tiver a curiosidade, está lá. Eu já tinha prometido a alguns leitores da 'Gênese' que ia escrever uma fic sobe o passado desse MdM e ela está em andamento, pronta para ser publicada a qualquer momento, mas caso não interesse, isso não atrapalhar�, de maneira alguma, o entendimento perfeito dessa fic.
Bom, final dos comentários chatos, divirtam-se, submetam reviews sa a consciência de vocês quiser e sejam felizes! Beijocas da Tia Verlaine.
