Título: Erro dos anjos

Shiper: Aioria x Mu x Shaka

Resumo: Até onde anjos podem errar? Isso era masoquismo, ele sabia. Mas ele simplesmente não podia parar.

Parte I – Quem realmente me conhece

Sentiu os olhos pesados lutando contra o quente sol mediterrâneo enquanto tentava focar nos cabelos loiros do outro, tão finos que quase desapareciam expostos solitário àquela luz devastadora. " Como eu." Ele pensou amargando a analogia e odiando a situação em geral e ainda mais aquela pessoa que já fora a resposta para todos os problemas que julgava ter.

"Mas não agora." Suspirou. "Não mais."

Isolava-se a cada dia por entre as ruínas que pouco a pouco se reerguiam e onde habitava, acostumado demais para notar o aspecto desolador do local, fantasmagórico demais para fingir que não importava. Sentia-se um espectro assombrando lugar nenhum depois que voltara para descobrir que não conhecia mais aqueles rostos que lhe sorriam vez por outra.

Às vezes tinha vontade de gritar. Ele era o certo ali, não era? Não fora ele quem lutara e acreditara todo o tempo? Ele até mesmo morrera! Então porque parecia que tinha cometido algum tipo de crime capital? Como se ele fosse o errado, depois de tudo?

"Eles estão envergonhados, Mu. Ele, especialmente." Sábias palavras de leão, único próximo em meio a toda aquela balbúrdia de aflições. Olhos chocolate de sua taboa de salvação. " No fim das contas quem sempre esteve certo foi você."

"Certo e só." Pensou, soltando um suspiro mal-humorado por tudo que passava por aquela insípida vergonha preconceituosa. Amaldiçoada vergonha. E permanecia ignorando e seguindo com seus sorrisos constrangidos e a cada vez que seu olhar verde diáfano cruzava com alguém. Exceto com o dele.

Porque nesse caso o constrangimento virava raiva, a indiferença virava ódio, e chegava a faiscar em seu olhar. Porque, de todos, ele era quem importava. Era a opinião dele que doía. Era ele quem não podia ter duvidado. Mas duvidou. E restava a raiva e aquela vergonha sem sentido.

" Pensamentos demais, Carneiro."

A doce voz de Leão o trouxe de volta ao planeta e ele sentiu os dedos do leonino desfazerem uma ruga na testa leitosa passando pelos tão característicos pontos. Baixou os olhos desistindo de lutar contra a claridade e conteve um suspiro para não chatear seu namorado que com certeza já descobrira sua verdade contando as linhas do seu rosto.

E se espantou quando, ao invés de sentir chocolates sobre si ouviu a voz firme do leonino.

"Olha, Mu, eu realmente acho que vocês deviam conversar. É visível que há um erro nessa distância toda e é ainda mais visível que isso ainda te incomoda."

Engoliu em seco com as já conhecidas palavras e rapidamente abriu a boca para replicar ao que o grego o calou pousando um dedo sobre seu lábios.

"Aioria, eu..."

"Eu sei, anjo. Eu sei quem habita seus pensamentos a cada dia, a cada minuto, a cada maldito segundo, mesmo sem querer. Eu sei, não é preciso me mostrar mais uma vez essa triste verdade." A voz dele estava quebrada, embargada e o ariano remexeu-se incomodado, sentindo uma solitária lágrima de desgosto percorrer os caminhos de sua face clara. "Aceitar, não retribuir. É, eu sei..."

Entristeceu ainda mais perante a amargura resignada das palavras do outro. Mas o que podia fazer senão conviver com as verdades que tinha? E sua mão pousou nos cabelos acobreados do leonino encerrando mais aquela conversa como encerrara todas as outras.

Eles eram cíclicos com conversas que não chegavam a nenhum lugar, especialmente esta. E novamente ele calou a dor e as lembranças em nome de uma máscara que se partia a cada dia.

"Vamos, leão. Treinamento já foi encerrado."

E contra o sol já não brilhavam mais louros cabelos.

Sentiu a pele queimando com o calor dos toques recebidos e seu corpo foi tomado por espasmos consecutivos à sua própria respiração arquejante. Os dedos lépidos percorreram as costas morenas até a nuca e as unhas curtas encravaram-se ali com força, enquanto sua boca se abria num "o" luxurioso.

Conectou-se ao olhar chocolate e viu os lábios do outro formarem o seu nome em meio aos gemidos. Nenhum som saía dos seus próprios lábios, apenas o silêncio ecoava os gemidos do seu companheiro que arremetia fervorosamente dentro de si. Não ousava abrir a boca e conspurcar tal ato com o nome alheio daquele que lhe preenchia o coração e a alma. Então arfava e suspirava e sua respiração forte era a resposta que dava ao prazer obsceno que lhe obscurecia os sentidos e entorpecia a dor pungente que lhe era tão fiel.

Em um rouco grito sem som gozou, seu sêmen espalhando-se pelo seu abdômen e lençóis enquanto sentia o do outro descendo pelas suas coxas. Foi puxado para um beijo familiar que aceitou, enterrando suas mãos nos cabelos curtos do amante , reforçando o companheirismo que os unia. E mais uma vez sorriu ao fim do beijo, um pálido gesto de dentes brancos e lábios cor de rosa.

"Seu sorriso é lindo, Mu. Devia rir sempre." Os olhos chocolates sempre lhe retribuíam o gesto raro para suspirar em seguida.

"Imagino quão lindo deva ser um verdadeiro riso seu."

"Aioria, porque ainda está aqui?"

A sua voz se fez presente enquanto adentrava a também familiar conversa, desempenhando seu papel com louvor. Tantas máscaras lhe faziam sofrer, mas ele preferia isso a ter que causar ainda mais sofrimento a quem lhe apoiava tanto.

"Porque eu te amo, Mu." Ele lhe respondia levando sua mão a aparar a lágrima que descia pelos conhecidos caminhos do pálido rosto amado.

"Eu gosto de você, Aioria." A sua própria voz soava doce com a oportuna lágrima que completava sua conhecida sentença, chocolates ardendo em seu rosto. "Se você puder me aceitar assim..."

E era prontamente acolhido nos fortes braços morenos que lhe envolviam naquele entorpecimento enquanto ouvia o murmúrio da voz que sempre lhe animava.

"Eu também vivo com as verdades que tenho, Mu."

E então Hypnos tragava-os para o mundo particular dos sonhos onde podiam afastar as máscaras. Eles eram cíclicos em olhares não retribuídos mas ambos respeitavam o olhar distante desta conversa.

Sentiu sua nuca queimar com o olhar firme do outro cavaleiro e levantou sem vontade virando-se para encarar o recém-chegado.

Verdes conectaram-se a azuis quase hesitantes e um suspiro se fez ouvir naquele local que era só silêncio. Admirou-se com o olhar dele, já havia acostumado ao pálido das pálpebras como janelas cerradas, escondendo um dia de Sol.

Azuis baixaram com um leve ecoar da respiração e desviaram para o cavaleiro moreno deitado sobre as almofadas no tapete da casa de Áries.

"Não se preocupe, estou de passagem."

Verdes soltaram um muxoxo de discordância e descontentamento e se depararam novamente com as cerradas janelas do outro.

"Não precisa ir. Vamos à cozinha. Aceita um chá, Shaka?"

Azuis levantaram rápido e tentaram desviar, dessa vez sendo queimados pela força do olhar verde suplicante.

"Desculpe, tenho tarefas." Azuis nem mesmo tentaram sorrir, a frieza da voz cortando em mil pedacinhos até serem capturados por verdes. E por um momento foi apenas azuis e verdes.

Pensou que não podia ser mais bonito do que já era, mas aí estava de novo a perfeição encarnada ao alcance dos seus olhos. As batidas do seu coração pareciam altas demais e uma mão viajou por entre fios lilases, um pouco sem jeito pelo mergulho em azuis. Só Zeus sabia como ainda o amava, com aquele amor sem explicações, amor de carícias leves e simplesmente amor. E só Zeus sabia também os motivos que levaram azuis a desprezar aquele amor que já era parte de si.

Azuis continuavam em verdes e, por um momento, ele se sentiu mais vivo do que em qualquer outro instante já havido depois que revivera. E então um suspiro escapou dos sonolentos lábios do leonino e o momento se perdeu.

Azuis desviaram, dessa vez com mais ímpeto e fitaram a escadaria que se fazia caminho para a segunda casa. E sem se importar com a súplica em verdes, azuis sumiram por entre cílios claros e ele saiu. Simplesmente foi, como já fôra uma vez e deixou verdes lá, amargando sua própria verdade enquanto fitava o vazio de seus caminhos.

How can I just let you walk away

Como posso apenas deixar você ir

Just let you leave without a trace

Simplesmente deixar você partir sem um vestígio

When I stand here taking every breath with you

Enquanto permaneço aqui segurando cada suspiro com você

You're the only one who really knew me at all

Você é o único que realmente me conheceu por inteiro

How can you just walk away from me

Como você pode simplesmente afastar-se de mim

When all I can do is watch you leave

Quando tudo que posso fazer é olhar você partir

'Cause we've shared the laughter and the pain

Pois nós dividimos o riso e a dor

And even shared the tears

E até mesmo dividimos as lágrimas

You're the only one who really knew me at all

Você é o único que realmente me conheceu por inteiro

Continua...

Nota da autora: Esta é uma fic meio sem graça que fiz para o meu aniversário. Como vocês puderam ver, tem uma atmosfera meio intimista muito própria da música escolhida (na verdade a música escolheu a fic...) E é engraçado, eu sempre quis fazer uma fic com o Mu porque simplesmente amo o personagem e quanto finalmente faço é desse jeito estranho.

Dedicada à Belier pela inspiração com a fic "Além do amor e do ódio"(Sim, eu também sou Mushakista roxa). E agradecendo à Nina, por sua fic "Severus, a partir de agora" de onde tirei a personificação através do olhar.