- Eu? – sussurrou, enquanto fechava os olhos com força, os cerrava, impenetráveis. Nenhuma luz seria capaz de invadi-los, e a luz que saía deles não era vista naquele momento. Eu sorri.

- Você. – um largo sorriso iluminou seu rosto, e instantes depois seus olhos verdes, brilhantes, cheios de uma esperança um tanto louca, afinal ele havia sobrevivido, ele era O sobrevivente. Ele havia... ele era... Ele era tudo para mim.

- Tem certeza disso? – podia jurar que ele queria chorar. Eu queria, e talvez já o estivesse fazendo sem perceber. Não podia levar minhas mãos ao rosto naquele momento, e realmente não me importava. Apenas ri, ri o suficiente para que um soluço saísse de seus lábios entortados naquele belo sorriso.

- Tenho certeza.

E ele assentiu com a cabeça. Ele... Ele assentiu, ou eu teria apenas sonhado com aquela confirmação? Teria sonhado com o dia em que ele tropeçou e caiu em meus braços? Teria sonhado com o momento em que o apertei forte no lugar de deixá-lo cair? Eu sonhara tanto com tantas coisas, tantas formas diferentes de viver, e havia mesmo escolhido aquela? Havia escolhido deixar que ele me ensinasse costumes trouxas, deixar que me comprasse os melhores doces, deixar que tocasse nas minhas mãos, em meu pescoço, meus braços, meu coração? Realmente havia deixado que ele fosse tão longe? E ele? Ele havia deixado que eu o xingasse por tantos anos, que eu o tocasse, o experimentasse, o instigasse, o provasse de todas as formas possíveis. De alguma forma, nós dois havíamos deixado que as coisas acontecessem. Nós dois tínhamos, talvez não desde o primeiro momento, escrito aquela cena.

Eu, ajoelhado, e ele, dizendo sim.