O Diabo Veste Trajes de Quadribol
Sumário: Tradução da fic de –HeyLookTheSnitch. Malditas fossem aquelas vestes de Quadribol. Até onde Lily Evans se importava, Quadribol podia ser esquecido até o fim dos séculos. Na verdade, o jogo deveria ser logo banido de uma vez por todas. E junto com ele, o jogo de Verdade ou Desafio. LJ sétimo ano.
Disclaimer: Nenhuma das personagens aqui presentes são minha propriedade (J.K o/) e muito menos a trama. A história toda foi criada por -HeyLookTheSnitch e tive apenas a honra de traduzi-la.
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Capítulo 1: Tudo Começou com um Desafio.
Um vento gelado soprou forte entre as árvores cortando os rostos descobertos. Muitos estudantes arrumaram os cachecóis para mais perto do pescoço, enquanto riam e comentavam sobre a última partida de Quadribol. Grifinória tinha, não surpreendentemente, conseguido a vitória sobre o time da Sonserina novamente e os espectadores então deixavam o campo, conversando animadamente.
Lily Evans não podia deixar de se perguntar por que ela estava parada do lado de fora dos vestiários, ao que o resto da escola passava por ela no caminho de volta para o castelo aquecido e aconchegante. Arrepiou-se ao que o frio invadiu suas vestes e seu agasalho, fazendo-a estremecer. O vento bateu de repente bagunçando seus cabelos longos e acajus; ela tentou controlá-los com as mãos, mas acabou por deixá-los pior.
- Ah dane-se - murmurou para si mesma, esfregando os braços para se aquecer.
Folhas farfalharam e um galho quebrou-se atrás dela. - Agora, Lily...
- Santo Hipogrifo! - exclamou Lily; sobressaltando-se apavorada. Acalmou-se um pouco, percebendo que as pessoas que a haviam assustado eram suas duas melhores amigas. - Vocês quase me mataram.
As garotas se aproximaram, ambas sorrindo. Um delas pronunciou-se. - Você se lembra o que tem que fazer, certo?
- Marlene - Lily começou impacientemente. - Você ficou repetindo o plano durante todo o jogo.
- Então você se lembra - Marlene respondeu feliz; os cabelos castanhos e lisos esvoaçando com a brisa.
- Infelizmente.
A outra garota sorriu tranquilamente para a amiga, rindo de leve. - Oh, anime-se Lily. Não vai ser tão ruim assim. Ele é um dos garotos mais populares da escola, você sabe.
- Dorcas... você espera que eu, de todas as pessoas, me importe com o status dele? - perguntou Lily.
Marlene se juntou a Dorcas e as duas começaram a rir. - Ele é extremamente bonito também - Marlene disse, movendo as sobrancelhas sugestivamente antes que ela e Dorcas gargalhassem de novo.
Enfadada, Lily apenas encarou as amigas, recusando-se a esboçar um sorriso. Notando que não iam conseguir uma reação positiva por parte da amiga de maneira nenhuma, Marlene bateu-lhe de leve no ombro. - Então deixamos com você - ela piscou para a ruiva dando o braço a Dorcas e as duas saíram felizes, saltitando como um bando de garotas apaixonadas, deixando Lily sozinha do lado de fora dos vestiários novamente.
Amigas estúpidas, Lily pensou, sabendo que as perdoaria mais tarde de qualquer jeito.
Alguns alunos sorriam e acenavam para ela, mas respondia sem dar muita atenção. Era difícil ser amigável quando seu coração estava batendo perigosamente rápido e sua mente tentava achar a melhor maneira de agarrar um cara e beijá-lo do nada. Lily estremeceu ao pensamento e virou-se para observar os vestiários.
Não fosse pelas doidas de suas amigas ou aquele maldito jogo de Verdade ou Desafio, Lily Evans não estaria parada ao vento gélido, esperando que um dos brilhantes Artilheiros da Grifinória saísse (totalmente vestido, ela esperava) para que ela pudesse cercá-lo. De fato, não fosse por nada daquilo, Lily provavelmente estaria no Salão Comunal com Marlene e Dorcas naquele exato momento, rindo dos sonserinos, já que eles haviam perdido.
Então ela simplesmente culpou a porcaria da brincadeira de Verdade ou Desafio de sua condição. Nunca escolha desafio de novo, pensou Lily. Ela sabia que devia ter dito verdade; todo mundo sabe que não se deve escolher desafio! Merlin, por que tinha sido tão idiota?
Na verdade, não era justo botar a culpa somente no jogo; suas amigas eram as responsáveis por inventar aquele desafio miserável para ela em primeiro lugar. Aos olhos de Marlene e Dorcas, a tarefa era muito simples e devia ser considerada um privilégio. Sempre repetiam que muitas garotas morreriam para estar no lugar dela. E Lily as lembrava constantemente de que ela trocaria seus planos iminentes com outra garota de muito bom grado. Não tinha interesse algum de envolver-se com uma estrela oh-eu-sou-demais-porque-posso-voar-numa-vassoura do Quadribol.
Tirando o fato de que ele estava no quarto ano junto com ela, Lily mal olhava para o garoto. De modo que só sabia seu sobrenome porque as únicas vezes que se importava em prestar atenção a ele era quando os professores o chamavam para dar-lhe uma nova detenção.
Seu sobrenome era Potter, e era tudo o que sabia. Bem, ela também sabia que seus amigos o chamavam de Pontas, mas duvidava que aquele apelido aparentemente sem sentido fosse seu primeiro nome. Ainda ouvia os rumores de que Potter era praticamente uma celebridade auto-proclamada. A maioria das garotas de Hogwarts o adorava, deleitavam-se com seu sorriso e seus olhos avelã e rodeavam-no na esperança de conseguir um encontro. A pior parte era que ele tirava proveito de todas as oportunidades. Não soava arrogante?
Lily achava que as meninas desesperadas e o garoto obcecado pelo ego eram patéticos e nunca tinha parado para olhá-lo realmente, o que fez com que suas amigas acreditassem que seria incrivelmente engraçado desafiar Lily a beijá-lo. Ha ha ha; ela era a única que não estava rindo? Assegurou-se de nunca mais concordar em jogar Verdade ou Desafio de novo...
- Você podia ter esperado por um autógrafo no Salão Comunal.
O coração quase saindo pela boca, Lily pulou e olhou ao redor assustada pela segunda vez naquele dia. - P-Potter - gaguejando ela, chamando-o por seu sobrenome porque não sabia seu primeiro.
Ele sorriu de canto ao que passou a mão pelos cabelos negros já bagunçados. Encostou-se numa árvore casualmente, cruzando os braços. – Evans - acenou com a cabeça e pousou a vassoura ao seu lado delicadamente, como se fosse seu pertence mais precioso.
Então ele também só sabia seu sobrenome. Não se sentia mais tão idiota. Maldição. Na verdade, ela se sentia completamente imbecil. Como poderia beijá-lo se nem ao menos seu primeiro nome sabia? Não queria ser conhecida como... uma garota vulgar, pelo amor de Merlin!
Vá logo. Só caminhe até ele e acabe logo com isso.
Sua mente sabia o que fazer, mas seus pés não pareciam corresponder. Era como se seus sinais nervosos não conseguissem chegar até eles rápido o suficiente para que pudesse se aproximar de Potter. Antes que soubesse o que estava acontecendo, seu pé esquerdo enroscou-se na barra de suas vestes e ela sentiu-se perder o equilíbrio. Balançando-se de maneira muito indigna, Lily agitava os braços ao que os pés deixavam o chão. E logo estava inalando o doce cheiro de terra e grama molhada.
Potter pulou para trás, claramente perplexo, e olhou para a garota que tinha simplesmente tropeçado nos próprios pés. Torceu a boca. - Você está bem? - ele perguntou, contendo-se para não rir, os lábios esboçando um sorriso.
Lily só podia imaginar o quão ridícula ela parecia. Tentando permanecer o menos vermelha possível, levantou-se rapidamente com o máximo de dignidade que podia manter naquela situação. - Muito bem - ela respondeu desafiante, alisando suas vestes. Insolente! Nem havia se oferecido para ajudá-la a se levantar e ainda tinha a audácia de rir dela. Talvez ele fosse mesmo tão pretensioso quanto ela achava que era.
O desafio; não se esqueça do desafio.
Lily franziu a testa; aquela voz em sua cabeça soava estranhamente como a de Marlene. Se ela tivesse bom senso, já teria simplesmente ido embora dali e esquecido o desafio. Contudo, tendo 14 anos, Lily ainda acreditava que não se podia desistir de um desafio sob nenhuma circunstância. Não lhe agradava muito a idéia de ser chamada de 'covarde' a vida toda. Maldição de moral adolescente.
Olhou de relance para o garoto de óculos e sentiu de repente a vontade enorme de tirar aquele sorriso da cara dele com um feitiço. - Eu sei que sou incrivelmente bom no Quadribol e tal, mas... - ele começou, rindo para Lily como se ela fosse muito engraçada. - Não precisa se ajoelhar na minha frente como se eu fosse algum tipo de deus.
Ew. Quem ele pensava que era? - Eu tropecei, seu escaravelho¹ - Lily retrucou, afastando os cabelos do rosto. Os que conheciam Lily sabiam que a bruxa nascida trouxa não era uma garota boba e tímida. Não, Lily Evans sabia se expressar.
Para a surpresa de Lily, Potter alargou o sorriso. - Escaravelho? Essa eu não tinha ouvido antes. Mas vou tomar como um elogio - seus olhos brilharam ao que Lily lhe lançou um olhar meio confuso, meio desgostoso – Algumas civilizações adoravam os escaravelhos, você sabe.
Não tinha fim para aqueles comentários sarcásticos e arrogantes? Seria muito mais fácil completar o desafio se ele calasse a boca. Lily estreitou os olhos esmeralda, observando-o como se fosse um feio explosivim que estava em seu caminho; o que ele era, de certa maneira.
O garoto era alto e muito magro, como se alguém houvesse tentado esticá-lo num curto período de tempo. Seu rosto era bonito, contudo, adornado pelos cabelos negros que lhe caíam sobre a testa e óculos de lentes redondas. Porém, Lily não era como as garotas comuns; ele podia ser lindo, mas não podia evitar odiá-lo.
Ela devia ter ficado observando-o por tempo demais porque Potter bagunçou os cabelos novamente. - Ficou esperando aqui fora só para ficar me olhando?
Lily lutou contra o impulso de tomar sua preciosa vassoura e atirá-la num lugar muito desagradável. – Não - ela disse cerrando os dentes, o sangue correndo-lhe mais rápido nas veias. Os ruivos tinham mesmo a fama de pavio curto.
- Então quer dizer que você normalmente sai por aí encarando garotos - ele piscou para ela e Lily sentiu os dedos coçarem para agarrar sua varinha.
- Eu não estava encarando - ela ouviu-se retrucar. Honestamente, ela não estava olhando, só o estava analisando.
Potter fitou-a com um olhar desacreditado. - Não estava? - disse ele sarcasticamente.
- Não.
- Não, você não estava encarando? Ou não, você estava encarando?
Lily cerrou os punhos furiosamente. - Eu não estava encarando, porcaria! – ele arqueou as sobrancelhas – Estava observando.
- Qual é a diferença? - Potter perguntou inocentemente girando sua varinha entre os dedos e mantendo os olhos em Lily.
Ele gostava de irritá-la? Eles tinham acabado de se encontrar, conversado por 5 minutos, e o objetivo de vida dele já parecia ser deixá-la maluca? - Encarar tem implicações diferentes de observar.
Ele a olhou com irônico interesse. - Explique.
Desejando nada mais do que estapeá-lo, Lily fez o máximo que pôde para conter um grunhido de raiva na garganta. - Encarar normalmente quer dizer que uma pessoa está examinando outra... Ah, isso é ridículo! - Lily disse, jogando as mãos para o alto.
- Eu sabia que você ia desistir.
Aborrecida até o último fio de cabelo, Lily franziu as sobrancelhas; seu pé batendo furiosamente como se para dissipar sua raiva. Poucos segundos se passaram em que os dois ficaram apenas olhando um para o outro, tentando descobrir quem se moveria primeiro. Potter estava completamente calmo e sossegado com o mundo, enquanto Lily podia jurar que mais um segundo na presença do garoto faria sair fumaça de suas orelhas.
Lenta – e dolorosamente, ela acrescentaria – lembrou-se de que teria de continuar com o desafio. Certamente que seu coração sairia pra fora da boca; não por nervosismo, mas pela necessidade de sair correndo para o mais distante possível de Potter. Respirando profundamente e sabendo que, quanto mais cedo o fizesse, mais rápido sairia dali, Lily colocou um pé na frente do outro cautelosamente. Depois de não ter tropeçado de novo, continuou até que a distância entre os dois fosse mínima.
Os olhos avelã dele se arregalaram por trás dos óculos ao que olhou para ela. O sorriso, que antes era bem aparente, havia sumido de sua face. - Só... Fique parado - ela lhe ordenou, fechando os olhos de desgosto. Fingindo estar em qualquer outro lugar que não fosse aquele, Lily agarrou seus ombros vigorosamente e puxou-o para mais perto.
Odeio minhas amigas. Odeio minhas amigas.
Aconteceu tão rápido que ele não teria tido chance de fugir se quisesse. Os lábios dela selaram os dele ao que a ruiva rapidamente o beijou; as bocas se tocando por menos de dois segundos. O ato súbito devia tê-lo pegado desprevenido, pois ela o havia beijado, empurrado para longe e dado alguns passos para trás antes que ele pudesse ter qualquer reação.
Incrivelmente embaraçada e enojada, Lily evitou seu olhar. Sem fitá-lo, inclinou-se rapidamente para apanhar a mochila do chão e colocá-la sobre o ombro. Virou-se prontamente para ir embora, antes de Potter finalmente recuperar o controle de sua voz.
- O nome é James - disse o garoto como se ela tivesse passado em algum tipo de teste e tivesse então o privilégio de saber seu primeiro nome.
Desejando desesperadamente voltar para seu dormitório e afundar-se numa banheira com água bem quente e bastante espuma, - ou talvez algum outro produto forte de limpeza – Lily voltou-se para olhá-lo incrédula. Ele sorriu para ela, voltando à posição de antes, encostado a árvore casualmente, como se uma garota aleatória não o tivesse beijado à força.
- Desista das suas pretensões, Potter - ela exclamou, deliberadamente o chamando pelo sobrenome. Algo que se pareceu com uma estranha expressão de surpresa surgiu nas faces de James antes de sumir rapidamente. Era quase como se ele nunca houvesse sido insultado por uma garota (o que, Lily ponderou, provavelmente era verdade) e por isso não sabia como reagir a tal catástrofe.
Rapidamente recobrando a compostura de alguém que nunca tinha sido desprezado antes, alargou o sorriso. - Talvez se eu fosse um pouco mais pretensioso, eu não teria percebido que esse foi o pior beijo da minha vida - ele retrucou facilmente, ajeitando os óculos.
Houve silêncio e era claro para James que havia vencido a pequena discussão (ou o como queriam chamar). - Fico feliz que nos entendemos então - Lily respondeu afinal num tom controlado e totalmente calmo.
Espantado, o queixo de James caiu por um segundo enquanto mirava a ruiva ir embora. Lily não conseguia deixar de sorrir largamente quando lhe deu as costas. Achava que ninguém jamais havia conseguido a última palavra com ele. James Potter sempre tinha resposta para tudo, mas parecia que Lily o havia abatido finalizando a conversa. Extremamente orgulhosa de si, Lily caminhou feliz para o castelo, deixando um garoto muito confuso a olhá-la se distanciar.
James Potter, Artilheiro astro do Quadribol, havia encontrado sua rival.
1 – Na fic original, Lily diz: "I wasn't staring, you dung beetle". Dung beetle quer dizer: besouro rola-bosta. Achei que ficaria um pouco fora do contexto na tradução literal, já que James depois diz que algumas civilizações adoravam esses insetos. No filme o prisioneiro de Azkaban, num dado momento em que Hermione defende seu gato das acusações de Rony de que ele perseguiria Perebas, ela diz: "Egyptians used to worship cats". E Rony responde "Along with the dung beetle". Na legenda, a tradução ficou "escaravelhos", por isso achei que seria a melhor opção. Mas perdoem-me se acharem que ficou esquisito, ou que havia maneira melhor de fazê-lo.
Bia Black,
14/04/2008.
