Disclaimer: Nada é meu. Tudo pertence unicamente à J. K. Rowling.
Zerstören; em alemão: destruir.
Capítulo 1 – Ela
[Sexta-feira, 22 de outubro de 1982, 17h33]
Tudo estava bem. Fazia quase um ano que tudo estava muitíssimo bem. Exatamente por esse motivo, todos os membros do departamento de aurores ficaram intrigados quando Alastor Moody os convocou para uma reunião de emergência, no fim da tarde daquela sexta-feira.
James Potter, um auror seriamente respeitado no Quartel General dos Aurores, não pôde evitar sentir o solavanco no estômago ao saber da reunião e, imediatamente, começou a supor dezenas de possibilidades sobre o que poderia ter acontecido. Afinal, nenhuma das vezes em que Moody convocara sua equipe para uma daquelas reuniões súbitas fora para transmitir-lhe boas notícias.
A caminho da sala de reunião, James encontrou Sirius Black pelo corredor. Ao contrário da habitual expressão de displicência que o amigo sempre transbordava, naquele momento ele ostentava um semblante muito preocupado. O motivo para aquela mudança, naturalmente, era o mesmo que perturbava James.
— Sobre o quê você acha que é? – Sirius sussurrou, para que as pessoas à volta não os ouvissem. – Você acha que existe a possibilidade de Voldemort ter... voltado?
— Impossível, Pads. Impossível. – respondeu James, esforçando-se para soar seguro do que dizia.
Entraram na sala e se acomodaram nas poucas cadeiras ainda livres. Remus Lupin e Peter Pettigrew acenaram para eles de seus lugares, ambos transparecendo a mesma apreensão de Sirius. Na ponta da longa mesa estava Moody, examinando todos os presentes com seu olho mágico. James notou que sua órbita estranha estava mais agitada do que jamais estivera durante o último ano inteiro. Mais precisamente, desde a última vez em que estiveram naquela sala. E, conhecendo Moody como conhecia, aquilo só podia ser sinal de constante vigilância. James olhou para o lado e percebeu que Sirius deveria estar pensando a mesma coisa.
— Fodeu, Prongs. – James o ouviu murmurar.
Enquanto esperavam os últimos convocados chegarem à sala, James permitiu que seus pensamentos fossem tomados pelas lembranças de outras situações vividas naquele mesmo local. Fora ali que a Ordem da Fênix começou a se formar, poucos meses depois de sua formatura. Fora ali que haviam arquitetado muitos dos planos que os levaram a capturar dezenas de Comensais da Morte, no ano anterior. Fora ali também que haviam se reunido para receber notícias horríveis, como o assassinato da família Bones, no auge da guerra.
Faltavam poucos dias para completar um ano desde a última vez em que James e alguns dos aurores presentes estiveram naquela sala. Naquela ocasião, eles haviam conseguido elaborar uma estratégia para emboscar Lord Voldemort e finalmente derrubá-lo, estabelecendo, assim, um fim à guerra. Desde então, não houvera mais nenhuma ameaça realmente grave ou qualquer missão que precisasse da participação de todos os aurores. Portanto, aquela inesperada reunião com todos os membros do departamento trouxera consigo um antigo clima de tensão do qual nenhum auror sentia saudade.
Marlene McKinnon fora a última a chegar. Somente após ela ter se acomodado, sob o olhar ansioso de todos os colegas, Olho-Tonto Moody pigarreou, indicando que começaria a falar. James procurou manter-se inexpressivo, embora seus batimentos cardíacos estivessem descompassadamente acelerados.
— Boa tarde. – Moody os cumprimentou, finalmente parando de girar o olho mágico para todas as direções. – Por que vocês estão com essa cara? Não confiam no próprio trabalho?
Sirius trocou um olhar com James, aparentando estar ainda mais apreensivo. James suspirou e rapidamente tornou a fitar o centro da mesa, a fim de não se deixar contagiar pelo nervosismo do amigo.
— No próximo domingo completará um ano da Batalha Final, como vocês devem se lembrar. – Moody fez uma pausa para admirar as feições aflitas de seus subordinados. – Por isso, a ministra vai oferecer uma festa para todo o Ministério na próxima sexta-feira. – ele se colocou de pé e inclinou-se sobre a mesa, apoiando o peso do corpo nas mãos calejadas. – Todos os envolvidos na Batalha Final serão homenageados durante a cerimônia e a presença de vocês é, obviamente, indispensável.
Quando o chefe dos aurores terminou de transmitir-lhes o comunicado, os aurores irromperam em murmúrios aliviados e satisfeitos. Sirius se virou novamente para James e sussurrou uns dez palavrões de uma vez. Do outro lado da mesa, Frank Longbottom, com um largo sorriso nos lábios, começou a arrastar sua cadeira para trás, indicando que iria se levantar.
— Aonde pensa que vai, Longbottom? Eu ainda não terminei. – a voz grave de Moody se sobrepôs aos burburinhos dos demais. Fez-se silêncio e Frank voltou a se sentar no mesmo instante. – Gostaria de informar-lhes também de que, a partir da segunda-feira da próxima semana, a srta. Lily Evans voltará a ser integrante da equipe. – o auror fez outra pausa cautelosa, observando as expressões abruptamente surpresas se formarem no rosto de todos. – Era só isso. Vocês já podem ir. Obrigado.
Assim que terminou de falar, Moody virou a cabeça precisamente na direção de James. Um a um, todos fizeram o mesmo. E o silêncio dominou o ambiente mais uma vez.
James não fazia ideia do que esperavam que ele fizesse. Que se opusesse àquele comunicado? Não, aquilo não seria possível. Após dois anos sem ter qualquer notícia sobre aquela mulher, ou sobre seu paradeiro, James havia adquirido a certeza de que nunca a veria novamente e saber sobre seu retorno daquele modo tão inesperado não permitiria que ele conseguisse contra-argumentar de forma racional. Se James jamais fora capaz de compreender seus motivos para ter partido, como poderia, então, contestar seus motivos para retornar?
De repente, James ergueu-se de seu assento e saiu da sala de reunião, podendo sentir os olhares de todos os colegas fuzilarem suas costas. Suas pernas o conduziram mecanicamente até o elevador, cujas grades douradas se abriram assim que se aproximou. James só se deu conta de que estava indo para casa quando se deparou com as lareiras, no fundo do Átrio. Sacudindo a cabeça, a fim de afastar os pensamentos atordoantes, ele adentrou a lareira mais próxima e desapareceu entre as chamas esverdeadas.
[Sexta-feira, 22 de outubro de 1982, 18h07]
Era frustrante o quanto todo o seu esforço dos últimos dois anos não servira de nada no instante seguinte em que o nome dela fora proferido em voz alta. Dois anos sem ouvir aquele nome. Dois anos tentando esquecê-lo. Para nada.
Ninguém dizia o nome dela em voz alta quando ele estava presente. E James nunca precisou pedir para que não o fizessem. A forma como ela virara as costas para os amigos, para a Ordem da Fênix e para a sociedade bruxa no auge da guerra era o suficiente para que compreendessem sua raiva. E a maioria dos amigos compartilhava deste mesmo ressentimento também.
Fazia pouco mais de dois anos que James acordara no Hospital St. Mungus numa manhã ensolarada de setembro, alguns dias após um dos piores confrontos contra cinco Comensais, e fora simplesmente comunicado de que sua namorada havia partido. Para onde? Ele nunca soube. Ela não esperou que ele acordasse para lhe explicar qualquer coisa. Seus motivos? Ele tampouco entendeu, pois ela não disse a ninguém. Ela apenas fizera suas malas e ninguém nunca mais ouvira falar dela.
Nos primeiros dias após aquela manhã, James procurou por ela em todos os lugares possíveis nos quais ela poderia ter se escondido. Sua irmã não sabia de nada e suas amigas estavam tão desinformadas quanto ele. Mandou corujas para todos os conhecidos da época de Hogwarts com os quais ele havia perdido o contato após a formatura, perguntando-lhes se sabiam de alguma coisa. Mas só recebeu respostas negativas.
James demorou para aceitar a ideia de que ela o abandonara. Nos primeiros dias, ele pensou que seu desaparecimento tivesse sido apenas uma reação um tanto exagerada em relação às consequências da guerra. Afinal, a população vivia com medo e mesmo ela, uma auror brilhantemente competente, tinha o direito de se sentir daquela forma.
E então, com o passar das primeiras semanas, ele compreendeu. Lily Evans não queria ser encontrada. Se uma bruxa perspicaz como ela quisesse desaparecer sem deixar rastros, então ninguém jamais a encontraria. Lily Evans havia fugido e abandonado a guerra. A última batalha contra aqueles cinco Comensais, na qual James havia se ferido seriamente para defendê-la, havia sido demais para ela. Lily Evans não era tão corajosa e idealista como transparecera até então. Quando Lily Evans percebeu que suas chances de morrer eram realmente grandes, ela fez as malas e deixou o mundo bruxo e sua guerra para trás.
James largou-se no sofá de seu apartamento e tragou o cigarro profundamente. Após a reunião, havia saído do Ministério o mais rápido possível. Não estava disposto a aturar os olhares dos colegas e, principalmente, as perguntas daqueles que ousassem fazê-las.
Aliás, ele mesmo tinha perguntas. Como ela tinha a coragem de voltar depois de tudo? Será que ela acreditava que, agora que a paz no mundo bruxo havia se restaurado, ela podia voltar como se nunca tivesse ido embora? Por que é que Moody permitira que ela voltasse, sendo que sua falta fora um enorme desfalque na equipe? Há quanto tempo ela estaria em contato com seu antigo chefe?
James ouviu alguém bater na porta. Ele sabia muito bem quem era e definitivamente não queria conversar. Mas disse:
- Entre.
E a porta se abriu e se fechou lentamente.
- Precisamos conversar, James.
James apagou o cigarro e virou o rosto na direção da voz. Emmeline Vance, sua namorada havia quase um ano – ele não sabia ao certo – estava parada ao lado da porta, olhando-o. Os cabelos loiro-acinzentados se desprendiam lentamente do alto da cabeça e o sobretudo preto mal abotoado indicavam que ela havia saído do ministério do mesmo modo apressado que ele.
- James. – ela o chamou quando ele voltou a olhar para frente. Andou até ele e se sentou ao seu lado no sofá – Marlene me contou.
Sem compreender o que Emmeline estava esperando que ele dissesse, James apenas chacoalhou os ombros. O silêncio se estendeu incomodamente e ele sentiu vontade de fumar mais um cigarro.
- James, fale comigo. – Emmeline exigiu ao assisti-lo acender mais um cigarro com a ponta da varinha.
- Falar o quê, Emmeline?
- O que você está pensando.
James a olhou de soslaio. Era impossível decifrar o que a namorada gostaria de ouvir. Porque ao mesmo tempo em que Lily Evans fora sua ex-namorada mais relevante – talvez a única relevante -, Lily Evans fora também uma das melhores amigas de Emmeline em Hogwarts.
- Não tenho nada a dizer, Emme. – e tragou o cigarro para que não precisasse dizer mais nada.
Emmeline se levantou e parou diante do namorado, cruzando os braços.
- Ótimo. Não quer falar, não fale. – suspirou, aborrecida. – Eu só vim aqui para que nós pudéssemos conversar antes de irmos ao Três Vassouras. Já estou prevendo o clima pesado que vai estar lá por causa disso.
- Para ser sincero com você, eu não estava mais pensando em ir.
- Como assim, James? É meu aniversário! – Emmeline tinha um olhar inconformado.
Ao se dar conta da insensibilidade, James se levantou para encará-la melhor. Os olhos avelã de Emmeline estavam um tanto marejados e constatar isso fez com que ele se sentisse ainda pior.
- Desculpe. É claro que eu vou.
Emmeline acenou com a cabeça uma vez, ainda claramente chateada.
- Vou esperar você lá – ela disse. E foi embora.
[Sexta-feira, 22 de outubro de 1982, 21h52]
O bar estava consideravelmente cheio naquela sexta-feira. James entrou no local e rapidamente avistou o grupo de amigos acomodado numa mesa à esquerda. Todos já haviam chegado.
Assim que se sentou na última cadeira vazia, ao lado de Emmeline, percebeu que todos os presentes o estavam analisando, cada um a seu modo. Provavelmente já haviam falado sobre ela e, agora que ele havia chegado, todos estavam receosos em relação ao seu humor.
Sirius Black imediatamente soube o que fazer.
- Rosmerta, querida, mais uma rodada de firewhisky, por favor.
James lhe lançou um olhar agradecido. Emmeline ainda estava um tanto irritada com ele, pois evitou seus olhos e logo reatou o assunto com Marlene e Alice. Ele só não soube se era por conta do que havia dito mais cedo, em seu apartamento, ou por conta de seu atraso. Ou os dois.
- Então. – Remus começou, a fim de reestabilizar a naturalidade da conversa. - Tutshill Tornados estão em primeiro na liga. Quem diria, hein?
- Pura sorte. – Frank comentou.
- Logo caem, vocês vão ver. – Sirius acrescentou.
- É. – James concordou. – Logo caem.
- Com certeza. – Peter confirmou, do outro lado da mesa.
E fizeram silêncio. Madame Rosmerta voltou com seus pedidos e saiu. Emmeline empurrou seu firewhisky, chamando a atenção com o movimento brusco. Marlene olhou para Sirius e pareceu compreender alguma coisa.
- Emme, vamos para o balcão pedir outra coisa. – Marlene se levantou. – Também não quero firewhisky. Aliás, Sirius, não entendi por que você pediu mais uma rodada para todo mundo, afinal, nem todo mundo aqui precisa ficar bêbado sempre que vem a um bar.
Marlene se afastou na direção do bar e Emmeline foi ao seu encalço, parecendo concordar com tudo o que a amiga dissera. James compreendeu o que Marlene havia feito e soube que era inevitável. Bebeu seu whisky e esperou até que alguém tivesse coragem de mencionar o assunto.
E mais uma vez houve silêncio.
- Ok. – Alice não podia mais aguentar. – Alguém tem que falar com Moody urgente. Acho que ele ficou louco de vez! O que deu nele? Colocar ela de volta na equipe? Nem precisamos de mais membros! Além do mais, ela não é de confiança!
James bebeu mais um gole.
- James, você é o capitão da nossa equipe. – Peter retomou a palavra. – Você não pode confiar nela. Depois de todo o sumiço e da história com o Snivellus...
- Além do mais, não é um pouco suspeito que ela resolva aparecer pouco antes de fazer um ano que a guerra acabou? – Frank ponderou. – Aí tem coisa.
- Com certeza. – Alice apoiou. Depois de uma pausa, continuou: – Sabe, quando ela sumiu eu quis acreditar que fosse só covardia. Mesmo com o envolvimento daquele Snape. Mas agora que ela resolveu voltar, não dá mais para acreditar que seja só isso. Temos que ser realistas.
- Mas se Moody confia nela a ponto de colocá-la de volta no ministério, então nós não temos com o quê nos preocupar. Ele não a aceitaria de volta se não confiasse nela. – Remus falou e, aparentemente, era o único que não estava tão indignado com a ideia.
Todos olharam para James, esperando uma resposta. Mas ela não veio. Ele apenas fitava o copo a sua frente, agora quase vazio. Não queria falar do assunto, será que ninguém conseguia entender isso?
- Cara. – Sirius, o único que ainda não havia dado sua opinião, disse: - Você vai ter que conversar com ela.
- Não. – James respondeu na mesma hora. – Não tenho nada para falar com ela.
Marlene voltara à mesa, trazendo duas cervejas amanteigadas, uma em cada mão.
- Emme foi ao toalete. – ela explicou, voltando a se sentar.
- James, escute. – Alice o chamou. Ela tinha uma expressão apreensiva. – Nós não sabemos o que foi que ela ficou fazendo nos últimos dois anos. Não sabemos onde ela esteve e muito menos com quem. Tampouco sabemos o que Moody sabe sobre isso. Você precisa fazer alguma coisa.
Em meio a um suspiro pesaroso, James meneou a cabeça. Quis que Emmeline voltasse logo para que o assunto fosse encerrado.
- Eu só não entendo como ela tem coragem de voltar depois de tudo. – Marlene falou, mais para si mesma do que para os outros. – Quero dizer, ela fugiu! Não quis continuar lutando na guerra! Ela sabia que era essencial para a Ordem, mas sumiu sem avisar ninguém! Eu nunca esperaria isso vindo justamente dela. E o que aconteceu com Dorcas... Se ela não tivesse ido embora, talvez... – fez uma pausa, balançando a cabeça. – Eu realmente não entendo.
- Eu também não entendo. – James finalmente levantou os olhos do copo. – Mas fiquem tranquilos que as coisas não serão fáceis para ela. Podem ter certeza de que logo ela vai desistir de ficar por aqui e vai voltar para o lugar de onde veio.
- Então, os Tutshill Tornados estão em primeiro na liga. – Sirius subitamente começou a falar. - O'Brien vai precisar contratar um apanhador mais rápido se quiser se manter na liderança.
- Kevin Crane se aposentou ou está sem time? – Frank indagou.
Emmeline estava de volta e sentava em seu lugar. Assim que se acomodara, virou o rosto para olhar James e colocou uma mão sobre sua coxa, numa tentativa de demonstrar que estava tudo bem. Os amigos continuaram falando sobre quadribol. James cobriu a mão da namorada com a sua e abriu um sorriso fraco. E tudo continuaria bem. Emmeline faria de tudo para isso.
Naquele momento, num cômodo mal iluminado no Beco Diagonal, Lily Evans tomava uma poção para dormir.
N/A: Oi, gente! Pois é, resolvi me desafiar um pouco e me arriscar a escrever uma fic mais dark, fugindo totalmente do ambiente descontraído da comédia universitária ao qual estou acostumada. Será que vou me sair bem?
Essa fic é a união de várias ideias que tive para fanfics diferentes. Consegui conectá-las num mesmo roteiro e o resultado foi Zerstören. Aliás, antes que reclamem do nome, eu admito que é difícil de falar/escrever, mas simplesmente não encontrei palavra melhor para o título - e alemão é meu idioma favorito e o fator crucial para a minha existência (exagero, eu sei, mas é verdade!).
Bom, antes de deixar vocês terminarem, quero deixar aqui um enorme agradecimento a... (adivinhem!) CarolineMiller, pela capa maravilhosa (TO AMANDO ATÉ AGORA) e incentivo constante, e a AliceDelacour, pela prontidão em tirar dúvidas (porque essa menina sabe tudo do canon, pelamordedeus! hahahah) e pelo apoio também! Obrigada, gurias!
E aí, o que acharam? Estou muito curiosa para o palpite de vocês! Quem preferir, pode falar comigo no twitter!
Beijos!
